Não é só motivo
de regozijo, está visto, é também de interesse nosso, como bem o informa ALEXANDRE
BORGES, que usa o toucinho como modelo exaltador.
É o prestígio, estúpido!
Pedir-nos que apoiemos alguém para um
importante cargo internacional só porque é “dos nossos” é talvez a esperança
naquela coisa muito portuguesa de ter um primo nas finanças ou um cunhado na
polícia.
ALEXANDRE BORGES Escritor
e argumentista
OBSERVADOR, 20
jun. 2024,
Os portugueses são, por larga margem, o
povo mais porreiro do mundo: cá dentro, podemos dizer uns dos outros o que
Maomé não disse do toucinho; mas, no dia em que o nosso pior inimigo se apresente
a uma entrevista de trabalho lá fora, ai de quem diga mal. Não, senhor. Este é
dos nossos. Do melhor que há! Fiquem descansados que não podiam ir mais bem
servidos. Recebam-no, como mandou escrever o outro na lápide da falecida, com a
mesma alegria com que nós o mandamos.
Dizem que é por causa do prestígio. Por
causa do prestígio, era péssimo para Portugal, mas está óptimo para a Europa.
Que prestígio? Do que, alegadamente, advém para o país por ter um dos seus
nestes altos cargos internacionais. O que é estranho, porque não me lembro de
Portugal ter ganho coisa nenhuma nos dez anos em que Durão Barroso foi
Presidente da Comissão Europeia – até passámos um bocadinho mal, veja lá se
está lembrado, durante a crise das dívidas soberanas. Será que a nossa vida
melhorou desde que António Guterres é Secretário-geral da ONU? Então, e quando
Mário Centeno foi Presidente do Eurogrupo? Lembram-se da loucura que foi? De
como nem sabíamos o que fazer a tanto prestígio? Não? Ingratos.
É estranho. Tanto português que tem
ocupado os mais altos cargos internacionais e continuam a só nos conhecer pelo
Ronaldo. Tal como nós, em princípio, conhecemos mais a Noruega pelo bacalhau do
que por Jens Soltenberg ou a Bélgica mais por Tintim do que por Charles Michel
– e nem precisou de existir (o Tintim, queremos dizer). E é assim que deve ser.
Porque, justamente, não haveria coisa
mais desprestigiante se, por acaso, o Presidente do Conselho Europeu, ou a da
Comissão, ou o Secretário-Geral da ONU, ou o da NATO, exercessem os seus
cargos, por definição, supranacionais, com vantagem para os respectivos países
de origem.
Pedir-nos que apoiemos alguém para um importante cargo internacional
só porque é “dos nossos” é talvez a esperança naquela coisa muito portuguesa de
ter um primo nas finanças ou um cunhado na polícia: nunca se sabe, pode dar
jeito. A esquerda apoia por razões óbvias, a
direita porque, pura e simplesmente, não aprende. Afinal, 20 anos depois, a
esquerda continua a dizer que Durão “fugiu” para Bruxelas. Vítor Gaspar mostrou
para quem trabalhava quando foi para director de Finanças Públicas do FMI. E a
Álvaro Santos Pereira, hoje economista-chefe da OCDE, nem se dão ao “prestígio”
de se lembrarem dele.
Aliás, a possibilidade de António Costa
querer “fugir para a Europa” a meio do mandato era, ainda há pouco mais de dois
anos, antes das eleições que dariam a maioria absoluta ao PS, uma das grandes
armas da campanha da direita. E aqui estamos nós, uma queda de governo e umas
legislativas depois, mais parágrafo, menos parágrafo, mais caso de corrupção,
menos suspeita, mais 75 mil, menos 75 mil no escritório do chefe de gabinete,
mais crítica à intromissão da justiça na política, menos crítica, unidos em
torno do apoio ao cavalheiro como quem pede votos para a nossa canção no
Eurofestival. Mesmo que seja a Suzy com o “Quero ser tua”.
Se isto ainda servisse de moeda de troca
nalgum acordo interno entre AD e PS para deixar respirar o governo para lá do
orçamento de Estado, ainda era como o outro – o cargo é mais ou menos anódino e
Costa é, de facto, cinturão negro em não atrasar nem adiantar –, mas é ver o
histórico negocial de Montenegro, a começar pela questão da Presidência da
Assembleia da República, para ter acerca disso as maiores dúvidas.
