De uma História que
nasceu, cresceu e estreitou, num país que também - estreiteza que cabe, entre
outros motivos, (que destroem definitivamente os epítetos laudatórios contidos
na letra do Hino Nacional, hoje perfeitamente irrisórios) - às tácticas e
estratégias dos dois últimos políticos citados, o primeiro dos quais, contudo, único
a ser festejado, pela sua actuação bonacheironamente oportunista – definitivamente
desembaraçador de responsabilidades e de respeito pátrio.
Salazar, Soares, Cunhal: os
três políticos do século XX português
Salazar, Soares e Cunhal representam, em Portugal, as alternativas
do século XX: o nacionalismo autoritário, o comunismo totalitário e a
democracia liberal.
JAIME NOGUEIRA PINTO Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 14
dez. 2024, 00:1725
A passagem do centésimo aniversário
do nascimento do Dr. Mário
Soares deu lugar a grandes comemorações, como é natural,
tratando-se de uma personalidade decisiva da classe política deste regime. E como é também natural, a grande maioria das
intervenções foi laudatória, com excepção da de André Ventura, na Assembleia da
República, que teve o mérito de sublinhar o papel crucial do então ministro dos
Negócios Estrangeiros do governo provisório de Vasco Gonçalves na
descolonização. Um governo provisório que, sob a pressão de um
colectivo militar, tomou as decisões mais definitivas da História de Portugal
depois da Restauração de 1640 e da Guerra Civil de 1828-1834.
De resto, Mário Soares fazia-o coerentemente, já que tinha sido a primeira personalidade da oposição
democrática a tomar uma posição “anti-colonialista”, quebrando o republicanismo
histórico patriótico que levara a resistência não-comunista ao regime a apoiar
a política de Salazar de defesa do Ultramar em 1961, no início da guerra de
Angola.
Salazar, o nacionalista
Salazar é, sem dúvida, a figura
política central da história de Portugal do século XX. Primeiro, porque foi dominante entre
Abril de 1928, quando chegou ao governo da Ditadura Militar como Ministro das
Finanças, e Setembro de 1968, quando deixou o poder; depois, porque os seus
inimigos políticos, de Mário Soares a Álvaro Cunhal, dos militares do MFA às
novas esquerdas, continuaram a tê-lo como referência para dizer e fazer
exactamente o contrário do que faria.
É, também, natural. Salazar era
um nacionalista conservador autoritário, um homem que punha o interesse
nacional português e a sua razão de Estado acima de qualquer ideologia de
esquerda, centro ou direita, comunista, liberal ou fascista. Considerava-se um depositário
de uma herança que vinha do rei-fundador, passava por Nun’Álvares e
Aljubarrota, pelo Infante das Descobertas, pelos conquistadores das Índias e
povoadores do Brasil. Revia-se nos insurgentes da Restauração, no patriotismo
orgulhoso de Pombal, na resistência popular aos franceses nas invasões; e nos
“Africanos”, de António Enes a Mouzinho de Albuquerque e a Caldas Xavier, que
tinham entendido e salvado o Império depois da partilha africana de Berlim.
Fora
esse o legado que recebera e que considerava um dever conservar, até porque
estava convencido que, sem Ultramar, sem Império, Portugal acabaria por perder
a independência, ficando um país periférico numa Península e numa Europa mais
poderosas.
Soares, o democrata
O Dr. Soares tinha outros valores; como foi realçado por vários dos
seus correligionários e admiradores, era um democrata e um europeísta a quem
pouco diziam grandezas históricas e presenças imperiais que pudessem pôr em
causa ou suspender a democracia partidária e os seus valores individuais de
liberdade de expressão e organização.
Desses
valores, Salazar tinha, não só a referência crítica negativa, por razões
doutrinárias, da “democracia cristã” dos Papas Sociais e do racionalismo
maurasiano, como a experiência da Primeira República. Mário Soares, também
porque pertencia, por família, à aristocracia dessa Primeira República, que com
o 28 de Maio e o Estado Novo seria afastada do poder por meio século, tinha
convicções opostas. Não podia gostar de Salazar.
E não gostava. Embora, para o fim,
num momento de mal contida fúria contra os modernos governantes, viesse fazer,
a seu modo, um reconhecimento da probidade pessoal e da isenção de Salazar.
Porque Mário Soares era assim. Tinha
sentido político e sabia que era o Inimigo que fazia o Amigo ou o Aliado, e
que, por isso, contra o Inimigo principal do dia, não hesitava em aliar-se com
os inimigos, mesmo os principais, da véspera.
Estivera no Partido Comunista,
mas o golpe de Praga e o destino dos então “colaboracionistas” com os
comunistas – o suicídio por defenestração de Jan Masaryk impressionou-o muito –
afastaram-no do Partido. Ainda colaborou no frentismo de 1949, à volta da
candidatura presidencial do republicano e “colonial” general Norton de Matos, que iria também cortar
com os comunistas, e acabar os seus dias protegido contra eles.
