Esperemos que para bem de todos nós. Um bom trabalho de pesquisa e de
afecto de MIGUEL SANTOS CARRAPATOSO. A receber, é claro, os zunzuns de alguns.
Dois tropeções, a impressão de Marcelo, o laboratório a funcionar, experiência
autárquica e músculo no Parlamento
Luís
Montenegro teve de atrasar entrega de lista final de secretário de Estado.
Ex-assessores de Marcelo entram no Governo. Laboratório do PSD deu trunfos.
Autarcas e homens de combate foram aposta.
MIGUEL SANTOS CARRAPATOSO: Texto
OBSERVADOR, 05
abr. 2024, 01:473
Uma lista incompleta que atrasou o processo. Elogiado internamente pela forma como tem
conseguido guardar reserva sobre as suas escolhas para o Governo, o método de
Luís Montenegro para a escolha de secretários de Estado voltou a criar alguns
bloqueios — algo que já tinha motivado calafrios na selecção dos ministros.
Convites guardados para o fim para evitar fugas de informação, a
exigência do preenchimento do formulário de 36 perguntas para evitar embaraços
futuros, dificuldades de recrutamento (a
política, sobretudo neste contexto, deixou de ser um lugar tão atractivo)
fizeram com que Montenegro chegasse à sua
primeira audiência com Marcelo Rebelo de Sousa sem a equipa de secretários de
Estados completa — faltavam dois elementos. O Presidente da
República contemporizou e permitiu a Montenegro que fechasse o dossiê — o ‘ok‘
só foi dado pelas dez da noite, mais de três horas depois de o
primeiro-ministro ter deixado Belém.
Segundo apurou o Observador, estes dois secretários de Estado ainda não
se tinham desvinculado devidamente do lugar de origem. É essa, pelo menos,
a versão oficiosa que corre, já que, oficialmente, nem Governo, nem Presidência
da República explicam o porquê deste atraso. Seja como for, durante a manhã de quinta-feira, o elenco
ainda estava por fechar e assim chegou até à audiência de Montenegro com
Marcelo Rebelo de Sousa — o primeiro encontro formal entre o novo
primeiro-ministro e o Presidente da República em Belém, ritual que se vai
repetir à quinta-feira enquanto coabitarem nas respetivas funções.
De resto, olhando para a equipa de
secretários de Estado, a impressão digital de Marcelo é indelével: há três
colaboradores do Presidente da República a integrar o Governo. Hélder Reis, até aqui consultor do Presidente da
República para assuntos orçamentais, e que era seu assessor para o Plano de
Recuperação e Resiliência (PRR), é o
novo secretário de Estado do Desenvolvimento Regional, sob a alçada do ministro
Castro Almeida, que terá como responsabilidade a gestão dos fundos europeus. Ora,
atendendo aos repetidos avisos de Marcelo sobre a oportunidade única que
representa este pacote de estímulos europeus, não é exagerado dizer que, com a escolha de Hélder Reis, a
articulação nesta matéria será uma prioridade para o renovado eixo Belém-São
Bento.
Também Nuno
Sampaio, que até
aqui era assessor para os Assuntos Políticos da Casa Civil da Presidência da
República, será agora secretário
de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, fazendo parte do
Ministério liderado por Paulo
Rangel. A estes soma-se 8 ainda que
seja um caso ligeiramente diferente: a
antiga deputada é há muito uma apoiante de Luís Montenegro, deixou o Parlamento
no consulado de Rui Rio, tornou-se assessora económica de Marcelo Rebelo de
Sousa e deixou de o ser, precisamente, para voltar a ser deputada — será, a
partir de agora, secretária
de Estado dos Assuntos Europeus, no Ministério de Rangel.
Há outro aspecto que une Inês Domingos e Nuno
Sampaio: eram os dois coordenadores do Conselho
Estratégico Nacional do PSD, o órgão do partido coordenado por Pedro Duarte,
agora ministro dos Assuntos Parlamentares, que serviu e serve como laboratório
para o desenho de propostas do PSD. João Silva
Lopes (Tesouro
e Finanças), Rui Armindo
Freitas (Adjunto e
da Presidência), Ana Isabel
Xavier (Defesa Nacional), Cristina Vaz Tomé (Gestão da Saúde) e João Rui
Ferreira (Economia) também fazem parte do Governo — são
sete originários do CEN. Oito com Rita
Júdice, que foi conhecida como ministra da Justiça.
Houve também um esforço para colocar ex-autarcas e gente com
experiência no aparelho social-democrata em lugares-chave. Emídio Sousa, presidente
da Câmara de Santa Maria da Feira entre 2013 e 2024, será secretário de Estado do Ambiente. Hernâni
Dias, antigo
presidente da Câmara Municipal de Bragança, será secretário de Estado da Administração
Local. Rui Ladeira, antigo
presidente da Câmara de Vouzela, fica
com as Florestas. Álvaro
Castello-Branco, antigo
vice-presidente da Câmara Municipal do Porto, fica com Defesa Nacional. Paulo Ribeiro, líder
da distrital do PSD/Setúbal, fica com a pasta da Protecção Civil, e João Moura, presidente
da distrital do PSD/Santarém, fica com a Agricultura.
