sexta-feira, 31 de maio de 2024

A IA ao serviço das tropelias humanas


Já não basta só a IN (Inteligência natural) para esse efeito!

MUNDO / CONFLITO ISRAELO-PALESTINIANO

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Campanha pró-Israel que mostrava soldado do Hamas em frente a bebé banida do Instagram

Campanha pró-Palestina popularizou-se e não tardou até que uma mensagem oposta, pró-Israel, surgisse a relembrar os acontecimentos de 7 de outubro. Imagem desapareceu, mas Meta não se responsabiliza.

MARINA FERREIRA: Texto

OBSERVADOR, 29 mai. 2024

Uma campanha que percorre as redes sociais com o mote “All eyes on Rafah” — em português, “Todos os olhos postos em Rafah” — ganhou dimensão nas últimas semanas em todo o mundo. Pretende demonstrar solidariedade aos habitantes de Gaza e apelar à sensibilização de activistas e grupos humanitários para a guerra em curso. Trata-se de uma imagem gerada por Inteligência Artificial (IA) que mostra tendas e o que parecem ser corpos alinhados. O número de partilhas intensificou-se com o ataque a tendas de deslocados palestinianos que matou 45 pessoas e cujas imagens chocaram o mundo.

Uma contracampanha, desta vez pró-Israel, transmite uma mensagem oposta, questionando: “Onde estavam os teus olhos no dia 7 de outubro?”. A imagem, também gerada por IA, mostra a representação de um soldado do Hamas, armado, em frente a um bebé, a derramar sangue, de cabelo ruivo — trata-se de Kfir Bibas, que tinha nove meses quando foi feito refém com a mãe e o irmão a 7 de outubro. No início desta quarta-feira, a imagem foi banida do Instagram. A denúncia partiu do próprio autor da imagem e já foi confirmada pela Meta, que está a analisar o sucedido, segundo o The Times of Israel.

A imagem foi criada por Benjamin Jamon em resposta à imagem pró-palestiniana que já conta com dezenas de milhões de partilhas nas redes sociais nos últimos dias. Em resposta a perguntas sobre a remoção da imagem, que tinha sido partilhada meio milhão de vezes, a Meta diz que esta não violou as suas políticas e, como tal, está “a trabalhar para compreender que problema técnico levou à sua remoção acidental”.

Nas normas da comunidade da rede social lê-se que “nunca é permitido partilhar imagens explícitas para efeitos sádicos ou para glorificação da violência”. Na rede social X, a imagem não foi banida até ao momento.

CONFLITO ISRAELO-PALESTINIANO    MUNDO    ISRAEL    MÉDIO ORIENTE     FAIXA DE GAZA     REDES SOCIAIS    INTERNET    TECNOLOGIA

COMENTÁRIOS

Jorge Pereira: É o costume, a esquerda radical idiota e putinista está infiltrada por todo o lado. Se fosse um terrorista do Hamas com um bébé israelita a chorar estaria tudo bem. Mais, se não estivesse, seria por culpa do bébé judeu                  António Fernandes: O Hitler das redes, a esquerdalha do mundo no seu " melhor" , sim no 7 de outubro foram os terroristas do HAMAS que começaram a guerra... todo o folclore " palestino" é para os mentecaptos virem para a rua apoiar o povo palestiniano--- diga-se apoiar o HAMAS. Força Israel atira-lhes| acaba com esses terroristas                    Pobre Portugal: Não quero acreditar! O Hitler bateria palmas.

Isabel Gomes: Continua.. não desapareceu…

Extraordinário


“Roseau pensant” é o que o HOMEM é, afinal. Um espectacular criador. Aonde irá chegar, com tanta progressiva descoberta? Conseguirá manter a Terra – e o resto dos mundos, – intactos nos espaços siderais? Mas o “só sei que nada sei” continuará impondo-se, permitindo maravilharmo-nos, continuamente, numa existência de absurdo.

“A segurança da IA está longe de ser um problema resolvido”, diz cofundador da DeepMind

OBSERVADOR, 30 mai. 2024, 15:261

CÁTIA ROCHA: Texto

Mustafa Suleyman está no centro da evolução da inteligência artificial. Pede que se olhe para os riscos do que vai ser "o poder e o desafio do século", mas que não será exclusivo das big tech.

O britânico Mustafa Suleyman passou uma boa parte da vida a correr atrás do sonho da inteligência artificial (IA). Cofundou a empresa de investigação de IA DeepMind, que vendeu à Google em 2014, mudou-se para a big tech para liderar os esforços de IA, saiu para criar outra empresa, a Inflection AI, e actualmente é o CEO da divisão de IA da Microsoft.

Ao todo, são mais de 15 anos a acompanhar por dentro a evolução do mercado da IA, desde os jogos de AlphaGo em que a tecnologia conseguiu derrotar um humano até à explosão dos grandes modelos de linguagem (LLM). E, muito devido à DeepMind, Suleyman tornou-se um dos nomes mais conhecidos do setor.

Mas é também a convivência próxima com o que diz ser “o poder e o grande desafio do século XXI” que o leva a fazer um extenso aviso sobre os riscos da IA, que ganha forma em livro. Em “A Próxima Vaga”, que assina com o escritor britânico Michael Bashkar, pede “urgentemente respostas à prova de bala quanto ao controlo e à contenção da vaga iminente”, a expressão usada para se referir às tecnologias centradas em IA. Só com essas respostas, acredita, é que será possível “a manutenção das salvaguardas e possibilidade do Estado-nação democrático”. O problema é que “ninguém tem esse plano”, admite no livro, publicado recentemente em Portugal pela Clube do Autor.

