sábado, 13 de abril de 2024

Donde se segue


Que, sendo acto puramente pessoal, cada pessoa não pode, de facto, pedir desculpa, a não ser a si próprio, pois que a resposta tem-na apenas o próprio, por ser o culpado do delito, único, pois, que poderá desculpabilizar-se, se para aí estiver virado, ou seja, se se reconhecer como culpado, não cabendo a ninguém tomar tal decisão, também limitado às suas próprias culpas e jamais às alheias. Como somos vaidosos ou arrogantes, a maioria de nós segue tranquilo, isento de culpas - ou puramente impassível, indiferente, talvez, também, ao perdão alheio, visto não o achar necessário, por não se reconhecer culpado, que é o caso actualmente mais citado, do Putin, nesta nossa sociedade culta ocidental. Vivamos, pois, tranquilos, desculpando-nos – ou não – as nossas culpas se as reconhecermos, altivamente indiferentes ao perdão dos outros, que o que têm a fazer é mesmo olhar para as próprias suas. Quanto ao perdão alheio, se não nos acharmos com culpa, escusamos o perdão, termo a abolir – ou não - na novilíngua, a menos que a unilateralidade da Justiça se imponha por aí, com os big brothers impunes da nossa servidão única de “escravos cardíacos das estrelas”, pelo menos os de mais requintes mentais, esses que se reconhecem como “nada”, mas só por ficção, felizmente.

Com as suas buscas de rigor semântico exploratório, o Dr. Salles leva-nos a passeatas mentais de puro brinquedo, em que nunca pensáramos, e agradecemos por isso, pedindo perdão da nossa brincadeira, de que não nos desculpamos, contudo, porque nos deu prazer, justificação que damos, motu proprio.

DA SEMÂNTICA

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 11.04.24

Do dicionário se extrai que «desculpa» e «perdão» se equiparam como sinónimos mas…

… desculpar é tirar a culpa a alguém por acto praticado que me (nos) prejudicou, o que só é possível entrando na esfera da intimidade do culpado para apagar o acto causador da culpa enquanto o perdão é algo que faço (fazemos) dentro da minha (nossa) esfera(s) de intimidade.

Como assim?

Pois bem, para tirar o peso da culpa a alguém, temos que ir dentro do seu íntimo, o que, sendo um abuso da privacidade desse alguém, constitui um procedimento moralmente criticável e ter-se-ia que viajar no tempo para se apagar a CAUSA DA CULPA.

Ou seja, desculpar é moralmente incorrecto e fisicamente impossível.

Contudo, o perdão é o apagamento dos efeitos negativos causados por acto alheio dentro da minha (nossa) esfera(s) de intimidade. E este apagamento pode ser feito sempre que se queira sem ter que recorrer a manipulações na variável «tempo».

Conclusão 1 – Os dois termos não são sinónimos;

Conclusão 2 - Mais vale perdoar do que desculpar.

Abril de 2024

Henrique Salles da Fonseca

COMENTÁRIO:

Francisco G. de Amorim 11.04.2024 14:17: Há muita coisa que eu perdoo, mas há muita que não desculpo. Como na política, esses comunas podem ser perdoados (atrás das grades) porque o perdão é humano, mas desculpar o mal que nos fazem... isso devem ter que pagar.

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