sábado, 22 de junho de 2024

O zelo pela transparência

 

Retrato bem nosso, hábeis que somos na virtude das palavras, a especulação sobrepondo-se, em nós, à acção, está visto. Também, se não fosse assim, não teríamos o prazer de ler as crónicas da minúcia brilhantemente satírica de AG, que Deus proteja por longos anos, a informar e a divertir, mesmo em esgares sombrios...

A casta do castelo

A “confiança nas instituições” não é minada porque uma casta sem escrúpulos coloca o poder ao serviço dos seus excelsos interesses. Não, senhor. Ela só corre riscos se as trafulhices são divulgadas.

ALBERTO GONÇALVES Colunista do Observador

OBSERVADOR, 22 jun. 2024, 00:206

Imagine-se que os telefonemas de um governante são escutados pela polícia a pretexto de suspeitas de tráfico de influências e corrupção. Imagine-se que, num dos telefonemas, o escutado conversa com outro governante e este, sobre quem não recaem quaisquer suspeitas na história em apreço, confessa ao colega um projecto em vias de conclusão para rebentar um infantário à bomba, a título de alerta para as alterações climáticas e o “genocídio” em Gaza. Imagine-se que a gravação é rápida e ilicitamente entregue aos media, que a difundem. Imagine-se o que aconteceria, logo de seguida, num país normal. E imagine-se o que aconteceria em Portugal.

Num país normal, além da extraordinária repercussão na opinião pública, as forças de segurança tratariam imediatamente de deter o sujeito em questão, obrigá-lo a denunciar possíveis cúmplices e, claro, anular o plano, impedir o atentado e salvar as criancinhas. Em Portugal, semelhantes minudências passariam para segundo plano: a reacção prioritária seria encher os estúdios televisivos e as colunas dos jornais de comentadores com ambições políticas e políticos a fingir de comentadores, todos indignadíssimos com a fuga do segredo de justiça, o comportamento inaceitável do Ministério Público e a necessidade de, acima de tudo, resgatar o bom nome do candidato a bombista, entretanto arrastado pela lama. No que dependesse desses vultos da ética, as criancinhas não teriam hipótese.

O exemplo é caricatural e grotesco? É. Gosto de caricaturas grotescas, inclusive caricaturas grotescas de “pessoas sérias”, que andam por aí de dedinho em riste a condenar a “descredibilização da classe política” e o “ataque cerrado” à “confiança nas instituições”. Note-se que a “confiança nas instituições” não é minada porque uma casta sem escrúpulos coloca o poder ao serviço dos seus excelsos interesses. Não, senhor. A “confiança nas instituições” só corre riscos se as trafulhices são divulgadas. A “ética” de que a casta fala não se aplica aos actos, e sim à ocultação, ou à revelação, dos ditos. Parece Kant, mas é “cant”, a palavra inglesa que significa o recurso insincero a sentimentos virtuosos, ou a pura hipocrisia. A palavra aplica-se com frequência ao linguajar do submundo.

Se quiserem, substituam o ataque ao infantário por um ataque mais meigo e plausível. Ao erário público, por exemplo. Imagine-se então que o dr. Costa era escutado a informar o ministro Galamba do despedimento à bruta e por “justa causa” da presidente da TAP, de modo a poupar ao governo as maçadas subsequentes à indemnização da famosa engenheira. Imagine-se os milhões que a senhora francesa reclama ao Estado (seis). Imagine-se os milhões antes aprovados por WhatsApp (meio). Imagine-se os milhares de milhões assim pulverizados nos divertimentos com a “companhia de bandeira” (três ou quatro). Para os porta-vozes da casta, perdão, os comentadores isentos da esquerda à “direita” (risos), as escutas deveriam ter sido destruídas, dado que, esclarecem, não aludem ao processo investigado e não contêm “qualquer relevância criminal”. Pois não. Desviar dinheiro dos contribuintes para obter benefícios partidários não é sequer um pequeno delito: é um direito da casta, legitimado pela jurisprudência, quiçá o usucapião.

Francisco Mendes da Silva, funcionário da casta e rapaz simpático, apareceu-me no Twitter a chamar ao episódio “um sintoma de uma cultura insuportavelmente anti-democrática”. Tendo a concordar. O que nos distingue é ele achar que o problema está na Justiça, que verte para o exterior, cito, “conversas políticas”, e eu achar que o problema está nos políticos, que confundem conspirações ilícitas com diálogos triviais, privacidade com imunidade, política com impunidade. E democracia com privilégio. Sem se rir, o Francisco queixa-se de que a Justiça é “insindicável” – e não, ele não deseja, ou pelo menos não diz desejar, que a Justiça seja “sindicável” pela restante parelha de poderes. O que ele deseja é que o jornalismo escrutine a Justiça como, deduz-se, escrutina a política. Escrutinar a política? Em Portugal? O Francisco tem graça. Se lhe coubesse decidir o caso Watergate, que saiu barato por comparação com a TAP, o Francisco fechava o Washington Post, lançava o Garganta Funda nas masmorras e atribuía uma comenda a Nixon.

