No tédio da impostura. E do lugar-comum,
hoje, de pura falácia normativa.
Este artigo de José Manuel Silva é de um professor do Ensino Superior,
mas não significa necessariamente correcção nos seus ditames, que seguem,
simplesmente, certas modas pedagógicas actuais, numa democracia oca de
passividade, pretensiosismo e astúcia, como é essa da aceitação e equiparação
de todos os pareceres e de todos os saberes, exigindo, assim, um mínimo de
esforço para o esclarecimento próprio e o alheio. O professor, preso ao pretenso
método puramente demagógico da aceitação democrática dos saberes dos alunos,
para a conquista irrisória da autonomia valorativa e responsabilizante de cada
um, nem precisará, ele próprio, de grande esforço de preparação pessoal para a
difusão do seu próprio saber, escapando, desse modo, ele-próprio, ao estudo trabalhoso
necessário, facilitada a sua tarefa transmissora de conhecimento, em obediência
aos ditames da pedagogia libertária fraudulenta da actualidade, que pretende
fazer omeletes sem ovos, em pobre imagem da nossa penúria mental (para além da física
da nossa dependência económica), que só o desrespeito pelos valores da
sabedoria que a tradição tornou norma, permite estatuir.
O PISA, o eduquês e a aprendizagem
genuína
Quando, perante a utilização dos
telemóveis, muitos os querem banir nas escolas porque, alegadamente, prejudicam
as relações entre pares, estamos a andar às arrecuas.
JOSÉ MANUEL SILVA Professor do Ensino
Superior, membro da direcção da Associação Portuguesa do Ensino Superior
Privado (APESP).
OBSERVADOR; 13 dez. 2023, 00:1427
Os sistemas educativos são reflexos das
sociedades em que existem, La Palisse não diria melhor, mas parece que nos
esquecemos desta evidência. Houve uma altura em que sempre que se falava de
bons exemplos em educação se ia buscar a Finlândia, só que Portugal é outra
realidade, tem outra cultura, outra realidade política, social e económica,
como podia o ensino português ser similar ao finlandês?
Também
houve um tempo em que o eduquês era responsabilizado por tudo quanto
acontecia de mau nas escolas portuguesas, isto é, todos quantos abordavam as
questões educativas socorrendo-se dos contributos mais recentes das ciências da
educação, que alguns não reconhecem como ciências, nem como educação, eram logo
considerados como sofrendo de um profundo handicap que os tornava
pouco recomendáveis.
Entretanto o PISA tomou conta do
palco e tornou-se num ídolo objecto de adoração por quantos acreditam que a
educação pode ser reduzida às quantidades. A
educação é como os vinhos, o terroir é determinante para a qualidade
e não se pode comparar um Borgonha com um Quinta das Laranjeiras.
Evidentemente que o PISA é importante, os seus resultados devem ser analisados
e reflectidos, mas daí a cairmos em exageros sobre a desgraça educativa
nacional porque os nossos alunos tiveram uma performance menos positiva
parece-me um absurdo.
Agora dei com a expressão “aprendizagem
genuína” que me pareceu aplicada a uma espécie de “back to basics” que fez escolas nos states nos
anos 80 do século passado. Face à minha dúvida sobre o que quereriam
dizer com este conceito socorri-me do Chatgpt e eis o resultado:
A
aprendizagem genuína é um conceito que se refere a uma abordagem educacional
que enfatiza a aplicação prática do conhecimento, a conexão com a vida real e a
relevância dos conteúdos para os alunos. É uma forma de aprendizagem que vai
além da memorização de informações e busca desenvolver habilidades e
competências que possam ser aplicadas em situações reais.
Na
aprendizagem genuína, os alunos são incentivados a explorar, investigar e
resolver problemas reais, utilizando o conhecimento adquirido de forma
significativa. Isso envolve a aplicação de conceitos e teorias em contextos
reais, promovendo a reflexão crítica, a colaboração e a criatividade.
Algumas
características da aprendizagem genuína incluem:
1. Relevância: Os conteúdos são apresentados de forma a
conectar-se com a vida dos alunos, tornando-os mais interessantes e
significativos.
2. Aplicação prática: Os alunos são desafiados a aplicar o
conhecimento em situações reais, desenvolvendo habilidades que possam ser
utilizadas fora da sala de aula.
3. Colaboração: A aprendizagem genuína valoriza o trabalho
em equipe, incentivando a colaboração entre os alunos para resolver problemas e
alcançar objectivos comuns.
4. Reflexão crítica: Os alunos são estimulados a refletir sobre o
que estão aprendendo, questionando, analisando e avaliando informações de forma
crítica.
5. Autonomia: A aprendizagem genuína busca desenvolver a
autonomia dos alunos, permitindo que eles assumam a responsabilidade por sua
própria aprendizagem e tomem decisões informadas.
A aprendizagem genuína pode ser
aplicada em diferentes contextos educacionais, desde a educação infantil até o
ensino superior. Ela busca proporcionar uma experiência de aprendizagem mais
significativa e duradoura, preparando os alunos para enfrentar os desafios do
mundo real.
Afinal, tudo o que temos andado a
fazer desde há pelo menos três décadas, e nada a ver com os saudosistas do
tempo em que a escola era para seriar e expulsar, não para incluir. O problema
é que a sociedade evoluiu muito mais rápido do que as escolas, existe até
aquela frase que diz mais ou menos que “Se ensina com os métodos do século XIX,
com a organização escolar do século XX, e os estudantes do século XXI”, o que
tem tudo para correr mal.
