O grande fosso entre teoria e prática foi o que entendi, simplisticamente,
julgo, deste texto inteligentemente elaborado, mas um tanto rebuscado, do Dr.
Salles da Fonseca. Daí, que, quanto a mim, que não li Raymond Aron, os novos arautos
acerca do mundo político, esses de uma esquerda que pretende ter descoberto a
pólvora, no domínio da governação, feita de desequilíbrio entre o falso amor e
o ódio assim-assim, na relatividade dos seus saberes – (que, aliás, é a de
todos nós) – mas aparentando ausência da maturidade necessária a uma qualquer actuação de eficiência, condenam o mundo a uma definitiva pobreza interpretativa,
resultante desse pedantismo rebuscado e pragmático, confiante num parecer de
absolutismo teórico definitivamente empobrecedor do passado, do presente e do
futuro.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 04.12.24
OU
NA
FILOSOFIA DO DESENVOLVIMENTO
Da edição portuguesa das “Memórias” de Raymond Aron, pág. 120 e seg., GUERRA & PAZ, Fevereiro de 2018,
extraio a opinião de que…
(…) Entre
uma sociedade comunitária que se dá a si mesma por valor
absoluto e uma sociedade liberal que visa alargar a esfera da
autonomia individual, não há
medida comum. A sucessão de
uma à outra não lograria ser apreciada se não por referência a uma norma que
deveria ser superior às diversidades históricas mas tal norma é
sempre a projecção hipoestagnada do que um colectivo particular é ou quereria
ser. Ora, a nossa época conhece
demasiado a diversidade que encontra nela própria para cair na ingenuidade dos
grupos fechados, ou para se elevar à confiança daqueles que se comparam com o
passado e com outrem na certeza da sua superioridade.
(…) o progresso só se aprecia em função de um critério trans-histórico. O «mais» do saber observa-se, o «melhor» das
culturas julga-se – e que juiz é imparcial?
Destaques anteriores da minha responsabilidade. * * *
Creio que a transcrição anterior é
suficiente para evidenciar a diferença entre a Filosofia
do Desenvolvimento e a Teoria do Desenvolvimento dado que
aquela (a Filosofia) procura
(pelos vistos, debalde) a
norma que deveria ser superior ou o critério trans-histórico que justificasse o
processo de desenvolvimento enquanto esta (a Teoria), perante o impasse filosófico, avançou por raciocínios talvez de menor elevação mas muito mais
pragmáticos, ou seja, pela discussão dos modelos (quiçá econométricos) e de concepção
de estruturas sociais e mesmo políticas.
* * *
Primeira observação – O modelo
comunitário que se autodefiniu como de mérito absoluto e
definitivo, impediu adaptações às
mudanças exógenas, petrificou, rachou e ruiu; o modelo
liberal, descontente consigo próprio devido a méritos
mutantes (e, portanto, relativos), procura
adaptações constantes às mudanças endógenas e exógenas, flexibiliza-se,
sobrevive e progride.
Segunda observação - Como
somos diferentes, filósofos e economistas, quanto poderíamos aprender uns com
os outros. O problema é que nunca sabemos onde está um filósofo
e só os encontramos tarde, postumamente.
Henrique Salles da Fonseca
COMENTÁRIOS:
Antonio
Fonseca 08.12.2024: Estas reflexões do Doutor Henrique
Salles da Fonseca são para uma leitura lenta, seguida de outra. Os filósofos
como Raymond Aron, são como um farol para chamar atenção aos baixios e costas
rochosas, enquanto os responsáveis da formulação e execução dos planos de
desenvolvimento têm de navegar, em parte com dados, em parte pelo instinto. Talvez seja por isso que a sabedoria dos filósofos é de se manterem
longe de governar. O Doutor
Henrique está no seu “milieu” quando aborda a dinâmica dessas relações.
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