Aliás, também é engraçado reparar que a aversão do Francisco e dos seus parceiros de ofício à “excessiva” independência judicial termina quando o alvo das investigações e dos eventuais abusos é o cidadão “comum” ou, vá lá, um político que a ortodoxia repute de “extremista”. Por alguma razão que me escapa e que com certeza é de uma imaculada nobreza, essa rapaziada apenas defende pro bono os membros da casta. E acrescente-se que a defesa tem resultado: apesar das tenebrosas perseguições a cargo de juízes ressentidos e “insindicáveis”, a casta continua aí, resistente e heróica, a sofrer martírios enquanto espalha rigor, honestidade e valores democráticos com abundância. Imagine-se o que aconteceria se os juízes tivessem trela. Imagine-se o leite e o mel da democracia a transbordar. Imagine-se a Venezuela.

JUSTIÇA     CORRUPÇÃO     MEDIA     SOCIEDADE

COMENTÁRIOS (DE 11)

observador censurado: O governante que colocou a bomba no infantário e matou as criancinhas não vai preso porque não se pode utilizar as escutas? As criancinhas irão morrer em vão?

Eduardo Cunha: Excelente crónica...

F. Mendes: Um excelente artigo, sobre um tema relevante. Comento assim: 1. Basta termos em mente que um ex-PM socialista, manifestamente corrupto, está para ser julgado vai para 10 anos. Como se isto não fosse, em si, já demasiado grave, o Costa foi ainda pior do que ele; e safar-se-á da Justiça, caso os fumos relativos à exploração de lítio se dissipem no tempo, prometendo continuar as patifarias na "Óropa". Logo, é "normal" que a oligarquia que tanto condiciona a Justiça, pretenda continuar a condicioná-la. Nada de novo aqui, infelizmente. 2. O Mendes da Silva é o proverbial "idiota útil", na versão de comentadeiro avençado. Ouvi-o uma vez, e chegou. 3. Devemos ficar atentos ao desenvolvimento do caso BES-Manuel Pinho, aceitando-se apostas sobre o número adicional de recursos a apresentar depois das condenações a prisão efectiva. Os interessados devem contactar o escritório do Xico Proença de Carvalho, que anda entusiasmadíssimo com os honorários a cobrar e pagos com o nosso dinheiro! 4. Devemos preparar-nos para ouvir os comentários futeboleiros do "prof."  Marcelo, caso a Selecção não dê barraca na fase de grupos. O homem deve andar cheio de vontade de falar sobre qualquer coisa, dado manter o bico de papagaio fechado sobre o caso das gémeas vindas do Brasil, para beneficiarem das nossas reparações às antigas colónias. Finalmente, percebi que os 4 milhões foram uma espécie de adiantamento. Temos que o aguentar durante mais 21 meses, caso não o reformem por manifesta incapacidade para o cargo!

Rosa Lourenço: Infelizmente até está bem "humorizado" o desenrolar de acontecimentos em Portugal. Quando será que a Comunicação Social se tornará um meio de exigência democrática na sociedade? Quando será que a Dignidade, a Justiça, a Liberdade, a Responsabilidade e a Independência entre os poderes constitucionais coexistirão em harmonia? Os portugueses merecem.

André Ondine: O tal Francisco é, de facto, simpático e até tem um gosto musical muito recomendável (pelo que vejo no Twitter), mas é um dos comentadores trendy da lavra Lux. Tal como o amigo Marques Lopes, pela-se por agradar os amigos da nova esquerda. É um daqueles comentadores de direita (diz ele) que a nova esquerda adora. O citado Marques Lopes é outro exemplo e o exemplo maior é o guru Pacheco Pereira que não faz parte da pandilha do Lux, mas que, suspeito, só porque o porteiro não o deixa entrar… Foi curioso ver a indignação da pandilha neste caso das escutas ao Habilidoso. Indignaram-se com as escutas e esqueceram o conteúdo, que torna evidente o carácter maquiavélico do Sr Costa. Mais uma vez, deu ordens para sacrificar e humilhar uma pessoa em nome da manutenção do seu poder. Mas isso não move a pandilha comentadora. O que interessa mais um sacrifício de alguém para manter o poder Habilidoso?? Nada. O omnipresente (mais um…) Daniel Oliveira está é zangado com a escuta. O Francisco, o Marques Lopes e o Pacheco também estão zangados. Furiosos. Quanto apostam que se o escutado fosse Passos Coelho ou Cavaco, esta pandilha não estaria assim tão zangada com as escutas? Pelo contrário, adivinho, esqueceriam este atentado monumental à democracia e seriam os primeiros a mostrar a sua indignação pelo que as escutas revelavam. A pandilha comentadora do regime está sempre indignada com o que lhe dá jeito. É pena que nunca se indignem com o seu próprio comportamento que é, de facto, indigno e indecente. Protegem-se uns aos outros e promovem-se uns aos outros. E assim vão sobrevivendo, poluindo drasticamente o espaço mediático.

Antonio Serrano: Bem estruturado e assertivo li com agrado e proveito.

sexta-feira, 21 de junho de 2024

Guerra é guerra

 

Bellum, em latim. Putin ensina. E espalha. Ele vai até ao fim, para mais, em bonitas alianças, de bom gosto e de bom senso.
GUERRA NA UCRÂNIA

Alertas activos

Em directo/Ofensiva russa na Ucrânia “é para ir até ao fim”: retirada estratégica está fora de questão, afirma Putin

Depois da Coreia do Norte, o Vietname. Presidente russo chegou ontem à noite a Hanói e hoje, em conferência de imprensa, disse que retirada estratégica dos territórios ocupados nunca será a resposta.

