No artigo de Eduardo Sá, propõem-se mudanças escolares na questão das
competências que se exigem hoje e repito os axiomas postos pelo psicólogo Sá, de resto, colocados em índice
introdutório: «Impõe-se que nos
perguntemos se a escola, hoje, se adequa aos adolescentes que temos. Às fontes
de informação a que recorrem. Ao modo como pensam. Às matérias e métodos de
ensino com que as aprendem.»
Apesar das verdades contidas ao longo de
um raciocínio claro sobre as perversões do actual ensino – pese embora a
omissão da referência à indisciplina escolar de falta de regras de educação estatuídas
pela doutrina educativa ministerial convenientemente democrática e tolamente
permissiva – eu julgo que não se deve pôr tanto em causa a função actual da
escola, aparentemente entorpecida nos métodos e saberes inadequados às competências
exigíveis hoje. Como se o conhecimento não fosse tão importante hoje como
ontem, cada vez mais acrescido de informação, é certo, mas em todos os tempos exigindo
bases e regras que ajudam ao fortalecimento dos saberes e das personalidades! O
que a mim parece, é que se deve exigir competência e exigência nos professores e
nas suas matérias de ensino - de que, de resto, os livros escolares são geralmente
boa demonstração - que não deve ser escamoteada ou largada para o lixo - como o
fez o tal professor do “Clube dos poetas
mortos”, rasgando – e fazendo os alunos rasgar - os compêndios de
literatura, a pretexto dessas patacoadas sobre o paralelismo entre os saberes e
experiências dos livros e dos professores, com os mesmos dos alunos - teoria
posta em prática já nos meus tempos de estágio.
Ser moderno no ensino, um convite, sim,
à palhaçada grevista arruaceira reivindicativa, de uma permissividade justificativa
disto em que nos tornámos – um povo de arruaça, diversão e inércia. Felizmente
que ainda há famílias e professores cuja missão não vai nessas propostas que os
Mários Nogueiras do ripanço docente vão impondo aos mesmos docentes de boas
pernas para descer as avenidas da nossa reivindicação pessoal, de pandeireta e
apito – em justa causa, talvez, mas de tão repetitiva, tornada inócua, embora
nos envergonhe, pela falta de dignidade, na indiferença que os professores
grevistas revelam pelo seu papel de pedagogos, e no paralelismo com os mais
grevistas, angariadores de melhores ordenados ou de melhores condições de
trabalho…
E já que é de um Sá o texto pedagogo,
lembrei-me dos conselhos que o amigo Bieito dá ao pastor Gil na écloga Basto do nosso “bom Sá” (de Miranda, este), que
já por vezes referi, na proposta de Bieito ao amigo misantropo Gil, arredio nos
montes, em história adequada ao “Maria vai com as outras” que ele reivindica
para o amigo e que de resto é muito do nosso âmbito, como o provérbio demonstra,
e que convém seguir, mesmo só em greve, não de diversão molhada, mas levando
apito e pandeiro como as mais…:
«Dia de Maio choveu:
a quantos a água alcançou
o miolo revolveu;
houve um só que se salvou,
que ao coberto se acolheu.
Dera vista às semeadas,
as que tinha mais vizinhas;
viu armar as trovoadas,
acolhe-se às bem vedadas
das suas baixas casinhas.
32
Ao outro dia um lhe dava
piparotes no nariz,
vinha outro que o escornava;
aí também era o juiz,
que se de riso finava.
Bradava ele: - Homens, estai!
iam-lhe c’o dedo ao olho.
Disse então: - E assi que vai?
Não creio logo em meu pai,
se me desta água não molho.
33
Apaixonado qual vinha,
achou num charco que farte;
o conselho havido o tinha:
molhou-se de toda a parte,
tomou-a como mezinha.
Quantos viram, lá correram:
um que salta, outro que trota,
quantas graças i fizeram!
Logo todos se entenderam:
ei-los vão numa chacota.»
De chacota, é o que tudo
isto significa, neste nosso mundo cão (sem ofensa para o cão).
A escola e o futuro
Impõe-se que nos perguntemos se a
escola, hoje, se adequa aos adolescentes que temos. Às fontes de informação a
que recorrem. Ao modo como pensam. Às matérias e métodos de ensino com que as
aprendem.