A edição portuguesa foi editada este mês. A versão original foi lançada nos EUA no ano passado

Ao longo de mais de 300 páginas, o criador de uma das empresas de IA mais conhecidas do mundo fala das consequências desta tecnologia caso não seja desenvolvida e implementada com responsabilidade e ética. Em respostas por escrito às questões do Observador, Suleyman rejeita que este manifesto possa contribuir para mais pessimismo. Na obra, usa a expressão“aversão ao pessimismo”– quando os alertas são tão catastróficos que tendem a ser ignorados. “A minha esperança é o contrário: que se faça incidir um holofote sobre estas questões e que se definam todos os factos de forma cuidadosa e explícita”, explica.

Achei que este era o momento certo [para lançar este livro], porque a IA está finalmente a atingir o nível de capacidades e preeminência que sentia que estava a caminho”. Além disso, também ajuda haverinteresse popular nas capacidades tecnológicas que estão a avançar rapidamente”.

Numa das passagens do livro, conta que há alguns anos fez uma apresentação para CEO, fundadores de empresas e outros nomes relevantes da indústria nos Estados Unidos a mostrar os problemas de uma IA sem lei. Invasões maciças de privacidade”, um “apocalipse de desinformação” e uma tecnologia “passível de ser transformada em arma, criando um conjunto letal de novas armas cibernéticasforam alguns dos avisos. E, no fim, projectou uma imagem da série Simpsons, com personagens armadas com forquilhas. Mais um alerta: “As forquilhas vêm aí, vêm atrás de nós, os criadores de tecnologia. Cabe-nos garantir que o futuro seja melhor do que isto”, sugere.

Para já, não sente culpa de que o trabalho que desenvolveu possa ter contribuído para os cenários que teme. “A minha carreira tem sido dedicada a sublinhar e a tentar responder aos riscos e problemas”, rebate. “Em tudo o que tenho feito tenho trabalhado para garantir que isto corre bem para toda a gente.”

Não há só pontos negativos. Suleyman acredita que “a IA vai dar o contributo mais positivo e extraordinário para o bem-estar humano”, destacando um “enorme impulso de riqueza, igualdade social e crescimento económico”. Ainda que a apresentação aos tecnólogos da Costa Oeste dos EUA possa ter sido recebida com rostos inexpressivos, anos depois há quem tenha mudado de ideias. “Muita gente que está a trabalhar em IA está a fazê-lo porque sabe que esta tecnologia vai ter um enorme contributo benéfico e reconhecem que chegar até aí significa passar por um conjunto de questões regulatórias e éticas que simplesmente não podem ser contornadas.”

 “Não é toda a gente assim”, admite, “e há quem tente pôr essas questões de lado e talvez não goste de algumas das mensagens deste livro”. “Não estou aqui para desvalorizar nada”, assegura. Prefere uma abordagem mais equilibrada. “Assim como acredito que é importante realçar os riscos, também penso que não podemos menosprezar os pontos positivos.”

O perfil de Suleyman: um tecnológo e empresário “optimista por omissão”

“Regulação é essencial mas só por si não é suficiente

Para este especialista a IA precisa de regulação e acredita que “a maioria das grandes empresas de [tecnologia] responsáveis vai receber bem essa regulação”. “Tornou-se claro que a tecnologia precisa disso.”

Sugere a adopção de um modelo que apelida de contenção. Não é parar o desenvolvimento tecnológico ou os seus benefícios, mas sim garantir que a sociedade mantém um controlo forte em relação a essas questões. O objectivo é atingir um equilíbrio entre todos os bons elementos, com um programa abrangente de controlo e mitigação de risco.” O cofundador da DeepMind deixa várias sugestões, que vão desde auditorias até à realização de alianças ou à criação de uma Autoridade de Auditoria de IA, para aumentar a transparência no uso de modelos.

Na visão de Suleyman,“a regulação é essencial mas, por si só, não é suficiente”ou capaz de executar o modelo de contenção que defende. “O panorama inteiro [de IA] está a avançar muito depressa e a expandir-se a demasiados territórios para que a regulação seja uma espécie de bala mágica.” Faz questão de clarificar que “é um enorme defensor da regulação, mas que é preciso apoio”, já que a “segurança da IA está longe de ser um problema resolvido”.

 Acho que precisamos de novos trabalhos sobre como auditar sistemas de IA e novas estruturas tanto para as empresas como para a governança internacional.” Considera também que são precisos maiscríticos a trabalhar do lado de dentro e não agir apenas depois dos factos consumados”.

Uma das críticas mais frequentes no panorama da IA está no facto de as empresas em destaque nesta área serem big tech, temendo-se que o poder da IA fique demasiado concentrado. Nomes como a Microsoft e a Google têm estado no pelotão da frente e as ligações que estabeleceram com as startups-estrela da área (OpenAI e Anthropic) já levantam dúvidas quando se fala de concorrência. Suleyman acredita que “a IA não vai continuar nas mãos das grandes tecnológicas”. “Vai difundir-se muito depressa”, realçando que já começam a ver-se sinais desse movimento:Já estamos a ver que, com alguns modelos de código aberto, o que é tecnologia de ponta e extremamente cara num mês torna-se barata e amplamente acessível no seguinte. Por isso a ideia de que só as grandes empresas vão ter estes modelos e competências não é verdade.”

Sam Altman, o CEO da OpenAI, e Mustafa Suleyman, fotografados numa sessão da Cimeira de Segurança da IA em 2023, organizada pelo Reino Unido BLOOMBERG VIA GETTY IMAGES

Em vários casos, os executivos das big tech têm sido chamados por governantes para discutir o tema da regulação. Até Suleyman já marcou presença em eventos do género, tanto na Europa como nos EUA. O agora chefe da Microsoft AI considera que “seria muito estranho se as big tech não tivessem um lugar à mesa” de discussão. “Ignorá-las ou excluí-las seria contraproducente do ponto de vista da contenção” que defende. O facto de as tecnológicas de grandes dimensões estarem envolvidas no debate pode resultar a sugestões de medidas que lhes sejam favoráveis?