Inteligente, rápido, com sentido da
manobra, Mário Soares não podia deixar de aparecer no radar das organizações
que, no tempo da Guerra Fria, tinham por tarefa estar atentas, em países como
Portugal, a alternativas oposicionistas não-comunistas. Organizações que, na
área militar, tinham já identificado um unificador da oposição – Humberto
Delgado – e que entre os civis, desde o caso do “Ballet Rose”
e da sua denúncia mediática no exterior, tinham apoiado discretamente o futuro
líder socialista. Para eles e os seus interesses, alguém equidistante do Estado
Novo e do comunismo soviético – o inimigo número 1 – era importante.
Cunhal, o comunista
Este inimigo, o PCP, era chefiado em
Portugal pelo terceiro político deste terceto, depois de Salazar e de Soares – Álvaro Cunhal. Em 1945, a
seguir à Guerra, as veleidades da oposição democrática de conseguir apoio em
Washington e Londres para derrubar Salazar tinham caído perante os despachos
das respectivas embaixadas de que, não havendo nenhuma liderança e capacidade
alternativa na oposição democrática, o fim do Estado Novo significaria o risco
da tomada do poder pelos comunistas. Em
1974, como documentou Tiago Moreira de Sá, não só a embaixada americana estava
a leste da conspiração corporativa dos capitães, cansados da guerra de África,
como estes deram ao PREC um movimento próprio em que o PCP tinha trunfos, ao
ser a única organização política sobrevivente além do “partido único”
dissolvido, UN-ANP. E os comunistas tinham também o prestígio, com alguma
razão, de ter sido o “inimigo principal” do Regime e o grande destinatário da
repressão policial. E
assim Cunhal, homem determinado, inteligente, fidelíssimo a Moscovo, nostálgico
do estalinismo, interveio com o seu Partido no PREC. Essencialmente para
garantir que a descolonização tivesse um sentido favorável à URSS, mas também
para, no 28 de Setembro e no 11 de Março, mobilizar a sua gente na “luta
antifascista”, saneando, perseguindo e prendendo reaccionários, latifundiários,
capitalistas e seus agentes reais ou imaginários. Pôr a reacção na cadeia era
coisa de que tinha, a partir da Rússia e da Europa Oriental, um vasto know-how.
Aqui não foi muito mau porque durou pouco.
O Dr. Soares esteve na frente comum
anticolonial; no 28 de Setembro continuou no governo de Vasco Gonçalves e não
pareceu muito incomodado com as centenas de presos sem culpa formada, então nas
prisões da jovem democracia. Também
aprovou as nacionalizações do 11 de Março e alinhou no discurso antifascista,
até que, ao ver chegar-lhe à porta a procissão, se deve ter lembrado de
Kerensky na revolução russa e de Jan Masaryk em Praga, em 1948. A ele não o
defenestrariam.
Nessa ocasião, já o quadro geopolítico estava traçado, com a
irreversibilidade da descolonização, que possibilitava a viragem nas Forças
Armadas sem risco de voltar à guerra; e também estava garantida a aceitação por
Moscovo das regras da partilha de Ialta. Tudo isto seria regulado no 25 de
Novembro, que instituiu o Centrão e permitiu salvar o PCP e o Dr. Cunhal do
perigo da contra-revolução.
A SEXTA COLUNA HISTÓRIA CULTURA DEMOCRACIA
SOCIEDADE POLÍTICA
MÁRIO SOARES PAÍS SALAZAR ÁLVARO CUNHAL PCP
COMENTÁRIOS (de 25)
Maria Augusta Martins: A Democracia do Dr Soares só
se aplicava quando ele tinha o mando e o Erário à disposição. Caso não estivesse no poleiro toda e qualquer
atitude do governo era brindado com os epítetos do costume. Eu exemplifico: A 4 de Dezembro de 1980, até às 22 horas o dr Sá
Carneiro era um fascista, adúltero e um saudoso do Estado Novo. Às 23,30 já com
a morte do homem confirmada, o dr Sá Carneiro passou a ser um grande democrata
e anti-fascista do melhorio. Enfim para mim isto diz tudo sobre a pessoa. Olhem
o Barreirinhas do Cunhal não mudou o discurso com o acidente, honra lhe seja! Maria Emília Ranhada Santos: Salazar foi um estadista honesto e íntegro!
Morreu bem pobre e nunca usou um cêntimo do Estado para seu proveito próprio!
