quinta-feira, 20 de junho de 2024

Eu também


Sempre gostei de Macron. Pelo seu ar decidido, e discurso límpido, leiga que sou na questão política, e também pela posição que tomou em relação à Ucrânia. A análise de JORGE FERNANDES parece-me justa na sua apreciação política esclarecedora, mas o certo é que as políticas de abertura aos “invasores” fugitivos dos seus países, têm criado uma instabilidade crescente na França do nosso amor, como pátria de tantos espíritos que nos deram vida a nós também, ao longo da vida.

Macron e a Europa à beira do abismo

Apesar da extrema-direita e da direita radical estarem já no governo em variadíssimos países, é evidentemente diferente que ocupem um cargo de tanta importância em França ou na Alemanha.

JORGE FERNANDES: Doutorado em Ciência Política pelo Instituto Universitário Europeu, Florença, Investigador Ramón y Cajal no Conselho Superior de Investigação Científica, Madrid

OBSERVADOR, 19 jun. 2024, 00:1825

Confesso que sempre gostei de Macron e da vontade de mudança política que ele representa. França é um país esclerosado com fortíssimas forças de bloqueio que impedem as reformas necessárias para garantir que o país permanece relevante na cena internacional. Um exemplo claro do atavismo de muitas forças políticas em França é a proposta da Nova Frente Popular, que se uniu para disputar as eleições legislativas de 30 de Junho e 7 de Julho, para descer a idade da reforma para os 60 anos. Em 2024, com a pressão demográfica que se faz sentir e o aumento da esperança de vida, uma medida desta natureza revela um mundo mental que já não existe. A Esquerda Francesa não habita o mundo real. De outra maneira, não faria propostas populistas desta natureza.

Apesar da vontade de mudança que Macron trazia desde o início do seu mandato, era mais ou menos evidente que a sua passagem pelo Eliseu dificilmente acabaria bem. Em primeiro lugar, Macron conseguiu fazer-se eleger presidente sobre os escombros do sistema partidário que alicerçava a V República. À excepção do partido de Marine Le Pen, nenhum dos partidos clássicos que estruturaram a política Francesa ao longo dos últimos 60 anos sobrevivem com força suficiente para gerar uma alternativa política ao actual presidente. Apesar da má fama que têm, os partidos políticos são fundamentais enquanto mecanismos de formação de elites, organização do espaço político e capacidade de mobilização dos cidadãos. Só existe uma coisa pior do que maus partidos políticos: o vácuo criado por partidos políticos sem força suficiente para cumprirem a sua função no sistema político.

Em segundo lugar, a natureza unipessoal da presidência de Macron, depois da tentativa falhada de montar um partido centrista que pudesse institucionalizar o Macronismo, tornou a sua sucessão muitíssimo complexa. Quando entrou no Eliseu em 2017, a aposta de Macron — um eterno optimista — era evidente: se conseguisse reformar o país e torná-lo novamente competitivo, isso dar-lhe-ia a capacidade de montar um movimento político mais perene que pudesse sobreviver à sua inevitável retirada do Eliseu. Sejamos honestos. O contexto internacional dos últimos anos foi, talvez, o mais complexo desde 1945. O Brexit, uma pandemia, a Guerra na Ucrânia e uma crise inflacionista não são de molde a realizar reformas profundas em nenhum país, muito menos num país com a complexidade social e política como França.

Neste contexto, Macron decidiu jogar aquela que poderá ser a sua última grande cartada. Na sequência do resultado humilhante das eleições Europeias, Macron escolheu a espada ao dissolver a Assembleia Nacional e convocar eleições legislativas antecipadas, num gesto que deixou a Europa perplexa. Na V República Francesa só houve três eleições legislativas antecipadas e todas terminaram em períodos de coabitação. Naturalmente que, no contexto actual, se a RN ganhar as eleições, a coabitação revestir-se-á de maior complexidade na medida em que seria a primeira vez desde o fim da Guerra que a extrema-direita conseguiria ocupar o executivo. O gesto de Macron é de tal maneira inusitado que vai contra o espírito da Constituição. Na última reforma Constitucional, que diminuiu o mandato presidencial de sete para cinco anos, os legisladores Franceses aproveitaram para mudar o calendário das legislativas, marcando-as imediatamente a seguir às eleições presidenciais. O objectivo era simples: diminuir a probabilidade de coabitação, aproveitando o momentum eleitoral do presidente recém-eleito. Ao marcar eleições a meio de um ciclo presidencial, Macron aumentou em muito a probabilidade de a oposição conseguir utilizar as eleições legislativas como um voto de protesto contra a sua presidência.

Apesar de ninguém ter a certeza do que vai na cabeça de Macron para esta decisão – nos jornais internacionais diz-se que o próprio primeiro-ministro em funções não foi antecipadamente informado da decisão – há cenário que aparenta ter orientado a decisão do presidente Francês: a teoria da vacina. No sistema político Francês, enquanto Macron for presidente, os danos que o partido de Le Pen pode provocar são, apesar de tudo, relativamente restritos. Existirão dois potenciais cenários no actual contexto Francês. Em primeiro, a expectativa de Macron será que estes três anos de RN à frente do executivo mostrem, por um lado, a incapacidade do partido em governar, e, por outro lado, exponham a ausência de soluções reais para o país. No fundo, ao cooptar a RN para o centro do sistema político, Macron espera diminuir a capacidade do partido em bramir o velho adágio populista do nós contra eles. Se for bem sucedido, as hipóteses de Le Pen ganhar o Eliseu em 2027 sairão diminuídas. Em segundo lugar, estas eleições legislativas poderão servir como uma espécie de primeira volta das presidenciais. Assim, estas eleições poderão servir para fomentar alianças eleitorais à esquerda para que, em 2027, aparecerá um candidato eleitoral forte naquela área política que consiga polarizar o voto popular com Marine Le Pen.

