Centrismos na casa própria, como
obstáculo aos “centrismos” da casa alheia invasora, que parecem ser do agrado das
esquerdas extremistas, conquanto do desagrado das direitas saudosistas da sua
velha pátria livre. Mas o conceito de “liberdade” está demasiado elástico,
nunca se sabe onde se vai parar. Uma excelente análise de RUI RAMOS destes
novos tempos franceses, com paralelos inferidos de outros sítios mundanais,
como este nosso, que se estranha ainda, sem sabermos se irá entranhar-se,
tantas parecem ser as similaridades com o caso francês, que alguns comentadores bem traduzem…
O estranho caso dos centristas suicidas
Hoje, são os “centristas” como
Emmanuel Macron que mais contribuem para a tensão e a instabilidade política na
Europa.
RUI RAMOS Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 28
jun. 2024, 13:0432
Nas eleições europeias em França, o
partido de Marine Le Pen ficou à frente. Era o que toda a gente esperava. O que
ninguém esperava foi o que aconteceu a seguir, nessa mesma noite eleitoral: o
presidente da república, Emmanuel Macron, dissolveu
imediatamente a Assembleia Nacional. Ou melhor: começou por dissolver a
Assembleia Nacional. Porque
ainda ninguém sabe se, com o truque de precipitar legislativas, não dissolveu
também o regime político francês e mais alguma coisa na Europa. Macron
dirige a governação em França há sete anos. Afundou o país em dívidas e em
desorientação. Resta-lhe
agora, como último recurso, assustar os franceses com uma escolha desesperada
entre o seu “centro”, e os “extremos” de Le Pen à direita, e de Jean-Luc
Mélenchon à esquerda. Os franceses detestam-no? Pois terão de optar: ou ele,
ou a “guerra civil”.
Para
se salvar, Macron não se lembrou de melhor do que arrastar o país até à
beira do abismo, e gritar-lhe: “vá, atreve-te a saltar”. Mas não é o primeiro governante europeu a recorrer
a tais encenações. Em 2016, foi o primeiro-ministro britânico, David
Cameron. Também Cameron andava atormentado
com a progressão eleitoral de um rival, Nigel
Farage, líder
do eurocéptico UKIP, que venceu as eleições europeias no Reino Unido em 2014. Também Cameron julgou que se livraria da concorrência
confrontando o país com uma escolha que lhe pareceu impensável: a saída
da União Europeia. Quem
ousaria ir, sem mapa, por caminho tão desconhecido? Acontece que os britânicos
fizeram mesmo o impensável: votaram pelo Brexit. Depois do referendo, Cameron demitiu-se. O feitiço
consumiu o feiticeiro.
Terá Macron mais sorte? Não importa agora adivinhar o fim do jogo
em França. Importa, antes, perceber o que há aqui de comum. Tal como
Macron, Cameron fez muita questão de exibir a sua juventude quando se tornou
líder do Partido Conservador em 2005. Tal como Macron, Cameron
quis libertar-se da tradição partidária, e oferecer-se, não como um dos dois
lados de um sistema político bipolar, mas como um “centro” imaculado, rodeado
da sujidade dos “extremos” (em 2016,
Farage, à direita, e Jeremy Corbyn, o líder trabalhista, à esquerda). Tal como
Macron, Cameron fez o seu “centro” assentar em duas coisas: o culto perdulário
de um Estado grande, para clientelizar o voto da maioria idosa da população; e
a adopção pirosa das causas a que hoje chamaríamos “woke”, de modo a obter a
complacência da esquerda mediática e universitária. Com este exercício de demagogia e oportunismo,
julgou-se imbatível para sempre.
Nunca
ocorreu a Cameron que os eleitores pudessem chegar a um ponto em que aquilo que
ele lhes mostrava como um precipício lhes parecesse a eles uma porta de saída.
Há uma mistura perigosa de cinismo e falta de imaginação neste “centrismo”. Macron
e Cameron pretendem substituir a dicotomia direita-esquerda, pelo maniqueísmo
do centro vs. extremos. O objectivo
é óbvio: demonizar como “extremistas” todas as alternativas ao
seu poder. A
alternância no governo passa assim a ser inconcebível: ou eles,
ou os bárbaros; ou eles,
ou o fim do mundo. E esperam, naturalmente, que ninguém prefira o fim do
mundo. Daí, o paradoxo: porque acham que a razão e o bom senso estão
exclusivamente do seu lado, não hesitam, quando aflitos, em sujeitar os países
às mais radicais experiências de roleta russa. Eis como este “centrismo”
suicida, pretensamente moderado, se tornou uma fonte de tensão e instabilidade
na Europa.
