Este
do “deixai ir” as criancinhas em busca do próprio reino, sujeitos e objectos do
próprio destino e dos próprios valores, criando a sua própria democracia
desregrada, ao gosto do freguês …
Mas
o comentário sintético de GateKeeper tirou-me
as palavras de indignação da boca, pelo que o reponho, grata ao seu autor
(juntamente com os comentários contundentes de Américo Silva e de Miguel Ramos, e outros que releio, concordante:
GateKeeper: A "demagogo-cracia liberal"
caminha, correndo a trote, para a sua própria sepultura. Quanto às
"crianças" é mais importante o que NÃO se anda a fazer do que o
contrário: Educação, Ensino, Valores, Disciplina, etc., etc., são
"coisitas" que a "fashion" woke-puritana fake esqueceu; e
os do não aconteceu ontem nem hoje. Este laxismo chocante foi evoluindo desde
há, pelo menos, 20 anos. Tudo o que poderia não se fazer de bem pelas crianças
em Portugal está, neste momento, completo ( accompli). Já não seremos nós a
pagar o prejuízo.
O
futuro da democracia liberal
Devemos assumir a responsabilidade:
em última instância a culpa não é deles – nós é que precisamos de repensar o
que andamos a fazer com as crianças. O futuro da democracia liberal passa
também por aí
PATRÍCIA FERNANDES Professora na Escola de Economia e Gestão da
Universidade do Minho
OBSERVADOR, 06 mai. 2024, 00:20
1Youthquake
Nos últimos meses, o processo eleitoral
e a comemoração dos 48 anos de democracia colocaram os mais jovens no centro da
análise política: eles foram simultaneamente acusados de terem alimentado o resultado do Chega nas eleições de 10 de
março e apresentados como a geração que mais
valoriza o 25 de Abril. São estes dois elementos contraditórios? Ou é possível apoiar a posição
antissistema do Chega e considerar que o 25 de Abril teve mais consequências
positivas do que negativas? Estarão os jovens simplesmente mais cativos
da mensagem de Abril que lhes é ensinada na escola ou, uma vez que o estudo foi
realizado em 2023, terão mudado de ideias no espaço de um ano? Ou será
precisamente por valorizarem Abril que os jovens apelam a uma mudança?
Dois dias antes das nossas eleições, um
artigo no The Washington Post usava o caso português, destacando Rita Matias, para
retomar uma ideia muito explorada pelos media no último ano (por exemplo, aqui e aqui): a de
que a adesão dos mais jovens à direita radical constituiria um terramoto
político juvenil [youthquake].
Definir
direita radical implica um outro artigo, mas parece-me razoável aceitar que um
dos aspectos mais significativos da sua mensagem é o apelo a regras e ordem, mesmo
que isso signifique a existência de um líder forte ou autoritário – como se o caos social e moral das sociedades
contemporâneas se tivesse tornado insustentável. Lá
fora, usa-se muitas vezes a expressão ultraconservador:
aceitemo-la.
Assim entendida, as posições defendidas pela direita radical
seriam críticas dos excessos da democracia liberal, marcadamente
individualistas e desregrados, e mais propensas a aceitar um certo apelo à
autoridade, que pode ser traduzido pela imagem de chamar um adulto à sala para
pôr as coisas em ordem. Talvez Platão tenha razão quando diz,
na República, que a democracia gera caos e o caos desperta o desejo por
ordem.
Os académicos vêem-se, então,
confrontados com a seguinte questão: são
as gerações mais novas menos democráticas?
2A desconsolidação democrática
Em 2016, Roberto
Stefan Foa e Yascha Mounk chamaram a atenção para os dados que apontavam para
a reversão do processo de consolidação democrática:
“Em muitas democracias supostamente
consolidadas na América do Norte e na Europa Ocidental, os cidadãos não se
tornaram apenas mais críticos dos seus líderes políticos. Também se tornaram
mais cínicos quanto ao valor da democracia como sistema político, menos
esperançados de poder fazer alguma coisa que influencie as políticas públicas e
mais dispostos a manifestar apoio a alternativas autoritárias.”
