terça-feira, 16 de abril de 2024

Pas de «Questions…


pour un Champion», digo. Hoje – aliás, ontem, já - pelas 15h 30, como de costume, (excepto aos fins de semana).

Em vez do espaço em roda, de mesas altas para os concorrentes do “Questions” em pé, uma sala bastamente assistida de cadeiras com gentes nelas sentadas, mais ou menos circunspectas – digo, as gentes. Espaço onde comecei por ouvir uns berros selváticos a imitar canções, para o enfoque não direi provocatório, mas a dar o tom a uma homenagem a alguém que tão bem soubera criar em escrita versátil. Um grupo de mulheres na frente, mantinha uma atitude que achei ressabiada – não sorridente mas altivamente expectante, das que tinham as mentes impregnadas da superioridade actualmente reclamante, contra os racismos subjugantes dos colonialismos, aniquiladores das tradições e culturas, consideradas primitivas, desses povos, ou apenas ignoradas pelos tais colonialistas ditos exploradores que preferiram difundir as suas próprias culturas nas terras por eles arduamente ocupadas. A gente das cadeiras, parecia ali posta - não em sossego, mas em expectativa, de uma seriedade formal, de compromisso imposto pelo respeitoso do evento, apesar dos berros iniciais inesperados, em vez de um cântico solene, a condizer com a dignidade do momento – de homenagem a uma figura do conhecimento geral – a escritora Maryse Condé, que morrera, aos 90 anos (11/2/1934 – 2/4/2024), após uma vida de escritora guadalupense preenchida de andanças e de escrita de livros, cuja vida apaixonante e amplamente premiada, leio na Internet, em francês, pois que foi em francês que escreveu, dignificando ainda mais a língua francesa com as suas obras, língua, de resto, que tantos escritores franceses haviam já variamente dignificado, mas que Maryse Condé, excelsamente elevaria também como o fez sentir Emmanuel Macron, que apareceu no salão, e leu o seu longo texto entusiástico, sobre a escritora que certamente contribuíra para os movimentos reivindicativos desses povos que hoje reclamam, em ardores gritantes, como deram a entender os berros iniciais da sessão, a imitar canções – não fúnebres, em todo o caso, mas puramente mistificadoras - ou desmistificadoras, ao gosto do freguês.

Um longo e ardente discurso, o de Emmanuel Macron, que parecia sincero no seu entusiasmo laudatório. A menos que fosse apenas delicadamente homenageante… se não timorato, dada a atitude das mulheres da frente, séria e expectante, a merecer respeito laudatório.

Julgo que não vou ler Maryse Condé, pouco afeita hoje à compra de livros, preferindo retomar os que fui comprando ao longo da vida, muitos dos quais também leu, a elogiada escritora guadalupense.

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