domingo, 14 de abril de 2024

Um homem de valor


Frisa esses valores, num contexto de corajoso esclarecimento, como sempre. Como ele, Jaime Nogueira Pinto, sejamos valorosos, contrariando sem receio a tal tendência woke encaixada em malabarismos de hipocrisia social só aparentemente valorizadora, e apenas indigna e aviltante do ser humano.

Valores europeus

Contrariamente ao que nos querem fazer crer, os valores a que as direitas europeias dão voz estão longe de serem exclusivos de “parlamentares extremistas” e mais longe ainda de serem minoritários.

JAIME NOGUEIRA PINTO Colunista do Observador

OBSERVADOR, 13 abr. 2024, 00:2036

São os valores – os “valores de orientação permanente”, como sempre dizia Jorge Borges de Macedo – que determinam ou deveriam determinar as nossas escolhas ou convicções políticas. Mas a verdade é que, como em outras circunstâncias da vida, a maioria só descobre esses valores pela sua falta, ou melhor, quando, pelas consequências existenciais da sua falta, outros mais baixos valores de desorientação se levantam.

Talvez por isso, em 21 de Março passado, em Subiaco, os deputados do Grupo Conservador e Reformista Europeu tenham lavrado e aprovado a Carta dos Valores Conservadores Europeus. Os redactores e subscritores do documento pretendem resgatar os valores inspirados nos ensinamentos de S. Bento, um dos pais da Europa cristã, vendo nessa ligação à tradição não uma “recusa do progresso” ou um qualquer desejo de regresso à Idade Média, mas “uma preservação de valores de continuidade”.

S. Bento de Núrsia foi o fundador, em 529, em Monte Cassino, da ordem beneditina, que através dos seus mosteiros, espalhados por toda a Europa, associando a oração, o estudo e o trabalho, fez, numa época de grande crise, a ponte civilizacional entre a ordem romana imperial, destruída no século V, e os novos reinos medievais.

Raízes cristãs

Assim, é no cristianismo, ou mais precisamente na convergência das tradições grega, romana e cristã, que o Manifesto dos conservadores europeus radica a identidade da Europa, um acto extremo e revolucionário, ao que parece, embora só muito dificilmente possa enunciar-se uma ideia de “Europa”, qualquer que ela seja, sem a convergência destas três tradições.

Na dita Carta defende-se também a diferença: as identidades históricas e culturais únicas de todos Estados membros e a sua soberania nacional – prerrogativa dos “grandes”, independentemente da retórica –, e a diversidade de pensamento, contra “uma União Europeia entendida como instrumento para a realização de uma agenda globalista virada para impor o pensamento único progressista e o relativismo ético”. A importância “da fé e da moral na formação de uma sociedade justa” é, depois, sublinhada.

O Manifesto reclama ainda para o pensamento conservador a defesa do “verdadeiro ambientalismo” (o que não vê os seres humanos como inimigos do planeta Terra), fala da crise demográfica do continente europeu e reitera a necessidade de medidas que encorajem a natalidade. No seguimento, refere a “família tradicional”, ameaçada pelas “tentativas de desconstruir as diferenças intrínsecas” e fundacionais entre homem e mulher.

Contra a “imposição de programas ideológicos”, os conservadores e reformistas europeus querem promover “um ambiente que encoraje o pensamento crítico” e um sistema educativo centrado “na qualidade e na meritocracia”. Apontam a perturbação causada por tendências pseudo-científicas “superficiais, divisionistas e efémeras, como o wokismo e a ideologia de género” e, a terminar, reafirmam o ideal da construção “de uma sociedade fundada sobre valores duradouros, que favoreça a estabilidade, a harmonia e o bem-estar de todos os cidadãos”.

