terça-feira, 10 de dezembro de 2024

As rocas e os fusos correspondentes

 

Não posso deixar de transferir - da INTERNET - uns excertos da biografia de SIR WINSTON CHURCHILL, para este texto, no rasto de alguns COMENTÁRIOS depreciativos que o paralelo daquele com o nosso MÁRIO SOARES mereceu ao autor da crónica, JOÃO CARLOS ESPADA. E usar o provérbio que me acode, justificativo da minha adesão ao protesto. Não se trata, é certo, de negação das qualidades do nosso MÁRIO SOARES, de cujo contributo para o repúdio governativo do 25 de abril de 1974, ele próprio protagonizara, em termos, é certo, de uma leviandade de que não se podem queixar os Ingleses relativamente a CHURCHILL – este, um verdadeiro herói mundial, para além de nacional, a merecer a imortalidade, em caso de existência desta. Mas foi um prazer a leitura de alguns dados sobre CHURCHILL, com as suas frases de humor desinibido, que nos deixa sempre gratos – à INTERNET, ou às gentes que a criaram, trazendo-nos, simplificados, tantos referentes de apreço.

Quanto às referências do texto a MÁRIO SOARES, integradas em feitos comezinhos inspirados na banalidade de conversações em espaços gastronómicos tantas vezes alardeados na imprensa do nosso empenho governativo, só me apetece, com tristeza, complementá-las, repondo o provérbio da nossa “trivialidade” governativa, prazerosa: “CADA TERRA COM SEU USO, CADA ROCA COM SEU FUSO”…

Churchill, Soares e a Democracia Liberal

Sobre dois heróis da democracia liberal — um de centro-direita, outro de centro-esquerda, e ambos muito educados (gentlemen, ainda pode ser dito?)

JOÃO CARLOS ESPADA

OBSERVADOR, 09 dez. 2024, 00:1813

1Celebrámos no passado sábado, 7 de Dezembro, os cem anos do nascimento de Mário Soares. Um pouco antes, a 30 de Novembro, celebrámos os 150 anos do nascimento de Winston Churchill.

Tive o privilégio e o prazer de participar nas celebrações sobre Churchill, em Londres. E tive o privilégio e o prazer de estar inscrito nas celebrações sobre Soares, na Fundação Calouste Gulbenkian, no passado dia 7; muito irritantemente, súbitos motivos de saúde impediram-me à última hora de estar presente. Mas consegui acompanhar em quase ‘directo’ pela televisão e comovi-me até às lágrimas recordando esse grande herói da nossa democracia chamado Mário Soares.

2Gostaria de deixar claro e vincado que partilho uma mútua profunda admiração por Winston Churchill, um político do centro-direita, e por Mário Soares, um político do centro-esquerda — e que a ambos admiro como, literalmente, heróis da democracia liberal.

E enfatizo esta comum admiração em intencional contraste com a polarização tribal que hoje tende a crescer numa primitiva atmosfera política que não distingue a concorrência civilizada entre a direita e a esquerda civilizadas, por um lado, e a concorrência (ou, em rigor convergência) populista entre a direita e a esquerda bárbaras, por outro.

3Lamento muito já não ter ido a tempo de conhecer pessoalmente Winston (como a ele sempre se referia Margaret Thatcher). Mas estou muito grato pelo privilégio de chegar a conhecer a sua filha mais nova, Mary Soames, o seu neto Winston e o bisneto Randolph, além dos seus três principais biógrafos (Sir Martin Gilbert, Lord Jenkins, Lord Roberts) — vários dos quais tive o prazer de trazer a Portugal.

Tive ainda o privilégio e o prazer de fundar a Churchill Society of Portugal e de ser membro do Academic Board da International Churchill Society.

