sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

O bloqueio


Por acaso é húngaro, este ministro que foi referido há dias, como obstáculo ao auxílio europeu urgente à Ucrânia, e de que trata Teresa de Sousa no seu artigo de 17 de Dezembro, do Público, que intitulou “Os sonâmbulos”. Os sonâmbulos somos nós, os do Ocidente europeu e americano, se não acudirmos com mais eficiência aos Ucranianos, estes sob o flagelo putinesco que se vai impondo cada vez com mais eficiência, criminosamente e impunemente destruidora de um país independente, e provavelmente dos que lhe sucederão, do lado de cá, sem cortina, e muito menos de ferro, de que precisaremos, caso os ucranianos não consigam reverter a situação de catástrofe, apesar de tantas suas provas de heroísmo (embora, é certo, os cortinados, mesmo de ferro, sejam actualmente imprestáveis, no mundo como vai e muito mais irá – ou deixará de ir).

Para já, quem bloqueia agora o apoio europeu à Ucrânia é o sr. primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, que a isso se opõe, apoiante que é do sr. Putin, que é russo e poderoso, e embora o sr. ministro húngaro esteja filiado também na União Europeia  - (democrática, segundo se crê, admitindo-se contudo, excepções, nem sempre perceptíveis, o que não é o seu caso) - que o auxilia  financeiramente, tal como a nós outros, ele vai-se preparando simultaneamente para a sua ligação futura com o sr. Vladimir, que é adepto do crime impune, a pretexto da sua força rigidamente superior, como é rígido o seu impulso ao morticínio sem tréguas – não cometido por ele, Putin, diga-se de passagem, que é homem mais para o fazer cometer a outrem.

Assim, neste momento o sr. Orbán apresenta um coração bipartido, e por isso recusa a urgência do auxílio em armas e finanças à Ucrânia, a qual está ali a defender-se, e a defender-nos, até mesmo ao sr Orbán, que joga a dois carrinhos, e até parece que o sr. ministro  húngaro está desejoso de que a Europa vá pelos ares, amigo que é do sr. Putin, e preparando de antemão o bom relacionamento futuro com este, para poder ficar por terra enquanto nós os de cá iremos pelos ares, após o desastre ucraniano, ou mesmo antes deste, que agora há armas de boa envergadura para tal efeito.

 Mas Teresa de Sousa não se fica só pelas acusações ao sr. ministro Orbán. Também Donald Trump e seus adeptos são acusados e basta que transcreva o que escreveu Teresa de Sousa, no seu lúcido e claro Artigo, e que figura em destaque, na sua página do Jornal: «Há uma minoria “trumpista” na Câmara dos Representantes que, tal como Trump, é abertamente a favor do ultraconservadorismo e autoritarismo de Putin»

Outra frase em destaque inicial do seu artigo, como aviso-à-navegação:

«Se os governos europeus não tiverem a coragem política que a situação lhes exige, o risco de fragmentação e o caminho inelutável para a irrelevância deixarão de ser figuras de retórica».

Mais haveria a dizer a respeito do sonambulismo europeu aquando das primeira e segunda guerra mundiais, como a frase seguinte de advertência, entre tantas:

«Entalada entre Trump e Putin, a Europa avança para a catástrofe como os sonâmbulos de 1914, brilhantemente descritos pelo historiador Christopher Clarke (“Les Somnambules. Été 1914. Comment l’Europe a marché vers la guerre”), escreveu Sylvie Kauffman no Monde, na véspera da cimeira.»

«Porque, continua ela, se os seus líderes europeus não conseguirem desbloquear a ajuda à Ucrânia e se, paralelamente, o congresso americano bloqueia também essa ajuda, “este sinal será interpretado na sua totalidade no Kremlin”.»………….

Mas interrompo o texto desta escrita para escutar Nuno Rogeiro e José Milhazes, na Sic, os quais confirmam tais razões e perspectivas enunciadas por Teresa de Sousa. E de que maneira! Costumava escutá-los com gosto, porque incutiam um certo optimismo acerca das previsões finais. Mas hoje, o optimismo desapareceu das suas análises e críticas da guerra. A Rússia começa a impor-se, caso o Ocidente não corresponda às expectativas de Zelensky.

Ai do Ocidente! Ai do mundo inteiro”  

E leiamos o poema “A VIDA” de António Nobre, com o seu remate de tristeza, pelo mundo imperfeito visualizado ou vivido. Hoje, seria mais de terror pelo destruído. Previsto:

«Ó meu amor! é para ver tantos abrolhos,
Ó flor sem elles! que tu tens tão lindos olhos!
Ah! foi para isto que te deu leite a tua ama,
Foi para ver, coitada! essa bola de lama
Que pelo espaço vae, leve como a andorinha,
A Terra!
Ó meu amor! antes fosses ceguinha...

In «SÓ»

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