Bem compinchas, os tais anglicanos de
que trata o historiador João Pedro
Marques, por desejarem aparentar, quer desportivismo, quer uma
superioridade moral, sobre o resto dos mortais - que estará, talvez, em conformidade
com as suas bolsas recheadas. Na minha pelintrice matarruana, mas, afinal,
lucidamente revoltada, e digo-o sem peneiras, parece-me isso puro exibicionismo
de uma espécie de rebaixamento que não tem em conta as vantagens culturais,
entre outras, que os colonialismos levaram para as terras colonizadas. O certo
é que a actual invasão do Ocidente pelos descendentes desses escravos, fugindo
dos novos seus escravizadores – os governantes desses países hoje livres da tal
escravatura, afinal há muito extinta – em hordas sucessivas dos que buscam o
conforto e fogem ao terror dos chefes seus concidadãos que se guerreiam e
trucidam - mostra bem que é com gente europeia ou americana que eles se sentem
melhor, disso não temos dúvidas.
O nosso provincianismo imitativo, para
mais amedrontado pelas estridências devotas da actual “cultura” woke, é bem
capaz de ceder a iguais propostas de ressarcimentos serôdios de arrependidos
imaginários ou patéticos – para não dizer patetas.
Pela porta das traseiras
Após décadas de constantes campanhas
de culpabilização do homem branco, muitos ingleses, escoceses, galeses abrem os
cordões às bolsas para comprar indulgências por pecados que não cometeram.
JOÃO PEDRO MARQUES Historiador e romancista
OBSERVADOR, 28 dez. 2023, 00:1735
O Reino Unido é, na Europa, o país onde o wokismo é mais visível,
mais contundente e absurdo nos seus exageros. O
que nesta área lá se passa é, por um lado, excepcional, pelo peso desmesurado
que os woke lá têm, mas, por outro lado, é um farol ou um aviso do que, ainda
que de forma mais atenuada e protelada no tempo, poderá vir a passar-se noutros
países da Europa Ocidental.
Vem este preâmbulo a propósito do
seguinte: há mais de 20 anos que
activistas woke, tanto a título individual como associados em organizações —
nomeadamente a Caricom, que agrupa 15 países das Caraíbas —, pressionam o governo de Londres para que
peça oficialmente desculpa pelo envolvimento britânico na escravatura e para
que pague reparações por esse facto. Londres continua a não dar ouvidos a esse
tipo de pressões. Inquirido no Parlamento, o primeiro-ministro britânico, Rishi
Sunak recusou frontalmente
o pedido de desculpas e, evidentemente, as eventuais reparações.
Parte
inferior do formulário
Mas enquanto o governo
britânico resiste muito compreensível e adequadamente à pressão e à chantagem
moral que os acólitos do wokismo exercem sobre o país, há várias entidades e
cidadãos(ãs) britânicos(as) a pôr a corda ao pescoço, a vestir o hábito de
penitente e a ceder jubilosamente a essa pressão e chantagem. Em Fevereiro de 2023, uma conhecida pivô e jornalista
da BBC, tornou público que iria doar 100 mil libras para projectos
comunitários na ilha de Granada como forma de reparação pela ligação de remotos
familiares seus à escravatura e a plantações de cana-de-açúcar na ilha.
E
fez mais: abandonou a
BBC para dedicar o seu tempo a campanhas públicas em favor de reparações pela
escravatura. No seguimento da sua decisão, mais de 100 famílias
britânicas com antepassados envolvidos no sistema escravista comprometeram-se publicamente a
disponibilizar importantes quantias como forma de se purgarem desse pecado e de
ajudarem as antigas colónias britânicas nas Caraíbas. Acresce que a Igreja Anglicana criou
um fundo de 100 milhões de libras para ajudar esses países e que, no início de
Novembro, a Lloyd’s de Londres, a maior seguradora do mundo,
veio assumir publicamente que iria despender 52 milhões de libras em programas
de apoio como forma de reparações pela ligação que, no passado, a companhia
teve com o tráfico transatlântico de escravos e a escravidão.
É verdade que tudo isto frustra um
pouco as intenções dos activistas woke, visto não ser exactamente aquilo que
exigiam. Na verdade,
preferiam ter sido eles a decidir os montantes das reparações e queriam, em vez
de programas de apoio social ou educativo, dinheiro vivo pago directamente aos
descendentes de escravos ou a quem os representasse, como algumas cidades
norte-americanas fizeram ou irão fazer. Preferiam, além
disso, ter chegado a um acordo global com o governo britânico em vez de serem
polvilhados por estas medidas parcelares de particulares. Porém, se tudo isso é verdade, por outro lado esta disponibilidade de
muita gente no Reino Unido para pagar compensações por situações ocorridas há
dois, três ou quatro séculos, abre-lhes um manancial de inesperadas
oportunidades.
