Com a leitura destas reflexões sobre
História Contemporânea e suas analogias, na reposição das verdades históricas e
sociais contemporâneas, por JAIME NOGUEIRA PINTO, de quem o país tanto precisa,
como marteladas de precisão e rigor que deveriam penetrar em tantos da
falcatrua virtuosa, e também nos indiferentes, do ego arrebatador.
A desinformação de referência
Convém não fazer amálgamas, ainda que
honestas, entre as amálgamas desonestas de alguns órgãos de “informação de
referência” e a desinformação desreferenciada que para aí anda a manipular o
povo.
JAIME NOGUEIRA PINTO Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 04 mai. 2024, 00:1732
O “nazi-fascismo de Hitler-Mussolini-Franco e Salazar” era um dos
estribilhos com que o Dr. Álvaro Cunhal cadenciava o discurso na sua famosa
“cassette”. Era um truque
relativamente rasteiro, uma amálgama que ficaria mal a alguém com a
inteligência do Dr. Cunhal, não estivesse ele mais do que consciente da
deliberada manipulação táctica a que recorria, e não fosse o então
Secretário-Geral do PCP um político a quem se toleravam a demagogia, a
propaganda e as “inverdades” populistas.
Na passada semana, com o aquecimento
emocional do cinquentenário do 25 de Abril, assistimos a algumas dessas amálgamas, com a
agravante de serem quase sempre repetidas como verdades absolutas, mais por
ignorância, simplismo e ânsia de correcção política do que por táctica. Mas já
passaram e não vou demorar-me nelas.
Vou falar antes de outro 25 de Abril. Um 25 de Abril que também deu lugar
a uma manipulação grosseira com tanto de abusiva como de ousada – mas livre de
polígrafo, dado o comprovado progressismo e a certificada fidedignidade do
órgão de “informação de referência” que a publica.
O
25 de Abril de que falo é o de 1945, o dia da insurreição antifascista no Norte de
Itália; o órgão de comunicação a que me refiro
é o jornal de referência La Repubblica;
e o cronista e director em causa é Maurizio Molinari que em “25 Aprile: la necessitá della memoria” avança
com a velha táctica da amálgama para atacar a direita italiana no poder e
espantar o “perigo fascista” que paira sobre a Europa.
25 Aprile
Em
25 de Julho de 1943, depois do desembarque americano na Sicília, na reunião do
Grande Conselho Fascista (uma espécie de Bureau político do Partido Nacional
Fascista), Mussolini, para sua surpresa, foi posto em minoria por uma moção
liderada por Dino Grandi. Na sequência, foi demitido pelo rei Vittorio
Emanuele III e posto sob prisão em local
desconhecido. O local era o hotel Grand Sasso, de onde, em
Setembro, o resgatou um grupo de
paraquedistas alemães, chefiado pelo major Harald Mors, mas de que Otto Skorzeny
reclamou a fama.
Dali, Mussolini seguiria para
Munique para se encontrar com Hitler e mais tarde fundaria, com os quadros
fascistas que lhe tinham ficado fiéis, a República Social Italiana, que viveria
praticamente sob tutela alemã. Em 28 de Abril de 1945, o Duce e Claretta
Petacci, juntamente com alguns hierarcas fascistas, seriam mortos, em Dongo,
pelos partigiani comunistas, e os seus corpos pendurados pelos pés e expostos
em Milão.
No fim da guerra civil, muitos
fascistas foram mortos sumariamente pelos partigiani comunistas, invocando um
direito de represália pelo domínio fascista no Norte.
A seguir à guerra, os fascistas
criaram o MSI, Movimento Social Italiano, de Giorgio Almirante. No MSI houve sempre correntes, mais ou
menos polémicas – umas mais nostálgicas e fiéis à tradição fascista, outras
mais partidárias do reconhecimento dos novos tempos e da realidade atlântica e
democrática. São estas que vão prevalecer, sobretudo a partir da
direcção do MSI – Direita Nacional de Gianfranco Fini, que entra num governo de coligação com Berlusconi e com a Lega Nord. Fini depois afasta-se e, em 2012, Giorgia Meloni, vinda da Frente da
Juventude do MSI, vai criar com Ignacio la Russa o novo partido Fratelli
d’Italia.
