O mesmo que sucedeu, que tem sucedido, desde que, por alturas das
descolonizações, para remendar os rasgões que tanto se fizeram sentir também logo
no ensino, com a descompressão das idiotias provocadas pela instabilidade e
permissividade imediatamente consentidas, na desordem surgida, de exigências e reivindicações
– estas, sim, como escola da nossa autenticidade de esperteza bacoca onde a
honestidade intelectual mal conta, a favor da facilidade e do empolamento
reivindicativo, sobretudo salarial, que nunca mais parou, a multiplicação
partidária própria da democracia, apenas vigorando no desrespeito pelo “outro”,
mal esse tome as rédeas do poder … enfim… não, não cremos em melhoria ao nível
escolar, como o comprovam e continuarão a comprovar os resultados internacionais
referidos no texto do Professor PAULO J. ALVES DA CUNHA, justamente
preocupado, entre os poucos que vão tentando fazer progredir, contra a
resistência imbecil dos refractários à ordem e ao saber. Muitas vezes o disse
em escritos que publiquei, e continuo a “batalhar” através de um blog em que
quis ser uma voz de repúdio – mas também de apoio e regozijo pelo bom que ainda
se ergue, num meio da muita mediocridade alardeada. O amor por este breve
terreno onde fizemos história sobrepõe-se, contudo, à tristeza de um
reconhecimento de falhanço, que nos está nos genes. Não, não cremos em milagres.
E
agora, escolas, em 2025 o que se segue?
O tempo dos
experimentalismos, facilitismos e contemplações no sistema educativo já
lá vai. Não poderá continuar! Estamos a hipotecar sucessivas gerações.
PAULO J. ALVES DA
CUNHA Professor do 3.º Ciclo e do Secundário; Investigador no CEPESE
OBSERVADOR, 01 jan. 2025, 00:132
Com as escolas
inegavelmente mais pacificadas, e com uma complexa revisão do ECD – Estatuto da
Carreira Docente em cima da mesa, em 2025 o que se segue?
Se é verdade que a classe docente começou a sentir uma recuperação da sua
dignidade, não é menos verdade que a Educação, e a Escola Pública em
particular, continuam mergulhados numa série de problemas que se foram cristalizando
com o tempo e que os sucessivos Governos nunca conseguiram, ou quiseram de
facto, resolver. Os constrangimentos tornaram-se estruturais e de cada vez mais
difícil resolução. A carência de professores é um dos exemplos visíveis que, só
recentemente, todos reconheceram.
Aqui
chegados, habemus revisão do ECD. Rever a “bíblia” que
determina praticamente toda uma vida profissional de largos milhares de
professores é, no mínimo, uma tremenda ousadia. Reconheçamos isso. Todavia,
remexer nos inúmeros dogmas que foram sendo incrustados pelo tempo, mas também
pela inércia e até receios dos decisores, é uma caixa de pandora que só o
futuro nos dirá se valeu a pena reabrir.
Até hoje, alguns representantes dos professores que, na verdade, sempre
estiveram contra quase tudo, advogam o impossível. Rever toda uma carreira (e
tudo o que isso implica) num ápice, pois os calendários internos dos partidos
que os alimentam (e vice-versa) assim o determina. E a tão defendida Escola Pública? Calma, isso é para abrir os noticiários. Por agora há que manter a máquina.
Mas olhemos
para o essencial: o que poderá, ou não, mudar na Educação.
Uns dirão que tudo ficará na mesma. Outros optaram por arrancar mais cedo e
estão já a rufar os tambores da luta e a apontar baterias ao Governo, mesmo
desconhecendo o que, em bom rigor, será proposto para se legislar.
No entretanto,
vai-se alimentando a onda contestatária nos inúmeros grupos de professores de
WhatsApp e nas redes sociais. Na crista da onda, surge um assumido candidato à Presidência
da República que não deixará de aproveitar este palco muito mediático, no qual
outrora já foi protagonista e alegadamente apartidário.
