Na subordinação da política externa à política interna de cada país,
segundo as demonstrações claras e certeiras de JAIME NOGUEIRA PINTO. E enquanto
uns lutam a sério, na defesa do seu terreno e do nosso, outros dialogam, em
entrevistas, mais ou menos atropeladas, a buscar, naturalmente, o seu próximo aconchego
europeu, como JAIME NOGUEIRA PINTO vai desbravando e descodificando,
magistralmente, como de costume…
O que está em jogo
O sentido de voto de 9 de Junho deve
ter em conta os custos ocultos e manifestos de um federalismo europeu cada vez
mais ideológico e invasivo.
JAIME NOGUEIRA
PINTO Colunista do Observador
OBSERVADOR, 01 jun. 2024, 00:1879
O que é que está em jogo nas eleições
europeias? A tradição das áreas
dependentes é subordinar a política externa à política interna, sem medir,
regra geral, as consequências. Assim, para atacar o partido rival, no caso o Rassemblement National de Marine Le Pen e Jordan Bardella, Macron
teve a peregrina ideia de equacionar uma ida de tropas francesas para a
Ucrânia. Uma Terceira Guerra Mundial? Que importa? A jogada estava feita.
Agora, para assegurar a sobrevivência
e a hegemonia e à falta de propostas que motivem o eleitorado, a
Esquerda e o Centrão resolveram incendiar os ânimos contra aquilo a que chamam
“uma vitória da Extrema-Direita”
a 9 de Junho. Talvez haja
apenas uma subida mais ou menos significativa dos Conservadores e Reformistas
Europeus e do Identidade e Democracia, mas o importante é esbater diferenças,
arranjar em bloco um papão e subir as expectativas para depois poder cantar
vitória relativa.
Ao contrário de outros grupos ou
identidades partidárias, como os socialistas ou mesmo como o PPE, o papão, a direita nacional, conservadora ou
popular, tem uma identidade histórica e cultural que respeita e privilegia, e
que a obriga a conviver na diferença ou nas diferenças nacionais, ainda que
tenha causas comuns.
Valores e contra-valores
A primeira das
causas comuns às direitas, e a estas direitas, é a defesa da independência, da soberania
e da identidade nacional; a defesa da comunidade concreta contra o globalismo,
o federalismo e o multiculturalismo, espaços aparentemente livres e generosos,
mas especialmente permeáveis à lei do mais forte, à atomização indiferenciada e
ao livre arbítrio de certas mãos invisíveis. E como causa e consequência dessa defesa,
estas direitas privilegiam o voto
popular e as escolhas dos seus povos em relação ao poder não eleito da Comissão
Europeia e de outras instituições da UE. Ora isto não
devia ser automaticamente etiquetado de populismo. Mas é.
Um ponto decisivo dessa independência é o direito ao controlo da imigração e o
combate ao laxismo migratório que leva à guetização e instrumentalização de
imigrantes não integrados, comprometendo a identidade a longo prazo e a
segurança a curto prazo e das comunidades de acolhimento – e das comunidades
imigradas. Analisar e julgar a questão da segurança não só em
termos de imigração descontrolada, mas também em termos de imigração
descontrolada, não devia ser apressadamente rotulado como xenofobia, racismo e
discriminação. Mas é.
Do mesmo modo, querer analisar e
avaliar racional e objectivamente as metas definidas de cima com vista a um “Planeta Verde”, levando
em conta o seu custo, nomeadamente para os agricultores europeus, não devia ser
logo considerado negacionismo. Mas é.
Finalmente, opor-se ao que a Comissão
tem vindo a apresentar como decorrente de “novos valores europeus” – a
estéril contrição em relação a um passado superficialmente julgado e condenado
a partir do presente; a beatificação de algumas vítimas e a institucionalização
da vitimização; a detecção de micro-ofensas e a vigilância do “racismo
induzido” e do “preconceito inconsciente” que move micro e macro ofensores; a
identificação diária de novas “fobias” ditadas por grupos de pressão; o combate
ao “determinismo biológico” – não devia
ser considerado levianamente tradicionalismo bacoco e obstrução ao “progresso”.
Mas é.
E a defesa da independência nacional e das comunidades concretas, a
atenção aos perigos do globalismo e ao voto popular, a regulação da imigração,
a valorização racional da tradição e do passado, a moderação local dos exageros
verdes europeus e a resistência aos delírios transhumanos e hedonistas da
utopia arco-íris deviam ser preocupações de todos. Mas não são. São coisas de
que, por serem defendidas pela da diabolizada “extrema direita”, o Centrão foge
a sete pés, não vá ser considerado populista, xenófobo, racista, homofóbico,
transfóbico e anti-progressista.
Admirável novo mundo?