4No caso de Mário Soares, tive o imenso (e por mim totalmente imprevisto) privilégio de integrar a sua Assessoria Política no primeiro mandato de Presidente da República (1986-1991). É certo que apoiei com muita ênfase a sua candidatura presidencial desde os tempos em que tinha 8% nas sondagens, mas não integrei nenhuma estrutura formal da sua campanha (limitando-me a enviar uns textos, creio que manuscritos, nas vésperas dos seus debates televisivos com os candidatos concorrentes).

Após a vitória presidencial de Mário Soares — que ele festejou, no Saldanha (e onde eu fiz questão de estar, entre a multidão), como a de um Presidente de todos os Portugueses, não um Presidente da esquerda contra a direita — recebi um surpreendente telefonema do meu querido amigo Guilherme d’Oliveira Martins (GOM, também antigo aluno do Liceu Normal de Pedro Nunes), dizendo-me que o Presidente Mário Soares me convidava para a sua Assessoria Política (liderada por GOM).

5Foram anos de inesquecível profunda felicidade e estímulo intelectual. Almoçávamos todas as quintas-feiras com o Presidente Soares em ‘petit comité’ de cerca de oito a dez comensais. Soares gostava de começar por enumerar vários tópicos, amavelmente pedindo a nossa opinião. Só no fim da volta à mesa (muitas vezes já na sala de estar adjacente à sala onde tínhamos almoçado) é que Soares daria a sua opinião e a conversação continuava.

Eu, em regra, procurava ficar para o fim da volta à mesa, sendo um dos mais jovens do grupo (teria 30 anos nessa altura) e tendo sido educado em casa de meus pais e minhas avós a respeitar os mais velhos e mais sabedores (mas não a segui-los acriticamente, podendo discordar, desde que educadamente).

Julgo recordar duas excepções à minha regra de ficar para o fim da volta a mesa.

Uma primeira foi quando uma aliança de esquerda (PS+PRD+PCP) derrubou no Parlamento o Governo do PSD de Cavaco Silva e queria que Soares lhes desse um Governo “de esquerda” que não tinha concorrido às eleições com esse programa. Tenho a vaga recordação de ter pedido a palavra em primeiro lugar e de dizer algo do género: “O Presidente Soares não preside a uma república jacobina — e por isso disse no Saldanha que era Presidente de todos os Portugueses. Não deve agora dar o governo a uma coligação de esquerda que não foi eleita com esse programa”. Creio recordar-me que Soares sorriu e nos disse que estava de facto a pensar convocar eleições parlamentares — da qual viria a sair a primeira das duas maiorias absolutas de Cavaco Silva.

Se não me falha a a memória, uma segunda ocasião em que me atrevi a falar no início da volta à mesa terá sido a propósito do convite a Mário Soares e Maria Barroso para estarem presentes no Mosteiro dos Jerónimos no casamento real de D. Duarte de Bragança e Isabel de Herédia. Voltei a repetir o meu argumento: “Não somos uma república jacobina! Creio que o Presidente e a Primeira Dama devem estar na cerimónia e na primeira fila”. Julgo recordar-me que Mário Soares terá dado uma das suas sonoras gargalhadas e dito algo do género “era precisamente isso que eu já tencionava fazer”.

6Gostaria agora de concluir com breves palavras do conservador-liberal Winston Churchill que estou certo seriam apoiadas pelo socialista-liberal Mário Soares. Disse Churchill em Paris, num discurso contra as tiranias comunista e nazi, em 1936:

Entre as doutrinas do Camarada Trotsky e as do Dr. Goebbels, deve haver espaço para cada um de nós, e mais umas quantas pessoas, cultivarmos as nossas próprias opiniões . […] Como poderemos nós tolerar ser amordaçados e silenciados; ter espiões, bisbilhoteiros e delatores a cada esquina; deixar que até as nossas conversas privadas sejam escutadas e usadas contra nós pela polícia secreta e todos os seus agentes e sequazes; ser detidos e levados para a prisão sem julgamento; […] Pois eu afirmo que devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para não termos de nos submeter a tal opressão”.

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COMENTÁRIOS (de 20):

Luis Santos: Comparar Soares a Churchil é simplesmente ridículo.

