Frisa esses valores, num contexto de
corajoso esclarecimento, como sempre. Como ele, Jaime
Nogueira Pinto, sejamos valorosos, contrariando sem receio a tal
tendência woke encaixada em malabarismos de hipocrisia social só aparentemente
valorizadora, e apenas indigna e aviltante do ser humano.
Valores europeus
Contrariamente ao que nos querem
fazer crer, os valores a que as direitas europeias dão voz estão longe de serem
exclusivos de “parlamentares extremistas” e mais longe ainda de serem
minoritários.
JAIME NOGUEIRA PINTO Colunista do
Observador
OBSERVADOR, 13 abr. 2024, 00:2036
São os valores – os “valores de
orientação permanente”, como sempre dizia Jorge Borges de Macedo – que
determinam ou deveriam determinar as nossas escolhas ou convicções políticas.
Mas a verdade é que, como em outras circunstâncias da vida, a maioria só
descobre esses valores pela sua falta, ou melhor, quando, pelas consequências
existenciais da sua falta, outros mais baixos valores de desorientação se
levantam.
Talvez por isso, em 21 de Março passado,
em Subiaco, os deputados do Grupo
Conservador e Reformista Europeu tenham lavrado e aprovado a Carta dos Valores Conservadores Europeus. Os
redactores e subscritores do documento pretendem resgatar os valores inspirados nos ensinamentos de S. Bento, um dos pais da
Europa cristã, vendo nessa ligação à tradição não uma “recusa do progresso” ou
um qualquer desejo de regresso à Idade Média, mas “uma preservação de valores
de continuidade”.
S. Bento de Núrsia foi o
fundador, em 529, em Monte Cassino, da ordem beneditina, que através dos seus
mosteiros, espalhados por toda a Europa, associando a oração, o estudo e o
trabalho, fez, numa época de grande crise, a ponte civilizacional entre a ordem
romana imperial, destruída no século V, e os novos reinos medievais.
Raízes cristãs
Assim, é no cristianismo, ou
mais precisamente na convergência das tradições grega, romana e cristã, que o Manifesto dos conservadores europeus radica a
identidade da Europa, um acto extremo e revolucionário, ao que parece, embora
só muito dificilmente possa enunciar-se uma ideia de “Europa”, qualquer que ela
seja, sem a convergência destas três tradições.
Na dita Carta defende-se também a diferença: as identidades
históricas e culturais únicas de todos Estados membros e a sua soberania
nacional – prerrogativa dos “grandes”, independentemente da retórica –, e
a diversidade de pensamento, contra “uma União Europeia entendida
como instrumento para a realização de uma agenda globalista virada para impor o
pensamento único progressista e o relativismo ético”. A importância “da fé e da moral na formação de uma sociedade justa”
é, depois, sublinhada.
O Manifesto reclama ainda para o
pensamento conservador a defesa do “verdadeiro
ambientalismo” (o que não vê os seres humanos como inimigos do planeta Terra), fala da crise
demográfica do continente europeu e reitera a necessidade de medidas que
encorajem a natalidade. No seguimento, refere a “família tradicional”,
ameaçada pelas “tentativas de desconstruir as diferenças intrínsecas” e
fundacionais entre homem e mulher.
Contra
a “imposição de programas ideológicos”, os conservadores e reformistas europeus
querem promover “um ambiente que encoraje o
pensamento crítico” e um sistema educativo centrado “na qualidade e na
meritocracia”. Apontam a perturbação causada por tendências
pseudo-científicas “superficiais, divisionistas e efémeras, como o wokismo e a
ideologia de género” e, a terminar, reafirmam o ideal da construção “de uma sociedade fundada sobre
valores duradouros, que favoreça a estabilidade, a harmonia e o bem-estar de
todos os cidadãos”.
Uma
declaração de princípios e valores perfeitamente legítima, não fosse o clima de
alarme e prevenção que, a dois meses das eleições, invadiu as instâncias
superiores da União Europeia e outras entidades públicas e privadas. Vinda de
quem vem e contrária aos novos inquestionáveis direitos de uma Europa que vê em
deriva individualista, experimentalista, hedonista e decadentista, a declaração
tem tudo para ser uma séria candidata ao cancelamento por “desinformação” ou
“discurso de ódio” recentemente proposto por Bruxelas para as plataformas
sociais.
