Por conta
da necessidade. É um fenómeno, pois, bastante natural, nos cucos fêmeas como
nos humanos, a cada passo, segundo a experiência me ensinou, sobretudo nestes
últimos cinquenta anos que vivi, a celebrar hoje, com unção.
Investigadores desvendam “mistério natural” sobre cores das fêmeas de cucos
O estudo
recorreu a ferramentas genómicas para desvendar “um mistério natural com mais
de 200 anos”: a presença de cores distintas entre fêmeas de diferentes espécies
de cucos.
OBSERVADOR; 24 abr. 2024
▲Os machos de
cuco são sempre cinzentos, mas as fêmeas podem ser cinzentas ou arruivadas
(hepática) David Kjaer
Investigadores
do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos
(BIOPOLIS-CIBIO) da Universidade do Porto desvendaram “um mistério natural”
sobre a presença de cores distintas entre fêmeas de diferentes espécies de
cucos, foi revelado nesta quarta-feira.
O
estudo, publicado nesta quarta-feira na revista científica Science Advances,
recorreu a ferramentas genómicas para desvendar “um mistério natural com mais
de 200 anos”: a fêmea hepática do cuco.
“A variação natural intrínseca das
espécies encontra-se, por vezes, restrita a um só sexo, criando um enigma para
o qual os cientistas há muito procuram resposta”, destaca, em comunicado, o
centro de investigação.
O cuco hepático – variedade de cucos arruivados – foi descrito em 1788 pelo sueco Anders
Sparrman por ser “tão distinta dos habituais cucos cinzentos” e que catalogou
como “uma nova espécie de ave”.
Ao longo dos séculos, tornou-se claro
que os machos de cuco eram sempre cinzentos, mas que as fêmeas podiam ser
cinzentas ou arruivadas (hepática).
“Esta
descoberta tornou-se mais intrigante quando se descobriu que outras espécies de
cuco, para além do mais famoso cuco-canoro europeu, também tinha a mesma variação –
cinzenta/hepática – restrita às fêmeas”, acrescenta.
A fêmea cuco dispõe de alguns segundos para pôr os seus ovos no
ninho de outra espécie de ave e para o fazer, o seu dorso cinzento e o peito
barrado “mimetizam a cor de aves de rapina”, afugentando o hospedeiro.
A
diferença entre indivíduos de sexos diferentes é comum nos animais, mas a
variação restrita a um sexo é “menos comum”, salienta, citado no comunicado, o
investigador e coautor do estudo Miguel Carneiro.
Os investigadores começaram por
estudar uma população de cucos da Hungria, na qual as fêmeas hepáticas
coexistem com fêmeas cinzentas, tendo, posteriormente descodificado os genomas
dos cucos.
“As fêmeas cinzentas e hepáticas têm
um perfil genético idêntico, tão semelhante como qualquer vizinho. No entanto, quando olhamos para os
cromossomas sexuais vimos que no cromossoma W, que é específico das fêmeas de
aves, são tão diferentes que parecia estarmos perante duas espécies distintas”,
esclarece, também citada no comunicado, Cristiana Marques, coautora do estudo.
Depois de estudarem a população de
cucos húngara, os investigadores focaram-se no cuco-oriental, espécie asiática, onde por vezes as fêmeas
são também da variante hepática.
Reconstruímos a árvore evolutiva destes
cucos e descobrimos que, ao contrário do resto do genoma, no
cromossoma W o parentesco é maior consoante a cor da fêmea, ou seja, uma fêmea
de cuco-canoro hepática tem um W mais semelhante ao de uma fêmea hepática de
cuco-oriental, do que o da fêmea cinzenta da mesma espécie”, refere também
Pedro Andrade, acrescentando que a equipa
tentou posteriormente perceber se a partilha de variação ocorria por hibridação
ou se era antiga.
“Os
nossos dados sugerem que esta variação é, efetivamente, muito antiga. A
mutação original ocorreu provavelmente há cerca de um milhão de anos, antes do
aparecimento do cuco-canoro e do cuco-oriental actuais, e tem sido passada
geração após geração à medida que as espécies evoluíram”, explicam os
investigadores.
Os resultados do estudo demonstram como a variação de cor restrita a um sexo pode
ser determinada pelos cromossomas sexuais, o que “à primeira vista parece
intuitivo, mas que surpreendentemente até agora tinha sido difícil de
demonstrar”, destacam os investigadores.
Manter duas formas diferentes numa
população de cucos poderá ajudar a impedir os hospedeiros dos ninhos de
aprenderem a distinguir as fêmeas das aves de rapina que mimetizam, salvaguardando
a espécie.
Neste momento, os investigadores estão a
estudar se as cores têm facilitado o
estilo de vida parasítico dos cucos ao longo da sua evolução.
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