Para a carreira europeia. A mim surpreendeu-me
– e atemorizou-me - a violência de Marta Temido contra Sebastião
Bugalho, mas atribuí essa minha reacção a puros efeitos de
onomástica, o apelido Temido forçando-me a esse estado de espírito, e fazendo-me
evocar, para mais, a sua persistência lutadora em contextos da anterior pandemia,
o próximo contexto belicoso com os russos, pendente sobre todos, dando-lhe a
possibilidade de se destacar ainda mais, futuramente, lá pelas europas
indecisas, na questão ucraniana...
Cabeças de lista às europeias debateram
a oito: quem ganhou? Veja as notas
No último debate televisivo dos
candidatos dos oito partidos com assento parlamentar, a questão das famílias
europeias e o apoio à Ucrânia foram dois dos temas de maior confronto. Quem
esteve melhor?
OBSERVADOR, 29 mai. 2024, 00:371
Foi o último debate televisivo entre os
cabeças de lista dos partidos com assento parlamentar e pôs os candidatos em
confronto nos temas mais fortes da campanha. Sebastião Bugalho (AD), Marta Temido
(PS), Tânger-Corrêa (Chega), Cotrim de Figueiredo (IL), Catarina Martins (BE),
João Oliveira (CDU), Francisco Paupério (Livre) e Pedro Fidalgo Marques (PAN) falaram das
regras orçamentais, do risco dos
extremismos no Parlamento Europeu e das linhas vermelhas nas famílias
partidárias, do apoio militar à Ucrânia, da guerra na Faixa de Gaza, de
imigração e da política fiscal europeia.
Quem esteve melhor? Ao longo
das últimas semanas, um painel de avaliadores do Observador tem dado notas de 1
a 10 a cada um dos candidatos, explicando porquê. A soma surge a cada dia, no
gráfico inicial, onde pode ver a classificação geral e saber quem tem estado
melhor e quem lidera.
O próximo debate sujeito à análise dos
avaliadores do Observador será o último dos frente-a-frente na Rádio Observador
— os únicos
debates a dois desta campanha —, que acontece já esta quarta-feira,
às 19h, entre Sebastião Bugalho e Francisco Paupério. Depois, no dia 3 de
junho, às 9h30 da manhã, será a vez do debate das rádios, que junta a Rádio
Observador, a Renascença, a Antena 1 e a TSF.
Quem ganhou o debate: Marta Temido,
Sebastião Bugalho, Cotrim de Figueiredo, Francisco Paupério, Catarina Martins,
Pedro Fidalgo Marques, Tânger-Corrêa ou João Oliveira?
Ana Sanlez — O “dia de festa” de Sebastião Bugalho foi
o “incómodo” de Marta Temido. O tema do dia, a visita de Zelensky a Portugal,
acabou por preencher um dos momentos de confronto mais interessantes do debate
entre os candidatos do PS e da AD. Não foi sempre assim, mas, aqui, Marta
Temido acabou por ser a voz do bom senso. Não é um dia de festa. Como é natural num confronto a oito
vozes, quem acaba por se destacar mais são os candidatos com mais carisma. E
nesse pódio temos Cotrim
de Figueiredo, Marta Temido e Sebastião Bugalho,
com uma menção honrosa para Catarina Martins. Francisco Paupério e Pedro Fidalgo Marques passaram
demasiadamente despercebidos, embora este último tenha tido um bom momento na
questão do crescimento da extrema direita. Tânger-Corrêa foi um “alien”,
ainda mais do que tem sido habitual. Na primeira questão, sobre as regras
orçamentais da UE, deu a entender que nem tinha percebido o tema em
causa (aqui, na verdade, quem leva a taça é Marta Temido, quando
lança um “as pessoas não percebem nada
do que estamos a dizer”, e acredito que seja verdade). Tânger-Corrêa poderia
aproveitar para brilhar quando o foco são as migrações, a bandeira do Chega,
mas nem isso aconteceu. Hoje
lembrou-se de dizer que “a pobreza gera violência” e voltou a entrar num caminho
perigoso. Ainda assim, nota-se que os seus olhos brilham quando se fala de
geopolítica, nomeadamente da guerra na Ucrânia. Neste tema, João Oliveira ficou
novamente a falar sozinho, mas, neste debate, saiu mais fragilizado porque eram
sete contra um.
