terça-feira, 14 de janeiro de 2025

O poder do dinheiro, em suma


O que se estranha também, embora se não devesse, é a arrogância de um privilegiado fabricante de histórias faustosas de conquista de território nacional, não pelo poder das armas como o faz exemplarmente Putin e os seus vassalos - pela força das armas e das vidas que se desprezam - tanto as dos estrangeiros que se pretende vencer, como as dos nacionais que se pretende monopolizar como carne para canhão, embora alguns se medalhem, a seguir, com a unção solene do cinismo. Para servirem de exemplo. Sempre foi assim, de resto, ao longo dos tempos. Não, não se deve estranhar isso. Assim se formaram as nações, pela invasão e conquista, onde vencerá o que tiver mais força, ou sorte, ou sequer astúcia. Mesmo sem as medalhas, de que se não falava ainda, parece que o cinismo veio depois.

Mas a compra de territórios consagrados no mapa terreno é uma espécie de escarro lançado sobre o mapa histórico do desenho dos mundos. É disso que trata o texto seguinte, de HENRIQUE NETO.

Educação, ou os perigos da ignorância

Não sei como a estratégia da dupla Trump/Musk pode ser evitada no curto prazo, mas não tenho dúvida de que será através da educação que esta e outras tentativas do extremismo global podem ser vencidas

HENRIQUE NETO Empresário

OBSERVADOR, 13 jan. 2025, 00:1420

O debate em curso sobre a grande influência global que a dupla Donald Trump e Elon Musk está a ter sobre os tradicionais valores democráticos e os perigos decorrentes do sucesso do extremismo político, corresponde a perigos reais, mas que não estão a ser bem compreendidos pela generalidade dos analistas, da mesma forma que os dirigentes políticos europeus estão longe de vislumbrar as medidas que possam contrariar os perigos decorrentes e esse é o maior perigo.

Tentarei demonstrar a questão com um exemplo: uma parte da opinião pública e a generalidade dos dirigentes políticos, como eu próprio, consideraram as declarações de Trump sobre a Groenlândia, o Panamá e o Canadá como risíveis, mas estávamos todos enganados, o que só compreendi quando vi na televisão algumas populações da Groenlândia a apoiar as ideias de Trump. Ou seja, a unidade entre o poder político, económico e militar de Trump e os meios de comunicação e de propaganda de Elon Musk, entre outros, não têm como meio o uso da força, mas a tentativa de usar em outras regiões do globo o que acabaram de conseguir ao ganharem as eleições nos Estados Unidos: a oratória e alguma violência verbal, um modelo de espectáculo visualmente credível e um mixe de ideias, tanto verdadeiras como falsas, mas ideias capazes de corresponder às frustrações e queixas dos sectores menos educados e mais marginalizados da sociedade. Foi isso que deu a vitória nas eleições a Trump, que muitos de nós julgávamos impensável.

Não sei o que pode acontecer no Canadá, mas no Panamá e na Groenlândia não ficarei muito surpreendido se as populações perante a hipótese de uma vida melhor com as promessas do poder norte americano, poderão não hesitar. Ou seja, salvo melhor opinião, corremos o risco de com algumas verdades, meias-verdades e mentiras, a dupla Trump e Musk poder ganhar a opinião de metade do globo. Porventura, com a ajuda das políticas da extrema-direita e da extrema-esquerda europeia em temas tais como a imigração, a segurança e o Wokismo, entre outras.

As aparentes tentativas de Elon Musk de influenciar as eleições na Alemanha, como os ataques feitos ao primeiro-ministro da Grã-Bretanha, fazem parte de uma estratégia que veremos alargar-se nos próximos tempos. Partidos da extrema-direita, europeus como o Chega e de outros pontos do Globo, serão, com maior ou menor evidência, apoiantes agradecidos. E, a propósito, Donald Trump precisa de conseguir uma rápida vitória pessoal na obtenção da paz na Ucrânia, independentemente dos prejuízos causados ao povo ucraniano e por duas razões: para mostrar à América e ao Mundo as suas capacidades para resolver uma guerra onde todos falharam e, não menos importante, fazer de Putin um aliado da sua estratégia. A China constitui uma diferente questão, porque será, provavelmente, e por outras razões a maior oposição a Donald Trump.

Confesso que não sei como a estratégia da dupla Trump/Musk pode ser evitada no curto prazo, mas não tenho dúvida de que será através da educação que esta e outras tentativas do extremismo global podem ser vencidas para sempre. Não a educação como a conhecemos em Portugal, mas a educação como a defendo, através da prioridade na educação das crianças nas creches e no pré-escolar e com a adição da educação dos comportamentos e das competências, em ligação com os habituais conhecimentos e em todo o sistema.

