domingo, 31 de dezembro de 2023

Engolir em seco em final de ano

 

Conquanto em encanto, com a escrita de Alberto Gonçalves, de pertinência inflexível, nos retratos dos visados. Mas também em tristeza, no reconhecimento da inutilidade dela, dessa escrita - por falta da sua leitura, da sua compreensão ou por desprezo dos retratados.

Um país definitivamente sem rumo, ou arrumado a um canto de tristeza e vazio.

Só vejo um Passos Coelho, com a seriedade e determinação para nele impor mais dignidade, mas P.C. sabe que os piedosos da esquerda logo boicotariam a sua governação. E todavia, o país precisaria dessa espécie de Zelensky, corajoso e valente, amante da pátria, mais do que da sua bolsa, ou da sua comodidade…

Para ultrapassar o naufrágio...

2023: as figuras do ano

O dr. Montenegro, em teoria o líder da oposição, na prática não quer incomodar. Principalmente não parece querer governar. De resto, tem sido o primeiro a inventariar as situações em que não governará

ALBERTO GONÇALVES Colunista do Observador

OBSERVADOR30 dez. 2023, 00:2151

Figura tristeMarcelo Rebelo de Sousa. Recentemente, Sua Excelência, o Presidente da República informou a nação que, segundo uma sondagem, a sua popularidade se mantém intacta. O alívio da população ouviu-se à distância. Muito mais do que, sei lá, o pandemónio na saúde pública ou a penúria em que progressivamente afocinham, o que afligia os portugueses era, sobretudo, a possibilidade de o prof. Marcelo ter caído em desgraça, no caso com o caso das gémeas brasileiras. Curiosamente, era também essa a única preocupação do próprio prof. Marcelo desde que entrou em Belém. O homem nunca quis ser presidente, tarefa para que aliás mostrou vasta impreparação e desconhecimento: o homem quis, e quer, ser popular. Logo em 2016 ficou claro que ali não há a sombra de um estadista, e sim um artista de variedades emocionalmente dependente dos humores da audiência. Em 2023, deixou sair o dr. Costa quando imaginou que o apoio ao governo poderia beliscá-lo (a ele, o prof. Marcelo) – isto depois de amparar o governo em toda a sorte de loucuras, algumas inconstitucionais, porque calculara que isso o beneficiaria (a ele, o prof. Marcelo). O prof. Marcelo é o assunto exclusivo do prof. Marcelo.

Indecente e má figura: António Costa. Sou dos que acham absurdo o dr. Costa se ter demitido em 2023 por causa de um comunicado da PGR, suspeitas de tráfico de influências e 75 mil euros em notas no gabinete ao lado do seu. Nos oito anos anteriores houvera razões de sobra para o sujeito cair (metaforicamente, vá lá), desde a tragédia de Pedrógão, em 2017, à gestão primitiva e autoritária da Covid, em 2020 e 2021, para não falar da TAP, do SNS, da Justiça, da Educação e, por exemplo, dos srs. Galamba e Cabrita. E isto descontando a trapaça que o levou ao poder em 2015 e, para os menos atentos, lhe definiu o carácter. Em debate de 2014, António José Seguro já o definira. Não serviu de aviso. Para muitos eleitores, a julgar pelas eleições subsequentes, até serviu de estímulo: por cá, a ausência de escrúpulos e de vergonha parece dar votos. Um dia, o dr. Costa congratulou-se pelo aumento de famílias necessitadas de “prestações sociais” (leia-se o aumento da pobreza) e nem uma alminha protestou seriamente a afronta. O país mereceu-o.

Figura de corpo presenteLuís Montenegro. Há exactamente um ano, estava o governo a esfarelar-se em demissões e demais vergonhas típicas da Bolívia, o dr. Montenegro aparecia às vezes a pedir contenção e, raramente, uma ou duas remodelações. Mas não aparecia muito. O dr. Montenegro, em teoria o líder da oposição, na prática não quer incomodar. Principalmente não parece querer governar. De resto, ele tem sido o primeiro a inventariar as situações em que não governará. São várias e as únicas possíveis: o dr. Montenegro não aceita ser primeiro-ministro se perder as eleições e, mesmo que as vença, se precisar do Chega para a maioria parlamentar. Ou seja, o dr. Montenegro só será primeiro-ministro se houver um milagre. Lembro que o adversário do dr. Montenegro nas “legislativas” é alguém desejoso de se aliar a apoiantes da Venezuela, da Rússia e do Hamas, além de que não enjeitaria um pacto de incidência parlamentar com os canibais da ilha Sentinela. Pelo menos no que toca à ambição, a luta é desigual.

