sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Retratos bem aviados


Dos partidos, segundo ALEXANDRE BORGES. Dos comentadores, segundo o subentendido no diálogo entre dois deles, desprezadores do assunto do texto, e registando, em desconstrução desdenhosa desse assunto, antes os seus próprios gostos diários, de mistura com a referência aos noticiários monocórdicos da nossa pobreza noticiarística, comprovativa das realidades dos tais partidos retratados, em que estaremos inseridos - retrato – bem aviado - do OBSERVADOR, em suma, que poderia não os ter colocado e o fez por graça malandra, a entrar no jogo do ”tanto faz insignificante“, das nossas lutas rasteiras… Um texto, em suma, cheio de elegante picardia.

Swipe right, swipe left

A IL é um perfil novo. Moderna, viajada. Tem fotos com amigos de esquerda e de direita, daquela vez em que foi ao Avante e junto ao touro de Wall Street – e a melhor lista de Spotify da direita.

ALEXANDRE BORGES, Escritor e argumentista

OBSERVADOR, 30 nov. 2023, 00:1920

O Chega, claro, seria o primeiro a instalar, com aquela vontade de levar tudo à frente. Muitas fotos, pouco texto: no ginásio, no descapotável, de gel e camisa justa em modo rei da pista. Afirma-se católico, conservador, com interesse em touros e caça. Para chegar ao altar, declara-se disponível para tudo: privatizar, nacionalizar, viabilizar, inviabilizar, cortar a direito ou gastar à tripa-forra – e, acima de tudo, para se coligar com todos (o que parece não interferir com a sua proclamada moral cristã).

Depois, o PSD. Demorou a aderir, mas lá avançou. Tem fotos em bons fatos e roupa de domingo, no escritório e a jogar padel, a olhar o horizonte e rodeado da família. Fala de ambições, foco no futuro e em vontade de ser pai. Diz que procura relacionamento sério, mas não lhe basta um parceiro: pisca o olho à ex e à nova no pedaço, ao brasonado e ao sofisticado (afinal, diz, tudo começa com uma amizade).

A IL é um perfil novo. Moderna, viajada. Tem fotos com amigos de esquerda e de direita, daquela vez em que foi ao Avante e junto ao touro de Wall Street – e a melhor lista de Spotify da direita, o que não é dizer pouco. Afirma-se, obviamente, liberal – na política, na religião, nos costumes – mas que só está ali para conhecer pessoas. Casual ou relacionamento, só depois de Março. Que isto liberal não é à vontadinha.

E, por fim, o CDS. Aquele senhor de meia-idade e boas famílias que ainda não se sente particularmente à vontade com estas novas linguagens. Então, não era ao balcão do Stones que se conhecia as pessoas? Na pista do Coconuts? Aconselhado pelos sobrinhos, lá instalou a aplicação, mas não é fácil isto de tentar voltar ao mercado querendo convencer-se de que nunca se saiu. Tem fotos dos dias de ouro – na AD, n’O Independente, no Forte de São Julião da Barra e no Palácio das Necessidades – mas, quando lhe pedem fotografias mais recentes, publica tudo ao longe ou de óculos escuros. Diz-se sério e com experiência. Garante estar cheio de pretendentes e com mais força do que nunca. Mas talvez – talvez – se esteja a esforçar de mais.

Tudo depende, é claro, do que se procura. Ao registarem-se, a app perguntaria se desejam ver potenciais parceiros de direita, esquerda ou tanto faz. A que distância e com que diferença de idades.

Do outro lado do espectro, teríamos o PS de um Pedro Nuno, parecendo o oposto do Chega, mas com a mesmíssima atitude: disponível para se coligar com tudo o que mexa – desde que mexa, claro, para a esquerda. Porém, ao mesmo tempo e talvez tendo ouvido dizer que nada diz caso tórrido num hotel na CRIL como uma aliança no dedo, afirmando-se um social-democrata que até tem amigos que são.

A seguir, o PS de José Luís Carneiro, mais apostado no parlapiê do que no primeiro impacto. Que prefere ver o país casado com o PSD do que entregue ao Chega. Que se apresenta como moderado, mas que os rivais diriam que dá para os dois lados. Sempre a tentar marcar cafés com Pedro Nuno – mas o outro com medo de estragar tudo.

E por aí adiante, com Livre e Bloco, por experiência e espírito mais disponíveis para encontros, o PAN para quem o adoptar e o PCP ainda a tentar instalar a app no velho leitor de cassetes.

