Este de Helena
Matos, de argúcia, naturalmente, e sensibilidade, ao recordar
o Xá da Pérsia e as perfídias que envolveram o seu final, provindas dos Estados
Unidos e o seu paralelo com a actualidade – de aconselhamentos, hesitações,
protelamentos, cedências, ambiguidades … num mundo dominado por povos e
ideologias de arrogância e fúria arrasadoras. Patetas e patéticas.
O síndrome do Xá da Pérsia
Em 1980 os EUA equacionaram entregar
o Xá ao Irão para conseguirem libertar os americanos sequestrados em Teerão.
Ucrânia? Israel – qual pode suceder ao Xá como o antigo aliado que se deixa
cair?
HELENA MATOS Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 16 jun. 2024, 07:5282
Base das Lajes. 23 de Março de 1980. O avião que transporta o deposto xá da
Pérsia, Mohammad Reza Pahlavi, está imobilizado na pista. O avião das Evergreen
AirLines fez oficialmente escala nos Açores, para reabastecimento. Uma paragem
que se esperava não ir além da meia hora. Mas a meia hora transforma-se em
horas. Intermináveis.
Dentro
do avião a preocupação aumenta. O xá da Pérsia, a sua mulher, Farah Diba e a
pequena comitiva que os acompanha e que há meses andam de país em país em busca
de asilo, começam a questionar o porquê da demora. A pergunta que está na
cabeça de todos equivale para cada um a uma sentença de morte: estariam
os EUA a negociar com o Irão a entrega do Xá? Razões
não faltam aos EUA para tentar negociar: no Irão estão por essa
data 54 reféns americanos. O seu
cativeiro começou em Novembro de 1979, quando centenas de estudantes iranianos
em fúria com o facto dos EUA terem autorizado a entrada do xá naquele país para
efectuar tratamentos médicos (o xá sofria dum linfoma em estado avançado),
acabaram a invadir a embaixada dos EUA e a sequestrar quem ali se encontrava.
Cinco meses depois de ter começado, a crise dos reféns tornara-se a
crise dos EUA. Para mais os EUA estavam a entrar em ano eleitoral. Trazer
os reféns para casa é também crucial para o presidente Carter conseguir um
segundo mandato (Aos
promotores da tese de que se em 2023 à frente de Israel estivesse um líder que
não fosse de direita, o Hamas não teria atacado ou tendo atacado seria mais
fácil negociar, recomendo que regressem à crise dos reféns de 1980. Então a
culpa estava no facto de Carter ser visto como uma pomba do partido Democrata.
Esta aparente contradição é o resultado mais que directo de se explicar o terrorismo
pela natureza das vítimas e dos seus governos e não pelos terroristas e pelas
suas intenções, o que não deixa de ser revelador da nossa forma auto-punitiva
de estar).
Mas voltemos à pista das Lajes nessa
noite de Março de 1980. Quem se
encontra dentro do avião sabe que o Irão desenvolve esforços para que o Xá seja
extraditado e que existe o risco real que tal aconteça. Só não sabem que ao
mesmo tempo que na pista da Lajes o avião continua parado, agora, que já está
reabastecido, alegadamente porque precisa de autorização para sobrevoar certos
territórios, a administração norte-americana está mesmo a
negociar, naquele preciso momento, com Teerão a entrega do Xá em troca dos
reféns.
O acontecido naquela noite de um domingo
de Março de 1980 na pista das Lajes é uma espécie de viagem à
má fé estrutural inerente ao terrorismo. O
terrorista conta com a insuportabilidade civilizacional que é para a cultura
ocidental (e não só) ter alguns dos seus, feitos reféns. Mas na sua
lista de objectivos não se conta apenas o sequestro. Entra também o desgaste causado pelas
tentativas de resgate em quem as organiza: ora porque falham, ora porque são
desproporcionadas, ora porque causam vítimas, ora porque cedem, ora porque não
cedem… Quando agora o líder do Hamas escreve que para
Israel a vitória pode ser pior que a guerra é precisamente a esta inversão do
ónus da acção que se refere.