DULCE NETO:Texto

JOÃO FRANCISCO GOMES: Texto

OBSERVADOR, 21/06/24

Actualizado há 7h

POOL/AFP via Getty Images

Momentos-chave

Há 7hPresidente convoca Conselho de Estado para 15 de julho sobre Ucrânia após Cimeira da NATO

Há 8hEstados Unidos consideram que armas russas na Coreia do Norte são motivo de preocupação

Há 12hPutin admite envio de armas à Coreia do Norte. E deixa aviso à Coreia do Sul

Há 12hEUA cessam entregas de mísseis a outros países para destiná-los a Kiev

Há 13hRússia pondera mudar a sua doutrina nuclear, avisa Putin

Há 17hCoreia do Sul pondera enviar armas à Ucrânia após acordo entre a Rússia e a Coreia do Norte

Há 18hPresidente romeno desiste de candidatura a secretário-geral da NATO e deixa caminho livre para Mark Rutte

Há 20hRússia e Vietname querem segurança na Ásia-Pacífico sem blocos fechados

Há 21hVietnam recebe Putin: "Parabéns ao nosso camarada"

Há 21hUnião Europeia chega a acordo sobre 14.º pacote de sanções contra a Rússia

Actualizações em directo

Há 7h00:04 Agência Lusa

Presidente convoca Conselho de Estado para 15 de julho sobre Ucrânia após Cimeira da NATO

O Presidente da República convocou o Conselho de Estado para 15 de julho, para analisar a situação da Ucrânia, na sequência da conferência de paz na Suíça e dias depois da Cimeira da NATO em Washington.

Esta informação foi hoje divulgada através de uma nota no sítio oficial da Presidência da República na Internet.

Nesta nota, refere-se também que a reunião de 15 de julho do órgão político de consulta do chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, ocorrerá numa altura em que se prepara um encontro da Comunidade Política Europeia, no Reino Unido.

“O Presidente da República convocou o Conselho de Estado para o próximo dia 15 de julho, pelas 15h30, no Palácio de Belém, para analisar a situação na Ucrânia, no contexto da Cimeira para a Paz na Suíça, da Cimeira da NATO em Washington e da Reunião da Comunidade Política Europeia no Reino Unido”, lê-se na nota.

Há 7h23:26 Madalena Moreira

Retirada estratégica está fora de questão, afirma Putin

O Presidente russo reafirmou hoje que a ofensiva russa na Ucrânia “é para ir até ao fim” e que uma retirada estratégica dos territórios ocupados nunca será a resposta.

“Para a Rússia, [uma derrota estratégica] significa o fim do Estado russo. Significa o fim dos mil anos de história do Estado russo. E então surge a questão: porque é que devemos ter medo? Não será melhor então ir até ao fim? Isto é lógica formal básica”, argumentou Putin, em resposta aos jornalistas numa conferência de imprensa em Hanói, citada pela agência RIA Novosti.

Há 8h22:39 Madalena Moreira

Estados Unidos consideram que armas russas na Coreia do Norte são motivo de preocupação

“É incrivelmente preocupante”, declarou o porta-voz do departamento de Estado norte-americano, sobre o potencial fornecimento de armas russas à Coreia do Norte. “Isso desestabilizaria a Península Coreana, e, dependendo do tipo de armas fornecidas, poderia violar as resoluções do Conselho de Segurança da ONU que a própria Rússia apoiou”, acrescentou Matthew Miller, em declarações citadas pela agência Reuters.

A proposta foi posta em cima da mesa por Putin em Pyongyang, como resposta proporcional ao fornecimento de armas ocidentais à Ucrânia. Também o porta-voz da Casa Branca classificou as declarações do Presidente russo como “preocupantes, mas não surpreendentes”.

Para John Kirby, a aproximação da política externa da Rússia à Coreia do Norte é sinal de desespero. Ainda assim, é uma questão que diz “obviamente, estar a levar a sério”.

Há 11h19:31 Mariana Marques Tiago

Zelensky agradece a Biden por cessar entrega de armas a outros países e "priorizar a Ucrânia"

O Presidente ucraniano diz-se “profundamente agradecido” aos Estados Unidos e a Joe Biden por este país “priorizar a Ucrânia relativamente à entrega de defesas aéreas criticamente necessárias para combater os ataques russos”.

As declarações foram feitas na rede social X, onde Zelensky aproveitou para escrever que “a parceria entre a Ucrânia e os Estados Unidos é forte e inabalável”. “Juntos, estamos a proteger a vida contra o terror e agressão”, rematou.

Esta afirmação surgiu após os Estados Unidos anunciarem que vão parar o fornecimento de mísseis a outros países, assegurando que este armamento chega a Kiev o mais depressa possível.

Há 12h19:02 Agência Lusa

Putin admite envio de armas à Coreia do Norte. E deixa aviso à Coreia do Sul

O Presidente russo, Vladimir Putin, disse hoje que “não exclui” a possibilidade de enviar armas para a Coreia do Norte, ao mesmo tempo que insistiu que o fornecimento de armas por Seul à Ucrânia seria um “erro muito grave”.

Em resposta à entrega de armas ocidentais à Ucrânia e à autorização de alguns países para Kiev as usar contra alvos militares em território russo, Putin já tinha ameaçado, no início do mês, enviar armamento a países terceiros.

“Reservamo-nos o direito de fornecer armas a outras partes do mundo, tendo em conta os nossos acordos com a Coreia do Norte, e não excluo essa possibilidade”, declarou Putin à imprensa durante a sua visita ao Vietname.