É preciso o “equilíbrio certo de incentivos, cultura interna, investimentos internos e regulação externa”. Do ponto de vista de regulação, “tentar trabalhar sem qualquer contributo [destas empresas] seria como voar de forma cega”. O especialista em IA defende queos governos precisam de ter recursos suficientes, com talento e capacidade para compreenderem e reagirem aos desenvolvimentos tecnológicos com a sua própria especialização”.

Os riscos e benefícios da IA “são mais compreendidos agora”. “É motivo para um grande optimismo”

Mesmo que os avisos sobre uma possível “catástrofe” da IA sejam sérios, Suleyman continua a considerar-se um optimista. Mas o facto de as consequências da IA “serem de uma forma crescente mais compreendidas e levadas a sério a um nível mais geral”, fora do mundo académico, é para ser celebrado.

Inevitavelmente, menciona o ChatGPT como um dos responsáveis. “Foi a tecnologia de consumo com o crescimento mais rápido da história”, frisa. Lançado em novembro de 2022, a ferramenta de IA generativa precisou de apenas uma semana para chegar a um milhão de utilizadores. “Ao longo de 18 meses a IA explodiu na consciência pública, vemo-la nos jornais, nas redes sociais, é discutida por legisladores e políticos. Está nos produtos que centenas de milhões de pessoas usam todos os dias”, exemplifica. “Por isso, nesse sentido, os riscos – e os benefícios – têm mais atenção e são mais compreendidos do que nunca. E isso é bom.”

Considera que toda a gente deve estar “super envolvida nesta transição”. Por agora, é um sinal positivo que, entre as várias abordagens diferentes, existam vários países a colocar a segurança da IA na agenda política. “Se me dissessem há dois ou três anos que a Casa Branca assinaria uma ordem executiva sobre IA eu ficaria muito surpreendido. A União Europeia tem sido obviamente uma líder e está a fazer um excelente trabalho, assim como os EUA e o Reino Unido.”

É sempre difícil dizer como é que qualquer grande mudança de plataforma tecnológica se vai desenrolar, mas sinto que o mundo está muito mais preparado agora do que estava quando foi o primeiro lançamento.” Agora, existe “um público massivo e estão em curso respostas de governos e empresas. E isso é um motivo para um grande optimismo.”

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL     TECNOLOGIA     EMPRESAS     ECONOMIA     MICROSOFT

COMENTÁRIOS:

Maria da Graça de Dias: Um dos maiores perigos da IA serão os ataques cibernéticos.

 

quinta-feira, 30 de maio de 2024

E no entanto


Apesar de tantos condicionalismos resultantes de um jeito genérico pouco judicioso de ser e de estar, tivemos valentes na nossa história sem chuchadeira.

Um texto brilhante e sério, este de ALEXANDRE BORGES, que mereceu um belo comentário sereno e realista de JOHN MARTINS, que reponho, como definitivamente justo:

JOHN MARTINS: Realista crónica a enaltecer o Presidente Zelensky, um verdadeiro Herói e verdadeiro guarda avançado da defesa da Europa perante um tirano russo que não olha a meios para subjugar uma nação e o povo Ucraniano. Por agora. Visitou Portugal, onde foi recebido laudatoriamente e lhe foi proporcionado a colaboração possível pelo Pº Ministro Luis Montenegro. É certo que comparativamente; à Alemanha, França, Espanha e até Bélgica ficamos a léguas na ajuda...mas fica a boa vontade...Slava Ucrania !

Zelensky em Portugal - A história da nossa ida à guerra

À alegria e ao orgulho por ver entre nós aquele que é o líder de facto da resistência do mundo livre na guerra sobrepunha-se o desconforto da pergunta: que teríamos nós para oferecer a este homem?

ALEXANDRE BORGES Escritor e argumentista

OBSERVADOR; 30 mai. 2024, 00:181

 “A história da minha ida à guerra de 1908”. Duvido que seja mais conhecida em Espanha, país onde foi originalmente criada pelo comediante Miguel Gila, do que em Portugal, na versão de Raul Solnado. É difícil imaginar aquela rábula sobre um jovem que vai todo aprumado para a guerra para não encher a guerra de moscas e que chega lá ainda a guerra estava fechada, ter qualquer espécie de impacto nuns Estados Unidos, numa Alemanha, em qualquer país que se meta em guerra a sério. Mas, entre nós, o tiro dificilmente poderia ser mais certeiro: fazia-nos ver ao espelho. O tipo que levava a bala presa com uma guita para não a perder éramos nós chapados, o soldado sem jeito nem meios, pachola, que lá vai escapando de males maiores por graça dos deuses para com os pobres de espírito.

Duvido que tenha sido o único a lembrar-se disto quando, esta semana, Volodymyr Zelensky, Presidente da Ucrânia, visitou Portugal por seis breves horas. À alegria e ao orgulho por ver entre nós aquele que é o líder de facto da resistência do mundo livre na guerra que marca o nosso tempo, sobrepunha-se o desconforto da pergunta: que teríamos nós para oferecer a este homem? A este povo? A esta luta? Uma bala com uma guita? Ou as palavrinhas de circunstância do costume?

Aos primeiros instantes, já se temia o pior: Marcelo agarrado ao braço de Zelensky como quem puxa o netinho para lhe dizer que tem ali 20 euros para lhe dar, mas para não dizer nada à avó. Receámos pelos seus conselhos de guerra, ou por uma eventual apreciação acerca das características do povo ucraniano. De repente, ali estava um antigo comediante, como Gila, como Solnado. Um artista de variedades que se tornou Presidente ao lado de um Presidente que, tantas vezes, se confunde com um artista de variedades. Felizmente, a agenda obrigava a ir rapidamente para São Bento e, quando os dois chefes de Estado se voltassem a encontrar, ao jantar, tudo se passaria à porta fechada.

