A crónica de Alberto Gonçalves, que, como sempre investiga as certas
premissas, para nos dar a sua visão não rebuscada, e apenas inteligente e
franca da nossa mísera – hoje mais do que nunca hipócrita - realidade.
Do Guadiana ao Mar da Palha, Palestina será livre
Multidões de ceguinhos e estrábicos não caem do céu: já o sr. Gramsci, esse saudoso estalinista, explicava que é necessário produzi-los. Para isso, converteram-se as escolas em fábricas de tontos.
ALBERTO GONÇALVES Colunista do Observador
OBSERVADOR, 09 dez. 2023, 00:21
Uma ocasião, tive de recorrer à internet para mostrar a um ex-amigo que Israel caberia com folga no Alentejo. Suponho que na cabeça dele, pendente à esquerda e licenciada em engenharia informática, décadas de ocupações, colonatos e genérico “imperialismo” teria alargado o território israelita para uma área similar à do Canadá. O meu ex-amigo, simpatizante da “causa” palestiniana, não é caso único.
Um professor de Ciências Políticas em Berkeley, Califórnia, Ron E. Hassner, fez recentemente um inquérito entre 250 estudantes de diversas universidades americanas. A primeira pergunta versava o apoio dos inquiridos aos cânticos de “Do rio ao mar, a Palestina será livre”: um terço apoiava o desígnio “entusiasticamente”, e 53% fazia-o de forma “moderada”. De todos, apenas metade sabia identificar o rio e o mar em questão – alguns referiram o mar das Caraíbas e o oceano Atlântico. Menos de um quarto conhecia Yasser Arafat (10% achavam tratar-se de um antigo governante israelita), e mais de um quarto nunca ouvira falar nos Acordos de Oslo. Quando confrontados com um mapa do Médio Oriente e meia dúzia de factos, e depois de esclarecidos de que o slogan “From the river to the sea…” implica a aniquilação de um país e dos seus habitantes judeus e árabes, perto de 70% dos inquiridos reviu a sua posição face a um conflito cujos pormenores desconhecem olimpicamente. Em artigo no Wall Street Journal, o professor Hassner concluiu que “não há vergonha em ser ignorante, excepto se berrarmos a pedir o extermínio de milhões”.
Por regra, a boçalidade e a falta de vergonha andam juntas. Juntas, tanto passeiam em prol do anti-semitismo (dava um rim, embora não dos meus, para que o inquérito tivesse incluído a questão: o que é o sionismo?) como desfilam a pretexto dos restantes “temas” que perturbam os apedeutas contemporâneos, da “ansiedade climática” à “identidade de género”, passando evidentemente pelo “racismo sistémico”. Se para Marx a luta de classes era o motor da História, o motor do marxismo é a ignorância. Ou a luta contra a realidade. Claro que isto não elimina as classes: há uma pequena classe de charlatães especializada em mentir, manipular e endrominar simplórios, e há uma vasta classe de simplórios especializada em acreditar no que os charlatães lhes despejam em cima.
Com jeito, e não é preciso muito, os simplórios acreditam no que calha. Acreditam que as emissões de carbono diminuem ao lançar-se tinta a propriedade alheia. Acreditam que a propriedade alheia lhes pertence. Acreditam que um homem é capaz de menstruar. Acreditam que os caucasianos são devedores de “reparações” em numerário a descendentes de outras “etnias”. Acreditam, lá está, que Israel pratica “limpeza étnica” sobre populações que crescem eufórica e exponencialmente. E juro: acreditam que o capitalismo gera pobreza e que o socialismo suscita a melhoria das condições de vida. Entramos, pois, na dimensão da fé, e a fé é cega, ou no mínimo bastante estrábica. Na óptica da esquerda, uma visão deficitária é essencial para imaginar o mundo às avessas.
Claro que multidões de ceguinhos e estrábicos não caem do céu: já o sr. Gramsci, esse saudoso estalinista, explicava que é necessário produzi-los. Para isso, converteram-se as escolas em fábricas de tontos, onde a instrução “tradicional” acabou trocada por uma cartilha de alucinada babugem, dedicada a execrar a civilização judaico-cristã e a exaltar o atraso e a pura barbárie. Os resultados, na América e na Europa, estão aí, e não carecíamos do inquérito do professor Hassner para descobrir que o ensino, “superior” ou manifestamente inferior, se encontra tomado de assalto por uma quantidade significativa de charlatães (são os que auferem salário) e simplórios (são os que gritam de borla).