Putin advertiu ainda a Coreia do Sul depois de Seul ter anunciado que iria “reconsiderar” a sua política de proibição de fornecimento de armamento à Ucrânia, em reacção à assinatura, na quarta-feira, de um acordo de defesa entre a Coreia do Norte e a Rússia.

Se a Coreia do Sul decidisse fornecer armas a Kiev, estaria a cometer “um grande erro”, disse.

 

Há 12h18:47 Agência Lusa 

Zelensky quer instalação de painéis solares em escolas e hospitais

O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, ordenou hoje a instalação de painéis solares e outras infraestruturas de energia alternativa em escolas e hospitais devido à escassez de produção eléctrica motivada pelos ataques russos às centrais ucranianas.

“Painéis solares, contadores inteligentes e unidades de armazenamento de energia devem ser instalados em cada escola e em cada hospital logo que possível. As administrações militares regionais foram encarregadas de supervisionar estas medidas a nível local”, declarou em mensagem nas redes sociais.

O chefe de Estado ucraniano pediu ainda ao Governo que promova uma estratégia “a nível estatal” para o desenvolvimento de energia renováveis e a diversificação dos locais de produção, que devem ser utilizadas pela população e fornecer os edifícios públicos e oficiais.

Há 12h18:21 Agência Lusa

EUA cessam entregas de mísseis a outros países para destiná-los a Kiev

Os Estados Unidos anunciaram hoje que decidiram parar o fornecimento de mísseis Patriot e NASAM a outros países para que este armamento possa chegar à Ucrânia o mais depressa possível.

“Muitos dos nossos aliados e parceiros também tomaram medidas históricas, mas obviamente é necessário mais e é necessário agora”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, em teleconferência com jornalistas.

Consequentemente, acrescentou, o executivo dos Estados Unidos “tomou a difícil mas necessária decisão de redefinir a prioridade do plano de curto prazo para entregas de vendas militares a outros países, para que, em vez disso, sejam destinadas à Ucrânia”.

Kirby indicou que Kiev receberá “nas próximas semanas, antes do final do verão, com certeza”, aqueles sistemas que inicialmente iriam para outros países.

Há 12h18:14 Madalena Moreira

Mulher russo-americana julgada por traição, por doação à Ucrânia

Ksenia Karelina começou hoje a ser julgada num tribunal russo por ter feito uma doação a uma ONG que recolhia fundos para a Ucrânia. Caso seja declarada culpada pelo crime de traição, pode enfrentar uma pena até 20 anos de prisão, avança a Sky News.

Karelina nasceu na Rússia, mas emigrou para os Estados Unidos há mais de dez anos e obteve cidadania norte-americana em 2021. Foi detida em janeiro deste ano quando visitava a família em Ecaterimburgo. É nessa mesma cidade que decorre o julgamento à porta fechada, que já tem a segunda sessão marcada para o dia 7 de agosto.

Há 13h17:48 Madalena Moreira

Rússia pondera mudar a sua doutrina nuclear, avisa Putin

Vladimir Putin argumentou hoje que a Rússia não tem necessidade de levar a cabo um ataque nuclear preventivo, mas vê o acordo militar com a Coreia do Norte como uma forma de dissuadir o Ocidente de continuar a intervir na guerra na Ucrânia.

Em declarações no Vietname, o presidente russo admitiu ter considerado mudanças na doutrina nuclear do país, partilhou a Reuters. A actual doutrina dita que a Rússia poderá utilizar o seu arsenal nuclear em caso de ameaças externas. Desde o início da Ucrânia, analistas russos têm argumentado que o país precisa de uma doutrina mais permissiva na utilização de armas nucleares.

Há 14h16:22 Madalena Moreira

Quatro mortos e quatro feridos em ataques no norte de Donetsk

A ofensiva russa junto à linha da frente continua a causar baixas. Hoje, quatro pessoas morreram, incluindo uma criança em ataques russos na região de Donetsk.

Outras quatro pessoas também ficaram feridas, nos mesmos ataques, que foram relatados pelo governador regional, Vadym Filashkin, na sua conta de Facebook.

Há 15h15:53 Agência Lusa 

Roménia vai enviar sistema de defesa aérea Patriot para a Ucrânia

A Roménia anunciou hoje o envio de um sistema de defesa aérea Patriot para a Ucrânia para ajudar o país vizinho a proteger-se dos ataques russos, uma decisão imediatamente saudada pelo Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

“Perante a deterioração acentuada da situação de segurança na Ucrânia (…), os membros do Conselho Superior de Defesa Nacional decidiram, em estreita coordenação com os Aliados, doar um sistema Patriot à Ucrânia”, disse o conselho romeno num comunicado.

A Roménia disse estar a negociar com os parceiros da NATO, em particular com os Estados Unidos, a obtenção de “um sistema semelhante capaz de proteger o seu espaço aéreo”, segundo a agência francesa AFP.

Há 15h15:24 João Francisco Gomes

Novo pacote de sanções da UE contra a Rússia atinge gás natural pela primeira vez

O novo pacote pacote inclui uma medida que impede o transbordo de gás natural liquefeito (GNL) em portos europeus. No entanto, não proíbe a importação. Especialistas estimam que impacto seja reduzida.

Há 15h15:17 Dulce Neto 

Kim Jong-un também ofereceu cães a Putin

Afinal, o líder norte-coreano não ofereceu apenas obras de arte ao seu homólogo russo. Vladimir Putin também recebeu de Kim Jong-un — a quem entregara mais um carro de luxo, um punhal e um serviço de chá — dois cães brancos. Nas imagens hoje divulgadas pela imprensa estatal da Coreia do Norte, vêem-se os dois Presidentes a olhar para os dois Pungsan, uma raça local, presos a uma cerca rodeada de rosas.