Somadas as coisas, o balanço foi positivo, que é como quem diz, o ministro da Defesa não cometeu nenhuma gaffe (até porque, que tivéssemos dado por isso, nem abriu a boca). Portugal e Ucrânia assinaram um “Acordo sobre Cooperação de Segurança”, cheio de intenções genéricas, mas exactamente como Espanha, Bélgica ou Alemanha já tinham feito. Com uma diferença: Espanha ia contribuir com a ajuda de uns nada genéricos mil milhões de euros, França com uns ainda mais concretos 3 mil milhões de euros e a Alemanha com uns fabulosamente palpáveis 7 mil milhões de euros. Portugal juntou 126 milhões. É pouco, mas de boa vontade, dirá o povo. Quem dá o que tem, a mais não é obrigado, continua a sabedoria popular. E como contrariá-la? Zelensky agradeceu ao “amigo sincero” Portugal e disse que, um dia, retribuiria a ajuda. E nós, confortados pelas palavras daquele a quem deveríamos confortar, só pensávamos que há já mais de dois anos que ele anda a “retribuir”.

O embaraço não será, portanto, o tamanho do donativo financeiro. É saber que este mesmo país que gosta de bater com a mão no peito e lembrar que é membro fundador da NATO, foge com o rabo à seringa quando ouve o Chefe de Estado-Maior da Armada dizer o óbvio: que temos de estar preparados para morrer para defender a Europa caso esta seja invadida. É ver o que disseram a propósito os cabeças-de-lista às Europeias de AD, PS, Chega e CDU quando questionados sobre o assunto. Como se ignorassem os tratados, achassem que não são para levar a sério, ou que, na guerra, as balas estão mesmo presas por uma guita salva-vidas.

Talvez seja parte do nosso encanto, há muitos séculos, não ser especialmente dados à guerra; acreditar que tudo se resolve com dois dedos de conversa. Lamentavelmente, isso não é verdade. A passagem de Zelensky por Portugal foi um salpico de realidade num país onde, tantas vezes, tudo o que se faz é fazer de conta. Que triste seria se não aproveitássemos a sua resistência para mudar qualquer coisa quanto a isso.

UCRÂNIA     EUROPA     MUNDO

COMENTÁRIO:

JOHN MARTINS: Realista crónica a enaltecer o Presidente Zelensky, um verdadeiro Herói e verdadeiro guarda avançado da defesa da Europa perante um tirano russo que não olha a meios para subjugar uma nação e o povo Ucraniano. Por agora. Visitou Portugal, onde foi recebido laudatoriamente e lhe foi proporcionado a colaboração possível pelo Pº Ministro Luis Montenegro. É certo que comparativamente; à Alemanha, França, Espanha e até Belgica ficamos a léguas na ajuda...mas fica a boa vontade...Slava Ucrania !

 

Pavão


Mas as torres ruem, de Babel chamadas… Trump defendendo o seu tacho num discurso pró ucraniano? O que ela pode, a ambição, com tal desvergonha discursiva apalhaçada! Ou antes, macaqueada, nestes seus subterfúgios conceituais de volte-face de mentira e cinismo, não a imitar Putin, cujo cinismo é de branda entoação, discreta e ponderada!… O de Trump é mesmo de pavão, de cauda efusiva e um canto desprestigiante, a contrastar com essa.

MUNDO / GUERRA NA UCRÂNIA

Alertas activos

Em directo/ Foram retiradas mais de 11.000 pessoas da região de Kharkiv

Rússia mantém forte ofensiva à região de Kharkiv. Nas últimas horas região foi bombardeada três vezes. Autoridades retiraram mais de 11 mil pessoas da zona.

DULCE NETO: Texto

Actualizado há 23m

Anadolu via Getty Images

Momentos-chave

Há 1hTrump sugere que teria bombardeado Moscovo em resposta à invasão da Ucrânia

Há 2hPutin nomeia ex-guarda costas para secretário do Conselho de Estado

Há 6hParlamento Europeu alvo de buscas por suspeita de interferência russa

Há 8hSuécia anuncia novo pacote de ajuda a Kiev de 1,6 mil milhões de euros

Há 8hÉ oficial: Bielorrússia abandona tratado das armas convencionais da Europa

Há 9hAutoridades retiram mais de 11.000 pessoas da região de Kharkiv

Há 10hAlemanha e França dizem que a Ucrânia deve poder atacar dentro da Rússia com armas cedidas pelo Ocidente

Actualizações em directo

Há 23m17:26 André Maia

Tratado das armas rasgado: "É preocupante"

Jorge Rodrigues prevê um cenário em que a Rússia ataca a Bielorússia devido ao tratado de munições. Quanto ao reconhecimento da Palestina, diz não ter dúvidas: “Espanha não teve sensibilidade”.

Há 44m17:05 Agência Lusa

França critica "posicionamento político" de países que reconheceram Palestina

O chefe da diplomacia francesa acusou os países europeus que reconheceram o Estado da Palestina de privilegiarem o “posicionamento político”, nomeadamente no contexto da campanha eleitoral europeia, em detrimento de uma solução diplomática para o conflito israelo-palestiniano.

A França é a favor de uma solução de dois Estados. Por definição, a questão do reconhecimento terá obviamente de entrar em jogo. A questão que se coloca, e eu disse-o muito claramente aos meus homólogos espanhol e irlandês em particular, é: qual é o dia a seguir à questão do reconhecimento? Qual é o ponto diplomático?”, disse Stéphane Séjourné aos senadores franceses.