O partido de Meloni é um partido nacionalista
que defende a continuação na União Europeia, dentro do respeito pelas
fronteiras e pela identidade da Itália. Os Fratelli são conservadores em costumes, identitários em política
e defensores da economia de mercado. O partido, que em matéria de política externa se tem identificado
activamente com a posição da NATO na guerra Rússia-Ucrânia, mantém os
princípios e valores da trilogia “Deus, Pátria, Família”, um lema de Mazzini,
depois repetido por Salazar e hoje por Viktor Órban, o inimigo número 1 da alarmada
esquerda europeia.
É urgente vigiar
O facto de os partidos ditos de
“extrema-direita” ou de “direita radical” – do Rassemblement National à
Alternativa pela Alemanha, do Vox ao Chega ou ao Lei e Justiça – serem todos,
sem excepção, claramente pelo Estado democrático de direito, parece ser irrelevante,
ou é tornado irrelevante para que os “párias da democracia” possam entrar como
aterradores fantasmas na farsa do “perigo fascista” que a esquerda não se cansa
de reencenar. Talvez
por isso, à semelhança do que acontece entre nós, o La Repubblica se
desmultiplique em inquéritos à opinião pública. O da edição de dia 25 de Abril é uma sondagem da empresa Nopo que nos assegura que “a Itália está refractária a
revisionismos históricos e convencida da necessidade de celebrar o 25 de Abril”. Porém,
apesar dos esforços dos inquiridores e redactores de referência, parece que 56% dos italianos, ainda que
governados pela coligação de centro-direita Irmãos de Itália, Liga Norte e
Força Itália, continuam longe de temer o tão apregoado “regresso do fascismo”.
Para
Molinari só podem ser inconscientes ou estar mal informados.
Escreve então o director do La Repubblica para
os esclarecer e nos esclarecer:
“Mulheres e homens de todas as idades em Teerão, em Hong-Kong, em
São Petersburgo, em Budapeste e Varsóvia exprimem a corajosa recusa do
exercício de um poder executivo que quer controlar cada cidadão, colocando a
todos nós a urgência de estar ao lado deles.”
Pequim, Teerão, São
Petersburgo, Budapeste, Varsóvia… para Molinari, vai tudo dar ao mesmo. E a
Roma de Meloni, supõe-se, também por lá andará. Hong Kong já foi uma
cidade-Estado com alguma autonomia, mas, nos últimos anos, esse estatuto parece
comprometido pela China; Teerão é a capital do regime dos Ayatollahs, uma
clerocracia autoritária; e São Petersburgo é a Rússia do cesarismo popular de
Putin. Pouco importa se Budapeste é uma democracia pluralista, governada por um
partido nacional conservador, como era a Polónia do Lei e Justiça. Será que é
dos abusos de poder da coligação de centro-esquerda que agora governa a Polónia
que Molinari fala quando inclui Varsóvia nos Estados que vigiam os seus
cidadãos?
De qualquer modo, é difícil encontrar
amálgama intelectual e politicamente mais desonesta do que esta, em véspera de
eleições europeias.
Mas
tratando-se de um órgão de opinião “de referência”, referenciado pela
seriedade, veracidade e qualidade da sua informação, convém não fazer
amálgamas, ainda que honestas, com a desinformação desreferenciada que para aí
anda a manipular o povo.
A SEXTA
COLUNA HISTÓRIA CULTURA
COMENTÁRIOS (DE 32):
Rui Lima: O perigo para a democracia, liberdade e segurança do
Ocidente não está nos movimentos identitários, pelo contrário são eles que defendem os Valores e História do Ocidente . Estes movimentos existem porque o homem comum compreende
que já não está protegido , mais ainda, que a sua protecção já não é considerada
uma tarefa essencial do Estado. Hoje
são perseguidos legalmente os ousados que mencionam a ligação entre as
fronteiras abertas e insegurança .Porque se isso fosse reconhecido, toda a narrativa da diversidade
feliz entraria em colapso. A violência decorrente da diversidade é tolerável.
