quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

DOIS TEXTOS DE HELENA GARRIDO

 

DOIS TEXTOS DE HELENA GARRIDO

COLUNISTA do OBSERVADOR

I TEXTO:

A queda do Governo ou o cisne negro de 2023

O colapso de um governo de maioria absoluta com imenso dinheiro nos cofres é o nosso cisne negro de 2023. A degradação dos serviços públicos estava em contrapartida traçada a partir de 2015.

OBSERVADOR, 19 dez. 2023, 00:2139

Se pensarmos bem, o que se passou em Portugal em 2023 é de uma enorme irresponsabilidade política. E será ainda maior se perdermos fundos do PRR e a economia, em vez do previsto abrandamento, entrar em recessão. O desprezo pelos cidadãos a quem o Estado presta cada vez piores serviços públicos, com um Governo a contentar-se a distribuir cheques, é, esperemos, o epílogo de uma trajetória em que a forma se sobrepôs ao conteúdo, em que a politiquice venceu as políticas, em que a compra e infantilização dos eleitores condenou a exigência, a responsabilização e o pensamento crítico. E, apesar das eleições, nada nos garante que existam condições para fazer diferente. Quem quiser e puder viver numa sociedade mais exigente pode estar condenado a emigrar.

O PS deu-se ao luxo de desperdiçar uma maioria absoluta com recursos financeiros como nunca o país teve e um controlo do aparelho do Estado como nunca se viu em democracia. Apenas a justiça lhe sai (ainda) do controlo o que, por muitas asneiras que faça, é a válvula de escape que resta, num regime em que o aparelho socialista se tornou no novo Dono Disto Tudo. Como têm dito vários analistas políticos, o PS precisa de uma cura de oposição. Mas essa cura, a acontecer, vai sair-nos cara. Porque quem chegar ao poder vai confrontar-se com muito contra-vapor de um Estado capturado pelos socialistas.

O problema não está em Pedro Nuno Santos como líder do PS. O problema está no partido em que boa parte do PS se transformou, rentista do Estado, perseguidor dos críticos, sem ideias nem capacidade de servir os cidadãos, pensando apenas nas suas pequenas carreiras e com muita conversa de Estado Social que é mais o género “coitadinhos dos pobrezinhos”. Contrariamente ao que se possa antecipar, Pedro Nuno Santos seria, com elevada probabilidade, um primeiro-ministro com uma agenda transformadora e mais liberal do que intervencionista.

II TEXTO

Sete pedras (e desafios) que carregamos para 2024

Habitação, Saúde, Educação são três dos problemas que carregamos quando o 25 de Abril faz 50 anos. A imigração e o ambiente são os outros, num mundo mais perigoso e que pode trazer a recessão à Europa

OBSERVADOR, 27 dez. 2023, 00:2122

Instabilidade política e social com a economia a abrandar e sem ainda sabermos se teremos uma recessão. É assim que entramos em 2024. Por cá, as eleições podem não garantir estabilidade, mas quem quer que venha a ser Governo tem na habitação, saúde, educação, imigração e ambiente enormes desafios. Desafios que carregamos na mochila e que não são fáceis de vencer se não existir coragem política de fazer e mudar algumas práticas.

1A situação política no país e no mundo é a pedra base que carregamos para o próximo ano. Libertarmo-nos dela seria a chave do regresso a um mundo mais estável e aberto. Entramos em 2024 com um mundo mais perigoso. A Europa rodeada por dois conflitos, com ameaças externas, por via da guerra na Ucrânia, e internas, como consequência da guerra de Israel contra o Hamas e como os alertas de terrorismo neste Natal bem revelaram.

Os nacionalismos crescem, as sociedades radicalizam-se, com um peso crescente de posições anti-imigração e anti-liberdades individuais, e as economias fecham-se, com tendências de desglobalização. A degradação de valores morais e éticos – como dramaticamente se viu em Espanha, onde o PSOE de Pedro Sanchez mostrou que vale tudo para manter o poder, ou como menos dramaticamente vimos em Portugal durante o último ano (mais de um ano) –, vão alimentando o monstro da descrença na classe política e a busca por alternativas populistas e conservadoras.

 

RECOMENDAMOS

PS vence e direita, sem o Chega, longe da maioria

Pedro Nuno Santos conta com José Luís Carneiro

Motorista da TVDE detido por suspeita de violação

Novocherkassk. O navio russo que a Ucrânia afundou

 

Nenhum comentário: