A disfarçar o amor pátrio real de um
português sabiamente espirituoso.
(Por
amor a essa Igreja de
Santa Cruz, “feita de
pedra morena” fado que também escuto na Internet, acrescento, em NOTAS finais
da Wikipédia, a Biografia de
S. Teotónio, como apoio
a recordações da encantada Coimbra, que o texto humorista do Dr. Salles fez
evocar).
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 20/12/24
18.12.24
Esta é a história de Telo, João e
Teotónio. Chegou, pois, o tempo de Deus decidir dar
cumprimento ao voto formulado pelo presbítero Telo. Comprara
ele, casualmente mas não sem a
intervenção de Deus, em Montpellier uma sela que era muito bem trabalhada
e era mais que excelente para montar a cavalo. Certo dia em que o arcediago
seguia montado numa mula pela porta de Coimbra e caminhava como habitualmente
pela Rua Régia, aperceberam-se dela os
cortesãos que notaram o seu bom recorte. Alguém de entre os
conselheiros deteve a atenção na sua elegância e propôs ao Infante que
pedisse ao arcediago para lha dar. Sem demora, satisfez ele o pedido sugerindo em troca a oferta dos Banhos
Régios ao fundo da judiaria. Todavia, porque o juízo real se move por outros motivos que não os nossos, o
príncipe, cheio de respeito, embora dando largas à alegria com olhar rasgado e
rosto sorridente, respondeu que primeiro teria de ver o assunto, bem lembrado
das palavras do sapientíssimo rei Salomão “tudo
faz com conselho para não te arrependeres”. Deus, porém, da atalaia da
Providência, favorecia os santos desejos do seu presbítero, aos ouvidos do rei
e de Hermígio, seu mordomo-mor (paz à
sua alma), que ocupava o lugar cimeiro da hierarquia e era homem de grande
valor e prudência e mais do que nenhum outro conselheiro do rei nosso senhor,
fez chegar a inspiração de apoiar
todos os planos do arcediago. Assim aconteceu. Com efeito, por
sugestão divina, é-lhe passado um documento autenticado com as armas reais.[1]
Filho
do arcediago da Sé de Coimbra, viajara Telo a Jerusalém em peregrinação ao
Santo Sepulcro. No regresso permaneceu alguns meses em Bizâncio navegando de
seguida até Marselha e rumando depois a Montpellier onde decidiu comprar uma
sela que lhe permitisse cavalgar com algum conforto até Coimbra.
Fervoroso adepto da reforma gregoriana, encontrou no presbítero João
Peculiar, mestre-escola da Sé de Coimbra, o correligionário que lhe faltava para a
implantação da nova doutrina naquela que então era uma região de fronteira com
o Islão.
Foram razões ideológicas que os levaram a travar amizade com Teotónio, presbítero que já estivera duas vezes em
Jerusalém e que para lá tencionava regressar a título definitivo. Convenceram-no
a ficar em Coimbra para fundarem uma nova congregação religiosa que, no meio da
sociedade, pregasse a Palavra e desse o exemplo de vida apostólica.
Foi
nos antigos Banhos Régios – que o Infante Afonso Henriques oferecera a Telo por troca
duma sela – que no dia 28 de Junho de 1131 lançaram a
primeira pedra da nova igreja, a de Santa Cruz de Coimbra.
Ali foi Teotónio o primeiro Prior; subiu aos
altares e ficou na História conhecido como S. Teotónio[2].
João
Peculiar foi de Coimbra para Braga como Arcebispo
defensor da nacionalidade portuguesa contra
a constante ofensiva do rival Arcebispo de Santiago de Compostela; não subiu
aos altares mas desempenhou a elevada função de conselheiro principal do nosso primeiro Rei.
Telo, fundador
da Ordem de Santa Cruz, criou à sua volta um escol de letrados que
viria a dar origem a uma das Universidades mais antigas do velho continente, a
de Coimbra.
Eis como uma sela trocada por uma cela foi estrutural na criação de uma
Nação.
BIBLIOGRAFIA:
• Mattoso, José – D. AFONSO
HENRIQUES, Círculo de Leitores, Outubro de 2006
• Sobre S.