Não
há valores que permaneçam sem que correspondam a uma profunda necessidade
humana, a um desejo de comunidade e de continuidade, e sem que se vão
adaptando, geração após geração, ao tempo, ao modo e ao lugar. Assim,
os valores e princípios defendidos neste Manifesto, mais que o reflexo
de um quixotesco desejo de regresso ao passado, devem antes ser vistos como uma
retoma de valores e princípios permanentes no abismo criado pela sua ausência.
Um abismo globalista, onde convergem os
restos do internacionalismo marxista (curiosamente, morto e enterrado nos seus
baluartes russo e chinês e substituído por um nacionalismo agressivo, quase
imperial) e o
multilateralismo interessado de bilionários corporativos, a quem o corte de
laços familiares, comunitários e nacionais favorece. Tudo gente não eleita,
gente desenraizada por convicção e interesse, que se propõe impor ao mundo, de
forma subtil, o que acabará por ser um pesadelo distópico, se transformado em
realidade.
Direitas e não só
De certo modo, é esta a principal
guerra cultural que temos pela frente. O grupo dos Reformistas e Conservadores
Europeus é a frente nacional-conservadora desta batalha. O outro polo da resistência nas direitas
europeias é o Identidade e Democracia, anteriormente denominado Movimento pela
Europa das Nações e das Liberdades, um grupo mais popular ou populista e mais
laico ou secularista, cuja origem e expansão estão sobretudo ligadas à questão
da imigração descontrolada e aos riscos que representa – para a identidade nacional dos países de
acolhimento, para os próprios e para a continuidade dos direitos humanos
europeus, velhos ou novos – a
não-integração social, cultural e religiosa dos imigrantes.
Mas o que convém não esquecer é que,
contrariamente ao que algumas “vanguardas esclarecidas” nos querem fazer crer,
os valores europeus a que estas direitas dão voz, estão longe de ser exclusivos
de parlamentares “extremistas” – e mais longe ainda de serem minoritários.
“Não passarão!”
O
livro Identidade
e Família, uma obra
plural, reunindo textos analíticos, jurídicos ou literários assinados por duas
dezenas de autores católicos, do centro-esquerda à direita conservadora, foi
tratado pela Esquerda doméstica e por uma comunicação social ávida de alarme e
de audiências, como uma defesa da família tradicional radical, homofóbica e
perigosa para a democracia e para a comunidade. A
apresentação de Pedro Passos Coelho, o “normalizador
da extrema-direita”, de um livro que veiculava valores contrários aos de um
suposto novo consenso, contribuiu para o delírio jornalístico e comentativo. Os
autores, independentemente do que tivessem escrito, foram logo apelidados em
bloco de perigosos reaccionários,
populistas e fascistas. E nem
faltou uma folclórica manifestação estilo “Não passarão!” à porta da Bucholz.
