quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

“Coisas que terei pudor

 

De contar seja a quem for”. Ontem, como hoje.

 Mas não vale a pena preocuparmo-nos. Há sempre uma acácia crescendo e ramificando, envolta, que seja, no seu vento suão. Leiamos, sim, o resto da mensagem contida na longa “Toada de Portalegre”, toda ela, um Hino de Amor e de Esperança. Que esta não falte nunca, apesar das trapalhadas surgidas nos brumosos relacionamentos mundanos, de todos os tempos, afinal. Em viagem pelos meus tempos passados, recordo o passeio a Portalegre, em “visita de estudo” com duas turmas do 11º e a visita à casa de José Régio, espreitando pelo varandim da tal casa da sua “TOADA”, que aqui veio à baila. Por conta dos contrastes, nas vivências, terminando em recordações e crenças, ainda que na simples imagem de uma acácia ramificando.

…………………..

«E era então que sucedia

Que em Portalegre, cidade

Do Alto Alentejo, cercada

De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros

Aos pés lá da casa velha

Cheia dos maus e bons cheiros

Das casas que têm história,

Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória

De antigas gentes e traças,

Cheia de sol nas vidraças

E de escuro nos recantos,

Cheia de medo e sossego,

De silêncios e de espantos,

- A minha acácia crescia.


Vento suão! obrigado...

Pela doce companhia

Que em teu hálito empestado

Sem eu sonhar, me chegara!


E a cada raminho novo

Que a tenra acácia deitava,

Será loucura!... mas era

Uma alegria

Na longa e negra apatia

Daquela miséria extrema

Em que vivia,

E vivera,

Como se fizera um poema,

Ou se um filho me nascera.”

A fragmentação do voto do PS

Hoje, o PS está dividido entre quem quer um partido centrista, social-democrata no sentido europeu; e entre aqueles que desejam uma frente de esquerda com o Bloco e com o Livre (e até com o PCP).

JOÃO MARQUES DE ALMEIDA Colunista do Observador

OBSERVADOR,  16 dez. 2025, 00:2146

Um dia destes pensei em como votariam os antigos líderes do PS nestas eleições presidenciais. Obviamente, o actual líder, José Luís Carneiro, votará em António José Seguro. Mas dos quatro líderes anteriores, desconfio que Seguro será o único a votar em Seguro. Sócrates já anunciou o seu voto em Gouveia e Melo. No caso de António Costa, julgava que também votaria em Gouveia e Melo, mas depois do apoio de Sócrates, estou a inclinado a pensar que já não votará. O mais provável será votar em Marques Mendes, afinal de contas a sua carreira política foi muito beneficiada pela liderança partidária do candidato presidencial do PSD. Pedro Nuno Santos votará, naturalmente, em Catarina Martins.

Os votos dos antigos líderes nas presidenciais mostram o nível de fragmentação dos socialistas. É verdade que há uma tradição de divisão no PS em eleições presidenciais. Muitos se lembram do combate entre Mário Soares e Salgado Zenha e, muito mais tarde entre Soares (de novo) e Manuel Alegre. Mas a disputa pessoal não é fragmentação política. O PS dividiu-se, mas não era um partido fragmentado. Hoje é.

A fragmentação começou com a liderança de Sócrates e sobretudo o modo como acabou o seu segundo governo. Essa primeira divergência estratégica foi entre uma orientação despesista e uma conversão às contas públicas equilibradas. Como líder do PS, Seguro assumiu a responsabilidade de aceitar as políticas de equilíbrio fiscal impostas pela União Europeia e o FMI. Por isso, foi muito atacado por membros do seu partido. Por exemplo Pedro Nuno Santos na altura dizia que não se devia pagar a dívida externa. As posições de Seguro custaram-lhe mesmo a liderança do partido. Ainda hoje, a conversão do PS a contas públicas equilibradas é mais aparente do que real. Muitos ministros dos últimos governos socialistas nunca concordaram com a cultura das contas equilibradas de Centeno.

Mas a principal causa de fragmentação do PS foi a geringonça. O PS nunca se tinha aliado no passado às extremas esquerdas. Muitos socialistas não gostaram da solução de 2015, mas ficaram calados porque o poder cala. Hoje, o PS está dividido entre quem quer um partido centrista, social-democrata no sentido europeu; e entre aqueles que desejam uma frente de esquerda com o Bloco e com o Livre (e até com o PCP). Foi esse PS que concorreu nas eleições em Lisboa. Mas o PS que apoia Seguro é outro: é o PS centrista. No passado, houve lutas pessoais; mas agora há divergências estratégias e ideológicas que fragmentam os socialistas.

A greve geral da semana passada ainda vai fragmentar mais o voto socialista. Favorece os votos nos candidatos do Bloco e do PCP e prejudica a unidade das esquerdas à volta da candidatura de Seguro. Esta fragmentação pode levar ao pior resultado de sempre de um candidato presidencial apoiado pelo PS. O problema é o PS, não é António José Seguro.