Na prática, o Chega faria swipe ao PSD e ao CDS, que fariam swipe à IL, que não faria swipe a ninguém. Ferido no ego, o PSD, faria ghosting ao match com o CDS, enquanto o Chega, despeitado com as tampas, bloquearia todos. [Eu sei, eu sei que faço guerra aos anglicismos. Mas esta parte não teria a mesma graça doutra maneira.] Então, o PS talvez continuasse a governar. Um PS cada vez mais magro, onde é cada vez mais difícil encontrar candidatos a ministros e secretários de Estado sem problemas com a justiça, unido nas suas duas partes, reconciliadas num casamento de conveniência, em que todos saberiam que um se continua a encontrar com a direita e o outro com a esquerda, mas onde ninguém falaria sobre o assunto.

Entretanto, no mundo real, o país continua à espera. Sempre a sonhar com um amor qualquer, mas cada vez mais descrente no futuro destas relações.

PARTIDOS E MOVIMENTOS     SOCIEDADE     ELEIÇÕES LEGISLATIVAS     POLÍTICA

COMENTÁRIOS:

José Paulo C Castro: Swipe down...                   Alexandre Barreira: Pois. Meta um bocado de "banha". Que "desliza" melhor....!!!                       Liberales Semper Erexitque: É esta a nova Rute Rita?                  Francisco Almeida: A minha leitura deste artigo é simples. Isto está uma equação sem solução possível. Por isso, concluo eu, o desastre é inevitável. Como várias vezes já, por aqui e por ali escrevi, com esta Constituição não há reformas possíveis. E com esta UE e a nossa dependência, não há mudança constitucional possível, para além da cosmética que o PS e PSD estão a preparar. Há que aguardar pacientemente pela próxima "troika" e desejar que não seja muito musculada, nem que instale o escritório em Madrid.              Maria Paula Silva > Francisco Almeida: excelente comentário!               bento guerra: O melhor é fazer um filme à César Monteiro, meter o casaco em cima da câmara de filmar. Basta!                   Maria Paula Silva > bento guerra: ahahaha oh Bento até fiquei agoniada só de pensar nos filmes do César Monteiro.              João Floriano: Costumo achar interesse nas crónicas de Alexandre Borges mas esta não tem nem interesse nem sequer graça, porque há uma associação forçada entre os termos usados para o engate via digital e a situação de cada partido. Dou pela falta do tipo de date que o Bloco gostaria de encontrar numa app de engates e encontros. Não sei se foi propositado, ou se foi lapso do cronista. Já agora gostaria que nos explicasse onde foi buscar as informações para dizer que o CHEGA se coliga com qualquer um.              Maria Paula Silva > João Floriano: Muito bom. Realço "Dou pela falta do tipo de date que o Bloco gostaria de encontrar numa app de engates e encontros." pois é...., falta aqui a pequena orgia que o BE gostaria de ter. E diz AB que o Chega se coliga com todos...  a que propósito? Brinquem, brinquem que ainda há-de vir o dia em que todos se quererão  coligar com o Chega!               João Floriano > Maria Paula Silva: Boa tarde Maria Paula. Uma tarde de muita chuva. Veja hoje à noite novos desenvolvimentos do caso das gémeas pela jornalista Sandra Felgueiras. Não deve ser por acaso que Marta Temido botou discurso. Parece que estamos novamente numa silly season mas desta vez de inverno: a Xmas silly season, tal é  a quantidade e a qualidade dos disparates em circulação.          Maria Paula Silva > João Floriano: ahaha infelizmente vamos ter a Xmas silly season prolongada pela Spring silly season.... .  A Sandra Felgueiras é muito boa, foi ela q  investigou o caso de Sines. Em que canal e a que horas vai ser? Desde já muito grata desejando-lhe uma excelente tarde caseira com um bom chá e scones. Amanhã - dizem eles os mestres em Superlativo - vem aí um "jacto gelado" ahahahah  (eu chamo-lhe Inverno...)