No vídeo que passou na televisão estatal norte-coreana, é possível ver ainda os dois chefes de Estado a ver uns cavalos, com Kim a dar cenouras a um deles, antes de os dois entrarem no carro Aurus que Putin ofereceu ao homólogo, com o Presidente da Rússia ao volante.

Há 17h14:04 Dulce Neto

Coreia do Sul pondera enviar armas à Ucrânia após acordo entre a Rússia e a Coreia do Norte

É um dos efeitos da visita de Putin que acaba por favorecer Kiev: Seul condenou o acordo assinado ontem entre a Coreia do Norte e a Rússia e, passo seguinte, anunciou que iria rever a sua política de apoio à Ucrânia. Ou seja, até aqui, a Coreia do Sul só fornecia ajuda não letal a Kiev. Agora vai ponderar o envio de armamento, disse hoje o governo sul-coreano segundo a Associated Press.

“É absurdo que duas partes com um historial de guerras de invasão — a Guerra da Coreia e a guerra na Ucrânia — estejam agora a prometer cooperação militar mútua com base na premissa de um ataque preventivo da comunidade internacional que nunca acontecerá”, criticou o gabinete do presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol.

E nada será como dantes entre Moscovo e Seul: “A decisão da Rússia de apoiar a Coreia do Norte e prejudicar a nossa segurança, apesar do seu estatuto de membro permanente do Conselho de Segurança que aprovou sanções contra a Coreia do Norte, terá inevitavelmente um impacto negativo nas relações (Coreia do Sul-Rússia)”, avisou.

Há 18h12:58 José Carlos Duarte

Presidente romeno desiste de candidatura a secretário-geral da NATO e deixa caminho livre para Mark Rutte

O Presidente da Roménia, Klaus Iohannis, desistiu hoje da sua candidatura a secretário-geral da NATO.

Num comunicado citado pela imprensa romena, lê-se que o Presidente romeno solicitou ao Conselho Supremo de Defesa Nacional para que se pronunciasse sobre a candidatura de Mark Rutte, Aquele órgão decidiu apoiar o primeiro-ministro holandês demissionário.

Assim sendo, Klaus Iohannis considerou que não tem mais condições para levar a avante a sua candidatura a secretário-geral da Aliança atlântica.

Klaus Iohannis foi o representante do Leste da Europa na corrida para secretário-geral da NATO, região que queria ganhar mais protagonismo nos quadros da Aliança, por causa da guerra da Ucrânia.

No entanto, maioria dos Estados-membros — incluindo os Estados Unidos — preferiram apoiar a candidatura de Mark Rutte, que está de saída do governo neerlandês.

Nos últimos dias, a Hungria e a Eslováquia — países que mantinham uma certa animosidade em relação à candidatura do primeiro-ministro neerlandês — decidiram apoiar a candidatura de Mark Rutte.

Tendo em conta estes cenários, Mark Rutte deverá tornar-se o próximo secretário-geral da NATO, contando inclusivamente com o apoio do antecessor, Jens Stoltenberg.

A decisão deverá ser anunciada dentro de semanas, sendo o momento mais expectável a cimeira da NATO, que ocorre entre 9 a 11 de julho de 2024 em Washington D.C.

Há 20h10:47 Agência Lusa

Rússia e Vietname querem segurança na Ásia-Pacífico sem blocos fechados

A Rússia e o Vietname concordam que a região da Ásia-Pacífico necessita de uma arquitectura de segurança fiável sem blocos militares fechados, afirmou hoje em Hanói o Presidente russo, Vladimir Putin.

Foi manifestado o interesse mútuo em construir uma arquitectura de segurança fiável e adequada na região da Ásia-Pacífico”, afirmou Putin após conversações com o homólogo vietnamita, To Lam.

Tal arquitectura de segurança baseia-se “nos princípios da não utilização da força e da resoluçãopacífica de litígios, na qual não haverá lugar para blocos político-militares fechados”, referiu, citado pela agência russa TASS.

Putin disse que discutiu com Lam questões internacionais e que as posições da Rússia e do Vietname “coincidem em grande parte ou são próximas”.

Segundo Putin, os dois países defendem os princípios da supremacia do direito internacional, da soberania e da “não ingerência nos assuntos internos de outros Estados”.

Defendem igualmente, o desenvolvimento de esforços “nas principais plataformas internacionais, incluindo a ONU e no âmbito do diálogo entre a Rússia e a ASEAN”, acrescentou.

Há 21h10:05 Dulce Neto

Vietnam recebe Putin: "Parabéns ao nosso camarada"

Uma salva de 21 tiros numa cerimónia militar em que os dois Presidentes passam a revista às tropas. Foi assim que Vladimir Putin foi hoje recebido oficialmente em Hanói, com o seu homólogo a saudar a sua reeleição e a louvar as conquistas da Rússia “incluindo a estabilidade política interna” Putin com o primeiro-ministro vietnamita Pham Minh Chinh

Putin e Tom Lam na cerimónia de boas vindas em Hanoi, às portas do palácio presidencial

Tom Lam não só se congratulou com a parceria estratégica global com Moscovo como se comprometeu a reforçar as relações com a Rússia.