A SEXTA
COLUNA HISTÓRIA CULTURA POLÍTICA
COMENTÁRIOS (de 36)
Fernando Cascais: Sempre que penso nos valores da família “moderna” para a esquerda
progressista vem-me à ideia um casal de homossexuais com um buldogue francês ao
colo. Como dizem que nada é inato, talvez esta minha imagem tenha tido origem
numa série televisiva chamada “Uma Família Muito Moderna”. Recentemente, na
minha vila de Cascais cada vez mais cosmopolita vi a materialização desta minha
imagem na vida real com uma pequena diferença, o buldogue francês não ia ao
colo, ia numa espécie de carrinho de bebés para cães (já não sei se podemos
chamar isto a estes animais de estimação). No novo conceito de família,
evidentemente progressista, a mãe pode ser um homem, o pai uma mulher e os
filhos um buldogue francês ou um yorkshire terrier. A mãe e o pai também podem
ser transexuais ou não binários, e o buldogue francês ser uma píton albina de 4
metros. O pior de tudo são as grandes feministas e os “larilas” da
esquerda radical a convencerem-nos a todos que esta é a nova normalidade e que
toda e qualquer ideia em contrário é um retrocesso civilizacional. Felizmente,
que toda a Europa livre vive em regimes democráticos e as escolhas são feitas
através do voto nas urnas. A democracia é o grande pesadelo da
extrema-esquerda porque permite aos cidadãos fazerem as suas escolhas
desobedecendo ao pensamento único imposto pela agenda progressista. Assim, em
junho próximo os europeus são novamente chamados a escolher. Vão estar em cima
da mesa a guerra na Ucrânia, o conflito Israel com o Hamas, o federalismo da
União Europeia e também os valores europeus, onde, a escolha do modelo de
família tradicional como um valor fundamental para os Europeus estará em disputa
eleitoral com os valores de “Uma Família Muito Moderna”. Nota:
com uma evidente maioria de direita na sociedade portuguesa é preciso
desconstruir uma RTP dominada pelo pensamento de extrema esquerda, começando
por enviar para um gulag na Sibéria as radicais Raquel Varela e Inês Pedrosa
acompanhadas pelo abrileiro moderador. Carlos
Chaves > Fernando Cascais:Caríssimo Fernando Cascais, além do seu
excelente comentário, a sua nota final é simplesmente TOP! Ana Luís da Silva: O Jaime Nogueira Pinto, nesta prosa
excelente, fez-me refletir no papel que de facto a Comunicação Social
desempenha nos nossos dias, nas nossas vidas. Jornais e tvs reclamam do seu papel
inestimável na divulgação da notícia, reclamam de serem eles os encartados para
divulgar a informação fiável e idónea e lançam uma guerra contra as redes
sociais e youtubers acusando-os
de passarem desinformação ou mesmo notícias falsas, influenciando erroneamente as
pessoas, o público (aquelas, coitaditas e imberbes que de certeza nasceram
ontem, este, pobre e iletrado… apesar de pertencer à geração “mais-
bem-preparada-de-sempre”) Só nestes últimos dias reparei que o mainstream da informação esqueceu,
olvidou, deixou passar em branco três acontecimentos recentes, a que tive
apenas acesso através de newsletter
e de artigos de opinião do Observador, todos importantes: - a votação do
aborto como direito humano (inserido na designação light dos “direitos reprodutivos da mulher”) algo que deveria
ter suscitado um debate profundo e transversal a toda a sociedade, a todos os
países europeus, e aconteceu o contrário, apenas foi noticiado o facto
consumado; - a realização por muitas cidades do país (incluindo, Lisboa,
Porto e Braga) da Caminhada pela Vida, na defesa da vida humana desde o seu
nascimento até à morte natural, que junto cerca de 30 mil pessoas; - e
agora o que aqui diz em primeira mão Jaime Nogueira Pinto: a assinatura de um
importante documento juntando os conservadores europeus num texto comum que os
vincula a todos em redor dos valores que tornaram a Europa um farol de
civilização para o mundo. Pergunto
pois, de que valem os jornais, as revistas de informação, os telejornais as
perguntas dos pivôs, as opiniões dos comentadores de serviço, se o que fazem é
repetir em ecolalia doentia a informação difundida pela agência LUSA e por quem
manda, filtrada de tudo o que apesar de ser e acontecer não interessa, por não
alinhar com a orientação progressista, de esquerda, politicamente correcta? Carlos
Chaves: Desejo
vida longa e sucesso na sua estratégia aos conservadores e reformistas
Europeus! Quanto ao ambiente criado à volta da apresentação do livro Identidade