A posição do ministro dos Negócios Estrangeiros francês surge um dia depois de Espanha, Irlanda e Noruega terem reconhecido oficialmente o Estado da Palestina, com o objetivo, sustentaram, de avançar para a paz no Médio Oriente.

O seu país, continuou, “não está a tomar uma posição política, está a procurar soluções diplomáticas para esta crise”.

Há 1h16:48 Carolina Sobral

EUA querem enviar 50 milhões de dólares para a Moldávia para resistir à Rússia

Durante a sua visita oficial a Chisinau, o Secretário de estado dos EUA afirmou que está a trabalhar com o Congresso do seu país para enviar mais 50 milhões de dólares à Moldávia com o objectivo de resistir à interferência russa.

Apesar da “intimidação da Rússia”, Antony Blinken disse, segundo a CNN, que os EUA têm visto uma extraordinária resistência da Moldávia.

Por sua vez, Maia Sandu assinalou a visita de Blinken como “um sinal forte do apoio” dos EUA à Moldávia.

Há 1h16:39 Carolina Sobral

Trump sugere que teria bombardeado Moscovo em resposta à invasão da Ucrânia

O antigo Presidente dos EUA sugeriu, num evento de angariação de fundos, que teria bombardeado Moscovo em resposta à invasão da Ucrânia pela Rússia. Segundo o Kyiv Independent, Trump também disse que atacaria Pequim se a China invadisse Taiwan durante o seu mandato.

Há 1h16:26 Carolina Sobral

Ataque russo atinge 100 casas e deixa 7 pessoas feridas

Um ataque russo atingiu 100 casas numa vila na região de Donetsk. Segundo a Sky News, sete pessoas ficaram feridas, entre elas uma criança de quatro anos.

Há 2h16:14 Carolina Sobral

Putin nomeia ex-guarda costas para secretário do Conselho de EstadoO Presidente russo, Vladimir Putin, nomeou o seu antigo guarda-costas, Alexei Dyumin, como secretário do Conselho de Estado consultivo, avançou a Sky News.

“A elite russa está em polvorosa com a nomeação de Dyumin”, disse Sergei Markov, antigo conselheiro do Kremlin e apoiante de Putin, no Telegram.

“Isto é visto como uma confirmação de que Dyumin é o futuro presidente da Rússia, a escolha de Putin”, disse Markov, acrescentando que se tratava de um rumor que já existia há muito tempo.

Há 2h15:42 Carolina Sobral

Dois mortos em ataque russo a Nikopol

Duas pessoas morreram na sequência de um ataque russo na cidade de Nikopol, avançou o governador da região de Dnipro, citado no The Guardian.

De acordo com Serhiy Lysak, um drone russo atacou uma ambulância, matando o condutor, um homem de 54 anos, e ferindo a sua mulher.

Outro homem, de 52 anos, morreu no hospital depois de ter ficado ferido num bombardeamento ao início do dia.

Há 4h14:12 Agência Lusa

Kiev deveria poder atingir alvos russos com armas ocidentais em acções defensivas, diz Nuno Melo

O ministro da Defesa Nacional considerou esta quarta-feira que “qualquer pessoa normal” compreenderia a utilização de armamento por parte da Ucrânia, em “acções defensivas”, contra alvos militares em território russo, uma posição pessoal que disse não comprometer o Governo.

“Eu digo-lhe o que penso, quer dizer, tudo o que sejam acções defensivas implicam a utilização de armas. Imagine que tem peças de artilharia colocadas em território russo que estão a ser utilizadas para flagelar as linhas ucranianas. Os ucranianos estão inibidos de tentar destruir essas peças de artilha? Qualquer pessoa normal percebe que isso não faria muito sentido”, disse Nuno Melo, à margem do Fórum Schuman de Defesa e Segurança, em Bruxelas (Bélgica).

Face à insistência dos jornalistas na pergunta para que esclarecesse a posição portuguesa nesta matéria, Nuno Melo reforçou que se houver “peças de artilharia em território de fronteira russo, por exemplo, que estão a ser utilizadas para assassinar ucranianos”, a Ucrânia deveria poder utilizar o armamento que tem à sua disposição para “destruir estas peças de artilharia”.

“Parece-me evidente que poderão ser, numa perspectiva que é a minha, eu não quero com isso vincular o Governo”, completou.

Há 4h14:06 Carolina Sobral

Antony Blinken em visita à Moldávia

O Secretário de Estado dos EUA está esta quarta-feira numa visita oficial a Chisinau, na Moldávia, com o objectivo de solidificar o apoio ocidental à Ucrânia.

Segundo a CNN, nesta que é a primeira paragem de várias aos países aliados da NATO, Antony Blinken vai encontrar-se com a presidente da Moldávia, Maia Sandu, e outros altos funcionários.

Há 4h13:50 Carolina Sobral

Zelensky agradece a Portugal, Espanha e Bélgica pelo apoio à Ucrânia

Um dia depois da sua visita oficial a Portugal, Volodymyr Zelensky recorreu ao X para agradecer o apoio do país, assim como de Espanha e Bélgica, à Ucrânia.

“Mais três vozes claras em apoio à Cimeira da Paz, mais três Acordos de Segurança para a Ucrânia e mais três afirmações de princípio do nosso objectivo: a plena integração da Ucrânia na comunidade Europeia”, pode ler-se na publicação.

Estou grato a Espanha, à Bélgica e a Portugal pelas suas novas decisões de apoio à Ucrânia, à nossa defesa, à nossa diplomacia e aos esforços económicos conjuntos, incluindo na indústria da defesa. Juntos somos sempre mais fortes!”