“Felicitamos o nosso camarada por ter recebido um apoio esmagador durante as recentes eleições presidenciais, o que demonstra a confiança do povo russo”, disse Lam.

Por seu lado, Putin sublinhou que o reforço de uma parceria estratégica global com o Vietname — país comunista que faz parte do bloco regional, a Associação das Nações do Sudeste Asiático — é uma das prioridades da Rússia.

Há 21h09:55

União Europeia chega a acordo sobre 14.º pacote de sanções contra a Rússia

Os embaixadores dos 27 países da União Europeia (UE) chegaram hoje a acordo sobre o 14.º pacote de sanções contra a Rússia por causa da invasão ao território ucraniano, que “maximiza as consequências” das restrições aprovadas anteriormente.

Os embaixadores da UE acabaram de chegar a acordo sobre um forte e substancial 14.º pacote de sanções em reação à agressão russa contra a Ucrânia. Este pacote expande as medidas apontadas e maximiza as consequências das sanções existentes, encerrando brechas“, escreveu a presidência belga do Conselho da UE na rede social X (antigo Twitter).

Há 22h08:07

“Coreia do Norte sabe agora que tem apoio da Rússia”

Tiago André Lopes considera que os acordos entre a Rússia e a Coreia do Norte são bastante importantes. O especialista em relações internacionais destaca o aprofundar de relações entre os dois países.

Há 24h07:00 Agência Lusa

Japão diz que aliança entre Rússia e Coreia do Norte piora segurança regional

O Japão disse hoje que a situação de segurança à volta do país é “cada vez mais difícil”, depois de a Rússia e a Coreia do Norte terem assinado um tratado de assistência militar mútua em caso de ataque.

“O Japão está a observar o resultado do acordo entre a Rússia e a Coreia do Norte com grande interesse, uma vez que neste momento, é cada vez mais difícil o ambiente de segurança que rodeia o país, dado o reforço militar entre estas nações”, disse o porta-voz do Governo nipónico, Yoshimasa Hayashi, em conferência de imprensa.

De acordo com a agência de notícias EFE, Tóquio está preocupado com a possível cooperação técnico-militar entre Moscovo e Pyongyang, que, a acontecer, violaria as resoluções do Conselho de Segurança da ONU.

“A vontade da comunidade internacional é procurar a abolição do plano nuclear e de mísseis balísticos da Coreia do Norte, mas a Rússia estaria a violar esta resolução, com para obter armas para utilizar na invasão da Ucrânia”, acrescentou Hayashi.

A reacção do Japão surgiu depois de o dirigente norte-coreano, Kim Jong-un, e o Presidente russo, Vladimir Putin, se terem reunido em Pyongyang, na quarta-feira, na primeira visita do líder de Moscovo à Coreia do Norte em mais de 24 anos.

 

Ela não precisa de água


Digo, a Associação Ambientalista, que se dessedenta com a água própria, que mete por aí, a dessedentar quem tem sede, incluindo-se a si própria…

Memória de Elefante

Muitos dos actores da discussão acalorada sobre o Alqueva não terão mudado de opinião, mas há que confrontar as suas previsões com a realidade. Ouçamo-los com respeito, com saudável memória de elefante

20 jun. 2024, 00:1621

No dia dez de junho do ano da graça de 2024, o boletim da entidade gestora do Alqueva indicava que a albufeira estava cheia até à cota 150.71 m, a pouco mais de um metro do máximo possível, armazenando mais do que 4000 hm3 de água. Há cerca de um ano a situação era semelhante e, apesar da variabilidade da precipitação nos últimos tempos, os valores de armazenamento têm sido consistentemente elevados. Boas notícias.

Como previsto por muitos, e ansiado pelo Alentejo, o Alqueva é hoje um elemento fundamental da sustentabilidade económica do sul do continente: mudou a paisagem, modificou o clima, criou condições para uma economia que apesar de todas as suas limitações é capaz de assegurar empregos um pouco melhores do que anteriormente. Apoiou a modernização de uma parte da agricultura portuguesa. No ciclo de estio que precedeu os últimos dois anos, a reserva de água do Alqueva lembrou as célebres reservas de barras de ouro do Banco de Portugal.

Apesar da real importância do Alqueva, a sua construção foi tudo menos consensual. Graças ao site “arquivo.pt” é possível fazer um pequeno exercício de memória e voltar ao dia 11 de abril de 2001 onde um comunicado de uma associação ambientalista muito respeitável, o GEOTA, escrevia (versão em inglês) sob o título Dinheiro europeu a ser desperdiçado na região do Alentejo algumas frases contundentes: “O projecto do Alqueva é a pior forma de promover o desenvolvimento”, Este projecto só pode ser concretizado se os impostos portugueses e europeus oferecerem a água aos agricultores”, “A título de exemplo, e se tudo se confirmar, em 2025 o crescimento da produção agrícola portuguesa, devido ao projecto, deverá ser de apenas 0,65%”, “A salinização das terras irrigadas será um problema imediato, uma vez que as terras irrigadas são sensíveis ou muito sensíveis à salinização (65%) e a qualidade da água prevista é, na melhor das hipóteses, média”.

