Entrevistas várias sobre a queda possível
do Governo Francês, o que bem doeu, lembrando os seus, que o mundo amou e ama,
como expoentes de riqueza espiritual para bem do mundo. Um absurdo.
Quinze anos depois, é França a dizer que
"não é a Grécia". Crise financeira agrava-se e BCE pode ter de
intervir, dizem analistas
OBSERVADOR, 5/12/24
Ministro da Economia disse em entrevista televisiva que "França
não é a Grécia". Pressão nos mercados tem subido mas de forma
relativamente contida, mas analistas dizem que o BCE pode ter de intervir.
“França não é a Grécia, França tem uma
economia, uma situação no mercado de trabalho, na actividade e atractividade
económica, um poder económico e demográfico que estão, todos eles, num nível
bem superior – isso significa que somos diferentes da Grécia”, afirmou Antoine Armand, (ainda) ministro da
Economia francês numa entrevista à televisão BFMTV na última quinta-feira.
Esse foi o dia em que os investidores
no mercado de dívida, pela primeira vez desde 2008, exigiram rendibilidades
semelhantes para comprar dívida de França e da Grécia – o país que esteve, em 2010, no epicentro
da crise que levou vários países, incluindo Portugal, a perderem o acesso aos
mercados de dívida e a terem de pedir assistência financeira.
Dias antes, uma outra responsável do governo francês tinha avisado
que França enfrentava um “possível
cenário semelhante à Grécia”. Quem o
disse foi uma porta-voz do governo, Maud Bregeon, que admitiu que a
possível “tempestade nos mercados” de que tinha falado o primeiro-ministro Michel
Barnier — que esta quarta-feira
viu ser aprovada, por 331
votos, a moção de censura que vai fazer cair o seu governo — significaria que
França poderia ver o acesso aos mercados em perigo e enfrentar uma crise
semelhante à que assolou Atenas em 2010.
Apesar de os juros da dívida de França
terem igualado os da Grécia, com todo o simbolismo que isso acarreta, até ao
momento a “temperatura” tem subido em lume baixo. Os
analistas do Goldman Sachs até diziam nesta terça-feira, com alguma dose de
sarcasmo, que apesar de França estar prestes a ficar sem governo (ainda não tinha sido votada a censura)
e ter um défice de 6% “os mercados simplesmente parecem não
estar dispostos a incomodar-se com isso”. A reacção
imediata à aprovação da censura mostra precisamente isso. Os contratos futuros
da bolsa francesa registavam uma subida
ligeira.
Os
juros da dívida de França têm subido de forma lenta, uma mão-cheia de
pontos-base, no máximo, a cada dia. A diferença em relação aos custos de
financiamento da Alemanha – que, apesar dos problemas que também assolam essa
economia, é a referência “sem risco” no mercado de dívida europeu – tem vindo a subir mas continua perto dos
85 pontos-base, perto dos valores mais elevados desde 2012 (e o dobro do spread de Portugal) mas,
ainda assim, um indicador de risco relativamente benigno.
Taxas de juro a 10 anos têm-se mantido
relativamente estável, o que tem surpreendido os bancos de investimento tendo
em conta a magnitude da incerteza política e orçamental. FONTE:
TradingEconomics
Porém, embora lento, o aumento da
pressão sobre Paris é indisfarçável, sobretudo desde que o BCE publicou, há
poucas semanas, um relatório semestral sobre estabilidade financeira. Nesse
documento, o banco central
alertou que uma das fontes de preocupação estava na dívida soberana e no risco
de que a “derrapagem orçamental” que se verifica em alguns países pudesse
“fazer reacender os receios no mercados em torno da sustentabilidade da
dívida”.
O principal alvo desse alerta era
óbvio: França, o país onde nasceu a actual presidente do BCE, Christine Lagarde. A crise política em torno do governo de Michel Barnier, político mais conhecido
internacionalmente por ter negociado o Brexit (pela Comissão Europeia) com o
Reino Unido, acentuou-se depois de ter sido apresentada uma proposta de
Orçamento do Estado que pretende cortar a despesa (e aumentar impostos)
num valor de 60 mil milhões de euros.