O princípio estabelecido por Linz e
Stepan de que a consolidação democrática resultava de a democracia se tornar “the only game in town” [o único
jogo válido, a única opção] parecia
posto em causa. E isso era particularmente evidente nas gerações mais novas:
“Os dados de opinião pública sugerem uma
inversão geracional significativa. Ainda não há muito tempo, os
jovens eram muito mais entusiastas dos valores democráticos do que os mais
velhos: nas primeiras vagas do World
Values Survey, em 1981-84 e 1990-93, os jovens inquiridos eram muito mais favoráveis à protecção da liberdade de
expressão e muito menos propensos a abraçar o radicalismo político. Actualmente, os papéis inverteram-se: de um modo
geral, o apoio ao radicalismo político na América do Norte e na Europa
Ocidental é maior entre os jovens e o apoio à liberdade de expressão é menor.”
A ideia de que o apoio à democracia
estava a diminuir entre os mais novos foi recebida com surpresa e muitos avançaram
a hipótese de se tratar de uma mera fase no ciclo de vida. Mas este argumento
tem vindo a ser refutado por trabalhos mais recentes, como o de Pedro
Magalhães e Christopher Claassen, publicado em 2023, que analisa dados para o contexto norte-americano:
“As gerações mais jovens já apresentam um apoio democrático
substancialmente inferior ao das gerações mais velhas que irão substituir. (…)
Este declínio justifica preocupações com a resistência futura das instituições
democráticas face a potenciais crises políticas, sociais e económicas e com a
disponibilidade do público norte-americano para afastar os líderes e os
movimentos que pretendem minar a
democracia liberal.”
3Brincar, brincar, brincar
É possível avançar diferentes razões
para estes resultados e a Verdade encontrar-se-á na confluência de vários
fatores. Mas uma das leituras mais interessantes parece-me ser a apresentada
por Jonathan Haidt e Greg Lukianoff num artigo
publicado no The New York Times, em 2018. Reunindo vários contributos, Haidt e
Lukianoff chamam a atenção para um aspecto fundamental da dinâmica
política: a brincadeira infantil. Surpreendido?
De acordo com Haidt e Lukianoff,
“os mamíferos jovens brincam e, ao
fazê-lo, gastam energia, magoam-se e expõem-se aos predadores. Por
que razão não tentam manter-se seguros? Porque os mamíferos chegam ao mundo com
sistemas nervosos inacabados e precisam de brincar – e muito – para terminar
esse trabalho. O jovem
cérebro humano “espera” que a criança se envolva em milhares de horas de
brincadeira, incluindo milhares de quedas, arranhões, conflitos, insultos,
alianças, traições, competições de estatuto e até (dentro de limites) actos de
exclusão, para desenvolver todas as suas capacidades.”
Brincar é fundamental para nos tornarmos adultos saudáveis e
autónomos, mas nem todas as formas de brincadeira são iguais. Haidt e
Lukianoff recorrem ao psicólogo desenvolvimentista Peter Gray para
reforçar a importância da brincadeira livre, o mesmo é dizer, da brincadeira não supervisionada por
adultos:
“A
ausência de adultos obriga as crianças a praticar as suas competências sociais
[e] deixa espaço para as crianças correrem pequenos riscos, em vez de assumirem
que os adultos estarão sempre presentes, como barreiras de protecção, a
dizer-lhes onde estão os limites da segurança.”
O problema é que, como os autores
recordam, a partir da década de 1980
as crianças foram perdendo gradualmente a liberdade de brincar sem supervisão e
a infância tornou-se cada vez
mais superprotegida. Sem oportunidades para aprender a lidar com o risco,
os jovens foram-se tornando menos resilientes e menos capazes de reagir a
desafios e fracassos. E também se
tornaram menos capazes de gerir conflitos e negociar. Afinal,
“se houver sempre um adulto que assume o controlo, é provável que se
crie uma condição a que os sociólogos chamam “dependência moral”. Em vez de
aprenderem a resolver os conflitos de forma rápida e privada, as crianças que
aprendem a “contar a um adulto” são recompensadas por recorrerem às figuras de
autoridade no caso de terem sido maltratadas.”
Ora, este aspecto tem claras implicações
políticas. Recorrendo a Steven
Horwitz, Haidt e Lukianoff recordam que as democracias liberais se caracterizam por priorizar a cooperação
em detrimento da coerção – mas, uma vez que temos impedido as crianças de
desenvolver competências de cooperação, só lhes resta a coerção.