Os exemplos abundam. Dou um. O relatório PISA 2023, publicado agora, notou que na generalidade do Ocidente os alunos vão afocinhando sem remédio em ciências, matemática e línguas, ou seja em tudo o que desafie o primitivismo em voga. É natural: ocupar o tempo com manifestações pela Palestina, greves ecológicas e performances “trans” nunca prometeu ser um método eficaz de aprender a ler, escrever e contar. A geração mais mal informada de sempre tem a sucessão garantida. E os fanáticos ou tontos que nos ministérios, nas comissões disto e daquilo e nas direcções escolares congeminam semelhante desastre, também.
Não quero dizer que os governos ficaram indiferentes ao PISA. Pelo menos o nosso governo não ficou. Mesmo antes de sair, deixou reformas estruturais que respondem aos reais problemas do ensino. Impôs novos padrões de exigência curricular? Não exactamente. Aboliu das salas os telemóveis, os tablets, os computadores e demais pechisbeques usados para entreter jovens que padecem de “hiperactividade”? Nem por isso. Erradicou a disciplina de Cidadania e todo o entulho moralista que é competência das famílias ou do acaso? É o erradicas! O nosso governo sugeriu, e o parlamento aprovou, a “autodeterminação da identidade de género” nas escolas, maravilha que afectará as casas de banho, os nomes dos meninos e das meninas, as roupas dos meninos e das meninas, e a proibição de se desconfiar que um menino não é uma menina ainda que ele o afirme ser.
De agora em diante, o Zé Miguel que foi às aulas na segunda-feira poderá, após contemplar um vídeo inspirador no Tik-Tok, “identificar-se” como Matilde na terça, frequentar os lavabos femininos na quarta e, na quinta, vestir um cai-cai para vandalizar uma montra qualquer em nome do “ambiente”. Na sexta participa numa arruada a denunciar o “genocídio” em Gaza ou lá o que é. E ao fim-de-semana a Matilde descansa, que um homem não é de ferro. Um dia, o trabalhão do Zé Miguel em não aprender nada de nada será recompensado com um cargo distribuído pelo PS ou a chefia de uma das metástases do BE. Ao contrário do saber, a ignorância ocupa inúmeros lugares.
POLITICAMENTE CORRECTO SOCIEDADE PISA EDUCAÇÃO ISRAEL MÉDIO ORIENTE MUNDO GOVERNO POLÍTICA
COMENTÁRIOS (de 14)
Gustavo Lopes: Que texto incrível !!! Mas infelizmente já nenhum dos miúdos desta fornada o consegue sequer ler, a menos que tenha um dicionário da priberam ao lado… O problema, caro AG, é que a estratégia deu frutos: o PS continua a liderar as sondagens!!! Algo que num país civilizado e minimamente letrado seria impensável!!!! E não é só a dependência do estado e inação das pessoas, é mesmo ESTUPIDEZ COLECTIVA!!!! Como povo, temos o que merecemos… Obrigado por mais esta “BÍBLIA” de realidade! Cumprimentos P.S. - e que nunca lhe dia a mão… José Paulo C Castro: Sobre estas novas disposições sobre identidade de género nas escolas, particularmente sobre a questão das casas de banho, perguntei recentemente a um membro de uma direcção de escola como iriam fazer quando surgisse um caso, uma vez que as instalações não estavam preparadas. A resposta: "Face às mudanças de nome e de roupa, esse é o problema menor. Só temos de indicar uma. Logo, vão para a das pessoas com deficiência." Depois caiu em si: "Ups, não posso dizer isto assim...". Vamos ter comunidades inteiras a serem impedidas de dizer a realidade, a fingir aquilo em que não acreditam, apenas para servir a agenda política de alguns e alimentar a disforia de outros. F. Mendes: Excelente artigo. De facto, a ignorância campeia nesta sociedade dita de informação. Tenho uma sugestão a fazer, em modesto complemento a esta coluna: obriguem umas centenas de dirigentes, da nossa esquerda neocomunista, a passar um ano em Cuba ou na Coreia do Norte; mas, sem o apoio e benesses dos PCs locais! E depois (caso sobrevivam) que tragam um relato da experiência, que seja verificável, e de exibição obrigatória aos seus militantes. Ironizo, pois quase todos se recusariam a ir. E os que voltassem arranjariam maneira de aldrabar a realidade.
