quarta-feira, 5 de junho de 2024

«Na Terra tanta guerra, tanto engano


Tanta necessidade aborrecida»: Já o disse Camões, há quase seis séculos. Porque seria diferente hoje? É que hoje, estamos numa EU onde entrámos há quase 40 anos, CEE então chamada, onde, segundo leio na famigerada Internet, “Partilhamos os mesmos valores e crescemos juntos. Juntos somos mais fortes!”

Vamos a isso. Temos candidatos de sobra, hoje, para escolher no próximo domingo, HELENA GARRIDO os descreve, para votarmos sem engano. Nem dano, este último, contudo, em ameaça. Bélica, acima de tudo.

A Europa que nos espera

A União Europeia viveu cinco anos de pesadelo e prepara-se para um novo tempo consequência desse passado. Estão os candidatos a eurodeputados conscientes disso?

HELENA GARRIDO Colunista

OBSERVADOR, 04 jun. 2024, 00:2121

Durante os últimos cinco anos a União Europeia viu, pela primeira vez na sua história, sair um Estado-membro por vontade própria, enfrentou uma pandemia que fez cair o tabu do apoio com endividamento europeu, geriu como conseguiu crises migratórias, e vive sob a ameaça de a guerra entrar pelas suas fronteiras, quebrando-se a ligação que tinha à Rússia e abalando-se o escudo que tinha nos Estados Unidos. No meio deste turbilhão enfrentou e está prestes a controlar um surto inflacionista e lançou-se num ambicioso plano de combate às alterações climáticas.

Os eurodeputados que vamos eleger de 6 (na Holanda) a 9 de Junho (em Portugal e na maioria dos países) recebem uma União Europeia submersa em desafios internos e externos. E terão de se preparar para um Parlamento deslocado para a direita e eventualmente sem a capacidade de socialistas e populares determinarem os principais cargos europeus. É, assim se pode interpretar, uma consequência das tempestades que se abateram sobre a construção europeia no passado recente. E que terá consequências no desenho das políticas europeias.

No grupo dos partidos com representação parlamentar em Portugal poucos nos transmitiram essas preocupações, embora, com exceção de Marta Temido, todos tenham revelado algum trabalho de casa. Da avaliação dos debates destacam-se João Cotrim de Figueiredo e Sebastião Bugalho pelo conteúdo do que disseram – mesmo levando em conta a embrulhada em que o candidato da AD se meteu nos temas do aborto e dos direitos das mulheres.

À esquerda Catarina Martins revelou bem como tem qualidade política e João Oliveira mostrou uma combatividade ímpar na defesa do que é difícil se não impossível de defender. Do Livre Francisco Paupério foi uma surpresa positiva e é lamentável que Rui Tavares o tenha isolado, corrigindo apenas essa actuação depois de ter sido criticado.

Pedro Fidalgo Marques do PAN, em contrapartida, parecia estar concentrado apenas no combate às touradas quando tinha tanto tema ambiental para desenvolver. Quanto a António Tânger-Corrêa foi o peixe fora da água, um diplomata que foi fugindo como pôde ao confronto a que muitas vezes foi chamado pelos seus opositores, e que se enredou logo de início em teorias da conspiração que se lhe colaram até ao fim.

Finalmente Marta Temido, a inexplicável escolha de Pedro Nuno Santos para liderar os candidatos do PS às europeias, quando tinha Francisco Assis e até Ana Catarina Mendes – que vão em segundo e terceiro lugar. Não se entende aliás como aceitou Francisco Assis ser número dois e, se as imagens não mentem, o que se vê é o seu constrangimento quando aparece ao lado de Marta Temido– até agora pouco, tal como Ana Catarina Mendes.

A ex-ministra e líder da lista do PS já era candidata a pior responsável da Saúde da era da democracia portuguesa, sujeitando os portugueses às suas opções ideológicas, em vez de se focar nas soluções que tinha disponíveis para lhes prestar os cuidados de que precisavam. Se hoje temos a Saúde no estado em que está podemos dizer que parte é herança da pandemia, do envelhecimento e do aumento da procura, mas há uma boa parte que se deve à ausência de soluções práticas para os problemas.

Nos debates – recusou ir ao frente-a-frente organizado pelo Observador – Marta Temido mostrou estar mal preparada, o que tentou disfarçar com truques politiqueiros – como o que usou com Sebastião Bugalho sobre a visita do presidente da Ucrânia -, falando da pandemia ou fazendo afirmações genéricas sobre a Europa. Consideram alguns analistas políticos que é eficaz nesses truques e popular entre os portugueses, tendo sido esta última a razão que conduziu à sua escolha. Esperemos que não tenham razão e que durante esta última semana de campanha a ex-ministra mostre aos eleitores que é mais do que apenas popular e eficaz em truques políticos.