FigurinhaPedro Nuno Santos. Esta sumidade terminou 2022 a demitir-se do governo por se esquecer de indemnizações que aprovara através do WhatsApp e termina 2023 como secretário-geral do PS e candidato plausível a primeiro-ministro. O que aconteceu entretanto? Nada de especial, apenas a proverbial reciclagem de um irresponsável que em países normais estaria escondido num bunker ou exibido na barra do tribunal. Em Portugal, foi contratado por um canal televisivo a título de comentador, retornou ao parlamento e começou a ser vendido enquanto “carismático”, essa qualidade difusa com que se tenta disfarçar a falta das restantes. Numa entrevista televisiva, provou desconhecer o valor do salário mínimo cujo aumento aprovou. Após a estreia da fita “O Neto do Sapateiro”, “biopic” na tradição de “A Filha do Mineiro”, o dr. Santos passou a apresentar-se como o homem que salvou a TAP, a troco de meros milhares de milhões sonegados ao contribuinte. Antes de 10 de Março, irá a tempo de confessar que inventou o avião, a ferrovia e a trotineta. O dr. Santos é uma piada involuntária, e por isso mesmo um perigo.

Figura de urso: o português médio. Quase 70% dos trabalhadores portugueses ganham menos de mil (1000) euros. O fisco directo e indirecto consome boa parte dos rendimentos dos poucos que ganham acima disso. O nosso poder de compra já desceu abaixo do romeno. Apenas quando adoece, a metade pobre do povo precisa de um SNS que os socialistas conseguiram arruinar enquanto lhe despejavam mais dinheiro em cima. Há anos que aqui se morre em excesso e se vive por defeito. A quantidade de sem-abrigo cresce sem parança. Os que ainda têm abrigo desunham-se mensalmente para pagar a respectiva prestação ou contam com o abrigo paterno. A fim de resolver o problema da habitação, o governo decidiu enxotar o investimento em habitação e, de caminho, rebentar com os pequenos empresários do alojamento local e ameaçar o turismo. Os crimes violentos sobem com firmeza. O regime presta-se a implodir por descrédito e ridículo. Os dados do PISA e os resultados das provas de aferição demonstraram que as novas gerações são de facto as mais preparadas de sempre para dependerem de subsídios à existência. Os que escapam à miséria educativa aproveitam para escapar do país. Os estrangeiros sem dinheiro são bem-vindos, os estrangeiros com dinheiro são escorraçados. Portugal, portanto, vai benzinho. Não admira que o PS lidere as sondagens.

Figura de estilo: todas as pessoas que, perante o acima exposto, desejam ao semelhante um feliz 2024. Ou são do PS ou são malucas. Ou acumulam.

FIGURAS DO ANO    OBSERVADOR    PAÍS    PRESIDENTE MARCELO     POLÍTICA     PEDRO NUNO SANTOS     ANTÓNIO COSTA     LUÍS MONTENEGRO

COMENTÁRIOS (de 71)

