O sistema não parece tão democrático
assim, visto que recorre aos tribunais em caso de discordância com a vontade
popular, tribunais que efectivamente se impõem com a eficiência exigida, ao que
parece, não é como cá, que somos desleixados. Mas da Roménia, além do Drácula,
só me ficou na memória a referência à execução de Ceausescu, cerca dos anos 90,
que me causou muita impressão, pelo que, apoio o texto do Dr. JAIME NOGUEIRA
PINTO, com dados históricos colhidos na Internet, para melhor identificar essas zonas do leste europeu.
“O Trump romeno”
Cälin Georgescu, a quem já carinhosamente chamam “o Trump romeno”,
tem todos os requisitos para poder figurar em grande destaque na lista negra.
JAIME NOGUEIRA PINTO Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 07 dez. 2024, 00:1736
O
sistema, ou o que se lhe queira chamar, está em alvoroço e, como derradeiro
recurso para conter uma vontade popular que não lhe agrada, recorre aos
tribunais para pôr em causa as escolhas eleitorais, ou para o que seja. E se os tribunais não dão a resposta
pretendida, entra a alegação da interferência da Rússia de Putin e dos que
estão “a soldo de Moscovo”. Culpas próprias? Não existem.
Problemas reais ignorados? Também não. Descontentamento? Só o instigado pelas
“redes sociais”, cuja manipulação, ao que dizem, se faz só no sentido contrário ao da impoluta informação de referência.
Este
“último recurso” aos tribunais passou-se nos Estados Unidos, com os múltiplos
processos contra Trump e com Joe Biden a acabar expeditamente com as acções
judiciais que envolviam o seu filho Hunter e que o poderiam implicar,
concedendo-lhe um indulto presidencial abrangendo os últimos 11 anos. Passa-se também no Brasil, com a acusação
contra Bolsonaro e vários dos seus colaboradores, incluindo oficiais generais,
de um pretenso golpe para impedir a posse de Lula. E
em França, com o processo contra Marine Le Pen, que a pode tornar inelegível.
Independentemente do fundamento e da
justeza das acusações, há
uma convergência clara da Esquerda e do Centrão para parar judicialmente a vaga
nacionalista popular que avança na Euro-América e que vêem sempre com incrédula
surpresa.
A última surpresa veio da Roménia no Domingo, 24 de Novembro, quando
o
nacionalista Cälin Georgescu saiu à frente na primeira volta
das eleições presidenciais, com 23% dos votos.
Curiosamente, havia um
nacional-populista indicado como favorito, mas não era Georgescu, era George Simion, historiador, economista,
deputado e líder da Aliança para a União dos Romenos. Porém, Simion
acabou por ficar em quarto lugar, com
cerca de 14%, e quem ficou em primeiro foi o inesperado Georgescu.
Os que já tremiam com a possível passagem à segunda volta de Simion, mais se assustaram com o aparecimento de
um nacional-populista desconhecido, a quem as sondagens não davam sequer
10%.
A recontagem
Recorreram, por isso, ao Tribunal Constitucional de Bucareste, que
ordenou uma recontagem… mas a recontagem confirmou os resultados de 24 de
Novembro. O que fazer? A Rússia; havia sempre a Rússia e as
redes sociais. Seguiram-se então as
habituais referências ao envolvimento da Rússia ou à intoxicação do povo com fake
news pelas redes sociais, neste caso o TikTok.
A queixa que originou a recontagem
veio de um candidato do Partido Nacional
Conservador Romeno, Christian Terhes, com 1% das escolhas populares, e de
Sebastian Popescu, com 0,15% dos sufrágios.
A segunda volta de amanhã, 8 de
Dezembro, vai então disputar-se entre Georgescu e Elena Lasconi, a líder do
partido União Salva a Roménia. Lasconi ficou em
segundo lugar na primeira volta, 2740 votos à frente do candidato do partido no
poder, o Partido Social Democrata, que está no governo desde
que caiu o comunismo e que Nicolae Ceausescu foi sumariamente julgado e
executado, juntamente com a mulher, Elena.
Até lá, e dada a falta de colaboração do
Tribunal Constitucional, Georgescu
passa a estar “a soldo da Rússia”, daí a sua insistência na paz.
O descontentamento dos romenos deve-se sobretudo ao elevado custo de
vida e ao que vêem como a incompetência e a corrupção dos “partidos do poder”,
os sociais-democratas de centro-esquerda e os nacionais liberais de
centro-direita.