Um cientista português muito relevante, Miguel Araújo, exprime o seu ponto de vista num fórum de discussão, de uma forma ainda mais expressiva: “Que diremos aos nossos netos para justificar a indiferença com que a nossa geração aniquilou um património que a eles também pertencia? […] Quem irá beneficiar do investimento de 300 milhões no plano de rega do Baixo Alentejo? […] Também se fala de Alqueva turístico. Mas pergunta-se, qual o valor acrescentado de uma charca de água, barrenta, a cheirar a cágados, num país com uma das maioríssimas linhas de costa, por metro quadrado, na Europa?e aponta quem vai beneficiar:Naturalmente que o Alqueva irá trazer benefícios imediatos a alguns concidadãos. Para começar, a indústria da construção civil beneficia. Beneficiarão também alguns especuladores que vêem agora os seus terrenos valorizados pela miragem de um desenvolvimento, que ninguém sabe qual é e a quem beneficiará. É possível que alguma indústria hoteleira se instale nas margens da futura albufeira. Um restaurante aqui, uma pousada ali, um campo de golfe acolá”.

Cinco associações ambientalistas juntam-se numa plataforma de protesto afirmando que o projecto do Alqueva é um crime, acusam o governo de falta de vontade e incompetência, e procuram impedir o cofinanciamento comunitário, o que não conseguem.

Estes exemplos são todos de organizações e de pessoas que têm dado contributos significativos para a preservação do ambiente e o desenvolvimento científico. São pontos de vista importantes e reflectem a dimensão dos valores ambientais que foram destruídos para que o Alqueva adquirisse vida. No calor da discussão são vulgares o exagero e as teorias da conspiração. A separação entre portugueses, europeus e agricultores é surpreendente. O crescimento de 0,65% da produção agrícola afigura-se assaz subavaliado. A “charca de água, barrenta, a cheirar a cágados” parece também uma descrição, no mínimo, deslocada. Os campos de golfe têm sempre “má imprensa”, sendo aquilo que Louis Renault, personagem do filme Casablanca, chamava “os suspeitos do costume”, e merecem ser, também aqui, identificados e encostados à parede para a fotografia da praxe. Nada de bom, mas também nada de novo.

Cada elemento da sociedade tem um papel a desempenhar numa decisão tão importante como a construção de uma grande barragem, mas esses papéis não se podem confundir. Cabe sempre aos governos, através das suas organizações, e ouvidos todos os interessados, avaliar e medir qual o melhor compromisso entre ganhos e perdas para os cidadãos e o ambiente. É necessário minimizar os impactos em todas as áreas, com eventuais compensações ambientais sempre que possível. É preciso introduzir na equação a componente económica que é quase sempre tratada de forma sobranceira pelas avaliações unidimensionais. As organizações vocacionais são importantes, mas não são juízes independentes.

Este princípio aplica-se ao Alqueva como a qualquer situação em que estejam em causa valores ambientais, económicos e sociais em parte ou no todo incompatíveis. E a decisão é sempre política, naquilo que esta palavra tem de mais nobre, e exige coragem, porque a capacidade de previsão dos efeitos das medidas é sempre limitada, e todas as decisões acarretam riscos.

Do que sabemos hoje os decisores políticos estiveram bem no Alqueva. O clima vai continuar a mudar ao longo deste século, e a forma dessa mudança é hoje mais clara do que era há vinte anos. Esperamos maior irregularidade da precipitação e períodos de estio mais prolongados. Apesar de haver sempre uma margem de incerteza nas previsões climáticas, o Alqueva afigura-se muito importante para as próximas décadas.

Estamos agora perante novas decisões complexas que envolvem assegurar a disponibilidade de água ao sul do continente e uma partilha equilibrada deste recurso entre as regiões e os utilizadores para viabilizar todas as atividades económicas, bem como os caudais necessários para a protecção dos ecossistemas aquáticos. Muitos dos actores da discussão acalorada do princípio do século não terão provavelmente mudado de opinião, porque ela radica numa hierarquia de valores muito firme, mas na qual outros sectores da sociedade se não revêm. Mas temos sempre de confrontar as diferentes previsões com a realidade.

Ouçamo-los a todos com respeito, mas mantendo sempre uma saudável memória de elefante.

AMBIENTE    CIÊNCIA

COMENTÁRIOS (de 21)

Manuel F: Pois, a realidade está á vista de todos mas nem sempre assim acontece. O que se passou com a barragem do Coa foi o inverso, deixou de se construir uma obra com enorme interesse económico, por causa de umas gravuras pré históricas que hoje são visitadas por meia dúzia de interessados na área. Se tivessem sido submersas lá continuariam preservadas e o museu que foi construído, muito interessante, mostraria e mostra as referidas gravuras para quem as quiser ver.

Qualquer país com um governo capaz teria avançado com a obra, mas cá até foi um governo do PSD que se acobardou, por causa de umas eleições que se aproximavam, e interrompeu a construção que estava em curso e a seguir veio um governo PS que obviamente encerrou em definitivo o assunto, a bem da cultura mundial e a mal do País. É triste mas é a nossa sina, sermos governados, maioritariamente, por gente, no mínimo, desqualificada.

Ronin: Não fossem as barragens deixadas pelo Estado Novo, sem apoios externos e nem água teríamos para beber em muitos locais do país. Nunca, apesar de se poder ser liberal ou o que se quiser, as barragens deveriam ser entregues ao sector privado. Não é o mesmo que a TAP, é um sector estratégico para o país a gestão da água.

Cá o rapaz


O de ontem, o de hoje, tanto faz, avisa que isso d’ «a união (que) faz a forçafoi chão que deu uvas, cada qual extraindo da sua cabeça a sentença que lhe apraz, com uma democracia tenaz a permitir variedade capaz, da frente, dos lados e de trás, conforme dá no goto a quem se compraz a formular hipóteses ou não de verdadeira paz.