A
ordem internacional liberal derivou da preocupação euroamericana de impor os
seus valores político-ideológicos ao mundo. Era um programa que podia fazer sentido
no imediato pós-Guerra Fria, mas
que entrou em crise entre o macro-terrorismo jihadista e a crise financeira de
2007-2008. Vinha, no seu triunfalismo, de uma leitura ideológica
errada da vitória na Guerra Fria como uma vitória da democracia liberal
anglo-saxónica, a partir daí extensível a todo o globo. Este equívoco foi coberto por uma série
de teorias e obras de peso que contribuíram para essa leitura dos
acontecimentos. Contribuíram e contribuem.
Na verdade, a vitória do Eixo Washington-Londres-Nato, só foi possível por um
cerco à União Soviética em que também entraram Estados autoritários, como o
bloco das monarquias absolutas do Médio Oriente, e totalitários, como a China
de Pequim. Que não eram, não são, nem querem ser democracias liberais.
Este colapso da ordem liberal
internacional atingiu todos, os liberais e os iliberais. E se se
continuar a insistir na luta entre as democracias liberais, as democracias
iliberais e as autocracias, pode criar-se uma contraposição do tipo “the
West against the Rest”, muito pouco saudável para o Ocidente.
Sobretudo quando “o Oeste”, o
Ocidente, em vez de se institucionalizar e estruturar em torno da realidade (seja ela histórica, matemática ou
biológica) e de valores de
orientação permanente (como a pátria e as pátrias, as famílias, uma ética de
inspiração cristã, a liberdade), opta pelos postulados de um “progressismo” ideológico
acéfalo, assente numa amálgama de quimeras manipuladas por novas esquerdas
supostamente inclusivas mas que, definitivamente, procuram, não a inclusão
de quem quer que seja, mas a disrupção.
É
também isto que está em causa na eleição europeia, independentemente dos
aspectos mais ou menos convincentes, mais ou menos maduros ou imaturos dos
candidatos.
É preciso haver quem resista à vaga
que, sintomaticamente, a extrema-esquerda insiste em dizer que não sabe o que é
ou sequer se existe, mas que já cá chegou (e, como sempre, sob a forma de inquestionado inquestionável e
inconsequente “progresso”)… Vejam-se as declarações da Ministra da
Juventude e Modernização no passado dia 17 de Maio, Dia Internacional contra a Homofobia, a Transfobia e a Bifobia,
para um papel mais relevante da
diversidade de género no
ensino e para a agilização do circuito médico de mudança de sexo; ou o
compromisso assinado nesse mesmo dia pelo governo da Aliança Democrática,
juntamente com 17 outros Estados da União, no sentido de “implementar estratégias nacionais LGBTQIA+ e apoiar a
nomeação de um comissário para a Igualdade.” Sem dúvida, uma prioridade nacional – e europeia.
Assim, o sentido de voto de 9 de Junho deve ter em conta os custos
ocultos e manifestos de um federalismo europeu cada vez mais ideológico e
invasivo, com agendas de protecção a grupos especiais, reais ou imaginários, e
a redução à condição patológica (fóbica)
ou deplorável de uma maioria de opositores. A nação independente e soberana
continua a ser a comunidade ideal para proteger direitos, liberdades e
garantias, colectivos ou individuais. E é importante que a União Europeia não
continue a cair na tentação de querer ser mais do que uma comunidade de Nações.
O que já não é pouco.
ELEIÇÕES EUROPEIAS ELEIÇÕES POLÍTICA
COMENTÁRIOS (DE 79)
Isabel Almeida: superlativos, os textos de
Jaime Nogueira Pinto são dos melhores do Observador. Muito obrigada por tudo o
que aprendo em cada artigo. JORGE
PINTO: Excepcional! Deveria ser traduzido e
enviado para todas as chancelarias da UE. Outro problema é que o Ocidente wokezado não pode
exportar Liberdade, Democracia e os célebres Valores Ocidentais. O Ocidente
está a tornar-se portador, não desses Valores, mas de “cancelamentos”,
auto-punições históricas diversas, destruição da família, desvalorização do
Cristianismo, castração do empreendedorismo e perseguição dos negócios - sob o
manto de hipócrata pretensa superioridade moral, que mais não é do que um meio
para a esquerdofilia dominante sentir-se muito bondosa. Além disso, num plano mais
terra-a-terra, as recentes novas regras bancárias tornam praticamente
impossível a uma empresa PME de um país membro da UE iniciar actividade noutro
estado membro. Está a começar o fim do mercado único, a UE está economicamente
em “modo eutanásia”, mas o que importa são os quartos-de-banho para géneros
imaginários presentes e a inventar. António Costa e SilvaMiguel Trindade: Como Jaime Nogueira Pinto
disse, "André Ventura tem os defeitos e as qualidades necessárias para
fazer política hoje". João
Floriano > Novo Assinante: Nem wokismo, nem fascismo.