Nas eleições para o Parlamento,
realizadas a 1 de Dezembro, manteve-se a
liderança dos sociais-democratas
(24%) e dos nacionais-liberais (14%), porque, embora os partidos nacionalistas
ou “de extrema-direita” passem dos 30%, o voto está muito fragmentado.
Destes, a Aliança para a União dos Romenos, o partido de George Simion, teve
18% – e Simion já anunciou o seu apoio a Georgescu.
Uma sondagem do passado dia 1 dá
Georgescu como vencedor da segunda volta, com 57,8% contra os 42,2 de Lasconi,
a candidata centrista e pró-europeia. A eventual vitória deste
nacional-populista, crítico do
empenhamento da Roménia no apoio à Ucrânia, pode criar problemas a Bruxelas,
já que, na Roménia, como em França, o
Presidente da República é o comandante em chefe das Forças Armadas e o
orientador da política externa.
Georgescu é um destes candidatos-surpresa
com que já não nos devíamos surpreender. Com
62 anos e uma carreira tecnocrática em organismos ligados à protecção ambiental
e à agricultura, áreas em que defendeu uma maior autonomia da Roménia em
alimentação e energia, Georgescu não tem, praticamente, passado político. Só recentemente se aproximou dos
nacionalistas da Aliança para a União dos Romenos, o partido de Simion, fundado
em 2013.
O caminho de Georgescu para a
popularidade fez-se nas redes sociais – sobretudo no TikTok, mas também no
Youtube e no Facebook –, onde a sua presença é assídua e
combativa (chega a
aparecer em quimono de judo, de que é praticante). Defende o nacionalismo romeno, pratica o
eurocepticismo e ataca
a escalada verbal e armamentista anti-Rússia e até a presença em território
romeno, em Deveselur, de uma base militar da NATO com um sistema de defesa
anti-mísseis. É
um devoto cristão ortodoxo e, como se não bastasse, mostra admiração por
políticos romenos dos anos 30, como Corneliu Codreanu, o fundador da Guarda de
Ferro, e o marechal Antonescu.
Dificilmente podia reunir mais e
melhores requisitos para figurar em grande destaque na “lista negra” dos media de
referência, que já o tratam carinhosamente por “Trump romeno”.
Nota: Nem de
propósito. Já tinha concluído e enviado para o Observador o artigo quando o
Tribunal Constitucional da Roménia, afinal colaborante, anulou a
primeira volta das eleições presidenciais… alegando suspeitas de influência
russa.
A SEXTA
COLUNA HISTÓRIA CULTURA ROMÉNIA EUROPA MUNDO
COMENTÁRIOS (de 36)
José B Dias: E já por aqui pousou o primeiro "democrata"
que parece ser adepto da Lei Marcial, da retirada de candidatos "inconvenientes" e da
repetição de eleições as vezes que forem necessárias até darem o resultado
"certo" ... Ainda recordo os tempos e locais onde uma das principais
diferenças da Democracia passava pela aceitação por parte dos derrotados dos
resultados de eleições!