E, no turbilhão negocial e político-sindical que certamente se adensará ao
longo de 2025, alguns, porventura banhados pelas correntes da sensatez,
aproveitarão a onda da negociação para tentar alterar efectivamente algo para
melhor. Bom… dir-me-ão que o que será melhor para uns, poderá
não ser melhor para outros. É verdade. Mas será que não estará mais do que na
hora de deixar definitivamente as ideologias e agendas paralelas para trás e
olhar de frente para os muitos elefantes que se foram instalando no seio das
escolas em Portugal?
Perdoem-me os leitores mais sensíveis: mas que raio,
estamos à espera do quê?
O histórico está
mais do que registado, dito e sabido. Os resultados internacionais
catastróficos, que deveriam envergonhar quem nos governou, já não poderão mais
ser escondidos ou omitidos. São maus demais para nada se fazer!
Andamos a brincar às escolinhas e ao faz de conta. O importante sempre foram as
estatísticas, enquanto se foram transitando de ano muitos alunos sem os devidos
conhecimentos e competências que seriam exigíveis num país decente.
Fora da equação, vão ficando tantos outros intervenientes no processo
educativo. E não podem ficar esquecidos de todo. A escola precisa de todos os
profissionais da educação, até porque a urgência de dar respostas aos milhares
de alunos migrantes, sobretudo os que não dominam a nossa língua, carecem de
respostas educativas repensadas, adaptadas e verdadeiramente integradas.
Inclusão não é abandonar um aluno que nada compreende da nossa língua à sua
sorte e sem apoios e, no final do ano, escrever na pauta que transitou de ano.
É preciso uma
espécie de reset educativo. A Educação e o futuro do país assim o
exigem.
O tempo dos experimentalismos, facilitismos e
contemplações no sistema educativo já lá vai. Não poderá continuar! Estamos a
hipotecar sucessivas gerações.
Será que é nesta
oportunidade que teremos capacidade para alterar o mal-amado modelo de
avaliação docente? E o modelo de gestão das nossas escolas, incluindo o modelo de
eleição dos nossos directores? Haverá coragem para debatermos sem tabus e
podermos apontar novas soluções?
Reconhecemos que
existe uma lista quase infindável de constrangimentos que afectam o quotidiano
das nossas escolas. Todos sabemos que a leccionação,
a formação, a educação das nossas crianças e jovens passou, não raras vezes,
para último plano, dada a emergência constante de procedimentos burocráticos
que, em bom rigor, pouco ou nada contribuíram para a melhoria dos processos de
ensino e de aprendizagem. Mas vamos andando, à boa moda portuguesa.
Nesta parafernália de grelhas,
documentos e e-mails com nos mergulham noite dentro, até muito para além da
nossa jornada de trabalho, importará nunca deixarmos de ter presente o que
verdadeiramente somos: antes de tudo o resto, somos professores, somos
pessoas e também temos filhos. Mas teimamos em alimentar
o monstro burocrático. As lideranças temem simplificar o sistema
instalado com receio que falte sempre algum documento (dita evidência) para
essa espécie de lobo mau, ou desculpa fácil, que é a inspeção. Por isso, a ordem terá de emanar necessariamente da
tutela ou o pesadelo perpetua-se.
Ora, numa altura em que já se escutam vozes que apontam para uma carreira
autónoma dos directores escolares, talvez também seja a altura de pensarmos se
será realmente isso que a Escola necessita. E, já agora, num outro plano,
questionarmo-nos se não será então o momento de debatermos serenamente outro
modelo de eleição dos nossos directores, sem esquecermos a própria composição e
competências dos Conselhos Gerais.
A meu ver, e
mesmo sabendo que há quem naturalmente defenda o contrário, não será
despropositado voltamos a equacionar o modelo colegial que já existiu no
passado ou na criação de um modelo alternativo híbrido. Em todo o caso,
importará ter sempre em linha de conta que o cerne de todo o
sistema deverá contemplar sempre os docentes, ou seja, atribuindo-lhes um maior
peso em todo o processo decisório.