4A geração fada-dos-dentes
Entre nós, Carlos Neto, com
quem José Manuel Fernandes conversou recentemente no Clube dos 52, apresenta
um longo trabalho na defesa da
importância da brincadeira para as crianças. No livro Libertem as
crianças diz-nos:
“Brincar é adaptar-se a situações incertas, é treinar para o
inesperado e imprevisível, é a vivência do instante, através de acções diversas
na utilização do corpo em espaços físicos (naturais e construídos) e na relação
com os outros.”
A brincadeira revela-se, nesta medida,
fundamental para o desenvolvimento de áreas importantes do córtex pré-frontal,
nomeadamente “a edificação de um cérebro pró-social, essencial, entre outras
coisas, para adequadas tomadas de decisão”. Como Neto diz, repetindo uma
expressão que as educadoras de infância usam cada vez mais, sem
brincadeira livre as crianças tornam-se totós.
Este contexto de supervisão e
superproteção constantes agravou-se na última década com a introdução de
telemóveis-espertos no processo de crescimento da criança – tendo em
conta que se trata de uma ferramenta que responde de forma quase perfeita ao
desejo de protecção. E notemos o problema de uma
infância-baseada-no-telemóvel (para usar a expressão de Haidt em The Anxious
Generation) a partir do factor tempo: o tempo que as
crianças gastam com o telemóvel é o tempo que perdem em outras actividades, nomeadamente,
na brincadeira livre e não supervisionada.
Não é, por isso, surpreendente
que tenha aumentado a pressão para que se repense a utilização dos
telemóveis-espertos, não só pelas crianças mais novas, mas também pelos
pré-adolescentes. O impacto destes aparelhos não só no desenvolvimento do
cérebro, mas também na dimensão emocional está já sob amplo escrutínio e tem
motivado decisões políticas, só aparentemente radicais, em muitos países (mais
sobre isto em texto futuro).
Mas importa ter em conta que esse
impacto é também político: ao substituir a brincadeira pelo
telemóvel, as crianças perdem a oportunidade para desenvolver as competências
sociais que são necessárias para um contexto democrático: nomeadamente, saber
lidar com o conflito e a diferença e saber promover o diálogo e a negociação.
Sem
essas competências, os jovens tenderão sempre a procurar “um adulto”, isto é,
uma figura de autoridade, que faça valer as regras. E ao contrário do
que algumas abordagens dão a entender, este não é um problema da direita radical:
basta pensarmos nos delírios wokistas, profundamente iliberais e antidemocráticos. Mas devemos
assumir a nossa responsabilidade: em última instância, a culpa não é
deles – nós é que precisamos de repensar o que andamos a fazer com as nossas
crianças. O futuro da democracia liberal passa também por aí.
PS: Colocarei este argumento à discussão
numa sessão da Pint of
Science, em Braga, na próxima semana, num dos muitos
encontros que esta associação promove para a divulgação da ciência (entre os
dias 13 e 15 de maio há sessões por todo o país, como pode ser consultado aqui).