Uma declaração de princípios e valores perfeitamente legítima, não fosse o clima de alarme e prevenção que, a dois meses das eleições, invadiu as instâncias superiores da União Europeia e outras entidades públicas e privadas. Vinda de quem vem e contrária aos novos inquestionáveis direitos de uma Europa que vê em deriva individualista, experimentalista, hedonista e decadentista, a declaração tem tudo para ser uma séria candidata ao cancelamento por “desinformação” ou “discurso de ódio” recentemente proposto por Bruxelas para as plataformas sociais.

Não há valores que permaneçam sem que correspondam a uma profunda necessidade humana, a um desejo de comunidade e de continuidade, e sem que se vão adaptando, geração após geração, ao tempo, ao modo e ao lugar. Assim, os valores e princípios defendidos neste Manifesto, mais que o reflexo de um quixotesco desejo de regresso ao passado, devem antes ser vistos como uma retoma de valores e princípios permanentes no abismo criado pela sua ausência.

Um abismo globalista, onde convergem os restos do internacionalismo marxista (curiosamente, morto e enterrado nos seus baluartes russo e chinês e substituído por um nacionalismo agressivo, quase imperial) e o multilateralismo interessado de bilionários corporativos, a quem o corte de laços familiares, comunitários e nacionais favorece. Tudo gente não eleita, gente desenraizada por convicção e interesse, que se propõe impor ao mundo, de forma subtil, o que acabará por ser um pesadelo distópico, se transformado em realidade.

Direitas e não só

De certo modo, é esta a principal guerra cultural que temos pela frente. O grupo dos Reformistas e Conservadores Europeus é a frente nacional-conservadora desta batalha. O outro polo da resistência nas direitas europeias é o Identidade e Democracia, anteriormente denominado Movimento pela Europa das Nações e das Liberdades, um grupo mais popular ou populista e mais laico ou secularista, cuja origem e expansão estão sobretudo ligadas à questão da imigração descontrolada e aos riscos que representapara a identidade nacional dos países de acolhimento, para os próprios e para a continuidade dos direitos humanos europeus, velhos ou novos – a não-integração social, cultural e religiosa dos imigrantes.

Mas o que convém não esquecer é que, contrariamente ao que algumas “vanguardas esclarecidas” nos querem fazer crer, os valores europeus a que estas direitas dão voz, estão longe de ser exclusivos de parlamentares “extremistas” – e mais longe ainda de serem minoritários.

“Não passarão!”

O livro Identidade e Família, uma obra plural, reunindo textos analíticos, jurídicos ou literários assinados por duas dezenas de autores católicos, do centro-esquerda à direita conservadora, foi tratado pela Esquerda doméstica e por uma comunicação social ávida de alarme e de audiências, como uma defesa da família tradicional radical, homofóbica e perigosa para a democracia e para a comunidade. A apresentação de Pedro Passos Coelho, o “normalizador da extrema-direita”, de um livro que veiculava valores contrários aos de um suposto novo consenso, contribuiu para o delírio jornalístico e comentativo. Os autores, independentemente do que tivessem escrito, foram logo apelidados em bloco de perigosos reaccionários, populistas e fascistas. E nem faltou uma folclórica manifestação estilo “Não passarão!” à porta da Bucholz.

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COMENTÁRIOS (de 36)