GateKeeper: Misturar Winston Churchill com MS num mesmo "têxtil" só pode ser uma afronta/atentado à nossa inteligência. JCE bem pode "viver na sua utópica wonderland, juntamente com a Alice"; mas ninguém tem que acreditar nas suas balelas.

afonso moreira: Por vezes, ou melhor, ultimamente muitas vezes, fico com a sensação de estar a pagar a assinatura do jornal "Acção Socialista". Avaliem os méritos dos governantes pela obra material e imaterial que deixaram ao povo e ao país. O povo não vive de mitos.

José Rego: Tenha juízo

NOTAS DA INTERNET:

Sir Winston Leonard Spencer Churchill (Woodstock, Oxfordshire, Inglaterra; 30 de novembro de 1874Londres, 24 de janeiro de 1965) foi um militar, estadista e escritor britânico que serviu como primeiro-ministro do Reino Unido de 1940 a 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, e novamente de 1951 a 1955. Além de dois anos entre 1922 e 1924, foi membro do Parlamento (MP) de 1900 a 1964 e representou um total de cinco círculos eleitorais. Ideologicamente liberal económico e imperialista, foi durante a maior parte de sua carreira um membro do Partido Conservador, que liderou de 1940 a 1955. Também foi membro do Partido Liberal de 1904 a 1924.

De ascendência inglesa e americana mista, Churchill nasceu em Oxfordshire em uma família rica e aristocrática. Juntou-se ao Exército Britânico em 1895 e viu acção na Índia britânica, a Guerra Madista e a Segunda Guerra dos Bôeres, ganhando fama como correspondente de guerra e escrevendo livros sobre as suas campanhas. Eleito deputado conservador em 1900, desertou para os liberais em 1904. No governo liberal de Herbert Henry Asquith, Churchill serviu como presidente da Junta de Comércio e Secretário de Assuntos Internos, defendendo a reforma prisional e a previdência social dos trabalhadores. Como Primeiro Lorde do Almirantado durante a Primeira Guerra Mundial supervisionou a Campanha de Galípoli, mas depois que se provou um desastre, foi rebaixado a Chanceler do Ducado de Lancaster. Renunciou em novembro de 1915 e juntou-se aos Fuzileiros Escoceses Reais na Frente Ocidental por seis meses. Em 1917 retornou sob o governo de David Lloyd George e serviu sucessivamente como Ministro de Munições, Secretário de Estado da Guerra, Estado do Ar e Estado das Colónias, supervisionando o Tratado Anglo-Irlandês e política externa britânica no Oriente Médio. Depois de dois anos fora do Parlamento, serviu como Chanceler do Tesouro no governo conservador de Stanley Baldwin, retornando a libra esterlina  em 1925 ao padrão-ouro em sua paridade pré-guerra, um movimento amplamente visto como criando pressão deflacionária e deprimindo a economia do Reino Unido.

Fora do governo durante os seus chamados "anos selvagens" na década de 1930, Churchill assumiu a liderança ao pedir o rearmamento britânico para combater a crescente ameaça do militarismo na Alemanha Nazista. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, ele foi renomeado Primeiro Lorde do Almirantado. Em maio de 1940, tornou-se primeiro-ministro, substituindo Neville Chamberlain. Churchill formou um governo nacional e supervisionou o envolvimento britânico no esforço de guerra dos Aliados contra as Potências do Eixo, resultando na vitória de 1945. Após a derrota dos conservadores nas eleições gerais de 1945, tornou-se líder da oposição. Em meio ao desenvolvimento da Guerra Fria com a União Soviética, alertou publicamente sobre uma "Cortina de Ferro" da influência soviética na Europa e promoveu a unidade europeia. Entre seus mandatos como primeiro-ministro, ele escreveu vários livros contando a sua experiência durante a guerra pela qual foi premiado com o Prémio Nobel de Literatura em 1953. Perdeu a eleição de 1950, mas voltou ao cargo em 1951. No seu segundo mandato preocupou-se com as relações exteriores, especialmente as relações anglo-americanas e a preservação do Império Britânico. Internamente, o seu governo enfatizou a construção de casas e completou o desenvolvimento de uma arma nuclear iniciada pelo seu antecessor. Com a saúde em declínio, Churchill renunciou ao cargo de primeiro-ministro em 1955, embora permanecesse como deputado até 1964. Após sua morte em 1965, recebeu um funeral de estado.