Américo Silva: Feliz 2024 ao AG, eu acumulo, ele acumula, nós acumulamos, realmente nunca votei Marcelo, e não foi por acaso, apesar de tudo milhares de portugueses estarão a viajar no fim do ano, e muitos mais a gastar centenas de euros por pessoa nas festas de fim de ano, isto para irem depois para as bichas das urgências com resfriados e dores de barriga, e dizerem muito mal do governo e que o mundo vai acabar, é a vida.         Maria Paula Silva: Maravilhoso! Tão bom e tão bem  descrito que amanhã é para reler. Bom, não sou do ps nem sou maluca (mas todos os malucos dizem que não são malucos) mas, mesmo assim, desejo-lhe um excelente 2024 cheio de boa prosas a que já nos habituou.                Américo Silva > José Paulo C Castro: Quem bateu a bota foi Schäuble, um homem que me parece honesto, embora errado, defendeu o ordoliberalismo numa versão duvidosa, antidemocrática e iníqua, retirando o dinheiro aos povos para o dar aos bancos, causa da grande crise portuguesa, onde Cavaco pontuou mais que Sócrates. Portilhavam ambos, Schäuble e Cavaco, a ideia de que a economia se sobrepunha à democracia                Alexandre Barreira: Pois. Faltou uma "figura do ano". A figura do AG. Uma no cravo....outra na ferradura. Sabe-a toda....!                Américo Silva > Américo Silva: e que para fintar a democracia qualquer tratado internacional servia, uma vez que não exigia aprovação pelo voto directo ou representativo, como eu vi Cavaco defender na televisão.  Morreu triste nas suas próprias palavras, pelo sofrimento que causou, e a remoer como poderia ter sido diferente, muito mais humilde que o PSD. Novo ás da economia tipo Coelha é Montenegro, até se poderia chamar montelimpo ou montebranco.               F. Mendes: "Há anos que por aqui se morre em excesso e se vive por defeito". Brilhante! AG resume numa linha o estado a que chegámos.  Apesar de tudo, não desespero. Discordo da avaliação, feita por AG, a Luís Montenegro. É verdade que lhe custou a arrancar como líder da oposição. Mas, não devemos esquecer a herança deixada por esse assassino da democracia, que dá pelo nome de Rui Rio. De resto, Montenegro já se tornou incómodo ao ponto de suscitar esta intrigante "denúncia anónima" sobre assuntos relativos a uma casa sua, ainda-por-cima apresentada nesta altura. O ponto aqui é este: como sair disto. Porque assim não podemos continuar. Seria muito bom ler algo que fosse além da constatação da nossa miséria. E abandonar fatalismos.  Desejo a todos um Feliz 2026 (2025, vá lá!). Porque, no que tange a 2024, não quero mesmo passar por maluquinho.                 Eduardo Cunha: Excelente crónica.   é pena, como se vê com os resultados das provas de aferição, que não seja muitos que a consigam ler e boa parte dos que a conseguem não a entendem.                José Paulo C Castro : A figura do ano, por muito que me custe, é a Procuradora Geral da República Ninguém termina o ano com tanto impacto no destino dos portugueses como ela. Seja para uma avaliação positiva, como para uma negativa. O futuro o dirá mas uma avaliação neutra é que não será, de certeza. A verdade é que colocou toda a classe política de pantanas com apenas duas ou três iniciativas. Sendo que a de excluir a PJ nas buscas a S. Bento pode ter sido a jogada de mestre. Depois disto, nenhum político volta a achar que pode fazer o que quer. Mesmo que os media estejam subordinados. A separação de poderes, quando existe, é a melhor garantia.                 J. D.L.: Um léxico para morrer a rir. Muito bom!                 pedro cordeiro: Marcelo - aquele tio que vai ao natal e de que ninguém desgosta. Oferece prendas bem embrulhadas mas que custam 2 euros ou foram recicladas de natais passados. Achou estranho que a Ritinha de 6 anos tenha feito o puzzle tão depressa porque na caixa dizia 3 a 6 meses. Costa - poucas vezes tenho saudades de ser jornalista. À primeira oportunidade era perguntar: "Ó senhor-futuro-ex-primeiro-ministro, porquê é que falou em processo-crime? Ninguém falou nisso, o comunicado não referiu isso..." Perguntem, amigos, perguntem. Montenegro - vou votar nele. Bolas. Parece que o homem tem 8 andares de telhados de vidro. Bolas. Esta criatura vai ficar para história como o homem que perdeu para o pós-Costa. Como é possível? PNS - tem o carisma de uma carcaça sem sal ou de uma sopa de hospital. A aventesma que torrou 4 mil milhões tem a lata socialista de um Sócrates mais tenrinho. Tem ar quem entra numa sala e deve pedir desculpa por consumir oxigénio. Trocou o Porche por um Land Rover ainda mais caro e ninguém notou. Tuga - tão simplesmente, tens o que mereces. Bónus PPC - ó professor Passos, chegue-se à frente sff.  Menção honrosa AG - uma das melhores do ano. "morre-se em excesso e vive-se por defeito" é a frase do ano. Bom ano, Dr. Alberto Gonçalves. Infelizmente prevejo que, para o ano, vai haver pau para toda a crónica.                    Lúcia Henriques: Óptimo!!! Até dói de tão real. Parece um país da América Latina.                  Maria Tubucci: Como usual, a sua tela AG está bem pintada. Onde não falta a pincelada na Figura triste, na indecente e má figura, na Figura de corpo presente, na Figurinha e a Figura de urso. Só não concordo com a atribuição da figura de urso ao português médio, mas sim atribuí-la aos votantes PS + Abstencionistas = 7558407 figuras de urso. O pobre coitado do português médio tem de carregar com todo este entulho e ainda ter cara alegre. Eu sei, é um paradoxo, é a nossa sina. Boas entradas em 2024. 