PS       POLÍTICA       PRESIDENCIAIS 2026       ELEIÇÕES 16

COMENTÁRIOS (de 46)

SDC Cruz: A fragmentação deste PS é um bem para a nossa democracia. Está tão extremista que mais parece o BE. E, como diz o outro, o original é sempre melhor que a cópia. Ainda pensei que o José Luís Carneiro fosse dar algum crédito a um PS completamente espartilhado, mas foi engolido pela ala mais extremista. É uma marioneta nas mãos do PNS e de outros quejandos.  Por isso, não admira que, estando 6 candidatos a concorrerem no espaço da esquerda, o PS, e já agora, também o PS2, estejam completamente à nora quanto ao seu sentido de voto.              Carlos Chaves:  “O problema é o PS, não é António José Seguro.” Caro João Marques de Almeida o PS sempre, mas sempre, foi um grande problema para o nosso país, não entendo a admiração! E quem vota em Seguro não deixa de ser alguém que acha que continuando a votar em socialistas os resultados vão ser diferentes… Se mais de 50 anos não chegaram para chegar à conclusão de que este partido é pernicioso para Portugal então não sei o quê que é preciso para abrirem os olhos! P.S. Triste, triste é ver um PSD com o seu apêndice do CDS, a quererem tomar o lugar dos socialistas (os sonsos ditos moderados), por palavras actos e omissões!                    Daniel José: A implosão socialista demorou, mas chegou com estrondo e está só a começar. Obrigado, Costa.                    Nuno Abreu: A realidade sócio económica do país mudou muito neste século. O PS está hoje tão fragmentado ideologicamente como os povos do médio oriente. Desde que o seu Abraão - Mário Soares - morreu cada um tem a sua bíblia. Ou melhor, uns defendem o Torá, outros a Bíblia e outros ainda o Alcorão. Odeiam-se uns aos outros tanto, como judeus, muçulmanos e cristãos.            Jorge Afonso: E esperem pelo aparecimento de um novo partido lançado por PNS, tentando agregar as várias esquerdas, nunca o PCP, que partirá o PS ao meio. PNS tem um ego expansivo e é ultra ambicioso para ficar quieto. Será o tempo em que o PS se tornará irrelevante por volta dos 12% seguido por uma espécie de Portugal Insubmisso de PNS. Vou rir-me muito. Bye bye socialistas!                  Carlos Chaves > João Floriano: Caro João Floriano, eu sou um desses eleitores, desde os meus 18 anos que sempre votei ora no PSD ora no CDS, ou nos dois ao mesmo tempo quando se coligaram! Uma direita de nome, pois se até o partido mais a direita na altura se chamava (e chama), de CENTRO Democrático e Social, é revelador de que nunca tivemos um partido verdadeiramente de direita em Portugal (mas era o que existia)! Quando o primeiro partido apareceu a reclamar-se de direita (o CHEGA), rapidamente e infelizmente, se percebeu que sim era de direita nos costumes, conservador (e muito bem), mas na economia de direita não tinha (não tem), nada, é simplesmente mais um do clube socialista, aprovando medidas sempre de aumento de despesa ao lado desses mesmos socialistas. É esta a nossa tragédia, gostemos ou não, somos um país demasiado dependente do Estado, ou seja, um país socialista/comunista! Enquanto não aparecer um partido verdadeiramente de direita, conservador nos costumes e liberal na economia com a força dada pelos eleitores para transformar este país, não sairemos da cepa torta! E não é preciso inventar nada, e só copiar onde esta receita funcionou, e muito bem!                      João Floriano: Achei a crónica desta vez um tanto ou quanto modesta. Afinal não vi  mais além daquilo que todos nós já sabemos: o PS está dividido, fragmentado e sem liderança, que quanto  a mim é o pior de tudo. Carneiro é muito fraco e não convence de modo algum a parte mais extrema do PS, a de Pedro Nuno, Alexandra Leitão, Isabel Moreira e outros que estão muito mais próximos dos cacos do Bloco ou das aspirações do LIVRE. E pior do que isso não convence o eleitorado. A derrota em Lisboa foi um golpe para este grupo. Entretanto os Jovens Turcos dos quais muito se falava já perderam  a juventude. Penso que o PS não conseguirá sair da cepa torta enquanto não resolver o problema do líder. Mas olhe-se para o PSD e também há ali sinais de que nem tudo são rosas. Mas tal como aconteceu no caso do PS, o poder, mesmo que discutível no caso de Montenegro, funciona como uma boa cola. Em equipa que ganha não se mexe.........enquanto continuar a ganhar.                    Miguel Laginha: Nem o Carneiro é centrista. Mas parte do PSD será, certamente. O PSD é o verdadeiro partido de centro-esquerda em PT, sendo natural que não tenhamos um verdadeiro partido liberal conservador. Um dia, quem sabe.                