quarta-feira, 17 de abril de 2024

Uma forma graciosa


De descrever a expansão de mais um conflito no Médio Oriente, com o Irão a fingir, talvez, apoiar o povo palestiniano. Na realidade, a atacar uma Israel corajosa e valente.

Luzes a cruzar o céu de Israel? Desta vez não é Natal

Apesar de medieval nos costumes, o Irão é modernaço na questão trans. Como abomina a homossexualidade, incentiva os gays à transição: assim, deixam de dormir com pessoas do mesmo sexo.

JOSÉ DIOGO QUINTELA Colunista do Observador

OBSERVADOR, 16 abr. 2024, 00:1834

Para quem acompanha a situação no Médio Oriente, a noite de Sábado foi dramática. O pior do ataque do Irão a Israel foi a espera. O tempo que os mísseis e drones iranianos demoraram a percorrer a distância entre os dois países foi um tempo de incerteza. As minhas orações estavam com as pobres pessoas que, nessas longas horas, agonizavam: “E agora? O que é que vou escrever no Twitter? Depois de ter passado os últimos anos a redigir comentários bem acintosos sobre a maldade dos aiatolas que matam mulheres que não usam hijab, como é que dou a cambalhota e passo a vitoriar os mesmos aiatolas por atacarem os nazis sionistas?” Não deve ter sido uma noite fácil. Felizmente, a angústia da dissonância cognitiva foi mitigada por dois factores. O primeiro é que, apesar de medieval nos costumes, o Irão é modernaço na questão trans. Como abomina a homossexualidade, incentiva os gays à transição: assim, deixam de dormir com pessoas do mesmo sexo. O segundo, mais prático, tem a ver com a facilidade com que, actualmente, se vai ao Ikea ou a Staples e se adquire uma óptima cadeira de gamer, para acondicionar a coluna mole do activista online que passa o dia no computador.

Na realidade, não será assim tão complicado acomodar as novas opiniões sobre o Irão. É mais fácil do que bater palmas aos houthis, os valentes que lutam pela liberdade dos palestinianos ao mesmo tempo que reintroduzem a escravatura no Iémen.

Este fim-de-semana, enquanto ouvia notícias sobre o conflito entre Israel e o Irão, tive um ataque de nostalgia dos anos 80. É a década da minha infância, a origem das minhas lembranças mais vívidas e das referências culturais mais fortes. São os anos do México 86, do Roque Santeiro, do 1,2,3 e da Bota Botilde, dos clubes de vídeo, do Carlos Lopes em Los Angeles e da Rosa Mota em Seul, do Dartacão, da CEE. E da guerra Irão-Iraque. Ui, o que eu gostava da guerra Irão-Iraque! Uma espécie de Sporting-Benfica islâmico, todos os dias no Telejornal. Eu estava pelo Irão. Como no clube, torcia por quem tinha o equipamento mais bonito. É que os iraquianos limitavam-se a ser militares fardados, enquanto os aiatolas, com os turbantes e os longos robes, pareciam super-heróis. Ou uma banda new wave. Daí ainda hoje compreender quem simpatiza com o Irão por razões infantis.

Não se pode pedir uma posição coerente aos apoiantes do Irão, quando nem o Irão tem uma posição coerente nestes temas. Agora quer destruir Israel e obliterar os judeus, mas em 538 a.C., Ciro II da Pérsia, depois de conquistar a Babilónia, deixou os judeus, ali exilados por Nabucodonosor, a voltarem a Jerusalém. Partiram, levando com eles a autorização para construírem o novo templo; e um salmo sobre choro em rios da Babilónia enquanto recordam Sião, que está na origem da vontade férrea dos judeus de não mais serem desalojados e também de uma estupenda versão disco dos Boney M.

A diferença é que os iranianos demoraram mais de dois milénios a mudar de opinião sobre a presença de judeus naquela zona, enquanto os seus novos fãs só precisaram de dois minutos para se convencerem a mudar de opinião sobre o Irão. Deve ser o progresso.

IRÃO     MÉDIO ORIENTE     MUNDO

COMENTÁRIOS (de 16)

Fatima Mendes: Ter-se-á apercebido de que os tais de 31.000 mortos palestinianos só são reportados por organismos palestinianos com ligação ao Hamas? Ter-se-á apercebido de que o número de mulheres e crianças é absolutamente desproporcionado e que qualquer análise estatística o contraria? E que a análise dos números diários anunciados denota uma regularidade que indicia falsidade? E ter-se-á apercebido que um número muito significativo de mortes terá correspondido a militantes combatentes do Hamas que muito raramente foram referenciados? E que analisando os números disponibilizados fica a ideia de não existirem muitos homens em Gaza ou de terem estes uma imensa e quase miraculosa capacidade de evitar ser mortos ...? E nem valerá a pena relembrar que até as mortes de palestinianos, causadas pelo próprio Hamas e seus aliados, não deixaram de ser acrescentadas ao rol ... Concordo no entanto quando afirma termos de ser "intelectualmente capazes". E convém também que o pratiquemos ...                Fatima Mendes: Desta vez não gostei do seu artigo . E acho que percebe e conhece muito pouco sobre o médio oriente. Obviamente que achei uma resposta desproporcionada do irão a um ataque israelita ao seu país - uma embaixada é um pedaço de território do país que a encima. Dizem que só lá estavam guardas revolucionários perigosos terroristas. Para mim é o princípio que não deve ser violado. Mas se vamos a respostas desproporcionadas não o vejo a escrever sobre os 31.000 mortos palestinianos. Temos que ser intelectualmente capazes                       A.l. Sameiro > Fatima Mendes: Se por lá andasse nem podia abrir o bico!!!!              José B Dias > Fatima Mendes: A destruição material em zonas em que as IDF informaram sobre as acções a ser desenvolvidas e após a saída das populações - é essa a razão para a aglomeração no Sul junto ao Sinai - não é prova de baixas civis ... Creio que se tem "exacta noção" do que fala, saberá por certo que o que afirmo em relação ao número, distribuição por género e idade e responsabilidade é factual. Não estou a questionar o horror do conflito -aqui como noutras paragens - questiono sim a desinformação, a manipulação vergonhosa da informação potenciada pelos midia que se demitiram de verificar antes de publicar. E não esqueço o que levou Israel de volta a Gaza!                      joao lemos > Fatima Mendes: os 31.000 ou 34.000 mortos de que fala têm por fonte????....nem mais nem menos , o Hamas!   José B Dias > joao lemos: É que nem por perto ... é isso que afirmo.                    José B Dias > Luis Silva: O matemático "pariu" a análise com base nos "dados concretos" paridos pelas gentes do Hamas. Devia ter começado por se preocupar em saber do que fala ... se não o discurso resulta sistematicamente em algo sem nexo.                José B Dias > Luis Silva: Já o mal de muitos que não têm tino na cabeça é serem também totalmente desprovidos de sentido de humor ... o que, atendendo ser o humor uma manifestação de inteligência, não é coisa assim tão surpreendente 🤔

 

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