Nas paisagens da minha
terra moçambicana, está visto, sentindo-se, segundo afirma, ”português na minha língua” (ou seja na “sua
dele”, porque a minha, sendo estruturalmente parecida com a dele, tenho a
certeza de que enferma de uma modéstia de composição que nada tem a ver com a
composição da sua, para além de que o parágrafo final da sua crónica do Público
de 6 de Abril que tem por título “As
guerras culturais são um alimento da direita radical e onde faz afirmações
drásticas, revela bem os seus escrúpulos a respeito das terras outras que não
sejam estas, onde ele vive, ainda que aparentem escritos e falas parecidos. É
assim, pois o último parágrafo da sua crónica com a bandeira contendo a “tralha”
dos castelos que, na sua expressão de desdém parece que viraram pagodes
chineses, e onde estão incluídas as quinas na tal esfera armilar que os então
patrioteiros da primeira República houveram por bem pintar e que o governo PS
resolveu subtrair no seu logotipo – substituída a tralha por um círculo branco -
mas que o actual governo AD resolveu repor, sem dar cavaco, o que me pareceu
uma medida de higiene pública mental, mas que Pacheco Pereira condenou no seu
artigo, por ser medida arrogantemente discricionária e para mais de imposição
antidemocrática. Daí a razão do seu artigo que leio num dos Públicos que a
minha irmã me traz, e passo a transcrever o tal parágrafo final que não só
justifica a sua aversão à tralha histórica de símbolos cediços, como ainda
demonstra as riquezas de alma no seu amor pátrio sadiamente intelectual:
“Eu considero-me um patriota, à
luz dos grandes momentos do patriotismo nacional que é a fala que Camões coloca
na voz forte do Velho do Restelo, e sinto-me “português” na minha língua, nos
meus poemas e romances na grande tradição cultural portuguesa, nas paisagens da
minha terra, e nos bons e maus momentos da minha história. Eu sei que nem tudo
é bom e exemplar, mas foi o que foi no tempo que foi. De todo o que não preciso
é de colar o meu patriotismo à esfera armilar, nem às quinas, nem aos castelos,
nem aos pagodes e bater no peito a gritar Portugal!”
Mas foi sobretudo por
via da expressão “paisagens da
minha terra” que eu me senti excluída das razões
do seu amor pátrio, que é mais que certo não inclui a empreitada descobridora lusa,
ocupante dos terrenos além-mar, excluídos estes dos seus laços patrióticos, pois que se
revê no reacionarismo do Velho do Restelo ao embarque do Gama no Restelo. Daí que
me sinta definitivamente apátrida, embora nunca me tivesse passado pela cabeça chamar
de “tralha” aos desenhos simbólicos da bandeira portuguesa.
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