É a sua denúncia que não é. José
B Dias: Convém
ir-se sempre repondo e insistindo na verdade dos factos. O revisionismo é
constante ainda que a História nunca deixe de ser a versão dos vencedores.
João Ramos: As nossas TVs
de “informação” também por lá andam e vão ansiosamente copiando tudo quanto
seja trocar a verdade pela desinformação esquerdoide, pobre país o
nosso… Antonio
Martins: Obrigado por
manter a lucidez, tão rara hoje em dia. klaus muller:
Sempre me confundiu quando alguém, que
não seja comunista, diz que o Cunhal era muito inteligente. Se fosse inteligente, não seria comunista. Os
resultados estão à vista. Glorioso
SLB: O problema em Portugal é q falta um
senador tipo Jaime Nogueira Pinto num
Chega. Temos o Ventura a dizer para usarmos cuecas com as cores da bandeira, um
outro deputado a entregar “um das Caldas” aos jornalistas, o Pedro Pinto ao
soco num jogo de futebol. Tudo isso, num país controlado no Twitter e na
comunicação social pela Esquerda, ñ traz bons resultados. Queremos urbanidade
no Chega.
Maria Emília Ranhada Santos: Grande
verdade! A
desinformação dos órgãos de comunicação neste momento, têm um único objetivo,
infelizmente muito pernicioso: manipular e formatar o povo para lhes roubar
a liberdade! Quem
colabora nesta traição malvada não pode ter bom fim! Carlos
Quartel: Não precisamos
de ir a Itália. Nós cá também temos "imprensa de referência" que vê
fascistas atrás de cada canto. A propaganda sempre foi muito importante na
política e , penso, que é melhor propaganda que tanques e polícia de choque nas
ruas. Cabe ao cidadão
estar desperto e não ir na conversa. Na Itália, ao que consta, a PM tem níveis
de popularidade assinaláveis, tem posições razoáveis com a invasão de
imigrantes, apoia a Nato, condena a invasão russa, etc. Está a tirar os
argumentos aos caça-fascistas. Dá que pensar sobre se não estaremos a perder
uma oportunidade de fazer o mesmo, deixando de isolar e diabolizar o Chega. Fica à atenção de Montenegro ..... klaus
muller: O que me
alarma em Órban (bem pelo contrário) não é o "Deus, Pátria e
Família", mas, sim, a sua excessiva amizade com a Rússia. Pedro de Freitas Leal: Excelente artigo! Os jornais de referência estão todos
ao mesmo nível. São simples McDonald's da informação. Servem os mesmos
hambúrgueres a todos os públicos que lhes são submissos. Só que esses públicos
são cada vez mais diminutos. E cada vez mais velhos também. Ronin:
Como bem diz Jaime Nogueira Pinto, a "informação de referência" corresponde
a desinformação e manipulação. Por cá, os grupos de media estão falidos e são
subsidiados pelo Estado e pelos impostos, através de esquemas pouco
transparentes, foi o caso dos milhões distribuídos depois da Covid com essa
justificação, mais pelas medidas seguidas na UE, com excepção da Suécia que
provou seguir a ciência. Recentemente, já antes de ser demitida a Provedoria da SCM de Lisboa se
sabia que Ana Jorge e o seu grupo tinha distribuído pelos grandes grupos de
media alguns Milhões de €, fala-se já em cerca de 8 M, com destaque para a TVI,
SIC/Impresa, RTP, para publicidade institucional(?) no seguimento da política
seguida pelo PS e também pelo Centrão. João
Ramos > João Ramos: As “nossas” TVs de informação
são dos piores cancros da nossa sociedade!!!
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