Ninguém está a falar de pena de morte, isso é invenção sua. A castração química
de pedófilos é aplicada em muitos países de primeiro mundo e quem a considera
um acto hediondo é porque defende mais os criminosos do que as vítimas. As
penas aplicadas são por vezes verdadeiras anedotas e um convite á continuação
do crime. A liberdade de expressão tem estado sob ataque com a preponderância
da extrema-esquerda e os lobbies lgbti+ infiltrados em todos os meios de
comunicação. Quer comentar a fake news da criança nepalesa que foi linchada? E
este é apenas um exemplo do envenenamento diário levado a cabo pelos meios de
comunicação a soldo. Madalena
Magalhães Colaço: Este artigo é o espelho da actual União Europeia moldada por Ursula e
Macron. Esta dupla foi incansável ao implementar "um federalismo europeu
cada vez mais ideológico e introsivo" retirando a cada estado nação a
pouca soberania que ainda lhe resta. Estão quase a atingir o objectivo, mas
os nossos concorrentes a deputados, pelo que se ouviu nos debates, pouco se
interessaram pelo tema, e tentam nos convencer que chegam ao parlamento europeu
e podem pôr e dispor. Paradoxalmente a esquerda ataca Ursula acusando-a de
se ligar a Melloni, como se esta fosse uma leprosa, parecendo ignorar que foi
esta mesma Ursula que defendeu a agenda da esquerda aqui bem explanada da utopia arco-íris. Melloni percebeu que a
estratégia de Orban, de se opor directamente à dupla, não funcionou. Ursula, com o poder de decidir
se dá ou não o dinheiro, como se fosse dela, entrou num braço de ferro com
Orban, em que ou ele deixava que a utopia arco-íris entrasse nas escolas ou não
recebia o dinheiro, e Orban não recebeu os fundos que a Hungria deveria ter
recebido. Melloni em lugar de enfrentar a dupla, decidiu falar com a dupla,
obtendo assim os fundos que precisava para estancar, nos próprios países de
origem, a imigração descontrolada. Melloni é pois um alvo a abater. Felizmente que são muitos os europeus a tomarem consciência do retrato que
aqui tão bem o JNP descreve, e vão votar contra esta deriva da União Europeia. A esquerda está aterrorizada
e julga que insultando-os de xenófobos, racistas e por aí adiante os conseguem
demover, mas tanto banalizaram estes rótulos que já ninguém liga. João Floriano: Parece que está TUDO em jogo.
Excelente crónica com um análise excelente do que é a Europa de hoje. Apenas
coloco reservas sobre «The West Against the Rest». A guerra da Ucrânia e a
guerra entre o Hamas e Israel não resultam de agressões vindas do Ocidente, se
bem que a extrema esquerda queira colocar as culpas na Europa , nos Estados
Unidos e na NATO. No caso ucraniano é a Rússia o país agressor e no caso de
Israel é o ataque de um grupo de terroristas patrocinado pelo Irão. Olhando
para a hostilidade de países como o Brasil, desejoso de assumir um papel de
destaque , não sei como poderá o Ocidente fugir ao papel que é forçado a
representar e onde é visto como o vilão da História. E o mais grave não é ser
hostilizado por países como Rússia ou Irão. O mais grave é o ódio que partidos
europeus de extrema esquerda têm à democracia e ao Ocidente, estando
constantemente em campanha contra a UE, contra a NATO e contra os Estados
Unidos, mas simultaneamente tremendo de medo que a eleição de Trump deixe a
Europa à mercê de avanços russos, porque não se imagina que a Rússia fique
contente se apanhar a Ucrânia. Vai continuar a avançar para Ocidente e a exigir
cada vez mais. Não compreendo o interesse de partidos como Bloco e PCP
concorrerem ao PE, já que tanto detestam a instituição. Carlos Costa: Excelente artigo, como aliás,
vem brindando os leitores deste jornal. Não é fácil encontrar uma pessoa com a sua preferência
política, escrever ou falar com uma isenção que mete respeito. Este senhor não
mistura o seu povo em nome da sua facção partidária. Meu senhor, V. Exa. é um hino à
democracia em Portugal,, um exemplo de como uma pessoa influente na sociedade
portuguesa deve ser é estar com o seu povo, ao contrário de muitos que por
nesse país proliferam. Obrigado por isso. 👍 Tim do A > Miguel Trindade: O CDS pertence à AD
completamente Woke e socialista.
bento guerra: Demasiado tarde para os países
que pedincham a Bruxelas e são muitos
João Ramos: Como sempre JNP nos traz a clarificação sobre as tentativas de encobrimento
da realidade e dos perigos que a nossa civilização está a correr, quanto ao que
se passa com a suposta direita que supostamente nos governa, é bom não esquecer
duas coisas, Montenegro é maçon o que obriga a certas “obediências” e a outra é
que o PSD é a casa dos complexados de esquerda, daí as disfarçadas cedências
aos wokismos que a única coisa que querem é enfraquecer o Ocidente…
Nenhum comentário:
Postar um comentário