Que, sendo acto puramente pessoal, cada pessoa não pode, de facto,
pedir desculpa, a não ser a si próprio, pois que a resposta tem-na apenas o
próprio, por ser o culpado do delito, único, pois, que poderá
desculpabilizar-se, se para aí estiver virado, ou seja, se se reconhecer como
culpado, não cabendo a ninguém tomar tal decisão, também limitado às suas próprias
culpas e jamais às alheias. Como somos vaidosos ou arrogantes, a maioria de nós
segue tranquilo, isento de culpas - ou puramente impassível, indiferente, talvez,
também, ao perdão alheio, visto não o achar necessário, por não se reconhecer
culpado, que é o caso actualmente mais citado, do Putin, nesta nossa sociedade culta
ocidental. Vivamos, pois, tranquilos, desculpando-nos – ou não – as nossas
culpas se as reconhecermos, altivamente indiferentes ao perdão dos outros, que
o que têm a fazer é mesmo olhar para as próprias suas. Quanto ao perdão alheio,
se não nos acharmos com culpa, escusamos o perdão, termo a abolir – ou não - na
novilíngua, a menos que a unilateralidade da Justiça se imponha por aí, com os
big brothers impunes da nossa servidão única de “escravos cardíacos das estrelas”, pelo menos os de mais requintes
mentais, esses que se reconhecem como “nada”, mas só por ficção, felizmente.
Com as suas buscas de rigor semântico exploratório, o Dr. Salles
leva-nos a passeatas mentais de puro brinquedo, em que nunca pensáramos, e
agradecemos por isso, pedindo perdão da nossa brincadeira, de que não nos
desculpamos, contudo, porque nos deu prazer, justificação que damos, motu proprio.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 11.04.24
Do dicionário se extrai que «desculpa» e
«perdão» se equiparam como sinónimos mas…
… desculpar é tirar a culpa a alguém por
acto praticado que me (nos) prejudicou, o que só é possível entrando na
esfera da intimidade do culpado para apagar o acto causador da culpa enquanto o
perdão é algo que faço (fazemos) dentro da minha (nossa) esfera(s) de
intimidade.
Como assim?
Pois
bem, para tirar o peso da culpa a alguém, temos que ir dentro do seu íntimo, o
que, sendo um abuso da privacidade desse alguém, constitui um procedimento
moralmente criticável e ter-se-ia que viajar no tempo para se apagar a CAUSA DA
CULPA.
Ou seja, desculpar é moralmente incorrecto e
fisicamente impossível.
Contudo, o perdão é o apagamento dos
efeitos negativos causados por acto alheio dentro da minha (nossa) esfera(s) de
intimidade. E este apagamento pode ser feito sempre que se queira sem ter que
recorrer a manipulações na variável «tempo».
Conclusão 1 – Os dois termos não são sinónimos;
Conclusão 2 - Mais vale perdoar do que desculpar.
Abril de 2024
Henrique Salles da Fonseca
COMENTÁRIO:
Francisco G. de Amorim 11.04.2024 14:17: Há muita coisa que eu perdoo, mas há muita
que não desculpo. Como na política, esses comunas podem ser perdoados (atrás
das grades) porque o perdão é humano, mas desculpar o mal que nos fazem... isso
devem ter que pagar.
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