Era o Luís Piçarra que cantava, nos meus anos juvenis, outras vozes o fizeram, posteriormente,
é sempre bela a canção. Tal como é sempre especial o cante alentejano, com as suas características específicas, que o
erigiu, leio na internet a data, em 27/11/2014 Património
Cultural Imaterial da Humanidade.
Eis a canção que recordo, com o carinho que o projecto de eleição de Évora como quarta capital portuguesa da cultura, em 2027, que Hélder Sousa Silva se encarregou de divulgar - não deixando de estranhar, todavia, apesar do Templo de Diana em Évora, tão expressivo do passado romano, e da bizarra “Capela dos Ossos” - a omissão de Coimbra nesse capítulo, embora a sua Universidade, menos vetusta que o templo romano, todavia, (ainda que não do da capela), tenha sido galardoada com idêntico prémio de património Mundial da Humanidade, pela UNESCO, em 2013. Mas Coimbra tem longa tradição, não só no destaque dos seus maiorais, escritores do “In illo tempore” como nos seus cantores de tradição, com destaque para a especificidade do seu “fado”. Todavia, é Évora a próxima eleita merecida, a “questão coimbrã” foi apenas um aparte talvez desajeitado, talvez ternurento. Eis, pois, a canção saudosista de Luís Piçarra, que nós costumávamos cantar, em tempos idos, e que nos diz traços da vivência antiga alentejana, que Cesário Verde igualmente retratou com realismo no seu poema “NÓS”:
Eu não sei que tenho em Évora
Que, de Évora, me estou lembrando
Em chegando ao rio Tejo
As ondas me vão levando
Abalei do Alentejo
Olhei para trás chorando
Alentejo da minh'alma
Tão longe, me vais ficando
Ceifeira que andas à calma
À calma, ceifando o trigo
Ceifa as penas da minh'alma
Ceifa-as e leva-as contigo
Abalei do Alentejo….
Évora 2027: “Devagar se vai ao ”longe”
Embora nós, portugueses, sejamos conhecidos pela tendência para
adiar decisões, também somos reconhecidos pela nossa capacidade para
transformar pressão em resultados de excelência.
HÉLDER SOUSA SILVA Eurodeputado do PSD/PPE
OBSERVADOR, 22 jan. 2025, 00:14
A iniciativa Capitais
Europeias da Cultura, criada em 1985, sob a égide de Melina
Mercouri, Ministra
da Cultura da Grécia, tem desempenhado um papel transformador
no panorama cultural europeu. Este
programa, que visa promover o património cultural e fomentar o desenvolvimento
social e económico das cidades galardoadas, atribui-lhes a grande
responsabilidade de demonstrar o papel da cultura enquanto catalisador de
desenvolvimento sustentável. A Cultura tem um potencial económico,
turístico e social e é um factor diferenciador da atractividade territorial.
Depois de Lisboa (1994), Porto
(2001) e Guimarães
(2012), agora é a vez de Évora assumir
este desafio, tornando-se a quarta cidade
portuguesa a receber este título, em 2027.
A caminhada de Évora rumo a 2027 tem
sido marcada por desafios, mas também pela resiliência e dedicação das
entidades envolvidas. Neste
sentido, as minhas reuniões com a Senhora Ministra da Cultura, com o Presidente
da Câmara Municipal de Évora e com a Direção da Associação Évora 2027, no final
do ano de 2024, permitiram-me confirmar o empenho e a determinação de todas as
partes em concretizar o Bidbook (o documento estruturante da candidatura)
e em assegurar que os objetivos propostos serão atingidos com qualidade e
rigor.
Embora nós, portugueses, sejamos conhecidos pela tendência para
adiar decisões, também somos reconhecidos pela nossa capacidade para
transformar pressão em resultados de excelência. Esta característica,
tão específica do panorama nacional, reflecte-se no provérbio popular “Devagar, que temos pressa!”, o
qual remete para a disciplina militar, particularmente em situações onde a
pressa era um risco, mas a acção rápida, precisa e bem executada era
fundamental. Salvo melhor opinião, este provérbio aplica-se ao
caso de Évora 2027.
O tema identitário do programa Évora
2027, “Vagar”, manifesta de forma exemplar a essência cultural do Alentejo.
Este conceito, que transcende a mera
ideia de lentidão, reflecte uma filosofia de vida que privilegia a reflexão, a
contemplação e o tempo necessário para criar, apreciar e conectar,
indissociável da criação e produção artística e cultural de excelência. Numa
era marcada pelo imediatismo, o conceito do “Vagar” propõe um regresso ao tempo
próprio das coisas do humano, dos ciclos da natureza e da lonjura da planície,
onde a qualidade prevalece sobre a velocidade, um lugar de encontro e de
construção de novos equilíbrios. Este
princípio irá orientar as iniciativas culturais do programa, bem como a visão
estratégica de Évora
enquanto Capital Europeia da Cultura, conciliando a valorização da tradição, e do rico património cultural
material e imaterial de Évora e do Alentejo, com a abertura à inovação.
No passado dia 15 de janeiro,
tive a oportunidade de participar numa reunião com Marie Imbert, Team Leader da
Coordenação das Capitais Europeias da Cultura na Comissão Europeia, e Sylvain
Pasqua, seu antecessor. Na reunião tive a oportunidade de confirmar o
firme compromisso da Comissão Europeia com este projecto, pois, reconhecem que
a concretização do mesmo é de extrema relevância para Évora, para o Alentejo,
para Portugal e para a própria União Europeia.
Com a colaboração estreita entre as entidades locais, nacionais e
europeias, cumpriremos o desígnio referido no preâmbulo do diploma que criou a
Associação Évora_2027: “A designação como Capital Europeia da Cultura em 2027
constitui uma oportunidade para a cidade de Évora e a região do Alentejo
alcançarem um novo patamar de desenvolvimento cultural, social, económico e
turístico, nomeadamente através da valorização
da qualidade da vida urbana, qualificação do espaço público e patrimonial e da
consolidação de uma oferta cultural e artística inovadora e criativa, da
densificação do sector cultural, da promoção e valorização turística da cidade
e da região e de projecção para a Europa e para o Mundo.”
Com o “Vagar” como fio condutor e o esforço conjunto de todos os
intervenientes, Évora 2027
representa muito mais do que um título honorífico. É uma oportunidade de projectar a cidade e o Alentejo no contexto
europeu, demonstrando o poder transformador da cultura enquanto alavanca de
desenvolvimento. Este é o momento de virar a página, de olhar para o
futuro e de trabalhar para que este legado perdure para além de 2027, valorizando o passado glorioso e lançando
as bases para um futuro mais sustentável, aumentando a atractividade
territorial da região.
A todos os Eborenses deixo uma
mensagem final de parabéns pela distinção recebida e de confiança no excelente
desempenho que presenciei de todas as partes envolvidas: Associação Évora_2027, Autarquia, Governo e Comissão
Europeia; para que
sejam alcançados os objectivos propostos.
Como bem nos ensina a sabedoria popular: “devagar se vai ao longe!”
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