“Porque lhes dais tanta dor? Porque
padecem assim?” Já o dissera o nosso Augusto Gil sobre as crianças descalças na
neve, primeiro bem definidos os traços dos seus pezinhos, depois, em sulcos compridos, porque não podia
erguê-los. De tudo isto que por aí vai, de barulhos sobre duas crianças
doentes, só me lembrou a Balada da
Neve,
por omissão das criancinhas, nos protestos e desafios. E cito as estrofes
finais da Balada, apenas com lágrimas pelas duas criancinhas inocentes e tão sofredoras,
de quem não se fala:
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
- e cai no meu coração.
Os silêncios e as omissões prejudicam
a democracia
É sempre um triste espectáculo quando
representantes eleitos se desdobram em manobras para evitar o esclarecimento
público. Com as suas ambiguidades, Lacerda Sales continua a denegrir as
instituições.
ALEXANDRE HOMEM CRISTO, Colunista do Observador
OBSERVADOR, 14
dez. 2023, 00:2112
Lacerda
Sales não se recorda se reuniu com o filho do Presidente da República. Mas lembra-se de nunca ter falado com
Marcelo Rebelo de Sousa sobre o caso das gémeas com atrofia muscular espinhal e
o acesso ao tratamento com Zolgensma, tal como assegurou nunca o ter mencionado
com António Costa. Primeira constatação: os lapsos de memória de Lacerda
Sales são especialmente selectivos. Felizmente, há evidências que permitem reconstituir os factos. E as
evidências apontam no sentido de que Lacerda Sales e Nuno Rebelo de Sousa
terão efectivamente estado reunidos. Mais ainda, nos registos clínicos
oficiais constam várias referências à interferência do
antigo secretário de estado da Saúde: a primeira consulta para as gémeas terá
sido marcada a seu pedido, como ontem confirmou uma auditoria. Até
ao momento, o agora deputado reagiu apenas laconicamente: informou que não “marcou”
qualquer consulta, sem confirmar se solicitou a sua marcação. Segunda
constatação: Lacerda Sales adoptou a ambiguidade como estratégia
comunicativa. Até à sua audição na Assembleia da República, requerida de
forma potestativa pela IL,
espera-se que o ex-governante consiga aceder à documentação solicitada e
recuperar a memória, de modo que os seus esclarecimentos em sede parlamentar
possam ser completos.
Esperança eventualmente vã, uma vez
que, nas palavras
de Lacerda Sales, as sedes próprias para prestar esclarecimentos
sobre este assunto são o IGAS (Inspecção-Geral das Actividades em Saúde)
e o DIAP (Departamento de Investigação e Acção Penal): “eu só
responderei aos detalhes do processo em sede própria; em sede própria é o IGAS
e é o DIAP, respeitando aquilo que são os poderes e os tempos da Justiça“.
Terceira constatação: o antigo
secretário de estado promove a habitual confusão entre Justiça e Política, para
escapar ao escrutínio da sua actuação no Ministério da Saúde. Quem assiste
do lado de fora não pode cair na armadilha: independentemente
das implicações criminais que venham a ser apuradas, o comportamento de Lacerda
Sales enquanto membro do governo justifica avaliação política — e,
confirmando-se a sua intervenção, merece reprovação pública. Espera-se que, na
audição parlamentar, Lacerda Sales não insista nesta sua tese.
Não quero desviar a atenção sobre o
essencial. O país inquieta-se perante a suspeita de terem existido trocas de
influências ao mais alto nível, com vista ao favorecimento no acesso
à nacionalidade portuguesa e, depois, a um tratamento médico dispendioso e
restrito. É justo que o faça. Mas não é suficiente. A nossa cultura democrática beneficiaria que igual inquietação se
manifestasse perante a conduta de responsáveis políticos que, confrontados com
suspeitas de práticas ilegítimas, se escudam em lapsos de memória, em ausência
de documentação ou em ambiguidades para evitar responder a perguntas simples.
Ainda mais quando esse lamentável comportamento surge sob a protecção do PS,
cujos dirigentes ilibam Lacerda Sales e cujos deputados recorrem à maioria
absoluta para impedir audições parlamentares. É a quarta constatação:
o ataque às instituições democráticas
não está apenas no favorecimento dentro do SNS, mas também na recusa da
transparência e em dizer a verdade aos cidadãos portugueses. Seja de Lacerda
Sales ou do PS, do princípio ao fim, este caso enfraquece a
democracia porque quebra (ainda mais) a confiança da população nas instituições
democráticas.
É sempre um triste espectáculo quando
representantes eleitos se desdobram em manobras para evitar o esclarecimento
público. É que isto já não é apenas sobre o caso das gémeas e do seu
tratamento. Agora, é também sobre os mínimos da ética republicana e da
prestação de contas. Lacerda Sales, que se refugia em ambiguidades e na Justiça
para escapar ao escrutínio da sua actuação como governante, não está mais do
que a denegrir as instituições democráticas.