Os professores não poderão
voltar a ser arredados do processo de escolha directa de quem os vai gerir. Pelo contrário, os docentes
deverão voltar a adquirir o sentimento de pertença da sua escola enquanto
organização, revendo-se nas decisões (preferencialmente colegiais), nos
procedimentos, nas estratégias, enfim, para que se revejam no seu Projecto Educativo
e que este não seja somente mais um documento arquivado algures na página web
da escola.
Importará ter a
coragem de retirar o peso político que se sente em muitas das nossas escolas
(através, por exemplo, do Conselho Geral), atribuindo uma maior capacidade de
decisão aos pares, ou seja, aos professores. Ora, se é verdade que existem
escolas onde nada disto é problema e devemos reconhecer a muita competência,
profissionalismo e até humanidade dos seus directores, não poderemos igualmente
ignorar que (sobretudo) nas comunidades
mais pequenas constata-se uma clara
intromissão do Poder Autárquico (e não importa aqui a cor política) sobre a
gestão quotidiana das nossas escolas. Pior
ainda, e há que dizê-lo com frontalidade, não é raro observamos ingerências
externas que acabam por se reflectir nas dinâmicas de cariz pedagógico,
ultrapassando a autonomia pedagógica de cada docente.
Esta autonomia docente é a alma de um professor; é
aquilo que o define; é o que marca a personalidade dos nossos alunos e é aquilo
que nunca poderemos deixar que nos roubem. É quase sagrado. Se o permitirmos, corremos o sério risco de deixarmos
de ser definitivamente professores, para nos assumirmos como meros executantes
tecnocratas.
É preciso
regulamentar os horários de trabalho, de modo a evitar abusos sob o argumento
da autonomia, garantindo uma uniformização das reduções de horário (verdadeiras
e sem outras tarefas e alunos atribuídos). É urgente um verdadeiro
simplex-burocrático e é fundamental que se acabe com a cultura do facilitismo
que tomou conta dos nossos alunos, com escolas vizinhas a competirem entre si
pelas melhores médias (empoladas e sem aprendizagens de facto).
De facilitismos, com papéis e
grelhas para “inglês ver” estamos todos fartos e, pior que isso, só avolumaram
várias gerações de cidadãos profundamente desiguais. Uns atingem a excelência
porque têm essas capacidades inatas e tiram mais partido da panóplia de
ferramentas e de conhecimentos que hoje estão acessíveis; outros (eu diria a
maioria) chegam ao ensino superior sem dominar verdadeiramente a nossa língua,
com imensas dificuldades de interpretação, de leitura e de escrita e, há que
dizê-lo, viciados nas respostas coladas de um trabalho copiado algures da net. Sim, o plágio está instalado por toda a parte e começa nos mais jovens. Os pais, involuntariamente e na expectativa
de ajudar os filhos num determinado trabalho, acabam eles próprios por fomentar
este flagelo que poucos ousam denunciar.
É mesmo
imprescindível um reset educativo, embora sem
deixarmos de reconhecer que a “pandemia” da falta de professores vai deixar
lastro e não se resolverá num futuro próximo. Vai levar
tempo. Talvez largos anos. E, também por isso, deveria envolver mais
forças partidárias e até a sociedade civil, na medida em que a formação inicial
de professores por um lado, aliada à valorização profissional dos que já estão
ao serviço da Educação, por outro, deveriam ser um desígnio nacional de
médio-longo prazo.
Enquanto nação,
somos capazes disso e já o demonstrámos ao longo da História. Cada um que
assuma as suas responsabilidades e deixe de olhar, apenas, para o seu quintal.
O país real,
o mercado de trabalho, as organizações empresariais e os mercados
internacionais, todos eles progressivamente mais competitivos assim o
determinam.
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