Miguel Santos Carrapatoso — Um belíssimo debate, com (quase) todos a grande nível. Correram riscos e também caíram em armadilhas.
Sofreram e infligiram golpes. Ninguém foi ao tapete, ninguém saiu sem mácula. E
foi combativo do início ao fim. De resto, cada candidato poderá levar para casa
o seu “momento da noite”. Marta
Temido foi
excelente a confrontar Sebastião Bugalho
com a frase infeliz sobre a “festa para a democracia” que foi receber Zelensky. O candidato
da AD foi muito eficaz ao
lembrar que há governos socialistas (Espanha e Dinamarca, por exemplo) que são
muito pouco recomendáveis em matéria de políticas de imigração. Catarina Martins esteve
sempre ao ataque, forte em quase todos os pontos, com conhecimento evidente dos
dossiês. Insistiu,
porém, em cometer os erros de sempre: escorregou ao tentar colar os liberais à
extrema-direita, esquecendo-se de que tem telhados de vidro e ficando sem
resposta para João
Cotrim Figueiredo (o melhor
momento do liberal neste debate); e foi outra vez muito lesta em criticar a UE
e a esquecer o papel da Rússia. Cotrim, menos
dominante do que a bloquista, esteve sempre esclarecido, tirando, com alguma
surpresa, no ponto em que devia ser mais forte, a receita para fazer a economia
europeia crescer. Esperava-se brilharete e não deu. Perdeu uma oportunidade de
marcar a diferença à direita. À esquerda, João
Oliveira bateu-se a bom nível (ainda
que sem o brilho de Catarina
Martins), mas teve um azar dos Távoras: este debate
aconteceu no dia em que Portugal recebeu Zelensky, o que tornou ainda mais
esdrúxula a posição (isolada) dos comunistas nesta matéria. Três
notas para os menos experientes: Francisco Paupério tentou
(com algum sucesso) ir furando a experiência dos concorrentes, mas sem a nota
artística de outros debates; António Tânger-Corrêa apareceu mais concentrado, mas
invariavelmente agarrado a ideias sem qualquer adesão à realidade (veja-se o
que disse sobre imigração e corrupção); e Pedro
Fidalgo Marques foi sendo o
picareta-falante de serviço, que, de tanta ânsia em meter animais e ambiente em
cada oração, mal conseguiu produzir pensamentos estruturados sobre os temas em
debate.
Pedro Rainho —Era o último debate entre todos
transmitido em directo, ao vivo e a cores. Era, portanto, uma oportunidade determinante para a
demarcação de campos, para a fixação de eleitores e, cenário ideal, captação
dos que ainda não se decidiram. Afinal, falta uma semana e meia para as
eleições. Durante boa parte da noite, os
candidatos pareceram ter-se esquecido disto: Catarina Martins foi a despique com Cotrim Figueiredo no tema das
regras orçamentais, João Cotrim Figueiredo respondeu; Sebastião Bugalho lança
uma farpa aos “partidos que apoiaram António Costa” e é João Oliveira quem
responde primeiro. E andaram nisto longos minutos. Até que o tema
da guerra da Ucrânia foi lançado para cima da mesa, até que o cabeça de lista
da Aliança Democrática falou no “dia feliz” que se viveu em Portugal com a
visita relâmpago de Volodymyr Zelensky. Temido não quis
deixar passar a referência em branco e — ainda que só o tenha feito quando já
se discutia a questão da imigração — atirou com considerandos de “ligeireza” e
“imaturidade” para cima do cabeça de lista da AD. Parecia
que vinha aí o golpe, estava ali a gafe da noite, daquelas que podem deixar marca.
