O que se estranha também, embora se não devesse, é a arrogância de um
privilegiado fabricante de histórias faustosas de conquista de território
nacional, não pelo poder das armas como o faz exemplarmente Putin e os seus
vassalos - pela força das armas e das vidas que se desprezam - tanto as dos
estrangeiros que se pretende vencer, como as dos nacionais que se pretende
monopolizar como carne para canhão, embora alguns se medalhem, a seguir, com a
unção solene do cinismo. Para servirem de exemplo. Sempre foi assim, de resto,
ao longo dos tempos. Não, não se deve estranhar isso. Assim se formaram as
nações, pela invasão e conquista, onde vencerá o que tiver mais força, ou sorte,
ou sequer astúcia. Mesmo sem as medalhas, de que se não falava ainda, parece
que o cinismo veio depois.
Mas a compra de territórios consagrados no mapa terreno é uma espécie
de escarro lançado sobre o mapa histórico do desenho dos mundos. É disso que
trata o texto seguinte, de HENRIQUE NETO.
Educação, ou os perigos da ignorância
Não sei como a estratégia da dupla
Trump/Musk pode ser evitada no curto prazo, mas não tenho dúvida de que será
através da educação que esta e outras tentativas do extremismo global podem ser
vencidas
HENRIQUE NETO Empresário
OBSERVADOR, 13 jan. 2025, 00:1420
O debate em curso sobre a
grande influência global que a dupla Donald Trump e Elon Musk está a ter sobre os tradicionais valores
democráticos e os perigos decorrentes do sucesso do extremismo político,
corresponde a perigos reais, mas que não estão a ser bem compreendidos pela
generalidade dos analistas, da mesma forma que os dirigentes políticos europeus estão longe de vislumbrar as medidas que
possam contrariar os perigos decorrentes e esse é o maior perigo.
Tentarei demonstrar a questão com um
exemplo: uma
parte da opinião pública e a generalidade dos dirigentes políticos, como eu
próprio, consideraram as declarações de Trump sobre a Groenlândia, o Panamá e o
Canadá como risíveis, mas estávamos todos enganados, o que só compreendi quando vi
na televisão algumas populações da Groenlândia a apoiar as ideias de Trump. Ou
seja, a unidade entre o poder político, económico e militar de Trump
e os meios de comunicação e de propaganda de Elon Musk, entre outros, não têm como meio o uso da
força, mas a tentativa de usar em outras regiões do globo o que acabaram de
conseguir ao ganharem as eleições nos Estados Unidos: a oratória e alguma violência verbal, um
modelo de espectáculo visualmente credível e um mixe de ideias, tanto
verdadeiras como falsas, mas ideias capazes de corresponder às frustrações e
queixas dos sectores menos educados e mais marginalizados da sociedade. Foi
isso que deu a vitória nas eleições a Trump, que muitos de nós julgávamos
impensável.
Não sei o que pode acontecer no Canadá, mas no Panamá e na Groenlândia
não ficarei muito surpreendido se as populações perante a hipótese de uma vida
melhor com as promessas do poder norte americano, poderão não hesitar. Ou seja, salvo melhor opinião, corremos o risco de com
algumas verdades, meias-verdades e mentiras, a dupla Trump e Musk poder ganhar
a opinião de metade do globo. Porventura,
com a ajuda das políticas da extrema-direita e da extrema-esquerda europeia em
temas tais como a imigração, a segurança e o Wokismo, entre outras.
As aparentes tentativas de Elon Musk
de influenciar as eleições na Alemanha, como os ataques feitos ao
primeiro-ministro da Grã-Bretanha, fazem parte de uma estratégia que veremos
alargar-se nos próximos tempos. Partidos da extrema-direita,
europeus como o Chega e de outros pontos do Globo, serão, com maior ou menor
evidência, apoiantes agradecidos. E,
a propósito, Donald Trump precisa de conseguir uma rápida vitória pessoal na
obtenção da paz na Ucrânia, independentemente dos prejuízos causados ao povo
ucraniano e por duas razões: para mostrar à América e ao Mundo as
suas capacidades para resolver uma guerra onde todos falharam e, não menos
importante, fazer de Putin um aliado da sua estratégia. A China constitui uma diferente questão, porque
será, provavelmente, e por outras razões a maior oposição a Donald Trump.
Confesso que não sei como a estratégia
da dupla Trump/Musk pode ser evitada no curto prazo, mas não tenho dúvida de
que será através da educação que esta
e outras tentativas do extremismo global podem ser vencidas para sempre. Não a
educação como a conhecemos em Portugal, mas a educação como a defendo,
através da prioridade na educação das crianças nas creches e no pré-escolar e
com a adição da educação dos comportamentos e das competências, em ligação com
os habituais conhecimentos e em todo o sistema.
A educação
constitui igualmente a única solução para a pobreza a nível mundial e o meio de
evitar os excessos de imigração, seja como a via de reduzir o crescimento mundial
da população, além de tornar a democracia a escolha preferida dos povos. Finalmente, porque a educação melhora a
capacidade de criação de riqueza, nomeadamente o modelo de educação que
preconizo, com a inclusão da formação dos comportamentos e das competências a
partir da sua base natural que são as crianças. A que acrescento uma opinião
muito pessoal, que é a de evitar os vícios das ideologias no meio educativo.
EXTREMISMO SOCIEDADE REDES SOCIAIS INTERNET TECNOLOGIA
COMENTÁRIOS (de 20)
Nenhum comentário:
Postar um comentário