🎉🍾👁️….           José Ramos: Outrora de pena certeira e aguçada como um estilete florentino, Alberto Gonçalves tem optado ultimamente pela proletária marreta. Não menos certeira, aliás e infelizmente. Está certo; a boçalidade alarve desta gente não vai lá com subtilezas nem florentinices à Maquiavel. Um bom ano - quase de certeza uma figura de estilo, é claro... - para AG e todos os cidadãos conscientes deste desgraçado país.               Amigo do Camolas: Eu voto como figura do ano no que se demitiu por indecente e má figura: Tono Costa. Como segunda figura: O único plano que o PS tem para proteger a democracia: Permanecer para sempre no poder. E a terceira figura: O País. O País que está como um carro velho bebedor de gasolina com barbatanas traseiras, dados confusos e com fumaça a sair do capô, enquanto as elites socialistas querem nos fazer crer que é um carro eléctrico elegante e simplificado, onde todas as coisas sujas acontecem fora da vista e o público só tem de aparecer na hora certa para votar no caminho que lhes foi dito. Tem sido uma performance ao vivo incrível. E os socialistas têm uma banda incrível.               Manuel Portela: Muito bem, espero que os portugueses em 2024 tirem as palas dos olhos e votem de maneira a que o PS tenham a maior derrota de sempre, para os responsabilizar pelo estado a que o país chegou, depois de terem todas as condições  para governar.       José Paulo C Castro > Américo Silva: Os ricos, esse grande problema... tão grave.             AL MA: Artigo digno de primeira pagina de qualquer órgão de Comunicação social, isento… mas como não há fica com o destaque que o Observador lhe quiser dar ou não.                   Cláudia N: Muito boa ilustração, como de costume, nem que seja porque deu para sorrir um bocado.               Pontifex Maximus: Excelente, sem dúvida, só faltou um efe, de fodidos, que é o estado em que estamos.                Ana Oliveira: Nesta podridão comprada pelo PS ainda restam alguns cronistas isentos e sem medo...até quando é a questão.... Se O PS ganhar vamos experimentar politicas mais próximas de nicolas maduro...as televisóes já discutem o carisma de Pedro Nuno Santos pelo que o culto do dono disto tudo esquerdista já se tá a formar....o povo vai ser embalado nos próximos meses para votar num PS renovado....e com a nossa capacidade crítica e sagaz é bem provável que se continue nesta agonia esquerdista e woke por mais 4 anos....               Francisco Ramos: Já li o artigo duas vezes, e ainda vou ler mais duas. Enquanto leio esqueço-me da vil tristeza em o PS colocou o país..........             Rui Oliveira: E promete continuar. No horizonte já se perfila Pedro Nuno "eu salvei a Tap" Santos para acabar com o que ainda resta da chafarica. E as figuras de urso do costume, cá estarão para ajudar o "carismático " a lá chegar.                Ana Maia: Como sempre, o retrato perfeito da indigência portuguesa.                   Agnelo Furtado: APOIADO! Alberto Gonçalves.               Liberales Semper Erexitque: Estava a ler o João Floriano, e voltou-me à mente uma carência: Where is our Scipio? E boas entradas a todos os que por aqui andem e que não sejam fascistas, e claro, também ao nosso precioso D. Alberto, o Milagroso. Fazer-me rir está difícil, e ele voltou a conseguir.                Alberto Ortigão: Meu caro Alberto Gonçalves, Excelente artigo. Melhor seria impossível. Apesar de tudo, permita-me desejar-lhe um bom 2024. Quanto mais não seja para que continue com inspiração para a escrita e para as suas crónicas na rádio. E não, não sou socialista nem maluco. Nem acumulo.                 Maria Melo: Boa resenha da situação em que, lamentavelmente, se encontra Portugal. Vão continuar a votar PS para terem um Feliz 2024 e seguintes? Realmente, a grande parte dos portugueses não tem consciência do que se passa. Até quando?          Eduardo Abreu: Alberto Gonçalves bem poderia ser o cronista mais bem- humorado de 2023. Mesmo quando não concordo com ele, as suas crónicas são-me indispensáveis. Votos de um 2024 cheio de ironia (que já temos desgraça que chegue).               fonseca 07: Só o "prefácio" do comentário de AG diz tudo acerca do líder da oposição. Desde já confesso a minha convicção que Rio estava indevidamente "matriculado" no PSD. Rio foi um "amorzinho" para com o PS, agora para meu espanto constato a inabilidade de Montenegro que parece querer seguir as pisadas do antecessor. Relativamente ao PR faz todo o sentido, garantir a popularidade a todo custo, é essa a função em causa? PS um desastre absoluto na governança continua a liderar as sondagens? Se for verdade estamos num país de mentecaptos. PNS a cereja no topo do bolo, o governante mais incrível (há  outros) que se perfila para PM, o que acontecer será a coisa mais ridícula possível. Boa análise de AG, cumprimentos. Dado o exposto é com apreensão que desejo um feliz ano novo, será possível ???                   Ana Maia > Paulo J Silva: Será diferente, mas muito pior. Sim, é possível, o PS já mostrou que consegue sempre superar-se.

 

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