terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Um “ainda” optimista


 O do título desta excelente crónica, que o "país do quase" destrói.

Nove recomendações para um Portugal ainda melhor

Somos o país do “quase”: quase feito, quase pronto, quase bom, quase satisfeito, quase a horas, quase conforme… Esta falta de rigor e de qualidade de compromisso constitui uma penalidade colectiva.

CARLOS TAVARES Engenheiro Automóvel

OBSERVADOR, 27 jan. 2025, 00:158

O autor destas modestas recomendações fá-lo com ingenuidade, sinceridade, sem qualquer ambição de protagonismo político e sem procurar apoio de qualquer tipo de organização. Está dito!

1O “factor 10%”, coesão, convivialidade e respeito

Todos nós sabemos que numa caixa de velocidades automóvel existem carretos maquinados com precisão e também rolamentos que não suportam impurezas. Para que esta caixa possa funcionar por muitos anos são utilizados óleos de qualidade. Se pusermos areia na caixa em vez de óleo, encrava imediatamente. Na nossa sociedade acontece a mesma coisa, o óleo do bom funcionamento é o fator 10%, ou seja aquela pequena atenção que temos com os outros ao entrarmos num café, numa sala de reunião, num consultório, numa bicha, ao facilitarmos a passagem aos outros… Um número incrível de situações do quotidiano em que podemos tornar a vida em conjunto mais harmoniosa, atenciosa e… feliz ! Quem conhece a fragmentação das sociedades do norte da Europa compreendera imediatamente o potencial do fator 10% no que diz respeito à qualidade de vida coletiva e à coesão da sociedade …

2O espaço de respiração

O centro (esquerdo e direito) do espetro político do Mundo ocidental está em dificuldades, vejam a subida dos extremos, não por falta de boa vontade dos governantes centrais mas porque estão atolados num pântano burocrático e jurídico de que não sabem sairA nossa sociedade precisa de mais espaço de liberdade e de respiração, que se pode obter através de uma simplificação das regras e regulamentos. Para que isso aconteça poderíamos decidir que uma sessão parlamentar cada ano seria dedicada a destruir regras que aumentam o atrito do funcionamento da sociedade sem benefício óbvio. Vamos assim dar mais respiração e capacidade de acção aos governantes para que nos conduzam para um mundo melhor se para isso os escolhermos. Os autarcas das nossas freguesias não terão dificuldade em facultar as situações a simplificar… O balanço parlamentar anual teria portanto de ser… “negativo” ou seja, menos regras ao fim do ano do que no princípio! Sem esquecer que acrescentar uma camada de “on line” em cima de uma burocracia não reduz necessariamente essa mesma burocracia !

3O nosso Jardim a beira mar plantado

Todos temos (ou deveríamos ter) consciência da importância do nosso ambiente e do cuidado que devemos ter com ele nos actos da vida quotidiana. Cada pequeno gesto ajuda e… não dói! Menos plástico, mais reciclagem, mais marcha a pé, mais limpeza a frente da casa de cada um, mais respeito pela água que consumimos, mais utilização da luz do diaapenas pequenos gestos que tornam o respeito do ambiente num ato de educação e de cidadania universal que não precisa de regras e de decisões punitivas que são a razão pela qual nenhum partido «verde» conquistou até agora o poder no mundo ocidental.

4O fim do Quase e o começo do Rigor

Somos o país do “quase”… quase feito, quase pronto, quase bom, quase satisfeito, quase comprometido, quase a horas, quase conformeEsta falta de rigor e de qualidade de compromisso constitui uma penalidade colectiva de que não precisamos. Basta que abordemos os actos de compromisso da vida com um pouco mais de profissionalismo para que a eficiência da nossa sociedade dê um… pulo!

5O reconhecimento da liderança impossível

O mundo esta a mudar muito rapidamente e a evoluir para um nível de complexidade nomeadamente tecnológica, geopolítica, de gestão de recursos, de expetativas e de competição reforçada que desafia a capacidade humana de assimilação dos nossos lideres políticos. Esperar deles que resolvam todos os problemas da nossa sociedade é levá-los, e nos pela mesma ocasião, a… derrota! Devemos aceitar que vamos ter de resolver um certo numero de problemas coletivos ligados ao nosso comportamento de ricos (a escala planetária) sem passar por uma ferramenta regulatória ou jurídica. Será que conseguimos (veja a direção do factor 10%)?

6Um futuro pensado por nós, não se externaliza a Visão,

No contexto do nosso futuro Europeu, não podemos aceitar que a única visão para o nosso pais seja de servir de campo de ferias para o resto da Europa. Visto o nosso passado, temos obrigação de ter para o nosso pais uma visão que ultrapasse a visão tecnocrática de alguns que não se pode limitar ao PRR por útil e necessário que seja a curto prazo! Precisamos de definir um plano estratégico a 20 ou 30 anos que receba o apoio da população e sirva de bússola aos vários governos de que beneficiamos! Podemos começar pela energia, a agua, os transportes, os valores, as tecnologias e domínios de educação em que queremos apostar… Como queremos que seja Portugal em 2050 no concerto das Nações!

7A educação, mais educação, e ainda mais educação…

Num mundo cada vez mais difícil, competitivo e sobretudo muscular a base do progresso civilizado depende da educação de todos nós. A oportunidade que cada cidadão recebe de se transformar num ser humano melhor, em todas as dimensões constitui o alicerce da competitividade e da vida em coletividade. Receber esta formação cria um compromisso moral de que a educação que recebemos é um investimento do país que necessita um retorno para a nossa sociedade! Menos reações emocionais ou pavlovianas imediatas, mais reflexão de fundo com base cientifica, eis a direção!

8Os fundamentais estratégicos

Menos Estado nos domínios em que o seu valor acrescentado e fraco ou negativo significa mais Estado em áreas como a educação, as infraestruturas, a energia, a água, a defesa, a saúde… Um pais governado apenas com orçamentos anuais não pode construir o seu futuro porque o tempo necessário para construir um sucesso nessas dimensões estratégicas é de pelo menos 5 mandatos políticos! Precisamos de guardar uma direcção constante durante 20 anos para criarmos uma diferenciação competitiva em relação àqueles que mudam de direcção sobre temas fundamentais todos os quatro anos!…

9Melhorar continuamente o Modo de Governação da Democracia

Não existe um modo de governação de uma sociedade perfeito. A democracia é o melhor disponível embora imperfeito pelo que temos obrigação, para o defender, de o aperfeiçoar continuamente trabalhando sobre as suas fraquezas que representam o ponto de ataque das autocracias. Precisamos de um órgão de sábios (Conselho Constitucional…) que trabalhe sem ambição de poder para propor soluções de melhoramento do funcionamento quotidiano das democracias. A democracia como modo de Governação deve seguir o exemplo do Vinho do Porto, melhorar com a idade!

 

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