O do título desta excelente crónica, que o "país do quase" destrói.
Nove recomendações para um Portugal ainda melhor
Somos o país do “quase”: quase feito, quase pronto, quase bom,
quase satisfeito, quase a horas, quase conforme… Esta falta de rigor e
de qualidade de compromisso constitui uma penalidade colectiva.
CARLOS TAVARES Engenheiro Automóvel
OBSERVADOR, 27 jan. 2025, 00:158
O
autor destas modestas recomendações fá-lo com ingenuidade, sinceridade, sem
qualquer ambição de protagonismo político e sem procurar apoio de qualquer tipo
de organização. Está dito!
1O “factor 10%”, coesão,
convivialidade e respeito
Todos nós sabemos que numa caixa de
velocidades automóvel existem carretos maquinados com precisão e também
rolamentos que não suportam impurezas. Para que esta caixa possa funcionar por
muitos anos são utilizados óleos de qualidade. Se pusermos areia na caixa em vez
de óleo, encrava imediatamente. Na
nossa sociedade acontece a mesma coisa, o óleo do bom funcionamento é o fator
10%, ou seja aquela pequena atenção que temos com os outros ao entrarmos num
café, numa sala de reunião, num consultório, numa bicha, ao facilitarmos a
passagem aos outros… Um número incrível de situações do quotidiano em
que podemos tornar a vida em conjunto mais harmoniosa, atenciosa e… feliz !
Quem conhece a fragmentação das sociedades do norte da Europa compreendera
imediatamente o potencial do fator 10% no que diz respeito à qualidade de vida
coletiva e à coesão da sociedade …
2O espaço de respiração
O
centro (esquerdo
e direito) do espetro político do Mundo ocidental está em
dificuldades, vejam a subida dos
extremos, não por falta de boa vontade dos governantes centrais mas porque estão atolados num pântano
burocrático e jurídico de que não sabem sair… A nossa sociedade
precisa de mais espaço de liberdade e de respiração, que se pode obter através
de uma simplificação das regras e regulamentos. Para que isso aconteça
poderíamos decidir que uma sessão
parlamentar cada ano seria dedicada a destruir regras que aumentam o atrito do
funcionamento da sociedade sem benefício óbvio. Vamos assim dar mais
respiração e capacidade de acção aos governantes para que nos conduzam para um
mundo melhor se para isso os escolhermos. Os autarcas das nossas freguesias
não terão dificuldade em facultar as situações a simplificar… O balanço parlamentar anual teria
portanto de ser… “negativo” ou seja, menos regras ao fim do ano do que no
princípio! Sem esquecer que acrescentar uma camada de “on line” em cima de uma
burocracia não reduz necessariamente essa mesma burocracia !
3O nosso Jardim a beira mar plantado
Todos temos (ou deveríamos ter) consciência da importância
do nosso ambiente e do cuidado
que devemos ter com ele nos actos da vida quotidiana. Cada
pequeno gesto ajuda e… não dói! Menos
plástico, mais reciclagem, mais marcha a pé, mais limpeza a frente da casa de
cada um, mais respeito pela água que consumimos, mais utilização da luz do dia… apenas
pequenos gestos que tornam o respeito do ambiente num ato de
educação e de cidadania universal que
não precisa de regras e de decisões punitivas que são a razão pela qual nenhum
partido «verde» conquistou até agora o poder no mundo ocidental.
4O fim do Quase e o começo do Rigor
Somos o país do “quase”… quase feito, quase pronto, quase bom,
quase satisfeito, quase comprometido, quase a horas, quase conforme… Esta
falta de rigor e de qualidade de compromisso constitui uma penalidade colectiva
de que não precisamos. Basta que abordemos os actos de compromisso da vida com
um pouco mais de profissionalismo para que a eficiência da nossa sociedade dê
um… pulo!
5O reconhecimento da liderança impossível
O mundo esta a mudar muito rapidamente e
a evoluir para um nível de complexidade nomeadamente tecnológica, geopolítica,
de gestão de recursos, de expetativas e de competição reforçada que desafia a
capacidade humana de assimilação dos nossos lideres políticos. Esperar deles
que resolvam todos os problemas da nossa sociedade é levá-los, e nos pela mesma
ocasião, a… derrota! Devemos aceitar que vamos ter de resolver um certo numero
de problemas coletivos ligados ao nosso comportamento de ricos (a escala
planetária) sem passar por uma ferramenta regulatória ou jurídica. Será que
conseguimos (veja a direção do factor 10%)?
6Um futuro pensado por nós, não se
externaliza a Visão,
No contexto do nosso futuro Europeu, não
podemos aceitar que a única visão para o nosso pais seja de servir de campo de
ferias para o resto da Europa. Visto o nosso passado, temos obrigação de ter
para o nosso pais uma visão que ultrapasse a visão tecnocrática de alguns que
não se pode limitar ao PRR por útil e necessário que seja a curto prazo!
Precisamos de definir um plano estratégico a 20 ou 30 anos que receba o apoio
da população e sirva de bússola aos vários governos de que beneficiamos!
Podemos começar pela energia, a agua, os transportes, os valores, as
tecnologias e domínios de educação em que queremos apostar… Como queremos que
seja Portugal em 2050 no concerto das Nações!
7A educação, mais educação, e ainda mais
educação…
Num mundo cada vez mais difícil,
competitivo e sobretudo muscular a base do progresso civilizado depende da
educação de todos nós. A oportunidade que cada cidadão recebe de se transformar
num ser humano melhor, em todas as dimensões constitui o alicerce da
competitividade e da vida em coletividade. Receber esta formação cria um
compromisso moral de que a educação que recebemos é um investimento do país que
necessita um retorno para a nossa sociedade! Menos reações emocionais ou
pavlovianas imediatas, mais reflexão de fundo com base cientifica, eis a
direção!
8Os fundamentais estratégicos
Menos Estado nos domínios em que o seu
valor acrescentado e fraco ou negativo significa mais Estado em áreas como a
educação, as infraestruturas, a energia, a água, a defesa, a saúde… Um pais governado apenas com orçamentos anuais não
pode construir o seu futuro porque o tempo necessário para construir um sucesso
nessas dimensões estratégicas é de pelo menos 5 mandatos políticos! Precisamos de guardar uma direcção constante durante
20 anos para criarmos uma diferenciação competitiva em relação àqueles que
mudam de direcção sobre temas fundamentais todos os quatro anos!…
9Melhorar continuamente o Modo de
Governação da Democracia
Não
existe um modo de governação de uma sociedade perfeito. A democracia é o melhor
disponível embora imperfeito pelo que temos obrigação, para o defender, de o
aperfeiçoar continuamente trabalhando sobre as suas fraquezas que representam o
ponto de ataque das autocracias. Precisamos de um órgão de sábios (Conselho Constitucional…) que
trabalhe sem ambição de poder para propor soluções de melhoramento do
funcionamento quotidiano das democracias. A democracia como modo de Governação
deve seguir o exemplo do Vinho do Porto, melhorar com a idade!
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