O problema da escola
portuguesa não é voltar ao passado, é acelerar para o futuro, é ter em
consideração que o cérebro das crianças e jovens está a mudar, que os métodos
tradicionais não funcionam, a organização escolar tem de mudar profundamente, o
papel dos professores não tem
nada a ver com o que era quando constituíam a fonte principal de transmissão de
conhecimento.
Quando perante a utilização dos telemóveis,
que são hoje um dos mais potentes instrumentos de aprendizagem, andam no bolso
de toda a gente e permitem aceder ao conhecimento e aos outros
instantaneamente, muitos os querem banir nas escolas porque, alegadamente,
prejudicam as relações entre pares, estamos a andar às arrecuas.
Portugal precisa de um choque educativo, é verdade,
mas para se projectar para os níveis
mais avançados que a revolução tecnológica comunicacional e digital já permite.
Parece ridículo, quando o acesso ao conhecimento está à distância de um clique,
que se continue a funcionar nalgumas escolas como se estivéssemos no tempo da
ardósia e do quadro preto.
São precisos novos currículos, novas
metodologias, professores com outros perfis, organizações escolares mais
abertas, mais alinhadas com a sociedade, mais empreendedoras, mais
internacionais. E há uma área fundamental onde, aqui sim nos temos perdido, os
valores – e esta é uma das razões principais que justificam a anomia que existe
nalgumas escolas. De uma organização escolar restritiva e extremamente
conservadora, saltou-se para o oposto e muitas escolas transformaram-se em
territórios de confronto onde o bullying, o desrespeito pelos mais elementares
princípios de vivência social, o desprestígio dos professores, tudo se conjuga
para a existência de um microcosmo pouco recomendável onde, de facto, a
educação e a aprendizagem não medram.
Sem leituras radicais, sem invocação
de caos, com a serenidade necessária para lermos os sinais dos tempos, é altura
de reflectirmos juntos num projeto educativo que dê continuidade ao melhor que
temos feito, olhando para o passado como memória, mas com a consciência de que
o caminho é o futuro. Basta olhar à volta e ver para onde caminham as
sociedades mais desenvolvidas, mais justas, onde o bem-estar dos cidadãos é a
primeira preocupação de quem governa.
EDUCAÇÃO PEDAGOGIA TECNOLOGIA
PISA
COMENTÁRIOS (de27):
Maria Melo: Eis um dos problemas da Escola
ao longo destes 49 anos de pseudo-democracia: quase ninguém sabe a diferença
entre um adjectivo e um advérbio. ”… problema é que a sociedade evoluiu muito
mais rápido do que as escolas,…” “Rápido” é um adjectivo que qualifica nomes
(substantivos). Nesta frase tem que se usar um ADVÉRBIO, pois está a qualificar
o verbo: evoluiu RAPIDAMENTE. O português não é o inglês, que utiliza “fast”
para ambos. Actualmente, quase ninguém sabe falar e/ou escrever
correctamente. E depois, ainda temos a implementação do Acordo
Ortográfico, sendo Portugal o único país que aderiu a este ultraje. E os
telemóveis com o “texting” e os emojis contribuem para este “analfabetismo “. João
Floriano: Responderei ao cronista com o artigo de Leonor Gaião, aqui publicado hoje
com o título «O verdadeiro wokismo». Não discordo da crónica de José
Manuel Silva mas os cinco ou seis pontos que elenca para uma transformação no
ensino não se conseguem aplicar quando as escolas são lugar de confronto, de
violência, da supremacia dos mais fortes sobre os mais fracos, a divisão entre
bullies e suas vítimas. Quanto á utilização dos telemóveis em sala de
aula, vamos cair precisamente no mesmo. Numa escola ( modo geral de falar) onde
haja disciplina, respeito, interesse, onde um pequeno grupo por vezes não
coloque o ambiente a ferro e fogo e uns poucos impeçam a progressão
dos que querem aprender, o telemóvel seria pacífico. Mas a realidade é o oposto
e não se consegue fazer funcionar uma aula quando o telemóvel interrompe de
minuto a minuto. Qual seria a reacção de pais e educadores se o professor
estivesse ele próprio constantemente agarrado ao telemóvel em vez de dar
atenção aos alunos?
Carlos Chaves: Um artigo travestido, de defesa dos crimes que o
ministério da educação andou a fazer nos últimos 8 anos! Espero ainda ver
os socialistas responsáveis atrás das grades, por hipotecarem o nosso futuro! Renato
Pedro Milheiro Ribeiro: Só retive "Parece ridículo, quando o acesso ao
conhecimento está à distância de um clique". O conhecimento? Ao alcance de um clique? Nem
imagino o que significa "conhecimento" na acepção usada nesta frase!
Mas deve ser muito bom... tal conhecimento... Francisco
Almeida: Um artigo tratado a nível muito elevado, quiçá
demasiado elevado para leitores não especialistas. Poderá o professor ter razão
- o que diz faz sentido - mas me sinto habilitado a julgar. Mas uma coisa
comezinha, está ao meu alcance. Com Nuno Crato, aumentou-se a avaliação e os
resultados no PISA subiram. Com João Costa, reduziu-se a avaliação e os
resultados no PISA desceram.
Filipa Poêjo: O que é que banir os tlm dos recreios tem a ver com
deixar de utilizar as novas tecnologias no processo de ensino? Que confusão de
valores…
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