Fernando Cascais: Sempre que penso nos valores da família “moderna” para a esquerda progressista vem-me à ideia um casal de homossexuais com um buldogue francês ao colo. Como dizem que nada é inato, talvez esta minha imagem tenha tido origem numa série televisiva chamada “Uma Família Muito Moderna”. Recentemente, na minha vila de Cascais cada vez mais cosmopolita vi a materialização desta minha imagem na vida real com uma pequena diferença, o buldogue francês não ia ao colo, ia numa espécie de carrinho de bebés para cães (já não sei se podemos chamar isto a estes animais de estimação). No novo conceito de família, evidentemente progressista, a mãe pode ser um homem, o pai uma mulher e os filhos um buldogue francês ou um yorkshire terrier. A mãe e o pai também podem ser transexuais ou não binários, e o buldogue francês ser uma píton albina de 4 metros. O pior de tudo são as grandes feministas e os “larilas” da esquerda radical a convencerem-nos a todos que esta é a nova normalidade e que toda e qualquer ideia em contrário é um retrocesso civilizacional. Felizmente, que toda a Europa livre vive em regimes democráticos e as escolhas são feitas através do voto nas urnas. A democracia é o grande pesadelo da extrema-esquerda porque permite aos cidadãos fazerem as suas escolhas desobedecendo ao pensamento único imposto pela agenda progressista. Assim, em junho próximo os europeus são novamente chamados a escolher. Vão estar em cima da mesa a guerra na Ucrânia, o conflito Israel com o Hamas, o federalismo da União Europeia e também os valores europeus, onde, a escolha do modelo de família tradicional como um valor fundamental para os Europeus estará em disputa eleitoral com os valores de “Uma Família Muito Moderna”. Nota: com uma evidente maioria de direita na sociedade portuguesa é preciso desconstruir uma RTP dominada pelo pensamento de extrema esquerda, começando por enviar para um gulag na Sibéria as radicais Raquel Varela e Inês Pedrosa acompanhadas pelo abrileiro moderador.                   Carlos Chaves > Fernando Cascais:Caríssimo Fernando Cascais, além do seu excelente comentário, a sua nota final é simplesmente TOP!                Ana Luís da Silva: O Jaime Nogueira Pinto, nesta prosa excelente, fez-me refletir no papel que de facto a Comunicação Social desempenha nos nossos dias, nas nossas vidas. Jornais e tvs reclamam do seu papel inestimável na divulgação da notícia, reclamam de serem eles os encartados para divulgar a informação fiável e idónea e lançam uma guerra contra as redes sociais e youtubers acusando-os de passarem desinformação ou mesmo notícias falsas, influenciando erroneamente as pessoas, o público (aquelas, coitaditas e imberbes que de certeza nasceram ontem, este, pobre e iletrado… apesar de pertencer à geração “mais- bem-preparada-de-sempre”) Só nestes últimos dias reparei que o mainstream da informação esqueceu, olvidou, deixou passar em branco três acontecimentos recentes, a que tive apenas acesso através de newsletter e de artigos de opinião do Observador, todos importantes: - a votação do aborto como direito humano (inserido na designação light dos “direitos reprodutivos da mulher”) algo que deveria ter suscitado um debate profundo e transversal a toda a sociedade, a todos os países europeus, e aconteceu o contrário, apenas foi noticiado o facto consumado; - a realização por muitas cidades do país (incluindo, Lisboa, Porto e Braga) da Caminhada pela Vida, na defesa da vida humana desde o seu nascimento até à morte natural, que junto cerca de 30 mil pessoas;  - e agora o que aqui diz em primeira mão Jaime Nogueira Pinto: a assinatura de um importante documento juntando os conservadores europeus num texto comum que os vincula a todos em redor dos valores que tornaram a Europa um farol de civilização para o mundo.  Pergunto pois, de que valem os jornais, as revistas de informação, os telejornais as perguntas dos pivôs, as opiniões dos comentadores de serviço, se o que fazem é repetir em ecolalia doentia a informação difundida pela agência LUSA e por quem manda, filtrada de tudo o que apesar de ser e acontecer não interessa, por não alinhar com a orientação progressista, de esquerda, politicamente correcta?                  