e Família é a prova da intolerância e extremismo da nossa esquerda, levada ao
colo pela maioria da actual nojenta comunicação social. Vamos ver se ainda
vamos a tempo de travar este histerismo e radicalismo “woke” estrategicamente
trazido pela esquerda antidemocrática, encabeçada pelo PS! Rui Lima: A descristianização do ocidente terá
consequências fatais para a nossa civilização , a doutrinação da juventude continua
a existir temos a religião woke e outra religião que sempre foi nossa inimiga a
impor-se como dominante nos pelos menos é a que tem mais fiéis nos actos
religiosos em vários países , não há Mesquitas que chegam. Repito o que sempre
tenho dito , desintegração da autoridade e a crise da transmissão de
valores resultaram na perda de todos os
marcos da nossa civilização. Isto leva a uma negação da nossa história e a
um esquecimento da nossa identidade ouvi um presidente francês dizer
"não há cultura francesa", eu li vários autores franceses acreditava
que havia. Responsáveis políticos negam o carácter cristão do Natal, olhem
para o cartaz oficial das Olimpíada em Paris onde a Cruz dos Invalides
foi substituída por uma bandeira tricolor . Fernando
Cascais > Pedra Nussapato: Calma Pedra, o caríssimo está a confundir
o sapato com o chinelo. Mas é usual a cegueira ideológica da esquerda com
especial incidência na radical que cria automaticamente uma nebulosa nas lentes
dos olhos que os impede de ver outros pontos de vista. O meu comentário é sobre
o modelo, o modelo de família. Não estou contra os modelos mais contemporâneos,
nem tão pouco contra o casamento homossexual ou adopção de crianças por casais
homossexuais. Confesso que me faz espécie, aliás, não considero uma coisa
normal, ver alguém a passear um cão num carrinho de bebé como se fosse uma
criança, mas, como democrata que sou, aceito as divergências em relação aos
meus conceitos sociais e faço as minhas observações para mim mesmo. O
verdadeiro progresso é o democrático, uma palavra do domínio da direita e não
das esquerdas que convivem mal com o conceito como é sabido e provado. E nas
democracias somos livres de manifestar as nossas opiniões e defendermos, ou
melhor, proteger os modelos que entendemos mais apropriados. E é aqui que está
o bulis da questão. Eu aceito que alguém possa adoptar um cão e o passeie num
carrinho de bebé, não deve ser proibido e os indivíduos que fazem este tipo de
prática não devem ser escorraçados socialmente, a não ser, que o PAN proponha
alguma Lei que impeça os cachorros de serem passeados em carrinhos de bebé. O
que eu não aceito é que me obriguem a mim a passear o meu cão num carrinho de
bebé ou que seja obrigado a considerar a situação como algo perfeitamente
normal. O modelo da família tradicional, na minha opinião, deve prevalecer e
ser a bitola para uma sociedade mais bem estruturada moralmente, permitindo aos
bebés do futuro serem educados por um pai e uma mãe biológicos sempre que seja
possível e não fazermos do oposto disto a regra. bento guerra: Ainda bem que aparece alguém inteligente e
culto a pôr os pontos nos iis. A comunicação social está cada vez mais medíocre
e como se sabe ,é mais rápido e fácil estragar do que fazer bem. Depois, as
sociedades vivem uma "obesidade informativa" alimentada pela
publicidade e não é fácil o discernimento José B
Dias: ...
contrariamente ao que algumas “vanguardas esclarecidas” nos querem fazer crer,
os valores europeus a que estas direitas dão voz, estão longe de serem
exclusivos de parlamentares “extremistas” – e mais longe ainda de serem
minoritários. Convinha mesmo que tal, para lá de não esquecido, fosse antes
lembrado e relembrado! E eu sou ateu.
Fernando Cascais > Pedra Nussapato: E o caro Pedra acha que eu tenho direito
a essa opinião ou não? E se achar que eu tenho direito a ter esta opinião vê
nisso um retrocesso civilizacional? Não há legitimidade em defender o modelo da
família tradicional como a bitola para uma sociedade mais bem estruturada
moralmente? Tim do A: Os valores da direita que chamam de
radical são os valores conservadores. O poder instalado Woke é que é radical
por querer destruir a família e as nações para acabar com os países. Neste momento só o Chega não é radical,
sendo conservador. SDC
Cruz: A
esquerdalha doméstica são, de facto, os novos fascistas. Estes, sim, estes não
passarão!
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