Está o inferno cheio. O mesmo se poderá, talvez, extrapolar deste discurso com nexo, formulado a partir do reconhecimento das condicionantes que atropelam habitualmente a governação dos países e, entre eles, provavelmente, também esta, de Moçambique. Oxalá que aos bons propósitos expressos nos dizeres, se aliem os actos deles consequentes, tantas vezes esquecidos, os tais projectos de intenções habilmente expressas, no carcás arrumado posteriormente ao canto, atingida a vitória governativa por que se lutou, com os dizeres justos, das sérias intenções.
Um
Novo Rumo para Moçambique
O discurso de Daniel
Chapo reflectiu uma visão ambiciosa e orientada para a
transformação de Moçambique, com enfoque na inclusão social, combate à
corrupção, modernização e promoção do empreendedorismo
JAIME LANGA Director Geral da Revista Negócios -
Moçambique
OBSERVADOR, 19 jan. 2025, 00:092
O discurso de investidura do novo Presidente de Moçambique, Daniel
Francisco Chapo, proferido no dia 15 de janeiro de 2025, foi
um marco importante na história do país, tanto pela forma como abordou os
desafios nacionais quanto pelas promessas arrojadas feitas para o futuro. Neste
texto, destaco os pontos principais do discurso, acompanhados de uma análise
crítica dos mesmos, elogiando as áreas bem articuladas e apontando os desafios
para a concretização das propostas.
O Presidente iniciou o
discurso com um momento de solidariedade, homenageando as vítimas de
crises como o terrorismo em Cabo Delgado e o ciclone Chido. Este gesto
demonstra empatia e um reconhecimento dos problemas reais que afectam a
população. O destaque dado às dificuldades enfrentadas pelo povo — como a fome, o
desemprego juvenil e a precariedade dos sistemas de saúde e educação — reflecte um compromisso com a inclusão
social. A promessa de priorizar
sectores essenciais como educação, saúde e segurança é digna de nota e reforça o papel do governo como agente de
mudança.
No que concerne ao capítulo de combate à
corrupção e promoção da transparência, a introdução de medidas
concretas, como a criação da
Central de Aquisições do Estado e o fortalecimento da Inspeção-Geral do Estado, demonstra
uma visão pragmática para enfrentar um dos maiores entraves ao
desenvolvimento de Moçambique. Além disso, o compromisso
com auditorias regulares e fiscalização é um passo positivo rumo à
accountability.
A proposta de reduzir o tamanho do
governo, eliminando alguns Ministérios e Secretarias de Estado, além de cortar
regalias excessivas, representa um esforço para racionalizar recursos e
direcioná-los para áreas prioritárias. Esta abordagem é coerente
com a necessidade de austeridade num país que enfrenta desafios financeiros que
condicionam o seu desenvolvimento a reformas estruturais de forma a garantir
eficiência governativa.
As
propostas de criação de ambientes favoráveis ao investimento juvenil, redução
da burocracia e promoção do sector privado indicam
um compromisso com o futuro. Pois, a
iniciativa de apoiar o empreendedorismo e fornecer
financiamento à juventude é estratégica para reduzir o desemprego. Porém, neste capítulo, Chapo tem o desafio de
encontrar formas de financiar iniciativas empreendedoras num mercado financeiro
de altas taxas de juro, mesmo considerando a referida criação de um banco de desenvolvimento, este será inserido nas
políticas monetárias e financeiras do país.
A digitalização dos serviços públicos
e a reestruturação do sector mineiro destacam-se como prioridades
que podem aumentar a eficiência administrativa e garantir a exploração justa
dos recursos naturais. Contudo, neste capítulo, Chapo precisará de muita
ousadia no processo de tomada de decisões para superar compromissos assumidos e
alianças do anterior governo.
Embora o seu discurso apresente uma visão esperançosa e abrangente,
e por isso tenha sido muito aplaudido, a sua implementação não está isenta
de desafios. Apesar das medidas propostas, combater a corrupção enraizada
exige uma transformação cultural e institucional. Será necessário enfrentar interesses
estabelecidos que se opõem à transparência e à accountability. Muitas das
promessas — como a reestruturação
do sistema de saúde, expansão da educação e investimento em infraestruturas —
exigem recursos financeiros significativos. A concretização dessas metas dependerá da capacidade
do governo em atrair investimentos e gerir eficientemente os fundos. Portanto,
a implementação de reformas requer mecanismos de monitorização e avaliação
eficazes, sendo que a falta de capacidade técnica e a burocracia podem
comprometer o alcance dos resultados esperados.
O Presidente Chapo foi muito incisivo quanto à necessidade de
as suas medidas garantirem a inclusão social e a redução das desigualdades. Embora as propostas sejam abrangentes, é
fundamental garantir que realmente beneficiem todas as regiões e segmentos
da população, especialmente as comunidades mais vulneráveis e rurais, reflectindo-se
no melhoramento do seu nível de vida.
O cuidado que se deve ter em conta é que as promessas arrojadas
geram altas expectativas na população e o fracasso em cumprir as metas no prazo
pode resultar em descontentamento social e perda de confiança no governo. Como
tivemos oportunidade de testemunhar, o discurso de tomada de posse do seu
antecessor, Filipe Nyusi, foi igualmente aplaudido e ovacionado com a
carismática frase “O povo é meu
patrão”, mas o
resultado do seu trabalho, dez anos depois, desaguou em altos níveis de
pobreza, desemprego e desigualdades sociais, que, de certa forma, foram a causa
das manifestações vividas nos últimos meses do seu mandato.
Este discurso do Presidente Daniel
Francisco Chapo reflecte uma visão ambiciosa e orientada para a transformação
de Moçambique, com enfoque na inclusão social, combate à corrupção,
modernização e promoção do empreendedorismo juvenil como alicerces essenciais
para o progresso.
Contudo, o sucesso dessas
iniciativas dependerá da capacidade do governo em superar os desafios
estruturais, assegurar a participação activa da sociedade civil e gerir
eficientemente os recursos disponíveis. Como o Presidente afirmou, a união
nacional será crucial para que Moçambique alcance um futuro de prosperidade e
esperança. O lema “VAMOS TRABALHAR!” resume bem a essência do que será
necessário para concretizar essa visão.
COMENTÁRIOS (de 2)
Sérgio Rodrigues: Explique como é que é possível analisar um
discurso de tomada de posse de quem não ganhou eleições? Isto é normalizar a
“democracia” assassina da Frelimo.
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