Num livro que o Ricardo me ofereceu,
Em 3 de setembro de dois mil e três,
- “TRAVESSIA
PARA AVALON” -
(Best seller, ao que lá se afirma,
De JEAN SHINODA BOLEN)
E com o qual desejou, julgo bem,
Explicitar as travessias sua e minha,
- E afinal a de todo o humano ser deste
cais -
Escreveu ele, nas páginas iniciais,
Uns versos com o título “ORAÇÃO” -
Nome que eu retomo hoje, em pedido apenas,
Íntimo, subentendido,
A um qualquer governante desse Avalon
distante,
De que a maleita de que ele hoje enferma
Se esvaia no tempo - o que vai suceder,
Mau grado os atrasos do Avalon presente
Nosso Assistente.
Transcrevo os seus versos, pois, e mais
Os que então lhe enviei, que encontrei,
No meio do livro,
Escritos à mão, em folha de papel
Desta máquina de que diariamente me sirvo,
Na minha travessia sem grande filosofia
- Mas por vezes com travessura -
- O que não é o caso presente, todavia,
Na enfermidade actual que só não tem cura
já,
Porque o nosso SNS está como está:
*
«ORAÇÃO»
“Queria escrever esta prosa
Sem parecer lamechice
Pois a palavra dengosa
Pode parecer tolice.
Escrevo sentado à secretária
A leite e cereais.
Viajo pela instrução primária,
Por parcelas e totais
Da minha vida passada.
Dela não me arrependo.
Dos erros, sim, mas cresci!
A ti devo a caminhada,
Só a ti e a meu pai.
Continuo aprendendo
A cada dia que se esvai.
Tenho plena consciência
De ter furado teu plano,
Em que tanto amor puseste,
Para me dar a ciência
De a barreira terrestre
Poder vencer com paciência.
Não contaste com a resistência
Deste ser por ti criado.
Não foi por mal que o fiz.
O meu caminho era outro.
É um caminho de amor
Por toda a Humanidade,
As cadeias ao meu redor
Ultrapasso-as com a verdade.
Quero agradecer-te a vida
Enaltecendo a qualidade
De Mãe presente e preocupada
Com a criação da cria.
Obrigado, Berta Brás,
Por esses quarenta e cinco
Mais aqueles de esperança
Que em ti nunca acabou.
Possas um dia mostrar
Não ter sido vão teu esforço,
Teres força para apoiar
A Mãe, Deusa do Universo.
LISBOA, XIX/X/MMIII
Eis a minha resposta,
Que encontrei na folha dobrada
Entre as páginas do livro de tanta nomeada:
“A minha ORAÇÃO”
Para o meu Ricardo
Sem lamechice - 21/10/03
“Sentado numa manta sobre o chão
Tu brincas e sorris e vais palrando
E as tuas mãozinhas lindas vagueando
São borboletas buscando a amplidão.
Com elas vais captando sensações
Vais conhecendo o mundo a-pouco-e-pouco
Meu pequenino, que desejo louco
Que nunca ele te desse decepções.
Que sempre houvesse luz no teu caminho
Que a tua vida fosse abençoada
E os teus pés só pisassem rosmaninho.
E nos teus olhos brilhasse a confiança
E eu visse sempre, na boquita amada
O teu sorriso lindo de criança.”
*
Não sei se conheces estas “prosas”
Que fiz pelos teus oito mesinhos
E eu queria proteger-te avidamente
De todas as barreiras perigosas
Que iriam assaltar os teus caminhos.
Caminhada para Avalon
Iniciada quando dentro de mim batias
E eu falava contigo intensamente,
Transmitindo-te as minhas próprias agonias.
As barreiras, ultrapassaste livremente,
Desatento às expectativas que criaste,
Mas a vida era tua e construíste,
Na dificuldade e no amor,
Uma vida que parecia de esplendor,
Na tua caminhada para Avalon,
Com a companheira idealmente responsável,
Com a filha idealmente sensível,
Preenchendo as expectativas totalmente,
Que acalentariam a tua ambição.
Mas procuraste outros caminhos,
E agora penso que as “prosas” feitas
Quando ias nos teus oito mesinhos
Foram triste premonição
Da vida então encetada,
Desejando sempre luz no teu caminho.
Porque a luz que procuraste
No fundo nada esclarece
Na floresta de símbolos que criamos,
Na insatisfação constante que inventamos,
Da nossa caminhada para Avalon,
Abandonando a realidade plausível
Por uma espiritualidade vazia -
Porque inútil, como solução
Da problemática do ser,
Pela ignorância infinita
Da nossa humana condição.
E assim é a minha oração:
Que ao “cresceres” mais, possas sentir
Que na feira de vaidades que é a vida,
Vale a pena a responsabilidade do assumir
Daquilo que criámos e que é bom,
E que é essa a verdadeira luz
Que procuramos por entre as brumas
Da nossa travessia para Avalon.
*
25/6/2024:
Mas o grande mal disto tudo, na tal travessia,
É o sentimento rasgado da impotência,
Na desolação inclemente
Externa e interior de quase toda a gente
Disse-o, entre tantos mais, superiormente,
O nosso António Nobre no “SÓ”, no seu poema “A VIDA”.
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