Mas Marta Temido tem destas coisas: um momento que podia ser popularucho e
ficar a ressoar na memória dos eleitores rapidamente resvala para excessos que
o põem ao nível do mais populista. Neste caso,
acusou PSD/CDS de alinhar em políticas de imigração que “mandam refugiados para
o Ruanda” e defender a “construção de muros” que deixam o problema às portas da
Europa. Bugalho contestou com precisão (quase) cirúrgica: com a posição dos
“socialistas da Dinamarca” e dos socialistas espanhóis. Valeu pelo truque: admite
para ti o que não permites ao teu adversário. Foi
xeque — o candidato da AD
não matou ali o jogo, mas anulou o ataque da principal adversária no debate. De
resto, não foi um debate particularmente cativante. Sem surpresa, de uma forma
geral, os eleitores puderam ouvir as ideias de dois expectáveis blocos com duas
visões sobre o que querem da Europa. Sem um(a) claro(a) vencedor(a). E isso é
uma pena, num debate que prometia ser decisivo. Aguardemos pela final das finais: é dia 3 de junho, no debate das
rádios.
Rui Pedro Antunes — Marta Temido utilizou uma táctica dos populistas:
fixou-se numa expressão isolada para atacar o adversário, neste caso Sebastião
Bugalho. Mas como, em política, não se trata de ganhar o
prémio fairplay, a socialista foi
eficaz: associar a visita de um chefe de Estado de um país em guerra a um “dia
de festa”, mesmo com a melhor das intenções, foi um momento infeliz do
candidato da AD. Sebastião Bugalho está
bem preparado e isso notou-se quando registou (para vincular o PS) que a
relatora da reforma da governação económica foi Margarida Marques, ou quando
lembrou que quem criou muros para imigrantes foi Espanha e Dinamarca, dois
países com governos socialistas. Mas,
num contra-ataque, Bugalho chegou a defender-se com o programa da AD (que nunca
falou em muros), quando a adversária se referia a um documento do PPE. Bugalho
fingiu que não percebeu e, mais uma vez, tentou provar que o PSD
é uma ilha no PPE. Na verdade, não é: na esmagadora maioria das vezes, os
deputados do PSD votam alinhados com o grupo. António Tânger-Corrêa chegou a responder coisas diferentes das
perguntas que lhe eram feitas, mostrando a sua total impreparação em vários
temas. Chegou a repetir “concordo com o Cotrim”, por não ter muito mais
a dizer. Ainda assim, quando se libertou das amarras, numa fase em que pareceu
mais genuíno, utilizou tiradas
populistas que (apesar de
serem criticáveis a vários níveis) podem ser eficazes junto do seu eleitorado:
por exemplo, quando falou em Vila Nova Milfontes ou fez uma associação abusiva
e demagógica entre pobreza e violência. João Cotrim Figueiredo mostrou ser sempre o mais bem esclarecido
e o mais fiel aos princípios que defende para a Europa: liberais, pois claro. Em temas como as novas regras orçamentais,
a economia europeia ou a Ucrânia, o liberal foi sempre o mais assertivo. Foi, por
isso, o mais perto que tivemos de um vencedor no debate. Picou-se com Catarina Martins (a quem
atirou com estrondo o acordo do Syriza com os xenófobos Gregos Independentes),
mas a bloquista também voltou a mostrar que é profissional, como se vê no uso
de soundbites como “generais de sofá” ou em seduções cirúrgicas ao
seu eleitorado, como atacar o governo alemão (que é socialista e verde) por
enviar armas para Israel. João
Oliveira tem
sempre um problema chamado Ucrânia, mas compensa com genuína ingenuidade, e até
humor, como o momento em que atacou as grandes empresas dizendo que, com
“Cotrim, sim”, pagavam apenas “taxinhas” — numa alusão ao slogan liberal. Francisco
Paupério e Pedro Fidalgo Marques passaram
mais despercebidos, mas com o primeiro a ser mais eloquente.
ELEIÇÕES
EUROPEIAS ELEIÇÕES POLÍTICA
COMENTÁRIOS:
Joao Cadete: Ohhh dear... só mesmo vocês para levarem a marta
temido aos ombros. Não têm noção do ridículo...
Nenhum comentário:
Postar um comentário