Aprendendo com quem ajuda a percepcionar - e oxalá que ajudasse à
reflexão e mudança, - mas preferimos manter o status. Excelente análise de
HELENA GARRIDO a respeito da colisão entre o “falar” e o “agir” e o pavonear-se
também.
A Europa dos burocratas, a América do político
A União Europeia está contaminada por um sistema de incentivos
perversos alimentado por burocratas que dificilmente vai gerar uma solução que
não passe por uma ruptura.
OBSERVADOR, 28 jan. 2025, 00:2261
Há um texto bastante antigo de Aníbal Cavaco Silva, de
1978 quando ainda estava longe de ser o político que foi, que tem o
sugestivo título “Políticos,
burocratas e economistas”. A sua
leitura é hoje tão actual como na altura, ainda que agora talvez merecesse ter os burocratas em primeiro lugar. Foram eles, os burocratas, mais até do
que os políticos, que venceram esta batalha nos países das União Europeia.
Basta olhar para a teia de regulamentações que se foi construindo e que
hoje se pode considerar como um dos principais factores do atraso económico com
que somos confrontados.
A presidência de Donald Trump e a
violência com que tem actuado é um desafio de vida ou de morte para a
construção europeia. Que
só será vencido se os políticos tomarem as rédeas do futuro europeu. E é isso
que não vai ser fácil. Porque os burocratas, os funcionários de Bruxelas
interligados com a administração central de cada um dos países, não se vão
deixar vencer. Até porque alguns burocratas estão vestidos de políticos ou até
economistas. E caminharemos, infelizmente e lamentavelmente, para o precipício.
O caso da Groenlândia é um bom
exemplo daquilo em que nos transformámos. Com riquezas únicas e uma posição
estratégica, tem sido votada ao esquecimento merecendo da Dinamarca, no
passado, a preocupação limitada e com os valores de hoje bastante condenável de
aculturar os seus habitantes.
Mas podemos olhar para exemplos mais
simples e acessíveis em qualquer computador. Tente-se, por exemplo, perceber
quais são as novas regras orçamentais europeias sem a ajuda de nenhum
especialista em “burocratês” europeu. É manifestamente impossível. Andamos perdidos pelos
diversos sites da Comissão Europeia sem conseguirmos perceber afinal onde estão
as regras e como funcionam. No entretanto encontramos relatórios e relatórios,
o alimento preferido dos burocratas.
Tentemos depois perceber as regras
ambientais. Os nomes das mais variadas directivas
são aterradores, como assustadoras são as próprias regras, parecendo ser feitas
para ninguém entender, abrindo espaço para os negócios da interpretação dos
papéis produzidos nos gabinetes de Bruxelas. O pináculo do ridículo é atingido com as já famosas tampas das
garrafas de plástico, mostrando bem como era uma brincadeira de crianças aquilo
que foi satirizado na série “Yes
Minister”.
Os fundos europeus,
incluindo aquele que deu origem ao PRR, estabelecem
prioridades que, como estamos a ver, foram completamente desajustadas. Em
Portugal traduziram-se em rotundas, auto-estradas que são pistas de
corridas com poucos acessos aos aglomerados populacionais, centros culturais
espalhados por todo o lado e sem recursos para terem actividade. E, apesar de toda a conversa sobre o
ambiente, falham os transportes públicos, da ferrovia nem se
fala – um autêntico mistério – e vivemos na ilusão que temos um Estado que dá
educação e saúde para todos.
Nos países europeus, tal como em
Portugal, a regulação e regulamentação tem travado o crescimento e paralisado
as decisões quer do Estado como das empresas. Não é por acaso que as start-ups europeias
escolhem ir para os Estados Unidos em vez de se desenvolverem nos seus países
de origem. E quando não são as regras a impedir a
rápida decisão e concretização dos projectos, é a batalha político-partidária,
como vemos em Portugal agora com a erradamente
designada Lei dos Solos. Parece que ninguém se foca no objectivo
– aumentar urgentemente a oferta de habitação
– e todos se concentram na destruição de qualquer solução.
Mais grave ainda, aquelas que são as funções nucleares do Estado, a
segurança interna, a defesa e a administração da Justiça, foram deixadas ao
abandono. Parece
que todos se esqueceram que essas são as principais
funções do Estado,
concentrando as energias e os recursos nas funções sociais e económicas. E
assim se esqueceram que não há Estado Social sem Economia e nenhuma destas duas
sem um Estado a desempenhar as suas funções de soberania.
É um mistério que face a este cenário
a União Europeia considere que existe um ambiente favorável ao crescimento. Em Portugal é um mistério como é que, com excepção das
grandes empresas, com acesso ao poder, alguém ainda se aventura a ser
empresário.