Mas
voltemos a Março de 1980 e às Lajes. Nessa noite é do domínio da cedência o
que os americanos estão a preparar: entregar o xá aos iranianos. Mas a
possível cedência americana foi precedida por outras mais discretas mas
igualmente simbólicas: a França, que acolhera o Ayatollah Khomeini
durante o seu exílio, recusa agora receber o xá depois deste ter saído do Irão
em Janeiro de 1979. A Grã-Bretanha, a Suíça e a África do Sul também
responderam negativamente à possibilidade de acolher o xá. Outro países nem
nunca responderam.
Entre Janeiro de 1979 em que deixa o
Irão e Março de 1980 em que o avião em que viaja fica retido na pista das
Lajes, aquele que fora o rei
dos reis, Mohammad Reza Pahlavi, passou pelo
Egipto, por Marrocos (donde saíra por ameaça de rapto); pelas Bahamas onde só
teve asilo por três meses; pelo México; pelos EUA (só para ser operado) e pelo
Panamá donde o governo iraniano assessorado por um advogado francês (há coisas
que nunca mudam nesta matéria) o tenta extraditar. É então que
surge a possibilidade do Egipto. Anwar Sadat oferece asilo a Mohammad Reza Pahlavi e à
sua família. Estes aceitam. Mas para chegarem ao Egipto têm de
sair do Panamá e passar pelo Açores. E é aí que estão nessa noite de Março a
meio da sua viagem para o Egipto. Primeiro para reabastecer. Depois a
aguardar autorização para sobrevoar determinados territórios. Na realidade o avião estava
imobilizado por ordem de um chefe de gabinete da Casa Branca que aguardava
uma resposta perceptível de Teerão. Como
esta não chegou o DC9 das Evergreen Air Lines levantou finalmente voo rumo ao
Egipto. Mohammad
Reza Pahlavi morreria no Cairo quatro meses depois. Sadat seria assassinado em 1981 por
fundamentalistas islâmicos .
Porquê recordar isto agora? Afinal o
que tem o destino de Mohammad Reza Pahlavi a ver com o mundo em 2024? Muito, se por muito se entender a política de alianças. Em 2024, uma parte do mundo pretende varrer Israel da
face da Terra. Nada de novo portanto. Mas uma outra parte do mundo de que fazem
parte países como Espanha ou a Noruega e dirigentes como muitos socialistas
portugueses com o seu apelo ao reconhecimento sem condições do estado da
Palestina preparam-se e preparam-nos para deixar cair um dos nossos. Ou
metaforicamente falando para o fazer seguir a caminho de Teerão como se
equacionou fazer com Reza Pahlavi.
Por
outras palavras, em 2024, Ucrânia? Israel – qual pode suceder ao Xá como o
antigo aliado que se deixa cair?
TERRORISMO MUNDO ISRAEL MÉDIO ORIENTE GUERRA NA
UCRÂNIA UCRÂNIA EUROPA
COMENTÁRIOS (de 82)
Américo Silva: Uma crónica de fazer chorar as
pedras da calçada, e quantos matou o Xá até chegar aos Açores? Rui Lima: Hoje os nossos líderes e elites
para acalmar o mundo muçulmano estão-lhe entregando a Europa a prestações. Para se sentirem em casa e
serem numerosos, há subsídios públicos para associações que resgatam
clandestinos no mar, logo que a fronteira seja atravessada, mesmo que seja
irregular, obtém uma autorização de residência, um subsídio social e
alojamento, recentemente alargou-se o benefício judicial aos ilegais . Para ajudar a nossa
substituição quem não aceita o fim, da sua civilização é insultado como
xenófobo . Fernando
CE: Não gostei do seu artigo. Algo confuso. Que chamar à invasão do Iraque
pelos EUA sob o pretexto da existência de armas de destruição maciça? E outros
comportamentos dos EUA muito censuráveis por esse mundo fora? Qual o
comportamento dos Democratas durante a guerra do Vietnam? MCMCA A
> Maria Tubucci: Ora nem mais. Aliás o Xá caiu
por obra das five sisters Rui
Lima > Américo Silva: Sabia que
havia um partido comunista forte no Irão, aliado com o Khomeini derrubaram o Xá
,depois todos esses comunistas foram eliminados o Xá era um pacifista quando
comparado com o actual poder que mata mulheres por elas mostrarem os seus
cabelos . Por aqui, comparar a situação da Ucrânia e de Israel não faz qualquer
sentido. Zelenskyy não é Netanyahu que luta pela sobrevivência política e não
pelo povo de Israel. Diz-se A síndroma José
Roque: Israel é
"um dos nossos"??! Só se for dos seus... Jorge
Tavares > Américo Silva: Você está a perguntar isso por whataboutismo?