Já agora:
Para ajudar a colmatar a nossa ignorância a respeito desse oriente que já foi bíblico, recorramos à sacrossanta Internet, para repor nomes e factos, por nós vividos:
NOTAS DA INTERNET
SOBRE O SLOGAN “Do Guadiana ao Mar da Palha, a Palestina será livre” QUE SEPARA JUDEUS E PALESTINIANOS
Proibição
O principal ponto de discórdia é se o slogan inclui ou exclui a população israelense. Estará ele simplesmente exigindo direitos iguais para os palestinianos ou a conquista e aniquilação do Estado de Israel?
Também na Alemanha, as autoridades judiciais discordaram durante muito tempo sobre o assunto. O slogan foi considerado por bastante tempo como algo fundamentalmente aceitável, protegido pela liberdade de expressão. A argumentação era que declarações só são puníveis se incitarem à violência, algo que não pode ser claramente determinado neste slogan.
No entanto, agora houve uma mudança de pensamento quanto à questão, e o Ministério do Interior alemão decidiu proibir o uso do mote, sob o argumento de que constitui um apoio ao Hamas e um apelo à violência contra os judeus e o Estado de Israel.
Seu uso é passível de multa por "incitamento ao ódio racial" e, no pior dos casos, até pena de prisão de até três anos. Alguns estados alemães já iniciaram processos criminais referentes ao uso do slogan após a proibição.
Também houve controvérsias acaloradas em torno do uso do slogan em outros países. Uma manifestação na Áustria foi proibida em outubro por causa disso. No Reino Unido, o Partido Trabalhista impôs uma pena temporária ao deputado Andy McDonald por usar a frase durante uma manifestação pró-palestinianos.
E nos EUA, a Câmara dos Representantes repreendeu a deputada democrata Rashida Tlaib – a única representante dos EUA com raízes palestinianas. Ela condenou o ataque do Hamas, mas depois fez várias declarações críticas sobre as ações de Israel em Gaza – e usou o controverso slogan.
A longa história do processo de paz no Oriente Médio
Por mais de meio século, disputas entre israelenses e palestinianos envolvendo terras, refugiados e locais sagrados permanecem sem solução. Veja um breve histórico sobre o conflito.
1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU
A Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em 22 de novembro de 1967, sugeria a troca de terras pela paz. Desde então, muitas das tentativas de estabelecer a paz na região referiram-se a ela. A determinação foi escrita de acordo com o Capítulo 6 da Carta da ONU, segundo o qual as resoluções são apenas recomendações e não ordens.
1978: Acordos de Camp David
Em 1973, uma coalizão de Estados árabes liderada pelo Egito e pela Síria lutou contra Israel no Yom Kippur ou Guerra de Outubro. O conflito levou a negociações de paz secretas que renderam dois acordos 12 dias depois. Esta foto de 1979 mostra o então presidente egípcio Anwar Sadat, seu homólogo americano Jimmy Carter e o premiê israelense Menachem Begin após assinarem os acordos em Washington.
1991: Conferência de Madrid
Os EUA e a ex-União Soviética organizaram uma conferência na capital espanhola. As discussões envolveram Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os palestinianos – mas não da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) –, que se reuniam com negociadores israelenses pela primeira vez. Embora a conferência tenha alcançado pouco, ela criou a estrutura para negociações futuras mais produtivas.
1993: Primeiro Acordo de Oslo
Negociações na Noruega entre Israel e a OLP, o primeiro encontro directo entre as duas partes, resultaram no Acordo de Oslo. Assinado nos EUA em setembro de 1993, ele exigia que as tropas israelenses se retirassem da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e que uma autoridade palestiniana autónoma e interina fosse estabelecida por um período de transição de cinco anos. Um segundo acordo foi firmado em 1995.
2000: Cúpula de Camp David
Com o objectivo de discutir fronteiras, segurança, assentamentos, refugiados e Jerusalém, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, convidou o premiê israelense Ehud Barak e o presidente da OLP Yasser Arafat para a base militar americana em julho de 2000. No entanto, o fracasso em chegar a um consenso em Camp David foi seguido por um novo levante palestiniano, a Segunda Intifada.