Donald Trump é uma oportunidade para a União Europeia acordar,
condenar à morte a sua fúria legislativa e concentrar-se no essencial,
libertando a sociedade do excesso de regras. A simplificação dos processos e,
em geral, a desburocratização devia ser a prioridade, transferindo ao mesmo
tempo a energia das pessoas e o dinheiro para as funções de soberania.
Não vai ser fácil vencer
este desafio. Os políticos deixaram-se engolir pelos burocratas ou temos
burocratas e economistas mascarados de políticos. A União
Europeia viu-se, com Trump, confrontada com a sua irrelevância. E o sistema contaminado por incentivos perversos não
vai ser capaz de encontrar, dentro dele, uma solução. Vamos viver tempos
difíceis.
DONALD TRUMP ESTADOS
UNIDOS DA AMÉRICA AMÉRICA MUNDO UNIÃO
EUROPEIA EUROPA
COMENTÁRIOS (de 51)
Eduardo Costa: António Costa é o exemplo acabado dessa burocracia
europeia inútil, que parasita os contribuintes europeus. Luis
Santos: Ontem estava
a tomar um café num estabelecimento minúsculo perto do meu local de trabalho, e
entraram dois indivíduos com papéis e autocolantes na mão e desataram a abrir
uns quadros e a substituir a documentação existente. E diz- me o dono do bar,
são funcionários de uma empresa de consultoria, a quem me vi obrigado a pagar
uma avença mensal para me interpretarem a legislação que está sempre a mudar,
pois vivemos num inferno de burocracia. Tenho de ter mapas disto, mapas
daquilo, avisos disto , avisos daquilo e o pior é que se não tiver, levo multas
pesadas, trabalho eu e a minha mulher no café e ninguém imagina o que passei
por não ter o mapa de férias afixado num local visível (estava afixado atrás da
porta). E quando entenderam que o sinal de atendimento prioritário não estava
bem visível. Tim
do A: Brutal,
importante e excelente artigo de Helena Garrido. Disse tudo muito bem
resumindo. É isto. A reler e decorar. Esta
UE não serve. Deve extinguir-se ou substituir toda essa gente e reduzir o
pessoal a metade. Trump, com quase 80 anos, fez mais em 4 ou 5 dias do que um
governo português faz numa legislatura inteira. A aprender. E vamos dizer a
Montenegro que deixe de massacrar os contribuintes portugueses com mais pedidos
de informação que o Estado já tem. Este PSD é um burocrata horrível!
Maria Emília Ranhada Santos: A
UE não pretende endireitar a Europa, mas pelo contrário tudo faz para que ela
afunde, tal como era, para lhe impor uma governação única, onde mais e mais
burocratas se deliciem a enriquecer à custa da sobrecarga de impostos sobre a
classe média, para a fazer desaparecer! Existem
muitos burocratas a dar ordens que nem eleitos foram, ou seja; eles próprios se
autoproclamaram chefes e administradores de alguma coisa que nem existe mas foi
por eles inventada para se colocarem no poder! Em Portugal, temos assistido
extasiados às descobertas que o líder do Chega tem feito desde que é deputado! A
pergunta é: como foi possível haver tanta cumplicidade criminosa num país tão
pequeno? Tudo está corrompido! Perdeu-se o senso do respeito pelos valores do
próximo e do Estado também! Como se pode governar um país tão pequeno e tão
corrupto? Será possível limpar Portugal? Há quem esteja tão habituado a não
respeitar os bens dos outros que acha que querer limpar Portugal é um grande
atrevimento! Portugal pode sim, prosperar e viver honestamente, se as coisas
forem endireitadas, se se acabarem os subsídios falsos ou a quem não quer
trabalhar, se houver mais fiscalidade no Estado, de modo a impedir os
"doentes por dinheiro" de se aproveitarem dos cofres do Estado, se o OE
for bem distribuído, se as pequenas e médias empresas forem vistas com bons
olhos por quem governa, se se atender com responsabilidade à educação e se
parar de querer transformar os estudantes em bonecos articulados pioneiros da
revolução woke! Enfim, precisamos de pessoas a governar, competentes e
responsáveis que é o que não tem havido até agora! Tiraram o Salazar mas
ninguém lhe chega ao calcanhar! José B
Dias: Verdades que poucos querem reconhecer! Pedro: Trump não actua com violência
mas sim com propósito e determinação face à sua ampla agenda, que comunicou de
uma forma claríssima e que está a implementar sem surpresas. Um total contraste com os "políticos" europeus, prisioneiros
da sua permanente necessidade de manipulação das massas e manutenção do poder
pessoal, à custa de hipotecarem o futuro do continente, numa lenta degradação
burocrática. Trump está a ser e vai ser
muito bom para a Europa ao obrigar a um maior realismo e à adopção de políticos
e de políticas favoráveis à recuperação do espírito e da vitalidade das nações
europeias e, em segundo lugar, da sua união. Maria
Tejo: É como escreveu o Nuno Gonçalo Poças: - …Enquanto Trump acelera a todo o
gás na direcção que pretende…a Europa parece não saber o que fazer perante um
novo mundo que não compreende… Governantes fracos e burocratas transformaram a
UE numa EuroBurocracia enredada em si mesma. Mas, não nos iludamos, foi cada
um dos eleitores europeus que permitiu este nó górdio.