Numa legislatura que se antecipa que
seja de intenso combate político, salta igualmente à vista o regresso de
Carlos Abreu Amorim à vida
política. Ex-deputado, tendo chegado a
ser vice-presidente da bancada parlamentar do PSD, afirmou-se rapidamente como
um dos mais duros pontas de lança do passismo. Deixou o Parlamento
em 2018, durante o reinado de Rui Rio. Volta à política para ser secretário de
Estado Adjunto dos Assuntos Parlamentares, no Ministério liderado por Pedro
Duarte, numa frente que passa a três cabeças: Pedro Duarte, Abreu Amorim e Hugo Soares, líder parlamentar,
secretário-geral do PSD e braço direito de Montenegro.
O CDS ganha uma dimensão considerável— tem agora mais governantes (3) do que deputados (2)
— e pastas políticas relevantes.
Telmo Correia, um nome incontornável do CDS,
aceitou ser secretário de Estado
da Administração Interna mesmo depois
de ter sido ministro do Turismo no passado — um movimento incomum. Álvaro Castello-Branco trabalhará
directamente com Nuno Melo na Defesa. Assim,
um partido que até 9 de março não tinha sequer presença no Parlamento, passa a
influenciar pastas (e processos de negociação) muito sensíveis, mas que tocam
directamente no eleitorado tradicional dos democratas-cristãos.
Olhando
para três pastas sectoriais assumidamente importantes para o Governo de Luís
Montenegro (Educação, Saúde, Administração Interna e Justiça) mantém-se
o padrão utilizado na escolha de ministros — pessoas que conhecem
o sebtor, mas que estão acima das corporações, não sendo, em teoria, partes
interessadas nas negociações que terão de existir.
Alexandre Homem Cristo, futuro secretário de Estado Adjunto e da
Educação, um super-secretário numa pasta liderada por um economista de
formação, Fernando Alexandre, é independente e foi eleito deputado nas
últimas legislativas. Antes disso, tinha
sido Conselheiro Nacional de Educação, assessor parlamentar, gestor de projectos de inovação educativa
a nível nacional e internacional, além de investigador e comentador residente
no Observador.
Na Saúde, depois da escolha de Ana Paula Martins
(ex-bastonária da Ordem dos Farmacêuticos) para ministra, passa a ter Ana Povo (médica
de formação, mas especializada Organização e Sistemas de Saúde) e Cristina Vaz Tomé (com MBA em
gestão internacional, licenciatura em Engenharia de Gestão Industrial e
administradora em empresas de comunicação social, com a RTP e Impresa).
Não sendo o nome do CDS mais
associado às polícias — Nuno
Magalhães, Filipe Lobo D’Ávila e João Almeida são figuras do partido que foram
acompanhando o tema –, Telmo
Correia, na Administração
Interna, não é uma figura completamente estranha àquele
universo. Não terá grandes anticorpos no sector que vai ajudar a tutelar.
As escolhas mais atípicas acabam por
acontecer, novamente, na Justiça. A opção de Rita Júdice (advogada especializada em Direito Imobiliário) para
o lugar de ministra foi entendida como tendo sido uma segunda escolha. Terá
agora no seu Ministério Maria
Clara Figueiredo, uma juíza
desembargadora no tribunal da Relação, que pertenceu ao colectivo que deu uma
resposta favorável às pretensões da família do homem mortalmente atropelado
pelo carro de serviço de Eduardo Cabrita. Antes disso, no entanto, esteve no Tribunal de Portalegre, mais
ligada ao Direito do Trabalho. Talvez mais singular é a escolha de Maria José Barros,
licenciada em Direito mas com um percurso profissional ligado à administração
hospitalar, como secretária de Estado da Justiça.
NOVO GOVERNO POLÍTICA PSD CDS-PP
COMENTÁRIOS:
bento guerra: Está feita a foto da equipa ,alindada a "photoshop". Falta a
entrada em campo e os primeiros chutos. O Observador confirma-se
"laranja". Vamos ver se não é amarga Rui Pedro Matos: Alexandre
Homem Cristo e Fernando Alexandre, são/foram ambos colaboradores de
observador.pt.! É de lastimar a ausência dessa informação apenas visando a
colaboração do Ministro da Educação, Tecnologia e Ciência. Rui Pedro
Matos > Rui Pedro Matos: O sr. Carrapatoso é um trabalhador top! Não conhece os
colegas de trabalho, nomeadamente um ex-cronista semanal, Alexandre Homem
Cristo! É preciso tomar, sugiro, memoelefante! Vitor
Dias: O maior
tropeção é o não é não. Não rima, mas é verdade. Pertinaz: Não sendo um incondicional de Montenegro,
reconheço a habilidade em construir um governo no recato, fora das páginas dos
jornais… algo que os jornaleiros não gostam… BOSS s > pertinaz: Os jornaleiros abominam não fazerem
parte da narrativa. Vão-se
habituando Joao
Cadete: Como expectável, o jornaleiro começa o artigo pela
negativa... dois tropeções.
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