Há 5h13:17 Carolina Sobral

Moscovo está protegida contra drones ucranianos, diz Força Aérea russa

Um oficial da Força Aérea russa afirmou que Moscovo está protegida contra os drones ucranianos, citou oThe Guardian. Segundo a fonte, os drones podem cobrir uma distância de até 2.500 quilómetros.

Há 6h11:44 Carolina Carvalho

Parlamento Europeu alvo de buscas por suspeita de interferência russa

A polícia belga fez buscas no casa e no escritório de um funcionário do Parlamento Europeu, em Bruxelas, por suspeitas de interferência russa, avança a Associated Press.

A procuradoria federal belga disse em comunicado que o gabinete da pessoa em questão em Estrasburgo, onde está a sede do Parlamento Europeu em França, também foi revistado numa parceria com a agência de cooperação judicial Eurojust e com as autoridades francesas.

No passado mês de abril o primeiro-ministro belga anunciou uma investigação depois de os serviços secretos terem confirmado a existência e uma rede que tinha como objectivo minar o apoio à Ucrânia.

As buscas acontecem cerca de duas semanas antes das eleições para o Parlamento Europeu.

Há 8h09:48 Agência Lusa

Suécia anuncia novo pacote de ajuda a Kiev de 1,6 mil milhões de euros

A Suécia prometeu hoje 13,3 mil milhões de coroas (1,16 mil milhões de euros) de ajuda militar à Ucrânia, numa altura em que Kiev sofre de atrasos na entrega de equipamento ocidental.

“A Suécia está a apoiar a Ucrânia com o décimo sexto e maior pacote de ajuda“, afirmou hoje a vice-primeira-ministra Ebba Busch

Trata-se de equipamento que está no topo da lista de prioridades da Ucrânia”, acrescentou ainda a vice-primeira-ministra, Ebba Busch.

Há 8h09:27

É oficial: Bielorrússia abandona tratado das armas convencionais da Europa

Alexander Lukashenko anunciou-o em abril, quando levou a proposta ao parlamento, e o processo está agora concluído: a Bielorrússia deixou oficialmente o tratado das Forças Convencionais da Europa. Ou seja, o país vizinho da Ucrânia e da Rússia pode assim reforçar a sua capacidade militar.

O decreto que o determina, assinado pelo Presidente bielorrusso a 24 de maio, foi hoje publicado na página oficial da antiga república do Bloco soviético.

A Bielorrússia não é o primeiro país a abandonar este tratado que limite a capacidade militar dos países. A Rússia foi o primeiro a fazê-lo, em 2023 e foi seguido pelos países da NATO que subscreveram esta convenção, assinada em 1990.

O tratado impõe um limite no número de tanques, veículos de combate, aviões e artilharia pesada estacionados na Europa e pretendia manter um equilíbrio militar entre o Ocidente, integrado na NATO, e os países do extinto Pacto de Varsóvia (aliança militar do antigo bloco soviético), na Guerra Fria.

Há 9h08:46 Agência Lusa 

Autoridades retiram mais de 11.000 pessoas da região de Kharkiv

As autoridades ucranianas anunciaram hoje a retirada de mais de 11 mil pessoas de três distritos da região de Kharkiv (nordeste), fronteira com a Rússia e constantemente atacada pelo exército russo.

“No total, retirámos 11.253 pessoas dos distritos de Chugüív, Kharkiv, onde está localizada a capital regional com o mesmo nome, e Bogodúgiv”, escreveu o chefe da administração militar regional, Oleg Siniegubov, na sua conta no Telegram.

Nas últimas 24 horas, a Rússia atacou em diversas ocasiões estes três distritos no nordeste da Ucrânia.

Há 9h08:21 João Santos Duarte

Para onde vai o dinheiro da ajuda à Ucrânia?

São 126 milhões de euros em ajuda militar só este ano. Mas o acordo assinado com a Ucrânia é para várias áreas nos próximos dez anos. Neste episódio a análise do major-general João Vieira Borges.

Há 10h07:58 Dulce Neto

Alemanha e França dizem que a Ucrânia deve poder atacar dentro da Rússia com armas cedidas pelo Ocidente

A Casa Branca foi clara: não, a Ucrânia não pode usar armas cedidas pelo Ocidente para atacar território russo. Mas Macron e Scholz têm um entendimento diferente: podem, desde que os seus alvos sejam militares e apenas aqueles de onde partem os mísseis ou drones em direcção à Ucrânia. Porque, de outra forma, não se podem defender, disseram os líderes da França e da Alemanha.

As declarações do Presidente francês e do chanceler alemão surgiram ontem ao fim da tarde, numa conferência de imprensa conjunta, já depois de Vladimir Putin ter avisado a Europa de graves consequências se tal suceder. O Presidente russo sublinhou que a NATO estava a brincar com o fogo ao considerar essa possibilidade.

“Devemos permitir que neutralizem locais militares a partir dos quais são disparados mísseis, locais militares a partir dos quais a Ucrânia é atacada, mas não devemos permitir que atinjam outros alvos na Rússia e locais civis ou militares na Rússia”, explicou Emmanuel Macron.

Olaf Scholz afinou o discurso pelo mesmo diapasão: “Acho estranho que algumas pessoas digam que a Ucrânia não deve ser autorizada a defender-se e a tomar as medidas adequadas para o efeito”.

Isto, ressalva Scholz, citado pela Reuters, desde que a Ucrânia respeite as condições impostas pelos países que forneceram as armas, incluindo os Estados Unidos, e o direito internacional.