Diga você que vítimas houve. Seguramente são menos do as do actual regime do
Irão - o regime com o maior número de execuções anuais. Jorge Pereira: Muito interessante analogia. E os EUA são peritos em fazer cair países aliados.
Em todo o caso, os judeus têm algum poder nos EUA, por isso não será
provável, na minha opinião, enquanto o conseguirem manter. Mas isso
seria o fim da única democracia no médio oriente. E as trevas totais na região.
Sobretudo para as mulheres. Maria Tubucci: Hoje vou ser contracorrente Sra. HM. Os EUA não vão
deixar cair ninguém, pois não estão a morrer americanos nem na Ucrânia nem em
Israel e a sua indústria da defesa está a bombar, e irá bombar ainda mais
porque a idiota da Europa entregou a sua defesa aos EUA. Vamos ser realistas,
cínicos, mais forte que as convicções é o poder do dinheiro. Carlos
Chaves: Cara
Helena Matos, obrigado por nos ter trazido à memória estes acontecimentos/comportamentos dos longínquos anos 80 e extrapolá-los para a
época actual! Sempre a esquerda do lado errado da história, hoje ainda por cima
contam com uma manada de idiotas úteis, saídos das suas madraças woke, com
ideias incompatíveis à vida saudável em sociedade! Verdadeiros apoiantes do
terrorismo! Malditos sejam! Vitor
Batista > José Roque: O hamas é dos seus, aposto. José
Carvalho: Bem lembrado,
Helena Matos! No fundo, somos todos egoístas. Somos generosos para ajudar a
apagar o fogo em casa do vizinho mas, se o fogo não se apaga, um a um vamos
desistindo sorrateiramente. E os políticos, dependentes da opinião pública para
as suas carreiras, entregam a alma ao diabo!
Maria Tubucci > Vasco Esteves: A união interesseira entre
islão+esquerda para destruir o ocidente é muito perigosa. No dia em que o islão
esteja em maioria a esquerda será a 1ª a ser eliminada, não querem
concorrência, tal como aconteceu aos comunas do Irão. António
Soares: Os nossos "heróis" da Abrilada, também deixaram cair os nativos
de África que nas ex colónias combateram ao lado nos nossos soldados e que não
poucas vezes salvaram a pele aos "Capitães" que vieram a ser de Abril. Traidores do mais reles, que
a História conheceu. Vitor
Batista > Américo Silva: Pois pois...e quantos já
matou o regime absurdo e selvagem do Irão? José
Paulo C Castro: Ou muito me engano ou foi dado abrigo a Zelensky logo nas primeiras horas
da invasão. Ele é que não quis... Mas nós temos um caso parecido em 80 e anos seguintes.
Camarate. Não há reféns mas há desculpas e relatórios intermináveis e
peritos americanos e deputados nacionais, tudo a jurar a pés juntos que não
havia bomba nenhuma. Por acaso, estava aos pés juntos do piloto. Dizem que
havia Irão na história oculta, mas de outra forma. José B
Dias: Nada de novo nos
comportamentos passados, presentes e futuros do Grande Irmão norte-americano!
Mas parabéns à autora por
corajosamente relembrar o que tantos preferem não ver ... Muito bem. Tem toda a
razão quando escreve que em Portugal, entre outros países ocidentais, os
socialistas querem "deixar cair um dos nossos", Israel. E, acrescento
eu, atraiçoarem assim toda a civilização ocidental, humanista e democrática.
Sim, meço bem a palavra, traidores. Tim do A
> bento guerra: Israel não se rende, mesmo
sacrificando os 120 reféns. E eu aplaudo, alguém tem de ter princípios José
Paulo C Castro > Liberales Semper Erexitque: O actual território da Ucrânia
é um misto de partes do império lituano-polaco (o mais permanente na zona),
depois húngaro, só depois parcialmente russo e sempre dos antigos tártaros, nas
zonas agora sob ocupação. Estes últimos, subjugados por Catarina e depois
expulsos por Estaline, são efectivamente algo que pode ser considerado 'russo'
por conquista. Os outros, não. Seja como for, passado seja passado, em
1990-94 houve referendos para definir um novo Estado e foi reconhecido como
tal. É este o ponto. O problema destas coisas é haver sempre um antigo cabo
do exército imperial que não estava sentado à mesa e tem ideias de grandeza.