Teotónio, http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Teot%C3%B3nio
• Sobre D. João Peculiar,
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Peculiar
________________________________________
[1] - Pedro Alfarde, Via Tellonis
(tradução de A. Nascimento, 1998, pp 60-61)
[2] - D. Telo e S. Teotónio
foram pessoas diferentes e não uma só, como alguma informação dá a entender,
nomeadamente na Internet (v. Mattoso, op. cit. pág.80 e seg.)
Antonio
Fonseca 19.12.2024 22:34 Lembrei-me do dito - Deus
escreve direito por linhas tortas. Admiro a prosa cintilante.
NOTAS DA INTERNET
Teotónio de Coimbra
Parte inferior do formulário
São Teotónio |
|
São Teotónio (século XV), por Nuno Gonçalves |
|
Fundador dos Cónegos Regulares da Santa Cruz |
|
Nascimento |
|
Morte |
18 de fevereiro de 1162
(80 anos) |
Nota: Para
outros significados, veja Teotónio de Coimbra (desambiguação).
São Teotónio (Ganfei, Valença, 1082
— Coimbra, 18 de Fevereiro de 1162)
foi um religioso português do século XII, tendo sido canonizado pela Igreja Católica.
Reconhecido por todo o Ocidente,
contava-se entre os seus amigos pessoais São Bernardo de Claraval.
Biografia
Tendo sido confiado aos cuidados de seu tio-avô, Crescónio bispo de Coimbra, foi formado em filosofia em Coimbra e Viseu. Nessa última cidade, tornou-se prior da Sé de Viseu em 1112.
Foi em peregrinação a Jerusalém, e aí quiseram que ele fosse superior da comunidade dos Cónegos
Regrantes de Santo Agostinho da Terra Santa mas ele recusou, regressando a
Portugal. Assim como, ao regressar, quiseram oferecer-lhe o lugar de bispado de Viseu, o que recusou.
No contexto da independência
portuguesa (1139) em relação ao Reino de Leão, São Teotónio tornou-se um
dos aliados do jovem Infante Dom Afonso Henriques
(o proclamador da independência e primeiro Rei de Portugal) na sua luta contra
a mãe, Infanta Dona Teresa de Leão,
dizendo a lenda que teria chegado a excomungá-la. Mais tarde, seria conselheiro do então já Rei de Portugal, Dom Afonso I.
Entretanto, foi de novo em
peregrinação à Terra Santa, onde quis
ficar; regressou porém a Portugal (1132), desta vez a Coimbra, onde foi um
dos cofundadores, juntamente com outros onze religiosos, do Mosteiro de Santa
Cruz (adoptando
a regra dos referidos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho), do qual se
tornou prior. Esta
viria a ser uma das mais importantes casas monásticas durante a Primeira Dinastia.
Em 1152, renunciou
ao priorado de Santa
Cruz; em 1153, o Papa Adriano IV quis
fazê-lo bispo de Coimbra tal como seu tio, o que uma vez mais recusou.
Morreu em 18 de Fevereiro de 1162,
que é ainda hoje o dia em que é celebrado pela Igreja Católica. Foi sepultado
numa capela da igreja monástica supracitada que ajudou
a fundar, mesmo ao lado do local onde o primeiro Rei de Portugal, Dom Afonso Henriques (ou Dom Afonso I), se fez
sepultar.
Em 1163, um ano depois da sua morte, o Papa
Alexandre III canonizou-o; São Teotónio
tornava-se assim o primeiro santo português a subir ao altar, sendo recordado
sobretudo por ter sido um reformador da vida religiosa nessa Nação nascente que
então era o Reino
de Portugal (1139-1910); o seu culto foi espalhado pelos agostinianos um pouco por todo o mundo.
É o santo padroeiro da cidade de Viseu e da respectiva diocese; é ainda padroeiro da cidade
de Valença, sua terra natal.
É também o santo que dá nome a um colégio situado em Coimbra, chamado Colégio de São
Teotónio.
No concelho de Odemira, uma das mais
extensas freguesias do país recebeu também o nome deste
santo. Desta vila, São Teotónio é também o santo
padroeiro, sendo as festividades
religiosas realizadas anualmente no dia 18 de Fevereiro.
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