terça-feira, 25 de junho de 2024

ORAÇÃO



Num livro que o Ricardo me ofereceu,

Em 3 de setembro de dois mil e três,

- “TRAVESSIA PARA AVALON” -

(Best seller, ao que lá se afirma,

De JEAN SHINODA BOLEN)

E com o qual desejou, julgo bem,

Explicitar as travessias sua e minha,

- E afinal a de todo o humano ser deste cais -

Escreveu ele, nas páginas iniciais,

Uns versos com o título “ORAÇÃO” -

Nome que eu retomo hoje, em pedido apenas,

Íntimo, subentendido,

A um qualquer governante desse Avalon distante,

De que a maleita de que ele hoje enferma

Se esvaia no tempo - o que vai suceder,

Mau grado os atrasos do Avalon presente

Nosso Assistente.

Transcrevo os seus versos, pois, e mais

Os que então lhe enviei, que encontrei,

No meio do livro,

Escritos à mão, em folha de papel

Desta máquina de que diariamente me sirvo,

Na minha travessia sem grande filosofia

- Mas por vezes com travessura -

- O que não é o caso presente, todavia,

Na enfermidade actual que só não tem cura já,

Porque o nosso SNS está como está:

*

«ORAÇÃO»

“Queria escrever esta prosa

Sem parecer lamechice

Pois a palavra dengosa

Pode parecer tolice.

Escrevo sentado à secretária

A leite e cereais.

Viajo pela instrução primária,

Por parcelas e totais

Da minha vida passada.

Dela não me arrependo.

Dos erros, sim, mas cresci!

A ti devo a caminhada,

Só a ti e a meu pai.

Continuo aprendendo

A cada dia que se esvai.

Tenho plena consciência

De ter furado teu plano,

Em que tanto amor puseste,

Para me dar a ciência

De a barreira terrestre

Poder vencer com paciência.

Não contaste com a resistência

Deste ser por ti criado.

Não foi por mal que o fiz.

O meu caminho era outro.

É um caminho de amor

Por toda a Humanidade,

As cadeias ao meu redor

Ultrapasso-as com a verdade.

 

Quero agradecer-te a vida

Enaltecendo a qualidade

De Mãe presente e preocupada

Com a criação da cria.

 

Obrigado, Berta Brás,

Por esses quarenta e cinco

Mais aqueles de esperança

Que em ti nunca acabou.

 

Possas um dia mostrar

Não ter sido vão teu esforço,

Teres força para apoiar

A Mãe, Deusa do Universo.

LISBOA, XIX/X/MMIII

 

Eis a minha resposta,

Que encontrei na folha dobrada

Entre as páginas do livro de tanta nomeada:

“A minha ORAÇÃO”

Para o meu Ricardo

Sem lamechice - 21/10/03

 

“Sentado numa manta sobre o chão

Tu brincas e sorris e vais palrando

E as tuas mãozinhas lindas vagueando

São borboletas buscando a amplidão.

Com elas vais captando sensações

Vais conhecendo o mundo a-pouco-e-pouco

Meu pequenino, que desejo louco

Que nunca ele te desse decepções.

Que sempre houvesse luz no teu caminho

Que a tua vida fosse abençoada

E os teus pés só pisassem rosmaninho.

E nos teus olhos brilhasse a confiança

E eu visse sempre, na boquita amada

O teu sorriso lindo de criança.”

                            *

Não sei se conheces estas “prosas”

Que fiz pelos teus oito mesinhos

E eu queria proteger-te avidamente

De todas as barreiras perigosas

Que iriam assaltar os teus caminhos.

Caminhada para Avalon

Iniciada quando dentro de mim batias

E eu falava contigo intensamente,

Transmitindo-te as minhas próprias agonias.

As barreiras, ultrapassaste livremente,

Desatento às expectativas que criaste,

Mas a vida era tua e construíste,

Na dificuldade e no amor,

Uma vida que parecia de esplendor,

Na tua caminhada para Avalon,

Com a companheira idealmente responsável,

Com a filha idealmente sensível,

Preenchendo as expectativas totalmente,

Que acalentariam a tua ambição.

Mas procuraste outros caminhos,

E agora penso que as “prosas” feitas

Quando ias nos teus oito mesinhos

Foram triste premonição

Da vida então encetada,

Desejando sempre luz no teu caminho.

Porque a luz que procuraste

No fundo nada esclarece

Na floresta de símbolos que criamos,

Na insatisfação constante que inventamos,

Da nossa caminhada para Avalon,

Abandonando a realidade plausível

Por uma espiritualidade vazia -

Porque inútil, como solução

Da problemática do ser,

Pela ignorância infinita

Da nossa humana condição.

E assim é a minha oração:

Que ao “cresceres” mais, possas sentir

Que na feira de vaidades que é a vida,

Vale a pena a responsabilidade do assumir

Daquilo que criámos e que é bom,

E que é essa a verdadeira luz

Que procuramos por entre as brumas

Da nossa travessia para Avalon.

                            *

25/6/2024:

Mas o grande mal disto tudo, na tal travessia,

É o sentimento rasgado da impotência,

Na desolação inclemente

Externa e interior de quase toda a gente

Disse-o, entre tantos mais, superiormente,

O nosso António Nobre no “SÓ”, no seu poema “A VIDA”.

Nenhum comentário: