Não basta, sendo inúmeras as bolhas causadas por uma efervescência em estado de permanência atrevida e delinquente.
Parabéns ao governo
O governo foi claro, sensato, firme e
cortou este disparate a tempo. Terá cortado este mal — isto é, esta doença woke
— pela raiz? Talvez não totalmente, mas pelo menos pôs muita água na fervura.
JOÃO PEDRO MARQUES Historiador
e romancista
OBSERVADOR, 29
abr. 2024
Entre
as surpreendentes, embaraçosas e deslocadíssimas declarações de Marcelo Rebelo
de Sousa no contexto de um jantar com jornalistas estrangeiros, sobressaem, do
meu ponto de vista, o compromisso de assumir “total responsabilidade” pelos
“crimes”, coloniais cometidos e o de “pagar os custos” a eles inerentes,
compromissos políticos que já tive ocasião de criticar. Mas alguns
dias volvidos, o PR decidiu clarificar essas suas declarações e, ao fazê-lo,
tornou-as ainda mais graves e surpreendentes. Efectivamente, durante a
inauguração do Museu Nacional da Resistência e da Liberdade, em Peniche, no
passado sábado, Marcelo declarou que Portugal tem a “obrigação” de “liderar” o
processo de reparação às ex-colónias, sob pena de perder “capacidade de
diálogo” com as mesmas. Disse, entre outras coisas, que o nosso país tem a
“obrigação de pilotar, de liderar, este processo”. Ou seja, Marcelo, que nesta questão dos pedidos de desculpa e de
reparações já estava a pôr o carro à frente dos bois e a sangrar-se em saúde,
parece estar agora em clara fuga para a frente e fala dessas reparações como se
elas fossem um facto consumado, o que é extremamente grave.
Há dias Miguel Sousa Tavares considerou Marcelo
Rebelo de Sousa um incontinente verbal fora de auto-controlo. Eu não
discordo dessa caracterização, mas há uma outra que me parece mais ilustrativa
da situação que estamos a viver e mais compatível com aquilo que nos chega do
Palácio de Belém. De facto, os ingleses têm uma expressão que usam com
frequência na discussão e na crítica política e que se adequa a este caso.
Quando querem dizer que alguém é imprevisível e um perigo para os seus próprios
amigos e aliados usam a expressão “a loose cannon”, isto é, um canhão solto. É uma imagem excelente. Imaginem, num campo de batalha ou no
interior de um navio de guerra, um canhão não travado ou não amarrado que, por
isso, dispara em direcções imprevistas e que, ao fazê-lo, recua, esmaga e
atinge os seus próprios militares. Marcelo parece ser, neste
momento, e nesta matéria, um “loose cannon”, alguém que se comporta de uma
forma inesperada e susceptível de causar problemas a outras pessoas, ao governo
da sua própria área política e ao país.
E perante esse comportamento eu confesso
que durante uns dias me surpreendeu e inquietou o silêncio do governo. Eu percebo o embaraço de Luís Montenegro
e dos ministros das pastas potencialmente comprometidas por esta aventura woke do
PR, mas era imperioso que o país soubesse o que os nossos governantes pensavam
e o que tencionavam fazer sobre esta matéria.
Pois bem esse silêncio terminou e o país
já o sabe. Na sequência destas mais recentes declarações de Marcelo, em Peniche, o
governo reagiu depressa e bem. Em nota enviada à comunicação social, veio afirmar que, nessa
matéria, “se pauta pela mesma
linha dos governos anteriores” e que
não esteve nem está em causa nenhum processo de reparações. Lembrou,
também, que Portugal “tem tido gestos
e programas de cooperação de reconhecimento da verdade histórica com isenção e
imparcialidade” e garantiu, e muito bem, que esses gestos e cooperação
prosseguirão. Na referida nota o governo assegurou que o
“aprofundamento das relações mútuas, respeito pela verdade histórica e
cooperação cada vez mais intensa e estreita, assente na reconciliação de povos
irmãos” é “e será sempre a sua linha”. Reparações, não.
Parabéns ao governo. Foi
claro, sensato, firme e cortou este disparate a tempo. Terá cortado este
mal — isto é, esta doença woke — pela raiz? Talvez não totalmente, mas pelo
menos pôs muita água na fervura e, quem sabe, talvez tenha mesmo voltado a
amarrar o canhão solto. É claro que o Bloco de Esquerda e o Livre já vieram
anunciar iniciativas tendentes a prosseguir a agitação em torno dessas
questões, mas isso não é novidade, é apenas o que têm vindo a fazer, com pouco
sucesso, desde 2017. Aliás, nenhum desses partidos é um “loose cannon”, nem
quanto ao calibre nem quanto à imprevisibilidade. São apenas armas ligeiras que
disparam sempre na mesma direcção, uma direcção estereotipada que,
acrescente-se, Portugal conhece bem.
O
que ainda não conhecia era a posição do governo da AD. Fico agora a conhecê-la
e, espero eu, a apoiá-la.
COLONIALISMO MUNDO PRESIDENTE
MARCELO POLÍTICA
COMENTÁRIOS (de 46):
Lúcio Monteiro: Como introdução a este
comentário, começo por definir o conceito de impeachment, de acordo com o
dicionário Infopédia: ”Impeachment
(português brasileiro) ou destituição (português europeu), também chamado de
deposição ou impedimento, é um processo político-criminal que visa destituir
alguém de um cargo governativo em países com modelos de governo presidenciais,
por grave delito ou má conduta no exercício de suas funções”. E a que propósito aparece aqui esta definição?
Ainda duvida? É isso mesmo. É chegada a hora de a ideia de impeachment, visando
o actual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ser discutida pela Assembleia
da República. As suas últimas declarações, sobre a peregrina ideia de algum
tipo de reparação, por Portugal, às suas ex-colónias, denotam que o actual
detentor do cargo presidencial já não reúne os requisitos intelectuais, morais,
e sobretudo, de bom senso, para continuar a ocupar o seu actual cargo. A
primeira questão que se coloca é seguinte: a que propósito resolveu Marcelo
trazer para a ribalta tamanha estultícia? Mais: qual a prática comum, nesta
matéria, dos países mais desenvolvidos? Qual tem sido a prática de países, como
os Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Canadá, entre muitos outros? Por outro
lado, tudo indica que Marcelo se esqueceu de que as suas sonsas ideias, além de
destituídas de qualquer ponta de bom senso, são também impraticáveis, atendendo
a que, de acordo com os dados publicados pela autoridade monetária nacional, a
dívida pública portuguesa concluiu o ano com um valor de 263.043 milhões de
euros, o que corresponde a 98,7% do PIB. Feb 1, 2024. Com que dinheiro é que as
tais reparações seriam custeadas? Se
a peregrina proposta de Marcelo fosse implementada, Portugal atingiria o estado
de falência económico-financeiro irreversível. Mas não é por ser inexequível
que a tola tese de Marcelo é abjecta, mas sim por não conter qualquer argumento
minimamente ajustado à realidade. Conclusão: Julgo que chegou a hora de a nossa Assembleia da República
ponderar incluir na sua agenda, com carácter de urgência, a discussão de uma
possível destituição – ou o impeachment, se preferirem – do actual Presidente
da República, embora eu desconheça se a nossa Constituição prevê essa
possibilidade. O fundamento, de uma possível destituição de Marcelo, seria por
incapacidade de avaliação da realidade e de declarações irresponsáveis, lesivas
para o bom nome de Portugal. Rui Lima: Um presidente que fala mais do
que pensa é uma desgraça para Portugal . Maria
Nunes: Muito bem, JPM. Gostei muito do seu contributo, assim como o de Paulo
Núncio, num programa da RTP, esta semana. Quanto a Sua Excelência, o Senhor
Presidente da República, devia já ter percebido a revolta dos portugueses em
relação aos dislates que disse. Carlos
Chaves: Por tudo o que tem acontecido desde que tomou posse, parece que finalmente
voltámos a ter governo! Caríssimo João Pedro Marques, muíto obrigado por não
calar a sua voz denunciando as políticas “wokistas” que nos querem impor, até
donde menos se esperavam! Antonio
C.: Quem não cumpre os seus deveres no cargo que ocupa,
entre os quais o dever de proteger os seus concidadãos e a sua nação, deve ou
não ser afastado? Marcelo está a tornar-se um caso sério de psicologia (já o
era, parcialmente) mas estas últimas declarações são de todo inaceitáveis. Alberico
Lopes > Américo Silva: Ele se calhar até sabe do que
fala pois o pai foi governador de Moçambique e com isso até safou este pobre
demente de ir para a guerra Uma tristeza este palerma idiota Américo
Silva > Américo Silva: Os países africanos conheceram
o alfabeto, foram vacinados, têm universidades, fazem parte do mundo, por tudo
isto não creio que tenham ficado a perder, e sobretudo, não precisam dum idiota
para os tutelar.
Alexandre Arriaga e Cunha: O Livre e o BE não chegam a ser uma simples fisga…
quanto muito, um pequeno corta-unhas. Parabéns ao governo. Quando se discute
com um louco só se confirma que há dois. O mais adequado é deixá-lo a falar
sozinho Vitor
Batista: Os Britânicos também têm outra expressão:"a loose
screw ".... Américo
SilvaAmérico Silva: Não vamos varrer para debaixo
do tapete, Portugal deu origem a Brasil, Angola, Moçambique, Guiné, querem ser
indemnizados por terem nascido? têm-se em tão pouca conta? os brasileiros só
têm que deixar o Brasil aos índios, podemos fornecer o transporte, e quem teve
escravos que lhes pague com retroactivos. Liberales
Semper Erexitque > Eduardo L: Deve ser isso, a AD fechou as
portas do governo à Chaga, mas agora é um joguete ao sabor das suas ameaças.
Faz muito sentido! Os seus comentários costumam ser bem melhores, quando o li
inicialmente pensei que estivesse a gozar!
Carlos
Chaves > Maria Nunes: E na SIC notícias, a jornalista
Brasileira foi/é uma autêntica comissária "wokista"! Francisco
Almeida: Para além do quadro geral, já bem discutido nesta caixa de comentários,
acredito que o incidente que despoletou a crise (seja ela do foro da sanidade
mental ou da estratégia política) foi a divulgação do nome de Sebastião
Bugalho, quando Marcelo já tinha dado a entender telefonicamente a Rui Moreira
que iria ser o cabeça de lista. Viu publicamente exposta a sua irrelevância e a isso
não resistiu. Como se diz popularmente, saltou-lhe a tampa. Américo Silva: Marcelo pode pensar e dizer o
que quiser, o presidente da república portuguesa é que não, só pode agir dentro
da sua legitimidade jurada, temos um problema que não joga com o baralho todo,
que acredita que os seus antepassados são delinquentes coloniais, e que aqueles
cujos nunca foram a áfrica, ou foram obrigados, têm que pagar. Liberales
Semper Erexitque: Volto a apontar a ironia imensa que é o garante do "regular
funcionamento das instituições", jurista e professor catedrático de
Direito, ele mesmo, violar repetidamente os seus deveres e a separação de
poderes, violando quer as leis quer o seu espírito, e com elas o Estado de
Direito. Se isto não são motivos para a sua destituição, então o que será? Não
precisamos sequer de ir buscar expressões estrangeiras para descrever o que se
passa com o presidente da república, podemos dizer mais portuguesmente que
"o rei vai nu"! Alberico
Lopes > Maria Nunes: Ó Maria Por favor nunca mais
chame excelência a tal besta
Eduardo
Gomes: Ainda bem que existe um partido chamado CHEGA. Antonio Sennfelt > Lúcio Monteiro: Não posso estar mais de acordo!
O processo de destituição deveria ser imediatamente encetado! Caso contrário
este perigosíssimo canhão à solta ainda afunda a nossa velha nau com todos nós
lá dentro! GateKeeper: Caro JPM, tornou-se um hábito
ler as suas crónicas. Desta vez, porém, não passei da "intro". Eu
explico: Dar os "parabéns" por alguém que se limitou a "empurrar
com a barriga" uma tolice maldosa de um órgão do poder que nem exerce,
mereceria, da parte de um Governo a sério, um claro, assumido e contundente
repúdio em nome dos Portugueses e de Portugal. Um Governo a sério e que ousou
propagandear uma "mudança" do nosso triste e miserável Estado da
Nação, devia ter assumido, na pessoa do seu PM uma atitude inequívoca de recusa
e repulsa. Coisa que o pm não fez, de todo. Assim, não alinho nos seus
entusiásticos "parabéns", como compreenderá. Os meros separam sempre
dois lados. A grande questão que se coloca ao comum dos mortais é, sempre e
também, se o lado onde está é o certo ou o errado, tendo em conta as
envolventes de um lado e do outro. E os muros, tal como as fronteiras e as
"linhas vermelhas" sempre fizeram parte da História da Humanidade.
Boa semana. bento
guerra: Governo:"não é comigo, que pague o cómico" Pedro
Manuel Moço Ferreira: Dr JPM , excelente contributo para a discussão e contrariar as narrativas
únicas de gentinha muito ignorante. O saber dá muito trabalho e o presidente da
república dá sinais, nestes tempos pós-modernos, de ter falta de conselheiros.
Se ele me ler, acredito que sim, devia chamá-lo para conselheiro, para o ajudar
a terminar o mandato com dignidade. Bem-haja. Francisco
Almeida > GateKeeper: O seu ponto de vista está certo
mas ignora a necessidade política deste ou de qualquer outro governo, de
manter, se não boas relações, pelo menos relações institucionais com o PR. Dito
de outra maneira, "partir a loiça" teria custos políticos demasiado
elevados. O governo fez o que seria
expectável de Montenegro, o que preconiza é o que seria expectável de André
Ventura. Eu não votei AD mas tenho de reconhecer e aceitar que a AD teve mais
votos do que o Chega. Eduardo L: Mas terá ouvido a declaração de
Ventura, ou antes, um aviso ao governo. (?) Ventura foi muito claro: se o
governo ousasse sequer entreter a ideia (reparações e afins) a moção de censura
entraria nesse mesmo dia e o governo cairia…pum. Não admira que o governo tenha
vindo esclarecer o assunto.
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