O objectivo era baixar o défice das contas públicas em 2025 para 5% do
Produto Interno Bruto (PIB), ainda assim
bem acima dos limites máximos na União Europeia – mas um pouco
melhor do que os 6,1% previstos para este ano de 2024. O governo
acredita que este será um primeiro passo no caminho que irá levar França a ter
um défice inferior a 3% em 2029 – ainda assim um objectivo considerado
ambicioso por vários economistas, dado que as perspectivas de crescimento
económico não são animadoras.
“O tema da dívida é indissociável da desaceleração do crescimento porque
estamos numa fase em que as economias dariam as boas vindas a estímulos e não
ao seu contrário”, afirma Filipe Garcia, economista do IMF –
Informação de Mercados Financeiros. O especialista diz que este “é um
ovo de Colombo para a união monetária: se
a política orçamental for expansionista, agrava-se a dívida, mas ser comedido
nos gastos pode levar insatisfação das populações, levando a mudanças de
governo, porventura em favor de forças políticas (muito) menos europeístas”.
"É
um ovo de Colombo para a união monetária: se a política orçamental for
expansionista, agrava-se a dívida, mas ser comedido nos gastos pode levar
insatisfação das populações, levando a mudanças de governo, porventura em favor
de forças políticas (muito) menos europeístas” - Filipe Garcia,
economista da IMF - Informação de Mercados Financeiros
Andrew
Kenningham, economista-chefe para a Europa da firma londrina Capital Economics,
antevê que “é pouco provável, num futuro próximo, que França tenha um
governo com mandato para apertar a política orçamental, pelo que os riscos para
o mercado obrigacionista irão continuar a crescer”.
Porém, o economista diz que, “em muitos aspectos, a situação de França é muito menos preocupante do
que a da Grécia há quinze anos”. “É
certo que o peso da dívida pública da Grécia em 2009 não era muito maior do que
o da França hoje, mas o seu défice era muito mais elevado, em cerca de 15%, em
vez de 6% do PIB”, afirma Andrew Kenningham, acrescentando que “as perspectivas
de crescimento da Grécia eram muito piores”.
Depois de pedir ajuda internacional e se
submeter a um programa da troika, “a
Grécia teve de reduzir o seu saldo primário [saldo orçamental excluindo
pagamentos de juros] nuns gigantescos 14% do PIB ao longo de quatro anos
(2013-2016), ao passo que, na nossa opinião, França precisa de um ajustamento
de ‘apenas’ 3% para estabilizar o rácio da dívida”.
Essa é uma diferença, entre os tempos da crise da dívida e agora. Outra
diferença é que “a arquitectura
da união monetária foi completamente reformulada”, salienta o
mesmo economista do Capital Economics, salientando que, agora, “o BCE tem um mandato e tem ferramentas
para apoiar a França caso os problemas se agravarem, para limitar o contágio”.
▲"A situação
de França é muito menos preocupante do que a da Grécia há quinze anos”, diz analista do Capital Economics.
Além do programa de compra de dívida lançado por Mario Draghi, o Outright Monetary Transactions (OMT),
que nunca precisou de ser usado, o BCE criou, mais recentemente, um
mecanismo que também prevê a
possibilidade de ter o banco central a comprar títulos de dívida dos países nos
mercados. O novo mecanismo, que se chama Transmission
Protection Instrument (TPI), inspirou-se no OMT e serve para tentar dissuadir
os investidores mais especulativos de fazerem apostas na queda dos títulos
(porque correm o risco de, se o BCE começa a comprar e os preços sobem, serem
apanhados em contrapé).