João Floriano > Maria Paula Silva: Penso que será no telejornal das 20 na TVI. Não me diga que o jacto gelado já é por causa do iceberg da Antártida que vai encalhar ali no Bugio! Bons scones para si também.  Maria Paula Silva > João Floriano: Obrigada. Acabei de ligar a tv, na TVi. Vamos lá ver o que é a Sandra diz. Confio nela. De repente vi 1 imagem agora no telejornal de velhotes a jogarem às cartas e senti umas saudades enormes de jogar ás cartas. Falta-me um grupo para jogar às cartas!!! Lol será que tenho que ir para algum jardim e pôr-me à espera que vague alguma cadeira?                João Floriano > Maria Paula Silva: Acabei de ouvir a Sandra Felgueiras e estive também  a ver a entrevista de JLCarneiro na CMTV. O homem fala. fala. fala mas depois não se aproveita nada. tem também uma visão muito curiosa de como será o futuro, em que o PS governará tendo o PSD como muleta. No entanto considera que o Centrão prejudicaria o país e espera colaboração também da esquerda, porque BE, PCP, Livre e Pan têm propostas para o país. O IL, o CHEGA e o CDS nem sequer existem para JL carneiro que prevê 42% para o PS e 37% para o PSD nas próximas eleições. Como é que Carneiro chegou a estes resultados? Mistério! e já agora os outros partidos que metam  a viola no saco porque isto de mandar é com o PS e os restantes ajudam ou então nem sequer existem. Muito interessante mesmo! Em relação ao caso das gémeas, não há ilegalidades mas a lei tem de ser regulamentada para parar com o turismo da saúde. Somos uns pelintrões mas depois temos assim umas saídas à leão e uns tiques de ricos. e agora aproveito e ouço o Miguel Sousa Tavares. Não é que goste dele mas já agora deixa ouvir o que tem para dizer.               Maria Paula Silva > João Floriano: Ouvi a Sandra Felgueiras e estou a ouvir o MST. À espera do q ele vai dizer sobre as gémeas. OK, não há ilegalidades mas   tornearam-se os protocolos legais e favoreceram-se "as turistas legalizadas em tempo record" enquanto os milhares de portugueses esperam. Desculpe lá, não sei se foi só impressão minha, mas a Martinha estava obviamente a mentir, não acha?  reparou em todas as expressões dela? os olhos nunca olhando de frente, a voz hesitante?                João Floriano > Maria Paula Silva: A ex ministra da saúde estava a ser criativa (não quero usar o termo certo). É muito sugestiva com trejeitos e boquinhas. Se reparar bem em Marcelo quando falou do assunto fez o mesmo. Desviou os olhos e foi extremamente cuidadoso  a medir as palavras. Segundo MST andam todos  a pisar gelo fino neste caso: Marcelo, Marta Temido e o MP. Seja como for Lacerda Sales está  metido até às orelhas. E  parafraseando MST há aqui uma diferença abissal de tratamento, uma discriminação entre o que foi imediatamente disponibilizado para as meninas e os portugueses de gema que esperam meses e até anos por uma consulta ou intervenção cirúrgica no SNS. Hoje também apanhei um debate entre Isabel Moreira e uma vice presidente do PSD Margarida Balseiro Lopes. Reviveram o passado dos tempos da troika, Isabel Moreira falou da necessidade de respeitar o direito à IVG. Não sei que obsessão tem a deputada do PS por práticas abortivas porque está sempre a falar nelas. Desta vez censurou os objectores de consciência e os três dias de reflexão que precedem o aborto (IVG é um termo soft para esconder a brutalidade do acto). Não saiu dali nenhuma ideia nova, nada, mesmo nada. A nossa cena política está uma desgraça e o MST arrasou o congresso do PSD e os discursos de Montenegro.             Maria Paula Silva > João Floriano: É, por acaso tb gostei de o ouvir. Agora já desliguei a caixa. Sim, obviamente tanto Martinha como MRS estavam com todos os trejeitos do mentiroso. É muito difícil um mentiroso dissimular que o é, é preciso ser um grande grande actor, e eles não são. Nem sabia o que era IVG... coitada, cada um tem as suas obsessões, mas ela de facto é meio extraviada, não sai ao pai.             João Floriano > Maria Paula Silva: Boa noite Maria Paula. Até amanhã.               Maria Paula Silva > João Floriano Até amanhã, João, cá estaremos na "luta" lol Uma boa noite.        JOHN MARTINS: Tem muita razão, o povo neste sítio, descontente, lá dirá, o que lhe vai na mente, no dia 10 de Março. Se tivermos em conta que mais de 80% da populaça, quer eleições e aprova a demissão do 1º Ministro, tudo leva a crer que vai haver novidades no Swipe to the right and Swipe to the left, sem se saber ao certo as implicações, no lugar de encontro, ou seja o Parlamento...

 

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