João Floriano > Carlos Chaves: P.S. Triste, triste é ver um PSD com o seu apêndice do CDS, a quererem tomar o lugar dos socialistas (os sonsos ditos moderados), por palavras actos e omissões!  Totalmente de acordo. Esse é o nosso grande problema da actualidade. Mas grande parte dos eleitores que votam PSD não compreendem que o facto de o PSD estar à direita do PS, não faz dele (PSD) um partido de direita. O apêndice CDS  está lá precisamente para servir essa ilusão. Ultimamente o CDS tem feito algum esforço para provar que ainda goza de certa autonomia apesar de ser o parente pobre vivendo num anexo cedido pelo primo rico, nos fundos do quintal. Mas pouco pode fazer para se demarcar.                   Xico Nhoca: No que às eleições presidenciais, passadas e vindouras, diz respeito, a fragmentação do PS deve-se mais ao facto de o Presidente da República não poder decidir sobre avultadas quantias de dinheiro. Esse poder está na governação central ou municipal e, aí: unidade, companheiros, não há fragmentação, há sim que alimentar o partido e os que vivem dele. O articulista diz que o poder cala, eu sou mais específico: o dinheiro é que os cala.              David Pinheiro > Daniel José_ Afinal a maioria absoluta foi boa para o país. Serviu para acordar. Pena o Costa não ter mais tempo de antena. A cada "aparição" são 1000 votos que o PS perde.                    Xico Nhoca > David Pinheiro: O Costa é de longe o melhor e mais competente aldrabão da política portuguesa. Perguntem a qualquer funcionário público quem lhe cortou o seu próprio salário e ele vai responder que foi o PPC quando foi o Sócrates em 2010. E isso é obra do Costa, obra que não está ao alcance de qualquer um! David e Daniel, troquem nos vossos comentários o Costa pelo PNS.          Miguel Magalhães: É bem feito. Andámos (eu só até 1975) tantos anos a proclamar que "temos a direita mais estúpida do mundo", eis à vista de todos a esquerda mais estúpida do mundo.            maria santos: A avassaladora incompetência do PS de Soares, Guterres, Sócrates, António Costa e similares tem de ser arrasada pelo voto das classes médias. Soares era "centrista social-democrata" como diz o articulista, e deu-nos duas bancarrotas e uma corrupção endémica (caso da mala de Macau). O PS tem de continuar arredado da governação do País, tal como foi nas gerais de Maio e autárquicas de Outubro, os socialistas não têm cultura de competência, têm cultura de aproveitamento partidário e pessoal das Instituições Públicas.                 José Costa-Deitado: o PS português chegou tarde ao seu próprio declínio? O PS português vive hoje aquilo que os seus congéneres europeus viveram há dez ou quinze anos. A diferença é que chega mais tarde — e, talvez por isso, com menos margem de manobra. Já não se trata de escolher líderes. Trata-se de escolher o que o partido é — ou se ainda é alguma coisa. Enquanto essa escolha não for feita, o PS continuará a fragmentar-se em eleições presidenciais, autárquicas e legislativas. Continuará a perder votos para a esquerda radical e credibilidade para o centro. Continuará, sobretudo, a ser um partido que fala a várias vozes — e já não convence ninguém. O problema não é o candidato. O problema é o partido.                  Carlos Chaves > David Pinheiro: Caro David Pinheiro, infelizmente somos, mas também devemos ser masoquistas, pois anda o socialismo/comunismo a rebentar com o país há mais de 50 anos e continuamos a adorar a esquerda, basta ligar a televisão ao final do dia… parece missa cantada, seja qual for o canal escolhido! Quando acabarem os subsídios e as bazucas que afinal ninguém viu, talvez isto comece a piar mais fino!                    David Pinheiro > Miguel Laginha: O CDS tentou sê-lo, mas o Paulinho das Feiras trocou-lhe as voltas.                   Rui Delvas: O PS é a maior desgraça do nosso país, muito pior que o clã Mortágua.      antonyo antonyo > Carlos Chaves: Nunca fomos um país sociologicamente de esquerda. Bem tentaram, durante décadas, felizmente não conseguiram. No entanto a lenga-lenga sobre os malefícios da direita fez mossa. A literacia política não é o forte do povão.                    João Floriano > Jorge Afonso: Sempre achei que isso irá acontece mais- dia menos dia, e talvez esteja mais perto do que pensamos: o Pureza a tentar manter o Bloco a flutuar, o novo-riquismo de Rui Tavares que se arvora no líder da extrema-esquerda, a senhora do PAN que se sair da política fica desempregada. Repare como os espanhóis tentaram algo semelhante com o SUMAR. O que vai acontecer com Seguro, pode ser determinante. 

 

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