Os Chineses, digo. A sua infiltração no mundo permite-lhes apropriar-se de
técnicas e saberes dos povos deste ocidente por onde eles se vêm espalhando.
Nas suas lojas - que eu frequento com regularidade, por motivos do meu modus vivendi de poupança e modéstia - eles
mostram-se ora simpáticos, ora de uma seriedade superior, mas sempre em
telefonemas provavelmente de distância intercontinental, aparentemente confiantes
na honestidade dos compradores, que se enfiam pelos estreitos corredores das
suas lojas pejadas, sem preocupações de harmonia ou de luxos desnecessários. A
infiltração pode muito. A aparência de humildade confiante, também. Não me
parece, pois, que a China caia assim. Pelo menos a queda das suas lojas por cá, no
nosso país, sempre pejadas de todos os conteúdos necessários. Excepto de
livros, naturalmente, que não é sua intenção difundir cultura literária.
Felizmente para os livreiros. A cultura deles, de sólido toque, é
suficientemente infiltrante, sem espalhafato inútil, abundante qb e sem queda
previsível.
É certo que a progressão nuclear – estou a escutar na tv. – aumenta de
precipitação, com a participação da Rússia no processo, como se tem visto, frustrada
com o limitado do espaço ucraniano dos seus inícios, quase três anos a esta
parte, a penetração chinesa já nem conta por cá, pois também é natural que
caia, só mesmo o Putin fica de pé, mesmo que sentado, sorridente da realização eficaz. Sem medos.
Porque cai a China
Há cinco anos o Mundo preparava-se para que a China
fosse a sua maior economia, hoje, a economia chinesa está muito mais longe
dessa possibilidade.
BRUNO BOBONE Presidente do Grupo Pinto Basto
OBSERVADOR, 12 dez. 2024, 00:1610
Na semana passada Paulo Portas dizia,
numa intervenção pública que o investimento chinês em África estava a diminuir.
Na minha opinião isso era totalmente
expectável face ao que aconteceu no Mundo e na China ao longo dos últimos anos.
Em primeiro lugar a anulação do
sistema de economia liberal que estava a ser o motor da economia chinesa
durante as últimas décadas foi substituído por um sistema de capitalismo muito
controlado, por um Estado que se tornou mais totalitário e menos aberto à
iniciativa privada.
A nova liderança chinesa, ao
contrário das anteriores, teve medo da autonomia dos seus cidadãos e da
partilha de poder que teria que existir à medida que se iam afirmando as novas
enormes fortunas daqueles que foram os seus grandes empresários, responsáveis
pelo desenvolvimento que tanto foi louvado em todo o Mundo.
Xi Ji Ping, por se
sentir mais ameaçado com essa partilha de poder, começou por eliminar a
possibilidade de ser substituído como líder do seu país e de seguida procurou
controlar todos aqueles que lhe poderiam fazer frente e que eram nem mais nem
menos os donos das enormes fortunas que tinham sido construídas durante o
milagre económico da China.
Ao
substituir esses elementos por funcionários do Estado chinês, que controla,
acabou por destruir a enorme capacidade de desenvolvimento dessas empresas, que
dependiam da motivação dos seus líderes, da sua autonomia e das suas
capacidades de risco, que não existem nestes novos dirigentes públicos que o
servem.
Ao mesmo tempo, a pandemia, que vivemos durante os primeiros anos
desta década, criou uma crise de abastecimento mundial, fundamentalmente
provocado pelo excesso da enorme dependência da concentração da produção na
China.
Em
face desta experiência tão preocupante, registou-se imediatamente uma maior
procura de alternativas a essa concentração e aumentando a diversidade de
oferta de origens de produtos para o consumo mundial, que associada a uma
política mais restritiva de compras americanas à China acabou por trazer uma diminuição
da produção na economia chinesa.
A par destas realidades e como costuma
acontecer nos crescimentos muito acelerados das economias, registou-se um grande desequilíbrio entre os valores do imobiliário que
tende a ser transacionado por um valor excessivo face à realidade e que termina
quase sempre, como aconteceu aqui, no rebentar de uma bolha que deixa os
cidadãos e a economia com uma situação de crédito mal parado que destrói muito
do crescimento anterior.
Com tudo isto, temos vindo a assistir a uma recorrente falha em atingir as
expectativas de crescimento por parte da China e temos a consciência de que a
situação que está a ser reportada, não é, provavelmente sequer a verdadeira
imagem da quebra que verdadeiramente está a acontecer.
Por tudo isto, estamos a assistir a uma diminuição da capacidade da
China de aumentar os seus investimentos em África.
Mas, provavelmente é também por isto que
estamos a ver a China a apoiar o seu maior inimigo geo-político – o
seu vizinho com quem tem a maior fronteira – e
que, por ter tido uma imprudente avaliação do que resultaria da sua invasão da
Ucrânia, não teve alternativa que não refugiar-se no apoio anti-natural chinês.
A China precisa de obter riqueza para
continuar a suportar o nível de vida a que, entretanto, chegou e, como vimos, as
suas capacidades próprias estão extraordinariamente condicionadas, por isso, necessita de obter os recursos
que estão ao seu lado na Rússia, para poder sobreviver a estas dificuldades
económicas que está a enfrentar.
A troco do apoio militar seu e da sua vizinha e dependente Coreia do
Norte, a China terá acesso aos recursos russos e retirará daí o apoio que
necessita para a sua sobrevivência.
Resta saber se tal será suficiente para garantir o seu êxito e
também que Rússia vamos ter quando tudo isto acabar.
Há cinco anos o Mundo preparava-se para
que a China fosse a sua maior economia, hoje, a economia chinesa está muito
mais longe dessa possibilidade e parece que é por tudo isto que a China cai.
COMENTÁRIOS (de 10)
Tim do A: A Europa
está a cair bem mais do que a China. Foquemo-nos e preocupemo-nos mais com ela
porque é onde nós vivemos.
Fernando Cascais: Caríssimo Bobone, vou
contrariar só por contrariar. Ainda me lembro do slogan que se colava à China
como as nódoas à camiseta de um gordo que cantava o seguinte: o barato sai
caro. Traduzindo, os produtos chineses eram baratos mas não valiam nada e
estragavam-se logo. Face ao exposto, não sei dizer se a China está melhor ou pior, mas, uma
coisa é certa, melhoraram muito a qualidade dos seus produtos, e, se não nos
pusermos a pau, qualquer dia até fazem vinho melhor do que o nosso. Durante
muitos anos, os alemães e europeus em geral passeavam confiantemente e até com
uma certa arrogância os seus produtos que não eram comparáveis aos chineses em
qualidade. Mas, os Chineses com uma economia a dar sinais de Liga Chinesa
deram a volta por cima, e, hoje são os alemães e restantes europeus a correr
atrás do prejuízo. Nos telemóveis dão cartas. Já tive um telemóvel
Huawei e era uma excelente máquina. Boas máquinas são também os carros que
agora produzem para exportação e mercado interno. Vi no outro dia um BYD muito
interessante. Um carro que já ganhou vários prémios internacionais, incluindo
no design. Tem um modelo chamado Seal, concorrente direto do Porsche Taycan que
não se fica nada atrás, a não ser no preço, o Taycan começa nos 107 mil euros
enquanto o seal nos 45 mil euros.
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