José Martins de Carvalho: Com a grande admiração e
consideração que tenho por JNP, não entendo a sua empatia com os que criticam
"a escalada verbal e armamentista anti-Rússia" em vez de se oporem à
bárbara agressão russa à Ucrânia. Na circunstância, este Georgescu não tem nada da
Trump. Que eu saiba Trump não mostra admiração por políticos fascistas e
pro-nazis como Codreanu ou Antonescu. E a resolução do problema dos maus
políticos europeus e americanos não passa por essas ideias ou forças
para-militares. Futari Gake: Um Tribunal Constitucional na Roménia a copiar o STF e
STE do PT de Lula e Morais. Quo vadis UE? Maria Emília Ranhada Santos:
A lista negra, que é a mais
branca de todas! Para a lista negra vão todos os que se opõem ao aborto, à
eutanásia, à desordenada promoção das minorias LGBT, à destruição da família e
sua substituição por parelhas gays e outras aberrações, às barrigas de aluguer,
à ideologia de género nas escolas públicas, ao terrorismo, ao racismo, ao apoio
aos grupos de vândalos, à desautorização das policias, à destruição do
património nacional e religioso, à neutralização de História, à guerra, etc... Todos
sabemos o porquê destas listas negras e porque obrigaram a tomar as injeções de
Covid, sob pena de ficar sem emprego! Coação e mais coação, chantagem e mais
chantagem! E chamam a isto democracia e liberdade?!... Antonio
Soares Leal: Mesmo que tenha havido influência (via redes sociais ou notícias) russa,
foi o povo romeno que votou, ou não? José B Dias > Ruço Cascais: ... o povo é que escolhe. Sim é
verdade, é para escolher dentro das ofertas democráticas que pertencem ao
sistema democrático. Incrível como não se apercebe que é exactamente isso
que fazem regimes como o russo ... onde a Oposição é o que o Poder decidir que pode ser! Teresa
Salgueiro: Ironicamente, é estranho o Dr Nogueira Pinto nunca falar da ingerência
imperialista russa, esse baluarte da liberdade, democracia, respeito pelas
liberdades individuais e dos direitos humanos. Também sonha com um império
euroasiático de Lisboa a Vladivostok? Tristão: Dificilmente podia reunir mais e melhores requisitos
para figurar em grande destaque na lista de Jaime Nogueira Pinto como mais um
grande defensor do nacional populismo (antigamente chamavam-lhe nacional
socialismo). Não há dúvida, este é o caminho, adoradores de autocracias e
defensores de antigos territórios históricos, no caso vertente, da grande
Roménia… tem tudo para correr bem 😇
NOTAS DA INTERNET:
Dados Históricos
sobre a ROMÉNIA
………Em
agosto de 1944, um golpe liderado por rei Miguel, com o apoio de políticos de
oposição e do exército, depôs a ditadura Antonescu e colocou os exércitos romenos
sob o comando do Exército Vermelho. A Romênia sofreu pesadas baixas
adicionais enfrentando o exército nazista
na Transilvânia, Hungria
e Checoslováquia.
Ao
final da II Guerra Mundial, a Transilvânia setentrional retornou
ao domínio da Roménia e adquiriu um status de autonomia, mas Bucovina,
Bessarábia e Dobruja
meridional não foram recuperadas. A R.S.S. Moldava tornou-se independente
somente em 1991, com o nome de Moldávia.
A Roménia comunista
A
ocupação soviética após a Segunda Guerra Mundial levou à formação de uma República
Popular comunista em 1947 e à abdicação do
rei Miguel, que partiu para o exílio.
No
início dos anos 1960, o governo comunista da Roménia começou a assegurar uma
certa independência da União Soviética. Ceauşescu
tornou-se líder do Partido Comunista em 1965 e chefe de Estado em 1967. A
condenação de Ceauşescu da invasão soviética da Checoslováquia em 1968 e um breve
relaxamento na repressão interna ajudaram a fornecer dele uma imagem positiva
tanto em casa como no oeste. Seduzidos pela política estrangeira
"independente" de Ceauşescu, líderes ocidentais demoraram a voltar-se
contra um regime que, ao final dos anos 1970, se tornara progressivamente duro,
arbitrário e caprichoso. O rápido crescimento económico incentivado por
créditos estrangeiros gradualmente deu lugar a uma austeridade rígida e a uma
repressão política severa.
O
governo de décadas do presidente Nicolae Ceauşescu
tornou-se progressivamente severo no decorrer dos anos 1980.
Dezembro
de 1989 marcou a queda de Ceauşescu e o fim do regime comunista na Roménia, uma mudança violenta, que resultou em mais de mil
mortes durante os eventos decisivos em Timişoara
e Bucareste.
Após uma semana de estado de intranquilidade na cidade Timişoara, Ceauşescu
perdeu o controle sobre o governo do país, fugindo de Bucareste após convocar uma reunião de apoio que se voltou
contra ele em 21 de dezembro de 1989, sendo preso e executado em 25 de dezembro
de 1989. A série
de eventos conhecida como a Revolução
Romena de 1989 permanece até hoje uma questão de debate, com muitas
teorias conflituantes sobre as motivações e mesmo as acções de alguns dos
personagens principais. Um antigo activista
marginalizado por Ceauşescu , Ion Iliescu conseguiu
reconhecimento nacional como líder de uma coalizão governamental improvisada, a
Frente de Salvação Nacional (FSN), que
proclamou a restauração da democracia e liberdade em 22 de dezembro de 1989.
O Partido Comunista foi declarado ilegal e as medidas mais impopulares de
Ceauşescu, tais como a proibição do aborto
e a contracepção,
foram revogadas.
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