Foi assim em 1937 a 1939. Repetiu-se em 2014 e 2022. Antonio
Rodrigues: Muito bem lembrado. A única lição da história é que nunca se aprende com
as lições da história. Liberales
Semper Erexitque: A Ucrânia nunca foi nossa "aliada". Nem mesmo é um país
ocidental, é muito mais russa do que ocidental. Nem mesmo é um país, é um
Estado falhado, criado pelos russos não para ser independente, mas para gerirem
o seu Império, o soviético que sucedeu ao czarista. Nada devemos à Ucrânia
fascista, e estamos a arriscar a pele por causa dela. Que caiam os fascistas,
obviamente. L Faria:
É sempre a
escumalha esquerdista que deixa cair os seus aliados. A falta de escrúpulos é
uma característica de qualquer esquerdista. Na hora da verdade a falta de
caráter dum esquerdista aparece. Francisco Assis diz-vos alguma coisa? Há
alguma dúvida que com Trump o Hamas e Hezbollah pensavam duas vezes antes de
atacar Israel? Trump pode ser doido mas fala a única linguagem que estes
fdpppppp fundamentalistas islâmicos percebem. José B
Dias > João Ramos: Já a de um presidente que
parece já nem saber onde está ou o que é suposto fazer ... totalmente
previsível Liberales
Semper Erexitque > L Faria: Trump é muito melhor governante do que o Brandão.
Infelizmente, tem apetites dictatoriais. Só que os americanos chegam para ele. Vasco
Esteves > Maria Tubucci: Certíssimo . Ninguém vai deixar
cair Israel. Antes disso irão ser destruídos quase todos os terroristas
Palestinianos . O quase é que é pena. Estes comunas infiltrados no ocidente são
a maior praga que temos de exterminar. Lino
Oliveira: Por vezes o que mais me confunde são os comentários. Concordo, isso sim, com o texto
de Rui Lima. Será que estou enganado quando vejo no texto de HM a preocupação dos EUA
não serem de confiança por parte dos seus "aliados"? Ocorre-me o
uso de Savimbi pelos americanos enquanto ia negociando com o MPLA e depois o
deu à morte por já não lhes fazer falta. GateKeeper > Américo Silva:
Para além de red-sub xuxú, também
demonstra uma "ignorância" demasiado manipuladora. Só cai, só come
esta palha quem quiser. Jorge Pereira
> Rui Lima:
Tem razão, a vergonha e a traição são
para os nossos lideres e elite, socialista, preciso. Abilio Silva: O regime do Irão atacou (ou
fechou os olhos) à Embaixada Americana porque o habitante da Casa Branca na
altura era um fracote e incompetente. Uma hora antes de o novo Presidente
Ronald Reagan tomar posse, os reféns foram libertados. Também o ditador de Moscovo
atacou a Ucrânia porque pensava que o Presidente Ucraniano era um fracote e
palhaço. Enganou-se, meteu-se numa alhada e agora nem sabe como sair dela. O
Presidente Reagan metia respeito aos adversários. Já agora lembro que Ele
recebeu na Casa Branca o nosso grande Carlos Lopes depois da célebre maratona.
A única nódoa negra foi a história patética da ajuda aos “contras”. Barry Seal
um piloto que transportava armas para a Nicarágua por conta da Cia e no retorno
carregava droga para Usa por conta de Pablo Escobar afirmou num livro que os
“contras” recebiam as armas, não para combater mas para vendê-las no mercado
negro para terem dinheiro para comer. Quanto à guerra entre Israel e Hamas é um
caso à parte. Na minha perspetiva Israel devia concentrar-se nos grandes chefes
e deixar a arraia-miúda para segundo plano. Liberales
Semper Erexitque > José Paulo C Castro: Meu caro, olhe que você não
merece aquilo que faz aqui a si próprio, aparecer a confundir Putin com Hitler.
Quem não conhecer a sua participação no Observador, ficará a pensar que se
trata de mais um tarado. E já há tantos por aqui... António Dias: Excelente e pedagógica análise Quanto mais conhecemos
o ser humano mais gosto de cães
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