Em princípio, isto é mesmo o que é: uma
daquelas rusticidades que Marcelo adora, sobretudo quando precisa de se desviar
de algum assunto realmente importante. Boa para aqueles discursos de pretenso
orgulho pátrio, que falam do tamanho da Z.E.E. e de pastéis de nata. Ou não
estivéssemos a falar do primeiro-ministro segundo o qual receber a Liga dos
Campeões em Portugal, sem público por causa da Covid, era um prémio para os
profissionais de saúde, a cujas reivindicações não atendeu antes, durante nem
depois dessa mesma Covid. Sim, é deste nível de prestígio que estamos a falar:
Costa na Presidência do Conselho Europeu é mais uma glória de que nos gabarmos
aos turistas no tuk-tuk, enquanto lhes impingimos pastéis de bacalhau com
queijo da serra. Para mal dos pecados, all too very typical.
UNIÃO
EUROPEIA EUROPA MUNDO ANTÓNIO COSTA POLÍTICA DURÃO BARROSO PAÍS ANTÓNIO
GUTERRES
COMENTÁRIOS (de 47)
Maria Paula Silva: Muito bom!! como é que uma
coisa que pode ser dita em 2 linhas, estilo: "ehpa, lá vai mais um
maçónico ocupar um grande tacho europeu para ficar com a vida garantida até
morrer sem precisar de trabalhar e o piroso do Montenegro está a dar-lhe
graxa", pode dar um texto tão bom? só o AB : Permita-me relembrar apenas
um pormenor, a Liga dos Campeões em Portugal, sem público por causa da
Covid, vergonha de prémio vergonhoso para os Enfermeiros que reclamavam
aumentos salvo erro desde 2018 sem feed-back governamental, afinal teve público porque a Dra. Graça Freitas e sua ajudante
Tremida agora grande eurodeputada, outra maçónica com um grande tacho pra vida,
vieram depois a público anunciar que não havia perigo de contágio... tal como
na Fórmula Um no Algarve em 2021. Havia muita "coerência" entre os
governantes nessas alturas covidescas, numa semana, por exemplo, o PM, o PR,
Dra. GF e a Tremida diziam todos coisas diferentes sobre o mesmo assunto. Obrigada,
AB, adorei. p.s. - isto de ter boa memória às vezes é uma chatice, cada vez mais
gostava de ser como diz a Bíblia "abençoados os pobres de espírito". Deve ser um sossego. Tim do A:
A AD apoiar
Costa é um acto de violação, é um acto próprio de um corrupto. Maria
Paula Silva > Tim do A:
é o síndroma de
Estocolmo ahaha Fernando CE: Com Costa, este ainda põe amigos sem contrato a tratar de importantes
assuntos europeus, para poupar o erário do Conselho , a exemplo do que fez na
TAP. Costa não tem estrutura de estadista.
Coxinho: Artigo muito bom. Mas eu ainda preferiria um artigo
diferente, mais curto e a terminar com um Estilo assim: Não será uma vergonha enviar para a Europa um aldrabão compulsivo que nunca
soube governar? bento
guerra: É o golpe, estúpido! Não digo que o tal "parágrafo" tenha sido
escrito pelo Costa, mas com o Galamba em escuta, há quatro anos, ele sabia que
viria a oportunidade para saltar em andamento e como vítima (lembram-se do
passeio noturno, em enlevo com a sua mulher e as televisões?). Mais, se falhar
o tachão de Bruxelas, vem a hipótese B, de candidato a Belém, emprego também
com grande prestígio Lupus
Maris: Conseguem imaginar o Pedro Nulo a defender "com unhas e dentes" o
Passos Coelho para um qualquer cargo internacional?... José B Dias: PSD(ois) ... e a necessidade
de admitir que o Ti Célito estava certo ao dar nota da ruralidade do senhor que
dizem ser primeiro-ministro! Francisco
Almeida: Hoje Alexandre Borges ascendeu ao nível dos grandes cronistas do
Observador. Ronin: O PSD não é um partido de direita
e esse é um problema que pode fazer com que desapareça como o CDS. Zé
Colmeia: Se "os portugueses são o melhor povo do mundo", daí se segue
logicamente que "isto é muito bom para Portugal, o nome de Portugal é
falado por esse mundo fora e a marca Portugal sai valorizada". Assim,
"Portugal anda nas bocas do mundo" e os turistas acorrem às carradas.
(Naturalmente que as citações são patacoadas que já ouvi a
"responsáveis" por qualquer coisa, desde o Dakar à presidência). José
Manuel Pereira: Ele que vá que já não o suporto mais por cá, é que se não for ainda me
arrisco a ter de o aturar como presidente da república... o que é de ir às
lágrimas... José B
Dias > Maria Paula Silva: Efectivamente o conhecimento
dos factos e a sua memorização parecem às vezes ser uma punição .. João Mourão: Um bom artigo.
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