Carlos Chaves: Desejo vida longa e sucesso na sua estratégia aos conservadores e reformistas Europeus! Quanto ao ambiente criado à volta da apresentação do livro Identidade e Família é a prova da intolerância e extremismo da nossa esquerda, levada ao colo pela maioria da actual nojenta comunicação social. Vamos ver se ainda vamos a tempo de travar este histerismo e radicalismo “woke” estrategicamente trazido pela esquerda antidemocrática, encabeçada pelo PS! Rui Lima: A des­cris­ti­a­ni­za­ção do ocidente terá consequências fatais para a nossa civilização , a doutrinação da juventude continua a existir temos a religião woke e outra religião que sempre foi nossa inimiga a impor-se como dominante nos pelos menos é a que tem mais fiéis nos actos religiosos em vários países , não há Mesquitas que chegam. Repito o que sempre tenho dito , desin­te­gra­ção da auto­ri­dade e a crise da trans­mis­são de valores resul­taram  na perda de todos os mar­cos da nossa civilização. Isto leva a uma nega­ção da nossa his­tó­ria e a um esque­ci­mento da nossa iden­ti­dade ouvi um presidente francês dizer "não há cul­tura fran­cesa", eu li vários autores franceses acreditava que havia. Responsáveis políticos negam o carác­ter cris­tão do Natal, olhem para o car­taz ofi­cial das Olim­pí­a­da em Paris onde a Cruz dos Inva­li­des foi substituída por uma ban­deira tri­co­lor .       Fernando Cascais > Pedra Nussapato: Calma Pedra, o caríssimo está a confundir o sapato com o chinelo. Mas é usual a cegueira ideológica da esquerda com especial incidência na radical que cria automaticamente uma nebulosa nas lentes dos olhos que os impede de ver outros pontos de vista. O meu comentário é sobre o modelo, o modelo de família. Não estou contra os modelos mais contemporâneos, nem tão pouco contra o casamento homossexual ou adopção de crianças por casais homossexuais. Confesso que me faz espécie, aliás, não considero uma coisa normal, ver alguém a passear um cão num carrinho de bebé como se fosse uma criança, mas, como democrata que sou, aceito as divergências em relação aos meus conceitos sociais e faço as minhas observações para mim mesmo. O verdadeiro progresso é o democrático, uma palavra do domínio da direita e não das esquerdas que convivem mal com o conceito como é sabido e provado. E nas democracias somos livres de manifestar as nossas opiniões e defendermos, ou melhor, proteger os modelos que entendemos mais apropriados. E é aqui que está o bulis da questão. Eu aceito que alguém possa adoptar um cão e o passeie num carrinho de bebé, não deve ser proibido e os indivíduos que fazem este tipo de prática não devem ser escorraçados socialmente, a não ser, que o PAN proponha alguma Lei que impeça os cachorros de serem passeados em carrinhos de bebé. O que eu não aceito é que me obriguem a mim a passear o meu cão num carrinho de bebé ou que seja obrigado a considerar a situação como algo perfeitamente normal. O modelo da família tradicional, na minha opinião, deve prevalecer e ser a bitola para uma sociedade mais bem estruturada moralmente, permitindo aos bebés do futuro serem educados por um pai e uma mãe biológicos sempre que seja possível e não fazermos do oposto disto a regra.             bento guerra: Ainda bem que aparece alguém inteligente e culto a pôr os pontos nos iis. A comunicação social está cada vez mais medíocre e como se sabe ,é mais rápido e fácil estragar do que fazer bem. Depois, as sociedades vivem uma "obesidade informativa" alimentada pela publicidade e não é fácil o discernimento               José B Dias: ... contrariamente ao que algumas “vanguardas esclarecidas” nos querem fazer crer, os valores europeus a que estas direitas dão voz, estão longe de serem exclusivos de parlamentares “extremistas” – e mais longe ainda de serem minoritários. Convinha mesmo que tal, para lá de não esquecido, fosse antes lembrado e relembrado! E eu sou ateu.         Fernando Cascais > Pedra Nussapato: E o caro Pedra acha que eu tenho direito a essa opinião ou não? E se achar que eu tenho direito a ter esta opinião vê nisso um retrocesso civilizacional? Não há legitimidade em defender o modelo da família tradicional como a bitola para uma sociedade mais bem estruturada moralmente?            Tim do A: Os valores da direita que chamam de radical são os valores conservadores. O poder instalado Woke é que é radical por querer destruir a família e as nações para acabar com os países. Neste momento só o Chega não é radical, sendo conservador.               SDC Cruz: A esquerdalha doméstica são, de facto, os novos fascistas. Estes, sim, estes não passarão!


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