COMENTÁRIOS:
Ronin: As democracias liberais representativas deixaram de representar os
eleitores, tanto os que votaram no grupo eleito como todos os outros. Veja-se o que se passa nas grandes
Universidades dos USA que por cá pouco se sabe pela censura dos media, por lá
não é muito diferente, os grandes media como a CNN, CBS, NBC, NY Times protegem
essa gente. Quem acompanha a tomada das Universidades por bandidos
disfarçados de estudantes e apoiados por professores comunistas há muito
infiltrados nas mesmas, desde o Maio de 68, com interregnos em fogo lento, agora acordados em células que despertaram, permitida pelos Mayors woke,
governadores de Estados como Newson na Califórnia e pelo governo federal de
Obama/Clinton/ Biden e financiados pelos Rockfeller, Soros, Gates, emulando o
financiamento do PCUS e o nascimento da URSS, através de Trotsky o seu
embaixador e Lénine. bento
guerra: Tanta
intelectualice. As pessoas votam Chega, porque estão fartas de um sistema
político de muita conversa e poucas acçóes,tudo no meio de arranjismos.Os
jovens são naturalmente,os primeiros a atirar com os pés ao ar Américo Silva: O grande perigo para a
democracia liberal são as suas próprias falsidades e contradições, as
instituições públicas e as leis são colocadas ao serviço de interesses privados
e reservadas a uma elite designada por estes interesses, como por exemplo nas
universidades, nos governos, nos organismos internacionais, no poder
legislativo e judicial, e mais. Miguel
Ramos: Não
educaram os filhos, agora têm-nos em casa, frustrados e pobres. São exércitos
de escravos sem competências e sem capacidade de trabalho. Os poucos que fogem
à regra têm tudo para terem sucesso na vida. Em nenhuma geração anterior foi
tão fácil alcançar uma vida desafogada financeiramente... para os poucos que
têm valor há pouca concorrência. Não sabem escrever, não sabem fazer contas,
nunca pegaram num martelo ou numa chave de fendas e a relação com as novas
tecnologias resume-se a utilizador de Tik-Tok, culpam a democracia e
entusiasmam-se com o Chega ou o BE... receita perfeita para passarem muita
fominha. GateKeeper: A "demagogo-cracia liberal"
caminha, correndo a trote, para a sua própria sepultura. Quanto às
"crianças" é mais importante o que NÃO se anda a fazer do que o
contrário: Educação, Ensino, Valores, Disciplina, etc., etc., são
"coisitas" que a "fashion" woke-puritana fake esqueceu; e
os do não aconteceu ontem nem hoje. Este laxismo chocante foi evoluindo desde
há, pelo menos, 20 anos. Tudo o que poderia não se fazer de bem pelas crianças
em Portugal está, neste momento, completo ( accompli). Já não seremos nós a
pagar o prejuízo. Maria
João Teixeira da Costa: Tenho 2 filhos
jovens adultos, com resultados académicos acima da média, cada um na sua área.
Não são de extremos, pq falamos muito sobre isso: desmistificar politicos com
projectos pessoais e não nacionais. Mas sentem uma enorme revolta com o país
que herdaram e com a necessidade de emigrar. É duro. Esta revolta associada a
um falhanço na educação da escola pública que forma a maioria (que é outro
factor de revolta 20% de desemprego nos jovens) dá no que dá: pessoas
revoltadas e pouco capacitadas. A brincadeira é muito importante:
ensinam a correr risco, a cair e levantar. Mas a escola também é e devem
as 2 funcionar em conjunto: ex campos de férias acampamentos - tipo
escuteiros. Andar na lama, fazer cabanas nas árvores. Nem todas as famílias
podem. Temos um interior recheado de equipamentos e sem pessoas. Tudo isto é
possível, mas tudo isto obriga a que as escolas funcionem. Que o país
funcione. Enquanto a geração que fez o 25 de abril e vive das pensões sem
descontar, não desaparecer Portugal não muda. Rebentaram com o
património, fizeram dívida e deixam aos filhos, netos e bisnetos a conta para
pagar. Insistem no modelo e continuam a votar PS. Por isso não se calam com o
25 de abril passados 50 anos, em vez de falar do futuro. O que têm para
apresentar? Este é o principal problema dos jovens - excesso de avós e bisavós
que sugaram o país e continuam.
Tim do A: As
nossas crianças continuam a ser catequizadas com a religião Woke e a propaganda
LGBT nas nossas escolas. O governo mudou mas está tudo igual. O PSD é igual ao
PS. Não há diferenças. A mérico Silva: O grande perigo para a
democracia liberal são as suas próprias falsidades e contradições, as
instituições públicas e as leis são colocadas ao serviço de interesses privados
e reservadas a uma elite designada por estes interesses, como por exemplo nas
universidades, nos governos, nos organismos internacionais, no poder
legislativo e judicial, e mais. Miguel Ramos: Não educaram os filhos, agora têm-nos em casa,
frustrados e pobres. São exércitos de escravos sem competências e sem
capacidade de trabalho. Os poucos que fogem à regra têm tudo para terem sucesso
na vida. Em nenhuma geração anterior foi tão fácil alcançar uma vida desafogada
financeiramente... para os poucos que têm valor há pouca concorrência. Não
sabem escrever, não sabem fazer contas, nunca pegaram num martelo ou numa chave
de fendas e a relação com as novas tecnologias resume-se a utilizador de
Tik-Tok, culpam a democracia e entusiasmam-se com o Chega ou o BE... receita
perfeita para passarem muita fominha.
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