2002: Iniciativa de Paz Árabe
Após Camp David, seguiram-se encontros em Washington e depois no Cairo e Taba, no Egipto – todos sem resultados. Mais tarde, em março de 2002, a Liga Árabe propôs a Iniciativa de Paz Árabe, convocando Israel a retirar-se para as fronteiras anteriores a 1967 para que um Estado palestiniano fosse estabelecido na Cisjordânia e em Gaza. Em troca, os países árabes concordariam em reconhecer Israel.
2003: Mapa da Paz
Com o objectivo de desenvolver um roteiro para a paz, EUA, UE, Rússia e ONU trabalharam juntos como o Quarteto do Oriente Médio. O então primeiro-ministro palestiniano Mahmoud Abbas aceitou o texto, mas seu homólogo israelense Ariel Sharon teve mais reservas. O cronograma previa um acordo final sobre uma solução de dois estados a ser alcançada em 2005. Infelizmente, ele nunca foi implementado.
2007: Conferência de Annapolis
Em 2007, o então presidente dos EUA George W. Bush organizou uma conferência em Annapolis, Maryland, para relançar o processo de paz. O premiê israelense Ehud Olmert e o presidente da ANP Mahmoud Abbas participaram de conversas com autoridades do Quarteto e de outros Estados árabes. Ficou acordado que novas negociações seriam realizadas para se chegar a um acordo de paz até o final de 2008.
2010: Washington
Em 2010, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, convenceu o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, a implementar uma moratória de 10 meses para assentamentos em territórios disputados. Mais tarde, Netanyahu e Abbas concordaram em relançar as negociações directas para resolver todas as questões. Iniciadas em setembro de 2010, as negociações chegaram a um impasse dentro de semanas.
Ciclo de violência e cessar-fogo
Uma nova rodada de violência estourou dentro e ao redor de Gaza no final de 2012. Um cessar-fogo foi alcançado entre Israel e os que dominavam a Faixa de Gaza, mas quebrado em junho de 2014, quando o sequestro e assassinato de três adolescentes em mais violência. O conflito terminou com um novo cessar-fogo em 26 de agosto de 2014.
2017: Conferência de Paris
A fim de discutir o conflito entre israelenses e palestinos, enviados de mais de 70 países se reuniram em Paris. Netanyahu, porém, viu as negociações como uma armadilha contra seu país. Tampouco representantes israelenses ou palestinianos compareceram à cúpula. "Uma solução de dois Estados é a única possível", disse o ministro francês das Relações Exteriores Jean-Marc Ayrault, na abertura do evento.
2017: Deterioração das relações
Apesar de começar optimista, o ano de 2017 trouxe ainda mais estagnação no processo de paz. No verão do hemisfério norte, um ataque contra a polícia israelense no Monte do Templo, um local sagrado para judeus e muçulmanos, gerou confrontos mortais. Em seguida, o plano do então presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada americana para Jerusalém minou ainda mais os esforços de paz.
2020: Tiro de Trump sai pela culatra
Trump apresentou um plano de paz que paralisava a construção de assentamentos israelenses, mas mantinha o controle de Israel sobre a maioria do que já havia construído ilegalmente. O plano dobrava o território controlado pelos palestinianos, mas exigia a aceitação dos assentamentos construídos anteriormente na Cisjordânia como território israelense. Os palestinianos rejeitaram a proposta.
2021: Conflito eclode novamente
Planos de despejar quatro famílias palestinianas e dar suas casas em Jerusalém Oriental a colonos judeus levaram a uma escalada da violência em maio de 2021. O Hamas disparou foguetes contra Israel, enquanto ataques aéreos militares israelenses destruíram prédios na Faixa de Gaza. A comunidade internacional pediu o fim da violência e que ambos os lados voltem à mesa de negociações.
2023: Terrorismo do Hamas e retaliações de Israel
No início da manhã de 7 de outubro, terroristas do grupo radical islâmico Hamas romperam barreiras em alguns pontos da Faixa de Gaza, na fronteira com Israel, e, em território israelense, feriram e mataram centenas de pessoas, além de sequestrarem mais de uma centena. Devido a isso, Israel declarou "estado de guerra" e iniciou uma série de bombardeios, deixando partes da Cidade de Gaza em ruínas.
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