Não surpreende por isso que os activistas woke queiram agora
assumidamente contornar o Estado britânico que, ano após ano, resiste às suas
pressões, para irem literalmente bater a outra porta, isto é, pressionar
directamente famílias e organizações privadas — bancos, colégios, universidades,
seguradoras, firmas comerciais ou industriais, etc. — que tiveram uma qualquer forma de envolvimento
e de ganho material com a escravatura. E vão começar pelo topo, exigindo reparações à família real
britânica. Como diz um dos advogados encarregados
de defender os interesses dos woke da ilha de Granada, nas Caraíbas, “ele (Carlos
III) deve disponibilizar algum dinheiro. Não dizemos que deva privar-se, e
à sua família, de comida, mas também não estamos a pedir ninharias. Acreditamos
que podemos sentar-nos à roda de uma mesa e conversar sobre formas de reparação
justas.”
Em conformidade, o rei receberá, até
ao fim deste mês de Dezembro, um pedido oficial para iniciar conversações. O
mesmo acontecerá a outras pessoas e entidades. Os woke acreditam que, por essa
via, ultrapassando o governo pela berma da estrada e podendo formalizar acordos
indemnizatórios com várias individualidades e instituições britânicas, acabarão
por condicionar o próprio governo a ceder e a fazer, também ele, um acordo. Ou seja, no que desde já se anuncia como um ano farto,
preparam-se para colher o que semearam. Após décadas de constantes campanhas
de culpabilização do homem branco e de doses massivas de acusações despejadas
para dentro da sociedade britânica, viram tudo isso frutificar nas cabeças de
muitos ingleses, escoceses, galeses, que agora se flagelam, agitam bandeiras
brancas e abrem os cordões às bolsas para comprar indulgências por pecados que
não cometeram. Com tão fraca
gente, com tanto precedente aberto, é evidente que o governo britânico vai
perder força política e será provavelmente apanhado por trás pela quebra da sua
retaguarda.
Esta nova estratégia woke deve pôr-nos
de sobreaviso. Portugal é muito diferente do Reino Unido, bem sei. O nosso
governo não está, para já, sujeito a uma pressão similar nem temos por cá,
felizmente, um número perigoso de fanáticos do wokismo. Mas não é absolutamente
garantido que fique assim para sempre. O que se vê na casa dos outros deve
fazer-nos redobrar esforços para contrariar este veneno ideológico. Como o exemplo britânico mostra, esse é
um combate que se vence — ou se perde — no campo da opinião pública. E para o
vencer é necessária uma narrativa que, ao contrário da narrativa woke, seja
historicamente informada e equilibrada, estruturalmente verdadeira e pelo menos
tão convincente como ela.
Será esse o tema do meu próximo artigo.
POLITICAMENTE
CORRETO SOCIEDADE ESCRAVATURA
REINO
UNIDO EUROPA MUNDO
Rui Lima: Todos os povos do mundo devem
ser reverentes a esse grande país a Inglaterra por 2 razões -combateu a
escravatura de forma eficaz fez a revolução industrial, foram as máquinas que
mataram a escravatura por ser anti-económica sem máquinas ainda hoje haveria escravos.
Também o fez ideologicamente e na prática com os seus barcos, eu penso o
contrário serão os povos libertados que estão em dívida para com os ingleses . José Carvalho: Um antepassado meu foi
escravizado pelos romanos para trabalhar na extracção de ouro no local a que
hoje chamamos Tresminas, aqui no meu concelho. Vou exigir ao governo de Itália
que me pague uma indemnização!
