terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Uma interpretação duvidosa


O grande fosso entre teoria e prática foi o que entendi, simplisticamente, julgo, deste texto inteligentemente elaborado, mas um tanto rebuscado, do Dr. Salles da Fonseca. Daí, que, quanto a mim, que não li Raymond Aron, os novos arautos acerca do mundo político, esses de uma esquerda que pretende ter descoberto a pólvora, no domínio da governação, feita de desequilíbrio entre o falso amor e o ódio assim-assim, na relatividade dos seus saberes – (que, aliás, é a de todos nós) – mas aparentando ausência da maturidade necessária a uma qualquer actuação de eficiência, condenam o mundo a uma definitiva pobreza interpretativa, resultante desse pedantismo rebuscado e pragmático, confiante num parecer de absolutismo teórico definitivamente empobrecedor do passado, do presente e do futuro. 

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 04.12.24

OU
NA FILOSOFIA DO DESENVOLVIMENTO

Da edição portuguesa das “Memórias” de Raymond Aron, pág. 120 e seg., GUERRA & PAZ, Fevereiro de 2018, extraio a opinião de que…

(…) Entre uma sociedade comunitária que se dá a si mesma por valor absoluto e uma sociedade liberal que visa alargar a esfera da autonomia individual, não há medida comum. A sucessão de uma à outra não lograria ser apreciada se não por referência a uma norma que deveria ser superior às diversidades históricas mas tal norma é sempre a projecção hipoestagnada do que um colectivo particular é ou quereria ser. Ora, a nossa época conhece demasiado a diversidade que encontra nela própria para cair na ingenuidade dos grupos fechados, ou para se elevar à confiança daqueles que se comparam com o passado e com outrem na certeza da sua superioridade.
(…) o progresso só se aprecia em função de um critério trans-histórico. O «mais» do saber observa-se, o «melhor» das culturas julga-se – e que juiz é imparcial?
Destaques anteriores da minha responsabilidade. * * *

 

Creio que a transcrição anterior é suficiente para evidenciar a diferença entre a Filosofia do Desenvolvimento e a Teoria do Desenvolvimento dado que aquela (a Filosofia) procura (pelos vistos, debalde) a norma que deveria ser superior ou o critério trans-histórico que justificasse o processo de desenvolvimento enquanto esta (a Teoria), perante o impasse filosófico, avançou por raciocínios talvez de menor elevação mas muito mais pragmáticos, ou seja, pela discussão dos modelos (quiçá econométricos) e de concepção de estruturas sociais e mesmo políticas.
* * *

Primeira observação – O modelo comunitário que se autodefiniu como de mérito absoluto e definitivo, impediu adaptações às mudanças exógenas, petrificou, rachou e ruiu; o modelo liberal, descontente consigo próprio devido a méritos mutantes (e, portanto, relativos), procura adaptações constantes às mudanças endógenas e exógenas, flexibiliza-se, sobrevive e progride.

Segunda observação - Como somos diferentes, filósofos e economistas, quanto poderíamos aprender uns com os outros. O problema é que nunca sabemos onde está um filósofo e só os encontramos tarde, postumamente.

Henrique Salles da Fonseca

COMENTÁRIOS:

Antonio Fonseca 08.12.2024: Estas reflexões do Doutor Henrique Salles da Fonseca são para uma leitura lenta, seguida de outra. Os filósofos como Raymond Aron, são como um farol para chamar atenção aos baixios e costas rochosas, enquanto os responsáveis da formulação e execução dos planos de desenvolvimento têm de navegar, em parte com dados, em parte pelo instinto. Talvez seja por isso que a sabedoria dos filósofos é de se manterem longe de governar. O Doutor Henrique está no seu “milieu” quando aborda a dinâmica dessas relações.

Nenhum comentário: