No país. Foi o que me pareceu o discurso
de Pedro Passos Coelho. Mas a
retoma dos partidos e das gentes do contra volta a estar na berra. Não há estômago
que aguente. Pobre país, em eclipse permanente! Eclipse do sol, com muitas luas
– os formuladores de opinião – a escorregar para a ribalta do ensombramento total.
Veremos o que realmente pretende Luís
Montenegro, com o seu sorriso de esquiva sinceridade, afinal. Dos
seus opositores, sabemos bem as intenções lunáticas: criar as trevas, a todo o
custo, no país que desprezam, luas de estreiteza e pompa exibicionista, forjadores
de um ácido luto perpétuo.
Passos eclipsou o eclipse e o país caiu
nas trevas
Passos Coelho apareceu e alertou para
“os adversários da família” e para “a cultura de morte”. Que estupidez.
Famílias? Blergh, que nojo! Abortos e eutanásias? Só lamento os que ficam por
fazer.
TIAGO DORES Colunista do Observador
OBSERVADOR, 10 abr. 2024, 00:1613
E esta semana, a começar com um
espectacular eclipse do sol, toda armada em boa?! A penúltima semana teve a
Sexta-feira Santa e esta, para não ficar atrás, tumba!, responde à data
religiosa com um super-evento astronómico. Não podem ver nada, estas semanas.
Quem também não pôde ver nada foi boa parte da população dos Estados Unidos da
América durante o tempo em que a lua tapou o sol.
Durante esses momentos a coroa solar, a camada externa da atmosfera do Sol, torna-se
particularmente visível (…), pelo que foi observado com atenção, já que é aqui
que ocorrem as erupções solares. A estrela da Terra está actualmente perto do
seu pico de actividade (ao contrário de 2017). Diz a revista Visão.
Que, se for preciso, na página seguinte afirma a pés juntos que qualquer
aumento de temperaturas é culpa de ainda não termos trocado uma dieta onde às
vezes há pojadouro, por uma alimentação toda à base de larvas de besouro.
E nunca, jamais, lhes ocorre que o facto
de, como a própria Visão acaba de confirmar, o Sol estar “actualmente perto do
seu pico de actividade” tenha qualquer impacto nas temperaturas na Terra. Pois
se o sol é tão fresquinho, como poderia ser o culpado de tal? Como é que é?
“Visão. Tenha uma”. Não é assim, a assinatura da revista? Tenha uma, mas com o
mínimo de 3 dioptrias em cada olho, convinha avisar a bem da seriedade
publicitária.
Por cá, o único fenómeno capaz de
eclipsar um eclipse é uma aparição pública de Pedro Passos Coelho. Aparição que
provoca na esquerda – e em boa parte da direita – o mesmo efeito que os
eclipses tinham junto dos astecas, que os consideravam um fenómeno anunciador
do apocalipse. Passos aparece e o país mergulha na mais profunda escuridão,
lançado para as trevas. Então se Passos aparece para apresentar um livro que
reune opiniões contra “os adversários da família”, “a ideologia de género” e “a
cultura de morte”, ui, aí é que o caldo está entornado.
O caldo entorna-se e com razão, claro.
Famílias? Blergh, que nojo! Bloqueadores de puberdade? Mastectomias a meninas
saudáveis? Dêem-me mais disso, se faz favor. Abortos e eutanásias? Só lamento
os que ficam por fazer. Mas agora
admite-se alguém ousar emitir uma opinião desfavorável a todas estas maravilhas
do progresso? Pois se o progresso é para progredirmos! Sim, mas progredir
na direcção de quê? Então, na direcção que esta histérica cambada de autoritários
entender, como é evidente! E calem-se já com as perguntas desagradáveis.
Isto também é válido para si, Papa
Francisco. Ah, pois. A partir de agora, para os Pedros Nunos Santos e Isabéis
Moreiras da vida, o Papa é um comprovado nazi. Isto porque o Papa Francisco acaba de publicar um novo texto dedicado ao
respeito pela “dignidade humana”, que critica a mudança de sexo e a “teoria de
género”. Dando assim um contributo, ainda que humilde, a Pedro Passos
Coelho no eclipsar da notícia de que
Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro andam a trocar correspondência.
Diz que sim, que o líder do PS escreveu
uma carta ao primeiro-ministro a mostrar disponibilidade para “construir”, até
julho, o acordo que propôs para a valorização das carreiras e salários dos profissionais
de saúde, das forças de segurança, dos oficiais de justiça e dos professores.
Ao que Luis Montenegro, como é óbvio, respondeu: “Construir um acordo? Convosco? Comprovados incompetentes, que deixaram
o país de rastos ao fim de oito ano de governação? Ah, ah, ah! Essa foi gira.”
Mentira. Montenegro elogiou a
“responsabilidade política e o compromisso” do PS e aceitou, após negociar com
estes sectores, marcar uma reunião com Pedro Nuno Santos. O que devia ter feito
Montenegro? Fácil. Devia ter deixado claro desejar distância do PS, avivando as
memórias que Pedro Nuno Santos tem do avô sapateiro e sugerindo-lhe dar cordas
aos sapatos.
COMENTÁRIOS (de 13):
Ana Luís da Silva: O bom senso em forma de humor. Excelente.
Rui Medeiros: O
Tiago Dores é claramente uma mais valia para o Jornal Observador, sendo que ele
e mais alguns (de outras áreas) contribuem fortemente para manter a minha
assinatura. Obrigado Tiago Dores! Ana Marta: Parabéns. Artigo muito
engraçado, está leve mas com muito conteúdo. Lápis
Afiado: Espectacular leitura irónica do
momento que vivemos. Sérgio: Muito bom!! Envie ao seu Kamarada rap para ele aprender
"humor"!
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