A confirmarem-se as previsões, as eleições legislativas em França serão um momento simbolicamente muito importante para a Europa. Pela primeira vez desde a sua fundação a União Europeia terá um partido de extrema-direita no poder num dos países do eixo Franco-Alemão. Apesar da extrema-direita e da direita radical estarem já no governo em variadíssimos países, é evidentemente diferente que ocupem um cargo de tanta importância em França ou na Alemanha. No entanto, como os últimos anos provaram à saciedade, três anos é uma eternidade e muita coisa pode acontecer entretanto. Nada está escrito na pedra. Em última análise, numa democracia representativa, o povo tem a capacidade de escolher quem quer a comandar os seus destinos.

FRANÇA    EUROPA     MUNDO     EMMANUEL MACRON

COMENTÁRIOS (de 25)

Carlos Chaves:  “Em última análise, numa democracia representativa, o povo tem a capacidade de escolher quem quer a comandar os seus destinos.” Nada mais acertado! Mas em completa contradição com o que o cronista escreveu! Nota: Nunca vi tamanha preocupação de certos articulistas e jornaleiros, com a extrema esquerda como com a suposta extrema direita! Não vêem os estragos que a extrema esquerda trouxe ao nosso país desde há 50 anos? Não foram os últimos quase 9 anos elucidativos? Caro cronista, tem todo o direito à sua opinião, mas por favor não mascare a realidade!                     Ricardo Pinheiro Alves: O artigo é bom, mas não consegue ultrapassar o complexo mais antigo da política: de um lado está a direita radical, do outro está a frente popular. A direita nunca pode ser popular, só pode ser extremista. A esquerda nunca é extremista, é sempre a favor do povo. Um atavismo que requer maior seriedade intelectual.                 Jorge Espinha: O centro direita traiu o seu eleitorado. É isto, é esta a razão do avanço da extrema-direita e afins. O centro virou as costas às preocupações legítimas dos Europeus. As ilhas de imigrantes e descendentes de imigrantes que se auto excluem da sociedade e são violentamente hostis ao modo de vida Europeu. Leia por favor o artigo escrito pra Ayann Hirsi Ali no último número da revista commentary dos EUA. Lá descreve um político do centro esquerda holandês (mr Consensus) mas que se aplica ao ser Jorge Fernandes. Que repete as patacuda das PC que estão a pôr em perigo as nossas sociedades.             Nuno Abreu: Não é só a esquerda francesa que não habita um mundo real. É a esquerda esquerda do mundo inteiro. Os seus profetas morreram há mais de cem anos e eles continuam a ter por base dogmas fundados em mundos arcaicos. Vivem da organização do nada. Raimundo Narciso conta uma anedota  simpática que descreve bem o comunismo, neste caso do que foi o seu PCP. O partido anuncia que vai dar sapatos. Forma-se uma fila á porta da sede do partido. Sola de borracha ou de coiro? - pergunta o funcionário: Borracha. Então porta da sala ao lado. Camurça ou cabedal? Cabedal. Então porta em frente. Pretos ou castanhos? Pretos. Sala da esquerda. Esgotadas as vinte salas e os vinte modelos, o zé povinho encontrou a porta da rua. Resultados? Zero. Mas uma organização excelente!                    Maria Emília Santos Santos: Macron é o menino bem amado de Klaus Schwab o fundador e autoproclamado diretor do FEM, que serve unicamente para trair e amordaçar a Europa enquanto foi fundada com intenção de proteger a economia europeia! Macron nunca lutou pela França, assim como António Costa nunca lutou por Portugal e todos os outros adeptos dos novos deuses do mundo! Fundaram universidades meteram-nos lá e disseram-lhes: Vocês devem aprender a prometer tudo em eleições ao povo, mas depois não fazem nada do que prometem! vocês devem obedecer é a nós, que somos os vossos chefes! O que nós queremos é tudo desmantelado para instaurar a NOM. É para isso que vocês têm de trabalhar, entendido? E eles, esta comandita toda que governou a Europa neste últimos anos, foi excepcionalmente obediente para não dizer submissa! O resultado? A Europa tornou-se uma bandalheira, de assaltos, corrupção, pobreza, deseducação, descristianização, desmoralização, sexualização, prostituição, abortação, medo de tudo e de todos e desconfiança dos governantes, etc.. Montenegro veio para confundir e impedir o CHEGA de ganhar, mas na realidade ele é do mesmo grupo do PS. Enquanto Soros mandar em Portugal através dos seus (suas) servidores estaremos cada vez a escorregar mais para o cataclismo e não nos conseguiremos desenvencilhar do PS e afins!               Americo Magalhaes > Liberales Semper Erexitque: Informada? torcida, enviesada, estes cronistas são autênticos fabricantes de narrativas                Carlos Costa > Carlos Chaves: Concordo consigo plenamente.                     José Alberto: Meu Deus estes Clichês do Jornalismo !!! Extrema direita , Direita Radical ............etc e tal ......vocês nunca se lembraram de arranjar tantos nomes , esses sim RADICAIS !!! Dos Estalinistas assassinos (PCP) Troskistas, etc                  Joaquim Almeida: Infelizmente, o sistema político da França tem-se revelado incapaz de tratar uma chaga profunda e crescente veementemente apontada já há quatro décadas pela FN de Le Pen - a imigração islamizante. A factura torna-se cada vez mais pesada e ameaçadora de insolvência. E ainda vem o imb..il esquerdista Melenchon atirar lenha para a fogueira, com a resignada conversa da "créolisation"...

 

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