Fernando
Calisto: Um exército de IDIOTAS tomaram conta da Europa.... ! vamos pagar caro... Carlos
Chaves: “E caminharemos, infelizmente e
lamentavelmente, para o precipício.” Cara Helena Garrido, está a falar do
António Costa, certo? “Mais grave ainda, aquelas que são as funções nucleares do Estado, a
segurança interna, a defesa e a administração da Justiça, foram deixadas ao
abandono. Parece que todos se esqueceram que essas são as principais funções do
Estado, concentrando as energias e os recursos nas funções sociais e
económicas. E assim se esqueceram que não há Estado Social sem Economia e
nenhuma destas duas sem um Estado a desempenhar as suas funções de soberania.”
E aqui também, certo? Rui Lima: No mundo acontece muita coisa
mas há uma constante : “A América inova, a China copia e a Europa regula “ Mas
a Europa é só a continuação dos seus países , exemplo o Código do Trabalho em
França já não se mede em páginas mas em quilos. Maria Tubucci: É verdade, Cara HG, também acho que “DT é uma oportunidade para a UE
acordar”. A Europa está a perder competitividade. Agora perante os USA ou
arrepia caminho e rasga as unhas ou fica para trás estagnada. Ou melhor, ou os
burocratas são colocados próximo do caixote do lixo e poder económico toma
dianteira para o desenvolvimento das suas nações ou a Europa morre. No meu
entendimento, a Comunidade Económica Europeia foi criada para fomentar o
desenvolvimento económico das nações da Europa, não metendo o nariz na vida
social e cultural das nações. Esta União Europeia actual é contrária ao
espírito do criador, faz tudo para destruir: a economia, a história e a cultura
das nações. Há uma dúzia de elites não eleitas, que decidem o que os povos
devem: fazer, comer, ouvir, publicar, construir, estudar, vestir, injectar e
aceitar. E todas as nações devem obedecer sem questionar, caso contrário não
levam Fundos. E se os povos dessas nações não aceitarem? Eu, por exemplo, cada
vez que abro um pacote de leite, rogo uma praga ao burocrata europeu, pela
estúpida legislação das rolhas que "não caem", pois entorno
sempre leite. Outra questão. Por que razão têm os Europeus de acolher todos os
deserdados do 3º mundo? Os deserdados têm lutar por um mundo melhor na sua terra
e não na terra dos outros. Ouço tantas vezes dizer que os imigrantes trazem
desenvolvimento económico aos países. Que desenvolvimento económico traz
mão-de-obra ignorante, mão de obra não especializada, mão de obra que não se
quer integrar? Só se for para rebentar com a segurança social, ou então para trabalho
escravo de empresários desonestos, ou quiçá mão de obra para ”empresas” de
redes criminosas do crime internacional. Por que razão temos de levar com
os problemas dos outros? Foi a resposta que o rei da Jordânia deu a um
jornalista em Nov/2024, depois de uma reunião no Egipto, quando lhe perguntaram
porque não abriam a fronteira de Rafah, para deixar entrar os habitantes de
Gaza no Egipto. Está na altura de o poder político europeu começar a
pôr os europeus em 1º lugar, e deixar que as outras culturas e nações se
sustentem a si mesmas. Os Europeus não podem endireitar o mundo, só o seu
mundo... Sim, vamos viver tempos difíceis... Maria Diniz: Basta ver em que se
transformou Bruxelas e a Comissão Europeia: à volta da Comissão existe uma
constelação enorme de consultoras e ONG a debitar estudos e relatórios que
alimentam toda a estrutura politico-burocrata. É uma máquina que existe
para se auto-perpetuar. A aversão dos britânicos do Brexit ao gigante
burocrático tinha razão de ser. Por cá, apesar de tudo que se tem dito nos últimos 20 e tal anos sobre a
necessária "reforma da justiça" poucos compreendem o quanto a
perpétua ineficiência dos tribunais nos mantém sub-desenvolvidos. Por muito que se trabalhe e
produza ao ritmo da Suíça, pouco importa com um Estado a funcionar com
parâmetros do Ghana dos anos 80. Seknevasse: Concordo, nota-se desde 2020 a
2024 uma pujança maior da economia Americana, em relação á Europa e agora com
Trump ainda vai acelerar mais. Entretanto basta ver/ouvir a entrevista recente a
António Costa para termos a noção que quem decide por Bruxelas, ainda pensa que
está tudo bem e segue na sua onda habitual... Vamos todos empobrecer ainda
mais !!