Construiu escolas, centros de saúde, pontes, etc. Nunca fez dívidas ao Estado! O
seu grande "defeito" era preocupar-se demasiado com as ex-colónias e
esquecer um pouco o continente! Soares era um socialista que tinha as suas qualidades, mas o facto de ser
socialista já afastou muito o país da democracia, pois para ele, o partido
estava sempre primeiro e continua hoje a acontecer nos seus seguidores! Cunhal também se destacou e deixou a
sua memória acesa, por ter sido um acérrimo lutador naquilo em que acreditava!
Infelizmente acreditava num grande erro, mas era assim que ele acreditava com
convicção! Infelizmente, com tanta "liberdade" uns
"pidescos" do novo regime, acabaram com a vida de outros grandes
estadistas como Sá Carneiro, para que não lhes fizesse sombra e eles pudessem
conduzir o novo regime, não para uma verdadeira democracia, mas para um
socialismo que nos trouxe ao local em que estamos! O 25 de abril, que devia ser
para implantar uma democracia, não foi porque Sá Carneiro foi assassinado pelos
antidemocratas esquerdistas! Não podemos ignorar nem esquecer este triste e
relevante acontecimento, porque ele marcou totalmente o destino do nosso
país! E foi de tal modo marcante, que hoje, depois de tantos anos de
esquerda no poder, esta convenceu-se de que já se tinham tornado os donos
absolutos disto tudo! Agora, cada vez que alguma direita de verdade se
aproxima do Parlamento, o ódio cresce até ferver nas cabeças e corações
daqueles que julgavam que com a morte de Sá Carneiro tudo tinha sido
concretizado! Infelizmente, a estes políticos de esquerda, juntou-se a
comunicação social, dos poderosos, que querem o poder para dominarem, não para
construírem uma democracia! Foi deste modo, com estes governos de
esquerda que chegamos à cauda da Europa! Também nos EUA os políticos e a
comunicação social, com a infinidade de jornalistas e comentadores apoiaram a
esquerda e tudo inventaram para destruir a direita, mas o povo, marimbou-se
para as mentiras da CS e votou em quem achou que devia votar, para vergonha e
desastre desses "profissionais" que ficaram totalmente
desacreditados! Portugal nunca esteve tanto em baixo! Há um desejo louco
da esquerda de entregar o nosso país às perversas elites globalistas, para que
ele deixe de existir e passemos a ser uns sem identidade, sem bandeira, sem
História, sem fé, sem Deus, sem Pátria, enfim, sem sentido para a vida! Eles
querem, a esquerda, quer! Mas a direita e os portugueses não queremos! Queremos
continuar com os nossos valores e a nossa identidade pessoal e nacional! Queremos
alguém que restaure a nossa democracia, aquela que Sá Carneiro desejava e foi
impedido de realizar por ter sido assassinado por gente da esquerda! Novo
Assinante: Fascistas como JNP ou André Ventura deviam lavar a boca antes de falarem
sobre o dr. Mário Soares a quem devemos a primeira e até então única democracia
da História de Portugal. MCMCA
A: Mário Soares foi um homem sem memória que por isso, dizia uma coisa e o seu
contrário sem corar e sentir remorsos. Guiou-se pelo poder e pelo poder traiu
amigos e companheiros de partido. No fim da vida, voltou a ser o esquerdista
militante dos seus verdes anos porque não precisava do discurso socialista moderado
para nada porque não tinha esperança de alcançar mais o poder. Foi sempre
oportunista, algo que Salazar e Cunhal nunca foram. António
Moreira > Ilidio
Dantas: Não se esqueceu. Por mais que se gostasse de Sá Carneiro - e havia algumas
razões para gostar, não discuto isso - a sua passagem foi demasiado efémera e
sua actuação demasiado condicionada para deixar uma marca real nos destinos do
país, que é do que trata a crónica. Sérgio
Cruz: Mais uma aula de História que tenho o privilégio de ler e de aprender todos
os Sábados. Obrigado, JNP. Tim
do A: Soares, o
idiota útil ao serviço dos impérios americano e soviético. Pertinaz: Salazar era e é uma ameaça
para a escumalha congregada na maçonaria para assaltar o erário público…
A D: Em suma, o golpe de estado de 25 de abril serviu sobretudo para entregar o
império aos soviéticos e dinheiro sem risco aos oficiais das forças armadas,
que assim renegaram para sempre os valores com que se construiu Portugal:
valentia, coragem, fé cristã, de Afonso Henriques ao Infante Dom Henrique ou a
D. João II, Vasco da Gama a Mouzinho de Albuquerque… e de entre as muitas
estrelas e galões militares sobressai um bonacheirão incapaz de somar dois com
dois, segundo o próprio, que acima de tudo erigiu o ódio a Salazar como
leit-motiv para a sua vida. Ilidio
Dantas: Esqueceu-se de um polo importante nesse século que apesar de ter pouco
tempo de vida no desenrolar de uma nova democracia. Francisco Sá Carneiro, foi uma personagem que
marcou a política e a vida portuguesa
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