Sim! Paz na Terra aos homens, mulheres e a todos da boa harmonia contumaz, por muito fugaz que a paz seja cá para o rapaz… é o que se deseja, mas não se traz, antes, as mais das vezes, se destrói.

Uma nova esperança para a Europa

Todos e cada um de nós necessita de recuperar o caminho da Europa retornando aos valores, escutando as diferentes perspectivas, e reconhecendo que o campo económico é um fortíssimo meio para o conseguir.

BRUNO BOBONE

Presidente do Grupo Pinto Basto Presidente do Grupo Pinto Basto

OBSERVADOR, 20 jun. 2024, 00:155

Estive na Hungria num retiro para empresários cristãos.

É um tempo de reflexão e de aprofundamento das nossas convicções – e que poucas vezes temos oportunidade de fazer.

O tema do retiro era “Caminharmos juntos na Europa para promover a justiça e a paz”. Não é necessário ser nem empresário, nem cristão, para compreender que precisamos muito de pensar profundamente no futuro deste projecto europeu, que começou no pós-guerra, motivado pela convicção de que só unidos poderemos construir a justiça e a paz, dois elementos essenciais à vida humana.

Foi com base num sentimento de unidade de todos os europeus, numa amizade que facilmente se criava naquele tempo de fim de um sofrimento absurdo e dolorosíssimo, que se estabeleceu um caminho para a construção, primeiro de um mercado único, e mais tarde da União Europeia.

Mas, entretanto, foram passando os anos e o sentimento de unidade, de preocupação com os nossos concidadãos, a colocação do bem comum à frente do interesse egoísta, foi esmorecendo.

O conforto extraordinário que conseguimos gerar e a qualidade de vida criada através desta solução de unidade que os líderes europeus do pós-guerra tão maravilhosamente foram capazes de negociar – um projecto comum sob o lema de que o interesse da Europa teria que se sobrepor sempre aos interesses individuais de cada Estadosão hoje exactamente os factores de desmotivação dos cidadãos europeus de lutarem para manter essa sociedade de paz e justiça, que durante décadas nos manteve uma qualidade de vida sem par em nenhum outro tempo da História da Humanidade.

A Europa da segurança, da paz, dos cuidados sociais, da educação para todos, que todo o resto do mundo ambiciona, seja através da obtenção da cidadania, seja pelos fluxos de migrações que procuram cá chegar (legal e ilegalmente), só foi possível pela fortíssima relação de amizade, solidariedade e confiança que deixou os países entregar uma parte importante das decisões sobre o seu futuro a terceiros.

Foi sobre este tema tão actual e importante que empresários de nove nacionalidades diferentes se debruçaram num retiro espiritual e em que através de um processo sinodal de decisão, conforme o proposto pelo Papa Francisco, concluíram, entre outras coisas que:

Todos e cada um de nós necessita de recuperar o caminho da Europa retornando aos valores, escutando todas as diferentes perspectivas, e reconhecendo que o campo económico é um fortíssimo meio para o conseguir, garantindo a máxima participação de todos na criação da riqueza e na sua distribuição.

Temos ainda de procurar, depois da destruição do muro de Berlim, que de alguma forma servia de exemplo da divisão da Europa, que outros muros deixámos edificar e que temos de destruir para que a unidade da Europa volte a ser um projecto único de todos os europeus.

Um projecto que volte a trazer confiança às populações, esperança aos que mais estão aflitos, dignidade de vida aos que são mais fracos e mais pobres, respeito por quem está ao nosso lado, apoio aos que estão sós.

Um projecto europeu que nos leve a acreditar que vale a pena trabalharmos juntos, nas empresas, nas cidades, nas associações sociais, nos hospitais, nas escolas e nos tribunais, para que todos possam ter uma vida justa e cheia de paz, uma vida sem armas e sem prepotência, sempre focada na premissa de que colocamos o bem da Europa à frente do interesse de cada país e o bem de todos acima do interesse individual.

Mas para que isto resulte, teremos de saber entusiasmar todos para que estejam disponíveis para lutar de novo por esta Europa, que decidiu mudar toda a sua organização política para garantir a paz.

UNIÃO EUROPEIA    EUROPA     MUNDO

COMENTÁRIOS

bento guerra: Temos,teremos ,se ,etc

Ronin: Uma situação que pode ser exagerada e levantada em alguns sectores é a questão de um Bretton Woods III e a perda do USD como moeda dominante, agora que aos BRICS se juntam quase cerca dos representantes de cerca de 75% da população mundial e o perigo da hiperinflação no Ocidente, provocado por esta administração nos USA. As sanções a vários países como a Rússia são de uma hipocrisia enorme, mais ainda a falta de moralidade por parte do FED. O petróleo russo, continua a ser comprado por quem votou as sanções.

Francisco Almeida: A questão mais importante e premente é se a Europa avança no federalismo ou se recua às suas origens de Europa das nações. Possivelmente por deficiência minha, não percebi o que o artigo propõe.

unknown unknown: Para entender a Europa é preciso conhecer a história da Europa! Nesse retiro deviam ter lido e estudado a obra do Tony Judt, sobretudo o pós-guerra, assim evitavam essas coisas do entusiasmo e das mãos dadas e da esperança bacoca, isso é tudo muito adorável mas pouco sensato!

José Carvalho: Precisamos de um Hércules!