EDUARDO SÁ Psicólogo
OBSERVADOR, 10
dez. 2023, 20:113
Quase depressa demais, a relação entre a
pandemia e a escola deixou de ser um assunto de primeira página. Apesar disso, os directores escolares
foram sempre reclamando mais recursos para promoverem as recuperações de
aprendizagens. Os computadores e a banda larga para todos perderam o seu ímpeto
inicial. As entrevistas sobre o sucesso da escola na pandemia tornaram-se
mais frequentes. E, em Outubro deste ano, afirmava-se que as médias dos alunos
do 5.º ao 9.º não só não tinham baixado durante a pandemia como “na esmagadora
maioria das disciplinas, os resultados mantiveram-se idênticos ou subiram
ligeiramente”. Por mais
que um relatório do Conselho Nacional de Educação tivesse afirmado que os
efeitos da pandemia se iriam prolongar no tempo, com consequências graves a
nível do abandono e do insucesso escolares.
Entretanto, há já alguns dias, os
resultados do programa PISA da OCDE vieram demonstrar que os alunos portugueses de 15 anos
registaram uma queda de resultados sem precedentes. Sendo esses resultados os
piores desde 2006! Enquanto
alguns responsáveis políticos associavam esta queda à pandemia, o próprio
relatório da OCDE recordava que o decréscimo do resultados já se vinha a
verificar, em termos globais, há vários anos. Referindo-se à queda dos apoios-extra
dos professores aos seus alunos, desde há 10 anos. O modo como a origem
sócio-econômica dos alunos interfere nestes resultados, o que nos questiona
sobre a função de “elevador social” da própria escola. E a falta,
meses a fio, de docentes, em muitas disciplinas (à data de hoje, mais de 32 mil
continuarão sem professor a, pelo menos, uma disciplina). Enquanto
isso, o meu colega João Marôco
recordava que “não se aprende mais ensinando menos”. Sobretudo
quando, comparados com os resultados de 2018, nos confrontamos que os alunos de
15 anos terão frequentado menos um ano lectivo em 2022.
Chegados aqui, impõe-se que nos perguntemos
se a escola, hoje, se adequa aos adolescentes que temos. Às
fontes de informação a que recorrem. Ao modo como pensam. Às matérias e aos
métodos de ensino com que as aprendem. Ao confronto entre um ensino tradicional
e as novas tecnologias, e ao recurso, banalizado, à inteligência artificial
para a elaboração de relatórios e de trabalhos. À ausência de métodos de estudo
e de pesquisa que evidenciam. Aos tempos dedicados à escola e às aprendizagens.
Aos métodos obsoletos de avaliação. Ao recurso, quase obsceno, a explicações,
que os impede de serem autónomos e proactivos. À pressão que colocamos
sobre os seus resultados, todos os dias. Aos professores que têm. Ou ao modo
como está organizada a escola. E não sendo nada disto novo ou surpreendente,
pergunta-se o que tem feito a escola para se reinventar. Sendo certo que mais
escola não será melhor escola, menos aprendizagens serão, por inferência, pior
futuro.
ADOLESCENTES SOCIEDADE ESCOLAS EDUCAÇÃO
COMENTÁRIOS:
bento guerra: Com
professores em conflito permanente, a escola não pode andar bem. O Ministério
da Educação é uma fonte permanente de intromissão e conflito. A única coisa
estável e garantida, é o Mário Nogueira Lily Lx: Quando a ideologia se sobrepõe à função da escola;
quando a escola é depósito de crianças e vencimento de professores... Porque deixou a escola de ser um espaço de saber e de
competência para oferecer um futuro às crianças? Porque deixou de ser um espaço
de brincadeira nos recreios? Domingas Coutinho: Sem dúvida que tudo evoluiu muito depressa e os jovens
de hoje também acham que sabem tudo mas o que me parece é que o quadro docente
está envelhecido, desmotivado e a função de professor não é atractiva para
pessoas com potencial. Muitos professores actuais não estão a acompanhar as
mudanças e andam na rua há meses em negociações e protestos. Além disso cada
Ministro que vem é pior do que o anterior.
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