HOSPITAL DE SANTA MARIA HOSPITAIS SAÚDE MARCELO REBELO DE SOUSA PRESIDENTE DA REPÚBLICA POLÍTICA MINISTÉRIO DA SAÚDE GOVERNO
COMENTÁRIOS:
maria santos: Quem encarna a
ética republicana, a ética sob a monarquia ou a ética do tempo dos Antigos
gregos (com capitular) é sempre uma pessoa. E a pessoa ou é séria
ou não é. Séria "um poucochinho", isso não existe. Fernando Cascais: Este escândalo, porque é um escândalo teve o seu início
com o filho do presidente da República que provocou um circuito de contactos e
de favores passando pelo Presidente da República, pelo governo, por um Hospital
Público até chegar ao objectivo pretendido que era ministrar o medicamento a
duas cidadãs estrangeiras que obtiveram a nacionalidade portuguesa numa
velocidade supersónica numa operação que também fazia parte do processo para
obter o milionário medicamento. Entretanto as atenções voltaram-se para os
políticos que facilitaram e foram coniventes com a operação e esquecemos o
móbil de tudo isto que levou o filho do presidente Marcelo a uma persistência
exacerbada para conseguir ajudar a família das gémeas. Houve um motivo forte
para o filho de presidente Marcelo ter arriscado tanto, inclusive, ter
vindo a Portugal para ter reuniões com o Secretário de Estado da Saúde. A
investigação da Sandra Felgueiras deveria continuar para perceber se existe
alguma relação comercial, algum negócio por detrás disto tudo. Os familiares
das gémeas são empresários e a nora do presidente é também uma grande
empresária no Brasil, além disso, o filho do Presidente Marcelo também ocupa a
presidência da Câmara Portuguesa de Comércio, em São Paulo. É difícil de
acreditar que o motivo que levou o filho do Presidente Marcelo à epopeia pelo
medicamento das gémeas brasileiras tenha sido apenas por uma questão de
solidariedade. Ana Luís da Silva > Fernando Cascais: Concordo. Para investigar até ao fim, doa a quem doer. João
Valente: Cá para mim o Lacerda
Sales é o bode expiatório que está a desviar as atenções das responsabilidades
do Marcelo e da Temido (que o PS está a guardar para grandes voos). Kakuri
Kanna: "A nossa
cultura democrática beneficiaria que igual inquietação se manifestasse perante
a conduta de responsáveis políticos..." Oh, Homem de Cristo tenha
paciência! Cultura democrática nunca por cá existiu, apenas homens ou mulheres,
poucos, que defenderam a cultura ou a democracia em Portugal, o resto são
oligarquias partidárias! Sancta simplicitas! bento
guerra: Existe ´ética republicana" nesta
república das bananas? Carlos Chaves: “(…)
ética republicana e da prestação de
contas.” Ah,ah,ah,ah,ah o PS???? Caro Alexandre, este é o “modus vivendi” desta
escumalha socialista. Além das erradas políticas são estes comportamentos
reiterados que contribuem para a corrosão da nossa sociedade Portuguesa. Américo Silva: Já estou farto deste assunto, foi
ministrado um medicamento desnecessário a duas meninas pelo qual os
contribuintes pagaram 4 milhões, não ocorreram efeitos nocivos e provavelmente
não há crime, as consequências são sobretudo políticas. Ao que parece o avô das
meninas Lava Jato, e Marcelo demonstrou muitos afectos ao Lula, não
há almoços grátis. Américo Silva > Américo Silva: A tempestade formou-se no centro de baixas
pressões de Belém a partir de altas pressões no atlântico sul, atingiu a presidência
do conselho de ministros, os ministérios da Justiça e da Saúde, desabou sobre o
Hospital de Santa Maria, e molhou os contribuintes em geral. ámen. maria silva: Denegrir? Ai que palavra mais racista para
um gajo tão branquinho, A língua portuguesa está cada vez mais confusa e
abastardada! Luis
Tovar: Não existe essa cousa de ética
republicana. Nunca existiu.
Manuel Filipe Correia de Araújo: "O Secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, ter-se-á
reunido várias vezes com Nuno Rebelo de Sousa" Uma pergunta muito simples
pode e deve ser feita ao Deputado Lacerda Sales: O Senhor reuniu alguma vez com
Nuno Rebelo de Sousa e se sim trataram de quê? A resposta Verdadeira
a esta questão esclarece de forma cabal todo o caso das Gémeas. Depois outros
passos se seguirão, mas a Verdade é como o azeite já veio ao de cima!
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