Há 11h07:50;Bom dia, vamos continuar a seguir aqui a guerra na Ucrânia. Pode ler o que se passou ontem neste outro artigo em directo.

quarta-feira, 29 de maio de 2024

Treino lutador


Para a carreira europeia. A mim surpreendeu-me – e atemorizou-me - a violência de Marta Temido contra Sebastião Bugalho, mas atribuí essa minha reacção a puros efeitos de onomástica, o apelido Temido forçando-me a esse estado de espírito, e fazendo-me evocar, para mais, a sua persistência lutadora em contextos da anterior pandemia, o próximo contexto belicoso com os russos, pendente sobre todos, dando-lhe a possibilidade de se destacar ainda mais, futuramente, lá pelas europas indecisas, na questão ucraniana...

Cabeças de lista às europeias debateram a oito: quem ganhou? Veja as notas

OBSERVADOR - Texto

No último debate televisivo dos candidatos dos oito partidos com assento parlamentar, a questão das famílias europeias e o apoio à Ucrânia foram dois dos temas de maior confronto. Quem esteve melhor?

OBSERVADOR, 29 mai. 2024, 00:371

Foi o último debate televisivo entre os cabeças de lista dos partidos com assento parlamentar e pôs os candidatos em confronto nos temas mais fortes da campanha. Sebastião Bugalho (AD), Marta Temido (PS), Tânger-Corrêa (Chega), Cotrim de Figueiredo (IL), Catarina Martins (BE), João Oliveira (CDU), Francisco Paupério (Livre) e Pedro Fidalgo Marques (PAN) falaram das regras orçamentais, do risco dos extremismos no Parlamento Europeu e das linhas vermelhas nas famílias partidárias, do apoio militar à Ucrânia, da guerra na Faixa de Gaza, de imigração e da política fiscal europeia.

Quem esteve melhor? Ao longo das últimas semanas, um painel de avaliadores do Observador tem dado notas de 1 a 10 a cada um dos candidatos, explicando porquê. A soma surge a cada dia, no gráfico inicial, onde pode ver a classificação geral e saber quem tem estado melhor e quem lidera.

O próximo debate sujeito à análise dos avaliadores do Observador será o último dos frente-a-frente na Rádio Observador — os únicos debates a dois desta campanha —, que acontece já esta quarta-feira, às 19h, entre Sebastião Bugalho e Francisco Paupério. Depois, no dia 3 de junho, às 9h30 da manhã, será a vez do debate das rádios, que junta a Rádio Observador, a Renascença, a Antena 1 e a TSF.

Quem ganhou o debate: Marta Temido, Sebastião Bugalho, Cotrim de Figueiredo, Francisco Paupério, Catarina Martins, Pedro Fidalgo Marques, Tânger-Corrêa ou João Oliveira?      

Ana Sanlez O “dia de festa” de Sebastião Bugalho foi o “incómodo” de Marta Temido. O tema do dia, a visita de Zelensky a Portugal, acabou por preencher um dos momentos de confronto mais interessantes do debate entre os candidatos do PS e da AD. Não foi sempre assim, mas, aqui, Marta Temido acabou por ser a voz do bom senso. Não é um dia de festa. Como é natural num confronto a oito vozes, quem acaba por se destacar mais são os candidatos com mais carisma. E nesse pódio temos Cotrim de Figueiredo, Marta Temido e Sebastião Bugalho, com uma menção honrosa para Catarina Martins. Francisco Paupério e Pedro Fidalgo Marques passaram demasiadamente despercebidos, embora este último tenha tido um bom momento na questão do crescimento da extrema direita. Tânger-Corrêa foi um “alien”, ainda mais do que tem sido habitual. Na primeira questão, sobre as regras orçamentais da UE, deu a entender que nem tinha percebido o tema em causa (aqui, na verdade, quem leva a taça é Marta Temido, quando lança um “as pessoas não percebem nada do que estamos a dizer”, e acredito que seja verdade). Tânger-Corrêa poderia aproveitar para brilhar quando o foco são as migrações, a bandeira do Chega, mas nem isso aconteceu. Hoje lembrou-se de dizer que “a pobreza gera violência” e voltou a entrar num caminho perigoso. Ainda assim, nota-se que os seus olhos brilham quando se fala de geopolítica, nomeadamente da guerra na Ucrânia. Neste tema, João Oliveira ficou novamente a falar sozinho, mas, neste debate, saiu mais fragilizado porque eram sete contra um.

Miguel Santos CarrapatosoUm belíssimo debate, com (quase) todos a grande nível. Correram riscos e também caíram em armadilhas. Sofreram e infligiram golpes. Ninguém foi ao tapete, ninguém saiu sem mácula. E foi combativo do início ao fim. De resto, cada candidato poderá levar para casa o seu “momento da noite”. Marta Temido foi excelente a confrontar Sebastião Bugalho com a frase infeliz sobre a “festa para a democracia” que foi receber Zelensky. O candidato da AD foi muito eficaz ao lembrar que há governos socialistas (Espanha e Dinamarca, por exemplo) que são muito pouco recomendáveis em matéria de políticas de imigração. Catarina Martins esteve sempre ao ataque, forte em quase todos os pontos, com conhecimento evidente dos dossiês. Insistiu, porém, em cometer os erros de sempre: escorregou ao tentar colar os liberais à extrema-direita, esquecendo-se de que tem telhados de vidro e ficando sem resposta para João Cotrim Figueiredo (o melhor momento do liberal neste debate); e foi outra vez muito lesta em criticar a UE e a esquecer o papel da Rússia. Cotrim, menos dominante do que a bloquista, esteve sempre esclarecido, tirando, com alguma surpresa, no ponto em que devia ser mais forte, a receita para fazer a economia europeia crescer. Esperava-se brilharete e não deu. Perdeu uma oportunidade de marcar a diferença à direita. À esquerda, João Oliveira bateu-se a bom nível (ainda que sem o brilho de Catarina Martins), mas teve um azar dos Távoras: este debate aconteceu no dia em que Portugal recebeu Zelensky, o que tornou ainda mais esdrúxula a posição (isolada) dos comunistas nesta matéria. Três notas para os menos experientes: Francisco Paupério tentou (com algum sucesso) ir furando a experiência dos concorrentes, mas sem a nota artística de outros debates; António Tânger-Corrêa apareceu mais concentrado, mas invariavelmente agarrado a ideias sem qualquer adesão à realidade (veja-se o que disse sobre imigração e corrupção); e Pedro Fidalgo Marques foi sendo o picareta-falante de serviço, que, de tanta ânsia em meter animais e ambiente em cada oração, mal conseguiu produzir pensamentos estruturados sobre os temas em debate.

