Foi muito badalada, a imigração, que,
aliás, está na berra, embora não solitária. Outros problemas foram focados,
parece, não assisti aos debates e exposições com grande firmeza, sempre à
procura de outros filmes – geralmente os filmes simpáticos que revejo, de cada
vez que aparecem, caso do de hoje, “Encontro
em Manhattan”, bonito e à la
page para a minha actualização democrática, (iniciada, de resto, muito
tempo antes, com a leitura de uma Jane
Eyre de firmeza), e revisão dos meus gostos antigos por
amores delicados na questão dos filmes, avessa que fui, e continuo a ser, às
violências sem nexo de tantos filmes desordeiros, bastando-me as que os
noticiários demonstram, resultantes da prevaricação diária dos chefes amantes
dela, da violência sem écran (ou mesmo com), e do poder sem limites. Quanto às
migrações… vamos, talvez, a caminho do caldeamento e fusão na questão dos
povos, as distinções tendentes a degradarem-se, os territórios a preencherem-se
anomalamente, as fronteiras a destruírem-se, as Histórias do passado a
perverterem-se ou a ignorarem-se, como revestimento inútil de uma memória
puramente pessoal de cada ser e seus compinchas. De resto, acaba de me surgir a
seguinte notícia, na Internet: “NASA CAPTURA IMAGEM E SOM NA SUPERFÍCIE DE
MARTE”. Que importa, pois, a superfície terrestre e os seus desastres? Álvaro de Campos sempre o soube, pelo menos o disse, na sua
expressão triunfal, a respeito das coisas mais tremendas por cá passadas, desde
que em confronto, então, com os poderosos ruídos e violências da moderna
civilização do seu tempo que, esses sim, mereciam todo o entusiasmo do
bicho-homem masoquista e sádico, qual ele se descreve, a rever-se nesses mecanismos
e seus sons, do seu encantamento selvático, traduzido em verso – não de arroubo
mas de estridência íntima feroz:
«………….Que importa tudo isto, mas que
importa tudo isto
Ao fúlgido e rubro ruído contemporâneo,
Ao ruído cruel e delicioso da civilização de hoje?
Tudo isso apaga tudo, salvo o Momento,
O Momento de tronco nu e quente como um fogueiro,
O Momento estridentemente ruidoso e mecânico,
O Momento dinâmico passagem de todas as bacantes
Do ferro e do bronze e da bebedeira dos metais.
Eia comboios, eia pontes, eia hotéis à hora
do jantar,
Eia aparelhos de todas as espécies, férreos, brutos, mínimos, Instrumentos de
precisão, aparelhos de triturar, de cavar,
Engenhos brocas, máquinas rotativas!
Eia! eia! eia!
Eia electricidade, nervos doentes da Matéria!............ (ODE TRIUNFAL)
Hoje temos a
continuação. Com a cambalhota civilizacional aberrante e desordeira, e as
descobertas minimizadoras do nosso estar. E do nosso ser também. Que importa,
pois, tudo isso, desses tempos definitivamente arrumados? Os Chineses não
pensam, é certo, assim, dos seus passados, de respeito e conserva. E vão
avassalando a esfera. Terrestre, mas a lunática também lhes serve já. E vão
enxotando, na persistência segura e suave e indiferente aos outros. Sem
triunfalismos, mas com seguro passo, para mais, o das mulheres acompanhando, já
desenfaixados e no tamanho preciso. Para o pontapé final.
A imigração entrou campanha adentro à bruta
O governo quer exigir visto de
trabalho a quem imigra para Portugal, a dias dos candidatos às europeias
saberem se emigram para Estrasburgo, onde, está visto, o trabalho não será por
aí além.
TIAGO DORES Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 05
jun. 2024, 00:1536
Junho é mês de Santos Populares. De Lisboa
ao Porto, passando por Pyongyang, há arcos, manjericos e balões coloridos por
todo o lado. Quer dizer, desconheço se Pyongyang é dada a arcos – embora o
líder supremo seja bastante circular – e o manjericão, a existir, já foi todo
ingerido, à falta da deliciosamente nutritiva proteína animal. Mas balões há, na capital da Coreia do
Norte, e dos bons. Ficam é lá
pouco tempo. Falo dos 600 balões que as autoridades norte-coreanas enviaram
rumo à Coreia do Sul. Um gesto de boa vontade, harmonia e paz? Não. Um gesto de
má vizinhança e porcaria que o vento traz. Uma vez que os balões foram
previamente carregados com lixo, beatas e plásticos.
Ainda
assim, bem bom. De tudo o que o chalupa líder da Coreia do Norte já se lembrou
de lançar até hoje, balões repletos de entulho é, de longe, o mais benigno. Com
sorte, falta-lhe verba para mísseis intercontinentais. O que é
pena para o Bloco de Esquerda, que assim perde uma potencial fonte de
financiamento. Bloco que, também necessitado de capital, lançou uma campanha de
angariação de fundos. Ou seja, em aperto financeiro, a primeira coisa que
Mariana Mortágua fez foi perder a vergonha de ir buscar dinheiro aos seus
apoiantes que estão a acumular dinheiro. Mas como “a acumular dinheiro”, se eles não acreditam cá em economias
de mercado e assim? Boa pergunta. Suspeito que seja por conta das poupanças
feitas, durante décadas, ao nível higiene pessoal.
O
lancinante apelo da líder do Bloco de Esquerda prende-se com a necessidade de
angariar verbas para, entre outros imprescindíveis eventos, o habitual
acampamento de jovens do partido e o Fórum Socialismo 2024. Mas será
assim tão problemático? Um sítio onde toda a gente é uma espécie de
sem-abrigo a viver em tendas, e onde não haja dinheiro sequer para sandes e
água corrente é, já por si, um fórum onde se testam os bons resultados do
socialismo. São dois eventos num só. E ainda poupam no cachet dos oradores
do Fórum Socialismo. Imagino quanto não estará a cobrar, por exemplo, uma
vedeta tipo Boaventura de Sousa Santos, com todo o acrescido mediatismo
internacional que tem merecido nos últimos tempos.
Além de mês de Santos Populares, Junho é
também mês de Eleições Europeias. E a campanha eleitoral, que estava
meio mortiça, levou uma injecção de imigração e, qual Uma Thurman em Pulp
Fiction, ganhou um inesperado novo fôlego. Imigração que entrou na campanha —
mesmo à bruta — à conta da apresentação, pelo governo, do Plano de Acção para
as Migrações. E o que pode
dizer-se sobre o Plano de Acção para as Migrações? Por certo inúmeras e
pertinentíssimas coisas. Infelizmente,
dá-se o caso de eu não saber nenhuma delas. Mas sempre posso adiantar que
“ação” devia ter um segundo “c”. E que, a julgar pelas reacções extremamente
negativas ao Plano de toda a esquerda e — caso não esteja incluído na categoria
anterior — do Chega, devemos estar na presença do melhor plano desde o célebre
plano do interrogatório da Sharon Stone em Instinto Fatal.
Em particular o PS, pela voz de
Pedro Nuno Santos, diz que o Governo faz um “diagnóstico errado” sobre
a imigração e que o novo plano pode “criar novo problema”. Incrível, a perspicácia e capacidade de análise que
Pedro Nuno Santos e seus camaradas ganham assim que saem do governo. Enquanto
estão no governo não vêm nada, não percebem nada, não fazem nada. Assim
que abandonam cargos executivos, pumba!, tudo o que é dirigente socialista
torna-se indistinguível do Churchill. Há os treinadores de bancada e
depois há Pedro Nuno Santos, o Primeiro-Ministro de bancada parlamentar.
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