Manuel Magalhaes: Helena Garrido, « chapeau «, ora aqui está uma crónica muito importante
e sem os complexos de ser « boazinha » para certos sectores da nossa política e
sociedade como às vezes é seu uso. De facto a UE acaba por ser um saco cheio de
nada ou pelo menos cheio de complicadas ilusões, à Europa faltam políticos com
estatura e não burocratas a fingir de políticos, Portugal é um bom exemplo
dessa inépcia, Costa foi possivelmente o pior primeiro ministro que tivemos e
hoje é o presidente do conselho europeu, acho que está tudo dito… Paulo J
Silva: Como sempre a realidade vai-se impor. Com maior ou menor dor a mudança vai ocorrer. Não tinha de ser assim se
tivéssemos governantes capazes. Direita assumida: Deveríamos fazer uma análise
séria ao resultado económico efectivo que o Pais teve com todo o dinheiro que
veio da UE para agricultura e indústria. É brutal o número de empresas subsidiadas pelos fundos
europeus que já fechou muitas e muitas com graves suspeitas de desvios de
dinheiros para privados. Estes subsídios distribuídos com pouco critério só ajudam a criar muitas
empresas que só trazem cópias chinesas e prejudicar as empresas sérias e
sólidas que temos. Acabem com isto e com a acachapante regulamentação que milhares de inúteis
regulamentadores fazem na UE. São gente que nem sabe o que anda a fazer, têm zero
expariência prática e estão a chacinar as economias das empresas e a actividade
económica em geral. Basta. O desastre da UE esta à vista. Algué m tem que agir. GateKeeper > Paulo Luciano: Vã ilusão, de quem vive
"noutro Planeta" . Enfim...!
A D: A comunidade europeia tornou-se num gigantesco monstro das bolachas que se
alimenta dos seus cidadãos. Aliás, só assim se compreende como um analfabeto
como o Costa tenha para lá ido exercer um cargo que ninguém percebe para que
existe para lá disso mesmo, ou seja, existir. Pensam que é um cargo relevante?
Digam uma medida que fosse tomada por um qualquer dos seus antecessores! Já não
digo uma medida que tenha tido impacto, digo uma qualquer medida… Oscar gomes: Como costuma dizer-se: A América cria, a China copia, a Europa regula... Como se viu no mapa mostrado
na SIC no passado domingo o rendimento per capita do estado mais pobre dos USA,
creio que o Alabama , é idêntico ao do país mais forte da UE - a Alemanha.
Palavras para quê quando nos últimos 10 anos os USA cresceram o dobro da UE. Temo que, como o magnata
mexicano Carlos Slim disse, a Europa seja vista como um território museu do
planeta onde podemos ver as coisas boas e bonitas da nossa civilização
ocidental...Entretanto, andamos todos felizes porque a NATO nos protege
e distraídos com os nossos exemplos do Estado Social. Cuba também diz o mesmo,
que têm um excelente estado social, apesar da pobreza generalizada... João Diogo: Finalmente , um excelente
texto.
Marco Rodrigues: Há muito tempo que não tinha o prazer de ler um artigo tão bom de HG.
Sucinto, objetivo e muito pertinente na escolha do tema. Maria Madeira: Brilhante artigo. Bastante oportuno e realista.
Francisco Almeida: Este artigo é um fantástico - e para mim imprevisto - despertar para a
realidade. João Queiroz e Lima: Tal e qual. Em Portugal é pior, porque o
Estado desconfia do Cidadão. O Cidadão desconfia do Cidadão e o Estado é feito
por Cidadãos. A moral torna-se centralista e abstracta, como se a Constituição
fosse uma entidade que tudo observa. E o Estado para servir os Cidadãos? Aqui o Estado serve para guiar
os Cidadãos e somos todos amestrados, cada um à sua maneira, por esses
burocratas e as suas regras de controle, que são tantas e tão densas que são
impossíveis de controlar. Zé das
Esquinas o Lisboeta: A estimada Helena, neste texto, mostra ser uma pessoa de fé. Está à espera
dum 'milagre'? Então esqueça, com o nível, ou pouco nível, do universo votante
nacional em conjugação com o sistema e legislação criada pelos 'burocratas' que
muito bem refere, é uma missão quase impossível para não dizer impossível. Tudo
está montado para que as coisas não mudem porque a mudança traria novos
intervenientes na vida social, política e económica do país e os que se
alimentam do sistema montado seriam banidos. E quem legisla ou altera
alguma coisa contra si próprio? Só os 'tontos' e quem está no poder e beneficia
dele, nunca o fará. Como disse, e bem, Carlos Tavares, somos um país do quase
ou como eu diria, somos um país do ''faz de conta".
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