“Num cenário de crise mais séria,
por exemplo, de falta de confiança dos mercados,o BCE poderá ser chamado a jogo”, afirma Filipe
Garcia, não excluindo “a possibilidade de compra de títulos dos países
em maior dificuldade ou que os juros baixem para contrabalançar políticas
orçamentais contraccionistas e para permitir um serviço da dívida a custo mais
baixo”. Quando um banco central
compra títulos de dívida no mercado, isso é algo que induz procura por esses
títulos – o que contribui para aumentar o preço desses títulos (baixando, como
consequência, os juros implícitos).
A existência desse mecanismo do BCE
poderá estar, já nesta altura, a conter o agravamento da pressão sobre a dívida
de França. E há um outro factor
que também dá alguma tranquilidade aos investidores: “existem menores dúvidas
acerca do nível de apoio político à pertença de França à zona euro”, diz Andrew Kenningham.
“No início da década que começou em 2010, não era claro se os outros
países iam ajudar a Grécia a permanecer na união monetária”, lembra o
economista, recordando que “em
2015 o governo alemão esteve perto de empurrar a Grécia para
fora do euro”. “Agora, em contraste, não haveria qualquer hesitação
na Europa em relação a fazer ‘o que
fosse necessário’ para manter França, já que é um membro-fundador, é a segunda
maior economia e tem muito peso político”, afirma o economista da Capital
Economics. “Em resumo, França… é França…”, resume.
Filipe Garcia, da IMF – Informação de Mercados Financeiros, mostra-se
relativamente tranquilo: “o caso francês, por si só, não deverá ser suficiente
para desencadear uma ‘crise da dívida’ no curto prazo”. O especialista diz que “parece haver consciência do
problema, com o actual primeiro-ministro a tentar implementar políticas de contenção fiscal e com a
percepção geral de que não se pode deixar
o problema escalar”.
“Num cenário de crise mais séria, por
exemplo, de falta de confiança dos mercados, o BCE poderá ser chamado a jogo.”
Filipe Garcia, economista da IMF - Informação de Mercados Financeiros
Porém, seria um erro subestimar o problema, sobretudo no contexto
económico europeu que está a dar razões para alguma preocupação. “De facto,
temos um cenário em que duas das principais economias da união monetária têm
uma posição orçamental muito desfavorável, França e Itália, e a maior está em estagnação, a
Alemanha”, afirma
Filipe Garcia.
O Capital Economics diz que não está, “nesta fase”, a antecipar uma “crise
da dívida soberana centrada em França”– “mas acreditamos que o spread das
obrigações do Tesouro francês vão continuar a alargar-se, na comparação com os
outros países”. Isto porque, explica Andrew Kenningham, “com o rácio da dívida em trajectória
ascendente, se for eleito um governo que prometa cortes de impostos não
financiados ou aumento da despesa poderá desencadear uma maior perda de
confiança nas contas públicas de França”.
O risco é que os actuais prémios de risco de França, que continuam
abaixo de 100 pontos-base, saltem para os três dígitos e, potencialmente, expludam
para “200 pontos base ou mais”, diz Kenningham.
Se isso acontecer, o economista acredita
que “o BCE deverá ser capaz de limitar o contágio à maioria dos outros
países com o TPI”, o mecanismo de compra de dívida. E França, em concreto, poderá ter peso
político suficiente para “negociar condições especiais como isenções às regras
fiscais da UE ou, até, emissão de dívida conjunta” fazendo, em troca, promessas
de consolidação orçamental.
“Esta seria uma situação muito
diferente da crise grega, mas poderia, com certeza, levantar novamente questões
sobre o futuro a longo prazo da zona euro”, admite o especialista do Capital Economics.
FRANÇA EUROPA MUNDO GRÉCIA
BCE BANCA ECONOMIA EMMANUEL
MACRON
COMENTÁRIOS (de 9)
Luis Tovar: Uma Europa a desfazer-se. O socialismo europeu, com as
suas políticas verdes, fronteiras abertas, está a desfazer a Europa. Está a
acabar o tempo de esta esquerda governar. António Fernandes: Bem pior que Grécia, basta ver os números e as
extremas!!
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