Porque vamos precisar de eurodeputados – mesmo tendo poucos – que sejam capazes de enfrentar os desafios que a União Europeia vai ter. Desde logo porque não sabemos se este novo tempo vai ser o da entrada da guerra num espaço que pensou um projecto para que nunca mais isso acontecesse.

Mesmo sem ser num cenário de conflito, a União Europeia terá de escolher de forma mais activa a sua estratégia de defesa. Mesmo que Donald Trump não seja eleito presidente dos Estados Unidos, Bruxelas aprendeu que não pode deixar a sua Defesa nas mãos dos Estados Unidos – esse tempo já passou. E as escolhas não são fáceis, como até aqui. Gastar mais dinheiro em Defesa pode significar menos para o Estado Social, mesmo que se siga o modelo da pandemia com a emissão de Obrigações europeias – porque, ao contrário do que pareceu transparecer em alguns debates, a dívida paga-se.

A perspectiva de viragem à direita, como apontam as sondagens, perspectiva igualmente alterações em políticas como a ambiental. Com prováveis retrocessos na transição verde em matérias, por exemplo, como a biodiversidade – em parte já danificadas por oposição dos agricultores. Mas também podemos ver um abrandamento ou mesmo retrocesso no caminho para uma economia de carbono zero, como por exemplo na mobilidade. Teremos igualmente políticas mais proteccionistas e mais anti-imigração (Sobre as mudanças nas políticas vale a pena ler este artigo do Político).

Os turbulentos últimos cincos anos da vida da União Europeia lançaram as raízes dos problemas que agora vamos enfrentar – e as escolhas que os eleitores vão fazer. Os eurodeputados que vamos eleger, por poucos que sejam, nunca foram tão importantes. Especialmente para quem considera que as soluções para os problemas de Portugal e da Europa estão na União Europeia. Em tempos difíceis como estes precisamos de mais e não menos União Europeia.

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COMENTÁRIOS (de 25)

Carlos Real: O grande drama que assistimos é ver o Bugalho e o Cotrim a terem a mesma atitude dos chuchialistas. Querem que os ilegais se transformem em legais. Todos sabemos que as mafias já estão completamente instaladas com as frutarias, mercearias e barbearias de fachada. As novas pretensas medidas de contratos de trabalho não vão servir para nada. Os falsários vão usar a dita obrigatoriedade para fingir que são trabalhadores. A direita dita civilizada só pensa nos coitadinhos do 3º mundo a quem os europeus estão obrigados moralmente a acudir. A emigração que é necessária só deve existir devidamente organizada e controlada através das associações patronais que tem de contratar nos países de origem. Quem estiver ilegal tem de ser repatriado na hora. Só por isto é importante no dia 9 votar Chega. A subida da extrema-direita é a única solução que a nível europeu pode levar o Centrão a tomar medidas contra o descalabro da emigração de portas abertas. Montenegro, o PS e a IL continuam a pensar nas fantasias humanísticas, mas ingénuas, de que a imigração ilegal se controla com paninhos quentes. Nada de muros nem medidas duras. Já não tenho idade e paciência para acreditar no Pai Natal.                  Maria Tubucci: A Europa que nos espera tem de levar uma grande volta Sra. HG. Pois a Europa que temos quer destruir cultura e as nações que a formaram, preocupando-se muito mais com os extra-europeus. Considerando que os europeus nativos só servem para sacrificar no altar do multiculturalismo, para escravizar e servir outros povos. Eu não quero uma Europa destas, eu não quero uma Europa do Islão. Quero uma Europa que se preocupe em primeiro lugar com os europeus, na manutenção das suas nações e da sua identidade cultural. Onde quem quiser vir para a Europa tem de respeitar a cultura para onde vai, integrando-se e deixando a sua “cultura” à porta da entrada.               Rui Pedro Matos: Todos os partidos, principalmente os da esquerda reaccionária, incluindo o PS, estão em campanha eleitoral tal como se fosse uma eleição para o Parlamento Português. AD IL e Chega, na pessoa de Tânger Correa, muita maturidade e discursos europeístas! ACORDAI ACORDAI HOMENS QUE DORMIS                   Tim do A Rui Pessoa: Defender a Europa é só o que os portugueses sabem fazer. Sobretudo, dizer amém aos outros e às causas dos outros. Defender Portugal nenhum tem coragem. Veja-se a bitola ibérica na ferrovia, o incumprimento dos espanhóis nas águas dos rios, os acordos na agricultura e pescas, etc. Mas já a pedir dinheiro de forma humilhante e sem dignidade, como ciganos romenos, disso já são capazes. Não têm vergonha.               bento guerra: No meio de tanta efabulação inútil , esqueceu o candidato do Chega, o único que está ali com conhecimento do tema. Mas conhecimento não conta para estes linguados de encher papel

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