Amplamente considerado uma das figuras mais significativas do século XX, Churchill continua popular na anglosfera, onde é visto como um líder vitorioso em tempos de guerra que desempenhou um papel importante na defesa da democracia liberal da Europa contra a disseminação do fascismo. Por outro lado, foi criticado por alguns eventos de guerra e também por suas visões imperialistas, comentários racistas e a sua alegada aprovação de violações de direitos humanos, nomeadamente na Índia.

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13 frases de Winston Churchill:

O líder britânico que resistiu a Hitler e mudou a história

Nesses tempos em que tanto se tem falado de Margaret Thatcher, morta esta semana ao 87 anos, é bom lembrar o primeiro-ministro que a inspirou, o grande líder britânico da Segunda Guerra, Winston Churchill, que ergueu a resistência ao ditador alemão Adolf Hitler.

Churchill conheceu como poucos o vício e a virtude, a popularidade e o desprezo. Era um exímio frasista, irónico, sagaz, sucinto a ponto de algumas de suas construções terem entrado para a história – foi ele, por exemplo, o primeiro a definir os países comunistas como aqueles por trás de uma "cortina de ferro".A sua frase mais famosa é o apelo para os britânicos resistirem aos nazistas, em que ele dizia não ter nada a oferecer, a não ser sangue, suor e lágrimas (uma frase com ressonâncias bíblicas).

A seguir, algumas de suas frases mais notáveis:

+ Você tem inimigos? Bom. Significa que você brigou por algo, alguma vez na vida.

+ Os problemas da vitória são mais agradáveis que os problemas da derrota, mas não menos difíceis.

+ Fanático é aquele que não consegue mudar de opinião e não aceita mudar de assunto.

+ Da deputada Nancy Astor, para ele: Se o senhor fosse meu marido, eu lhe daria veneno.
Resposta de Churchill: Se eu fosse seu marido, eu tomaria.

+ Se você vai passar pelo inferno, não pare de andar.

+ Se você tem dez mil regras, destrói todo o respeito pela lei.

+ As árvores solitárias, quando conseguem crescer, crescem fortes.

+ O sucesso consiste em ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo.

+ A história será gentil comigo, já que eu pretendo escrevê-la.

+ A política é a habilidade de prever o que vai acontecer amanhã, na semana que vem, no mês que vem e no ano que vem. E ter a habilidade de explicar depois por que nada daquilo aconteceu.

+ Se Hitler invadisse o inferno, eu faria pelo menos uma referência favorável ao diabo na Câmara dos Deputados.

+ Toda a história do mundo pode ser resumida pelo facto de que, quando as nações são fortes, nem sempre são justas, e quando elas querem ser justas já não são mais fortes.

 Num de seus discursos durante a guerra:

Hitler sabe que terá de nos vencer nesta ilha ou perder a guerra. Se pudermos resistir-lhe, toda a Europa poderá ser livre e a vida no planeta poderá seguir adiante para horizontes abertos e ensolarados. Mas, se nós cairmos, então o mundo inteiro, incluindo os Estados Unidos, incluindo tudo o que conhecemos e do que gostamos, vai afundar no abismo de uma nova Idade das Trevas, ainda mais sinistra e talvez mais prolongada pelo uso de uma ciência pervertida.
Que nós nos unamos para cumprir o nosso dever, e desta forma nos elevemos de tal forma que, se o Império Britânico e a sua comunidade britânica durarem mil anos, as pessoas ainda digam: “aquele foi seu melhor momento!”

 

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