Maria Paula Silva: Excelente, como sempre. Os seus textos, JPM, são
verdadeiras aulas. É assustador verificar como é tão fácil manipular massas. Vivemos um tempo de loucura
desenfreada em que reina a mediocridade (e muita ignorância). E muita manhosice
também. Ansiosa à espera do próximo artigo. *Boas Entradas!* Renato Pedro Milheiro Ribeiro > Américo Silva: O nazismo não é desculpável O estalinismo não é desculpável o Leopoldo II não é desculpável Creio que até aqui estamos de
acordo Agora, para "fazer pagar as culpas" do nazismo vamos fazer o
quê aos alemães de hoje? Agora, para "fazer pagar as culpas" do estalinismo vamos fazer o
quê aos russos, georgianos, ucranianos et tutti quanti de hoje? Agora,
para "fazer pagar as culpas" do Leopoldo II vamos fazer o quê aos
belgas de hoje? Pontifex
Maximus: Que os
ingleses paguem pela colonização de algumas partes do mundo é um claro absurdo (os bretões foram eles também
colonizados pelos romanos, pelos anglos, pelos saxões, pelos normandos), mas ao
menos poderiam ter a lucidez de exigir a reparação integral do mal que
supostamente fizeram de modo a que o preço das viagens de regresso dos pobres
descendentes dos escravos nas Américas a África e do lucro dos povos africanos
que lhes venderam os cativos para que a escravatura fosse diluído no preço. Sim, pois ou se repara o mal
ou não e se a escravatura foi um mal, os descendentes dos escravos têm que
regressar à terra mãe. E está claro que não vale a pena dizer aos pretinhos
americanos que não têm responsabilidade e por isso não querem voltar a viver
em cubatas preferindo o conforto americano, pois os descendentes ingleses têm o
mesmo grau de responsabilidade face ao que os seus ascendentes fizeram… John Doe: O Wokismo e seus fanáticos
devem ser combatidos ferozmente sempre que se manifestarem. Por cá também já
houve casos isolados de wokistas a alegar que "um primeiro passo para a
reconciliação, era Portugal pedir perdão..." O segundo passo seria
obviamente pagar as centenas de milhares de pedidos de indemnização que viriam
em seguida... Mas à parte um lapso do Presidente, é pouco provável que isso
vingue por cá, mesmo na opinião pública, mais preocupada com o dia-a-dia do que
com cenas que aconteceram há centenas de anos. E então quando começarem a falar
em indemnizações, então menos ainda. Meio Vazio: Parabéns aos
"wokeiros" por, passo a passo, irem levando a água ao seu moinho: fazer
reviver o fantástico sistema penal vigente na Antiguidade, que estendia a pena
aos descendentes, e até aos ascendentes vivos, do condenado (...sendo que, no
caso em apreço assistimos à bizarria de ver naturais dos "países
mártires" - eles sim, descendentes de colonos e eventuais "culpados"
- a pedir reparações aos descendentes de quem nunca da Europa saiu). José B. Dias: Curioso como a "compra de
indulgências" voltou ao activo ... precisa-se de um novo Lutero para
despoletar a necessária Reforma. Elizabeth
Coelho: Excelente, mais uma vez obrigada. Boas festas. João Floriano: Não partilho o ponto de vista
mais ou menos descontraído do nosso país estar «ainda» a salvo destas
indulgências modernas. Apesar de os nossos wokes serem fundamentalmente
ridículos não devem ser subestimados sobretudo porque têm grandes apoiantes em
cargos de topo no governo: o Ministro da Cultura, o PR, muitos deputados do PS,
o Bloco de esquerda e a extrema-esquerda em geral são wokes militantes e têm um
peso significativo na CS. No entanto estas organizações piedosas e
humanitárias que recolhem as compensações e que sem dúvida as vão aplicar em
proveito dos descendentes de escravos (honi soit qui mal y pense) que estes
milhões vão acabar em contas bancárias off shore e não onde inicialmente se
destinavam) sabem que não vale a pena pedir a quem já de si é pedinte. No
entanto é bom estar de olho bem aberto não vá alguém fazer promessas e assinar
compromissos em nosso nome sem que para tal tenha sido mandatado. Entretanto se
vier um pedido de compensação do Brasil não se esqueçam de descontar os 4
milhões em vacinas mais as cadeiras de rodas Rolls Royce. Tim do Á > Rui Lima: Precisamente. Deviam compensar
os britânicos pelo seu desenvolvimento, assim como as nossas províncias
ultramarinas também nos deviam compensar por tudo o que lá deixámos. E muito!
Chega!
Tim do Á > Américo Silva: Hello! Os culpados já morreram.
Como reparar? Não sou culpado bem responsável pelo que fizeram os meus
antepassados. Posso até discordar muito. Não devo nada a ninguém. Mais. É claro
que há raças superiores às outras. Assim como há homens mais inteligentes do
que outros. E raças de cães mais inteligentes. Os brancos ocidentais foram
claramente superiores. Mas isso muda com o tempo. Agora já não são. Serão os
chineses talvez no futuro. Os brancos estão em decadência. Dentro dos
ocidentais também sempre houve povos superiores. Já foram os romanos, depois
vieram os anglo-saxónicos. Os mouros já foram superiores em relação aos povos
ibéricos. Agora não valem nada e se não fosse o petróleo viveriam todos em
tendas. José Tomás > Rui Lima: What have the Romans ever done for us? Ok, éramos
caçadores recolectores, com escassas hipóteses de chegar aos 30 anos, sem ser
vítimas da fome, da doença, de tribos rivais ou de um leão com fome, e eis-nos
aqui, no sol de Barbados, a separar os turistas dos seus dólares e euros, com a
expectativa de chegar aos 80, mas, tirando isso, o que é que esses malandros
fizeram por nós?
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