De João Marques Almeida, a respeito do
envolvimento europeu na guerra da Ucrânia…
As eleições europeias e a guerra na Ucrânia
Putin não vai usar armas nucleares,
está a fazer bluff. É impossível apaziguá-lo. E a única maneira de haver paz na
Europa é derrotar Putin. Se Putin ficar fraco, serão as elites russas a
afastá-lo.
JOÃO MARQUES DE
ALMEIDA Colunista do Observador
OBSERVADOR, 31 mai. 2024, 00:1922
A guerra na Ucrânia foi um tema importante em todos os debates na
campanha para as eleições europeias. A visita de Zelensky acentuou a
importância do tema.
A discussão da guerra na Ucrânia nos debates foi, em geral, fraca e
desonesta. Comecemos pela
desonestidade, a qual veio sobretudo do PCP mas também, em menor medida, do
Bloco. João Oliveira é incapaz de atacar o regime de Putin. Não o
defende explicitamente, mas nunca o ataca abertamente. Mas a maior
desonestidade do PCP e do Bloco é colocarem o ónus na União Europeia por não se
esforçar para fazer a paz e escolher ajudar a Ucrânia. É preciso muito
descaramento. Putin não quer a paz, por isso não pode haver paz. Será que João
Oliveira e Catarina Martins não percebem o essencial? Ou não querem entender?
Putin quer ocupar a Ucrânia e reduzi-la a um protectorado como a Bielorrúsia.
Foi por isso que as tropas russas invadiram a Ucrânia. Putin iniciou a guerra,
sem qualquer razão, e só ele a pode fazer a paz rapidamente.
Mas os partidos que defendem a Ucrânia e
atacam a Rússia, todos os outros, embora tenham a posição certa, revelaram
fraquezas. Em primeiro lugar, todos
mostraram medo de serem acusados de não querer a paz. Mostraram
medo porque não foram capazes de dizer o óbvio. Putin começou uma guerra de
ocupação, e só há uma maneira de se chegar à paz: derrotar Putin.
Para derrotar Putin, antes de mais, é necessário acabar com a fantasia de
que a Ucrânia não pode atacar o território russo. Não será suficiente para
derrotar a Rússia, mas é da mais elementar justiça. As tropas
russas atacam todo o território da Ucrânia há mais de dois anos, não distinguem
alvos civis de militares, e os ucranianos não podem atacar a Rússia. É
extraordinário.
Os limites impostos à Ucrânia
resultam de dois erros que os governos ocidentais cometem há mais de uma década. Em primeiro
lugar, a fraqueza do
apaziguamento. Nas capitais europeias, e nos Estados
Unidos, continuamos a ouvir que não se pode provocar Putin, o que Sebastião
Bugalho e Cotrim de Figueiredo repetiram nos debates. Por
que razão Bugalho e Cotrim não disseram o que é evidente. É impossível
apaziguar Putin, e não é necessário provocá-lo para ele fazer guerras. A incapacidade de pensar fora dos quadros
mentais dominantes e a eterna fraqueza europeia são desesperantes.
Em segundo lugar, há o permanente medo do bluff nuclear de
Putin. É óbvio que com Putin existem grandes riscos, mas pouco se pode
fazer para os diminuir. O problema é Putin, não são as acções de quem
o combate. Mas há duas razões que nos deviam levar a não levar a
sério o bluff nuclear. Em
primeiro lugar, a capacidade nuclear dos Estados Unidos é incomparavelmente
superior à da Rússia. Putin sabe
isso muito bem. Ele assistiu ao fim da Guerra Fria. O Presidente russo sabe que
o recurso às armas nucleares seria um acto auto-destruição. Putin pode ser
irracional, mas não é louco. Nem as chefias militares russas enlouqueceram.
Aliás, uma tentativa de Putin para usar armas nucleares poderia ser o primeiro
passo para um golpe de estado em Moscovo.
Em segundo lugar, a liderança
chinesa tem sido muito clara na sua oposição ao uso de armas nucleares por
parte da Rússia. Pequim não quer que Putin perca a guerra,
até se diverte com o modo como o bluff russo assusta as capitais ocidentais,
mas não brinca com o que é sério. A estabilidade económica chinesa exige um
mínimo de ordem global e de comércio internacional. A China continua a ser a
maior exportadora mundial. Uma guerra nuclear seria um desastre económico para
a China. Ora, neste momento, a economia e o esforço de guerra da Rússia
dependem do apoio da China.
Putin não vai usar armas nucleares,
está a fazer bluff. É impossível apaziguar o Presidente russo. E a única
maneira de haver paz na Europa é derrotar Putin. Se Putin ficar fraco, serão as
elites russas a afastá-lo do poder.
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GUERRA NA UCRÂNIA UCRÂNIA EUROPA MUNDO
COMENTÁRIOS (de 22)
Carlos Chaves: Pois, mas então porque é que
não ajudamos REALMENTE a Ucrânia? Será porque a Europa chegou a um ponto de nem
uma fábrica de pólvora ter no seu solo, como disse (salvo erro) o sr. General
Isidro Morais Pereira?
Maria
Rita Menezes: Nem mais, muito lúcido!
Lamentavelmente a nossa classe dirigente não pensa assim, uma grande tristeza!
Parabéns e Cpts João Amorim: Eis um tema em que não estou de acordo com RR. Desde a
independência que a Ucrânia tem sido um palco de guerra, primeiro uma guerra
surda e de agit-prop, em que os protagonistas foram os serviços secretos russos
e americanos, e depois uma guerra aberta entre os EUA (por interposta pessoa) e
a Rússia. Os grandes perdedores deste conflito, e que para ele estão a ser
arrastados, foram, são, a Alemanha e a Europa em geral. Hoje já é
suficientemente sabido que a Rússia e a Ucrânia estiveram em 2022 a um passo de
chegar a acordo (que passava pelo cumprimento pela Ucrânia dos acordos de Minsk
e pelo reconhecimento da soberania russa sobre a Crimeia), e que foi uma súbita
visita a Kiev de Boris Jonhson que fez gorar esse princípio de entendimento.
Faria bem RR em ponderar o que sobre o tema tem sido dito e escrito por
personalidades e especialistas de todo insuspeitos como John F. Kennedy Jr., John
Mearsheimer e Jeffrey Sachs.
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