A educação constitui igualmente a única solução para a pobreza a nível mundial e o meio de evitar os excessos de imigração, seja como a via de reduzir o crescimento mundial da população, além de tornar a democracia a escolha preferida dos povos. Finalmente, porque a educação melhora a capacidade de criação de riqueza, nomeadamente o modelo de educação que preconizo, com a inclusão da formação dos comportamentos e das competências a partir da sua base natural que são as crianças. A que acrescento uma opinião muito pessoal, que é a de evitar os vícios das ideologias no meio educativo.

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COMENTÁRIOS (de 20)

Manuel: Sem dúvida que, pelo menos no mundo ocidental, hoje, o tema principal e incontornável é a dupla Trump/Musk, principalmente o segundo elo. Procurando acompanhar o percurso de vida do Elon Musk e sendo seu admirador pelos feitos alcançados, tem sido desconfortável, para mim, ver a deriva dele do mundo das empresas para a política. Parece que tendo alcançado o topo na actividade empresarial, decidiu avançar para a influência na área da política, para já no mundo ocidental, não sabendo qual o limite e os fins que quer alcançar. Este foco na política parece ter sido desencadeado desde que adquiriu o Twiter. Que ele é um génio penso restarem poucas dúvidas, se esse génio vai além do mundo empresarial e se revelará a uma escala mais abrangente na vida das Sociedades, só o futuro o dirá. Contudo e para já tenho uma certeza, é que toda a gente, a começar pelo sr. H. Neto, passando pela generalidade dos comentadores, comenta as intervenções políticas do Musk, geralmente de forma  depreciativa, mas como sabemos a maioria dos comentadores não merecem qualquer credibilidade e fazem-no tendenciosamente. Espero viver para ver os desenvolvimentos que os próximos anos nos reservam, não me restando dúvidas que a "doença" da Europa não é culpa dos EUA e do Musk, mas sim da sua incapacidade para se governar, principalmente humana.       João Diogo: Sou um leitor atentos das suas crónicas , mas desta vez em completo desacordo consigo: que culpa tem Musk, de uma Europa sem rumo, sem inovação , o senhor Henrique Neto , diga qual a empresa europeia disruptiva que apareceu nos últimos tempos?  nenhuma , o que esta Europa tem é regulamentos a mais.                      Joaquim Rodrigues: Desde que a educação cívica dos cidadãos seja feita à luz do conhecimento científico, da ciência e da História da Humanidade. Desde que a "Educação" não seja ministrada pelo "totalitarismo" da doutrinação Wooke, que não tem qualquer pejo em censurar a realidade, escamotear a verdade, distorcer os factos e de que todos os oportunistas se tentam servir para a confundir com o "liberalismo dos costumes" para, na prática, tentarem denegrir a causa do Liberalismo, em particular do Liberalismo Económico. Todos os oportunistas e, em particular os autocratas e populistas, estão a aproveitar e a tentar confundir a “doutrinação totalitária woke” com o “liberalismo social” (que está nos antípodas do totalitarismo woke) para, na prática, tentarem denegrir as causas do Liberalismo, em particular do “Liberalismo Económico”, que são aquelas que mais os incomodam. Na verdade, todos os oportunistas e, em particular, os autocratas e populistas, o ódio que cultivam contra o “liberalismo económico”, a “concorrência” e o “mercado” decorre do facto de deixarem de poder “controlar a seu bel-prazer”, e em benefício próprio os mecanismos sociais e os caminhos do desenvolvimento económico por ser impossível “controlar o mercado” quando se respeita a “livre iniciativa privada”, a igualdade de oportunidades e a “justa, sã e leal concorrência”, princípios sagrados do Liberalismo. Educar sim mas com respeito pela Ciência e pela História das Ciências e das Ideias.                 AndradeBG: Pela primeira vez, das vezes que ouvi e li o que Henrique Neto disse discordo da conclusão que tira, não do que descreve e explica. Pelo menos sem revolucionar o que é entendido por todos como educação. O poder que Trump e quejandos têm foi-lhes dado pelas elites com elevados níveis de educação. Ver artigo de hoje de José Manuel Fernandes. Acredito que, como eu, quando se começa a descobrir as mentiras sofisticadas e articuladas entre uma classe com contornos visíveis, reaja mal e felizmente que ainda há quem reaja. Se, com isso, ainda se fica pior, que fique, caso não, ainda hoje se imolariam jovens raparigas para fazer chover.                  Joaquim Rodrigues: Foi preciso o Eng.º Henrique Neto deixar o tema da fraude da "Bitola Tuga" na Ferrovia (que tem por objectivo a viabilização de umas Scuts Ferroviárias que todos os contribuintes vão pagar, durante décadas, com língua de palmo) para que os seus artigos passassem a aparecer nas primeiras páginas do Observador

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