Macron
e Cameron assustam os salões com a “ameaça dos extremistas”. Talvez fosse de
reflectirmos também na “ameaça dos centristas”, sempre prontos a fazer explodir
o mundo para salvarem as suas vaidades e interesses.
COMENTÁRIOS (de 32)
Carlos Chaves: Pois é caro Rui Ramos, com as
devidas distâncias e sem (aparentemente) eleições à porta, se substituir Macron
e/ou Cameron por Luís Montenegro a sua análise assenta que nem uma luva à nossa
situação actual!
Joao Cadete: Belo artigo. José
Pedro Novais: Dois textos em vez de um são uma bênção! Maria Tubucci: A ameaça dos centristas é a
mais perigosa, Dr. RR. Para estarem de bem com Deus e com o Diabo
simultaneamente, querem os votos dos moderados, mas quando chegam ao poder
adoptam as causas da esquerda, agradando à esquerda que não votou neles e
lixando quem neles votou. Estes traidores contribuíram para a implantação da
ideologia woke, para a imigração descontrolada e para o ensino sem mérito, só
pela inclusão e equidade. E quem alerta, que estes factos que podem destruir
o futuro da próxima geração, leva com o rótulo de extrema-direita. Depois
admiram-se do CH, ou outro ainda pior, é que as pessoas sensatas estão cansadas
de traidores, entre a espada e a parede escolhem a espada e o caos... Rui
Lima: A França já não tem salvação
nem futuro, hoje há uma guerra civil de baixa intensidade que irá acabar numa
confrontação bem quente. Em França há 2 civilizações que se confrontam, uma
sente que tem direitos por questões históricas já lá estava, a que veio do
exterior sente que tem todos os direitos vendo a legislação criada em França na
Europa ou na ONU tudo o que não respeite os seus desejos é racismo aos olhos da
lei, por isso sente que está a ser oprimida pelos antigos colonizadores, todos
os dias chegam milhares de reforços para o exercito invasor por isso acredito
que serão os vencedores deste conflito de civilizações . João
Floriano: Na prática os franceses estão a
ser convidados a escolher entre dois abismos: o demonizado por Macron sob a
forma de Marine Le Pen (não acredito que Mélenchon ganhe as eleições em França)
e o abismo que ele próprio tem criado com os seus governos. Se preferirmos, podemos substituir a imagem dos
abismos por becos sem saída. O beco de Macron já mostrou à saciedade que não tem saída e que só tem
vindo a afunilar. Já com Marine Le Pen e Rassemblement National pode haver uma
via de fuga. O caso italiano é um exemplo para toda a Europa. Meloni está a
sair-se muito bem. Curioso
como pensamos imediatamente em Le Pen quando
falamos de Rassemblement National. O presidente
é agora o jovem Bardella. Por cá passa-se o mesmo com o PS, sempre associado a
António Costa e agora mais do que nunca. Pedro Nuno Santos não consegue impor a sua marca. O caso português não difere muito do caso francês
ou britânico. Também aqui o centro procura desesperadamente agarrar-se ao
poder. Também aqui trata a pão de ló a extrema esquerda que ainda se
aguenta porque esta tem um peso fundamental na CS e na propaganda. Não
se trata de aplicar novas formas de Censura como muitos democratas da boca para
fora apregoam, mas de ter as mesmas oportunidades de desmistificar as
narrativas de esquerda que tanto agradam à CS. Mas é vê-los a retorcerem-se
como rabos de lagartixa quando se sentem atacados. Esta semana o Observador
está a ser palco dos ataques woke ao historiador João Pedro Marques. E não
vamos ficar por aqui. O Serrano
> Maria Tubucci: Muito bem, acho que tem
toda a razão. Se nos lembrarmos da primeira eleição de Marcelo Rebelo de Sousa
sabemos que quem o elegeu foi o centro-direita e depois andou com a geringonça
e António Costa ao colo de uma maneira escandalosa, chocante. Portugal desde o
25 de Abril foi sempre governado à esquerda, porque após os primeiros governos
o PSD depois de eleito era muito esquerdista, excepto na Troika em que o
primeiro ministro era um político de invulgar capacidade, um líder nato -
Passos Coelho, ainda hoje idolatrado e desejado por muita gente.
Carminda Damiao: Excelente artigo. Que os franceses deixem de ter medo
do "papão" que a esquerda criou. Joaquim Almeida > Carlos Chaves: Se o Monte Rosa e seus próximos
não fossem uns parolos, já saberiam há muito que essa politiquice do
PSF-Miterrand e do PS-Costa de assustar com extremismos de direita estava a
dinamitar o "centro" em França. Começando pelo centro-direita,
evidentemente - RPR, UDF, Bayrou, etc. - enquanto a chaga islâmica alastra, com
criminalidade e "terras de ninguém", bem piores que a Cova da Moura,
Bela Vista.
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