Pedro RainhoEra o último debate entre todos transmitido em directo, ao vivo e a cores. Era, portanto, uma oportunidade determinante para a demarcação de campos, para a fixação de eleitores e, cenário ideal, captação dos que ainda não se decidiram. Afinal, falta uma semana e meia para as eleições. Durante boa parte da noite, os candidatos pareceram ter-se esquecido disto: Catarina Martins foi a despique com Cotrim Figueiredo no tema das regras orçamentais, João Cotrim Figueiredo respondeu; Sebastião Bugalho lança uma farpa aos “partidos que apoiaram António Costa” e é João Oliveira quem responde primeiro. E andaram nisto longos minutos. Até que o tema da guerra da Ucrânia foi lançado para cima da mesa, até que o cabeça de lista da Aliança Democrática falou no “dia feliz” que se viveu em Portugal com a visita relâmpago de Volodymyr Zelensky. Temido não quis deixar passar a referência em branco e — ainda que só o tenha feito quando já se discutia a questão da imigração — atirou com considerandos de “ligeireza” e “imaturidade” para cima do cabeça de lista da AD. Parecia que vinha aí o golpe, estava ali a gafe da noite, daquelas que podem deixar marca. Mas Marta Temido tem destas coisas: um momento que podia ser popularucho e ficar a ressoar na memória dos eleitores rapidamente resvala para excessos que o põem ao nível do mais populista. Neste caso, acusou PSD/CDS de alinhar em políticas de imigração que “mandam refugiados para o Ruanda” e defender a “construção de muros” que deixam o problema às portas da Europa. Bugalho contestou com precisão (quase) cirúrgica: com a posição dos “socialistas da Dinamarca” e dos socialistas espanhóis. Valeu pelo truque: admite para ti o que não permites ao teu adversário. Foi xeque — o candidato da AD não matou ali o jogo, mas anulou o ataque da principal adversária no debate. De resto, não foi um debate particularmente cativante. Sem surpresa, de uma forma geral, os eleitores puderam ouvir as ideias de dois expectáveis blocos com duas visões sobre o que querem da Europa. Sem um(a) claro(a) vencedor(a). E isso é uma pena, num debate que prometia ser decisivo. Aguardemos pela final das finais: é dia 3 de junho, no debate das rádios.

Rui Pedro AntunesMarta Temido utilizou uma táctica dos populistas: fixou-se numa expressão isolada para atacar o adversário, neste caso Sebastião Bugalho. Mas como, em política, não se trata de ganhar o prémio fairplay, a socialista foi eficaz: associar a visita de um chefe de Estado de um país em guerra a um “dia de festa”, mesmo com a melhor das intenções, foi um momento infeliz do candidato da AD. Sebastião Bugalho está bem preparado e isso notou-se quando registou (para vincular o PS) que a relatora da reforma da governação económica foi Margarida Marques, ou quando lembrou que quem criou muros para imigrantes foi Espanha e Dinamarca, dois países com governos socialistas. Mas, num contra-ataque, Bugalho chegou a defender-se com o programa da AD (que nunca falou em muros), quando a adversária se referia a um documento do PPE. Bugalho fingiu que não percebeu e, mais uma vez, tentou provar que o PSD é uma ilha no PPE. Na verdade, não é: na esmagadora maioria das vezes, os deputados do PSD votam alinhados com o grupo. António Tânger-Corrêa chegou a responder coisas diferentes das perguntas que lhe eram feitas, mostrando a sua total impreparação em vários temas. Chegou a repetir “concordo com o Cotrim”, por não ter muito mais a dizer. Ainda assim, quando se libertou das amarras, numa fase em que pareceu mais genuíno, utilizou tiradas populistas que (apesar de serem criticáveis a vários níveis) podem ser eficazes junto do seu eleitorado: por exemplo, quando falou em Vila Nova Milfontes ou fez uma associação abusiva e demagógica entre pobreza e violência. João Cotrim Figueiredo mostrou ser sempre o mais bem esclarecido e o mais fiel aos princípios que defende para a Europa: liberais, pois claro. Em temas como as novas regras orçamentais, a economia europeia ou a Ucrânia, o liberal foi sempre o mais assertivo. Foi, por isso, o mais perto que tivemos de um vencedor no debate. Picou-se com Catarina Martins (a quem atirou com estrondo o acordo do Syriza com os xenófobos Gregos Independentes), mas a bloquista também voltou a mostrar que é profissional, como se vê no uso de soundbites como “generais de sofá” ou em seduções cirúrgicas ao seu eleitorado, como atacar o governo alemão (que é socialista e verde) por enviar armas para Israel. João Oliveira tem sempre um problema chamado Ucrânia, mas compensa com genuína ingenuidade, e até humor, como o momento em que atacou as grandes empresas dizendo que, com “Cotrim, sim”, pagavam apenas “taxinhas” — numa alusão ao slogan liberal. Francisco Paupério e Pedro Fidalgo Marques passaram mais despercebidos, mas com o primeiro a ser mais eloquente.

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COMENTÁRIOS:

Joao Cadete: Ohhh dear... só mesmo vocês para levarem a marta temido aos ombros. Não têm noção do ridículo...