quarta-feira, 1 de maio de 2024

Um ego exacerbado

 

De toleima e indiscrição, de falsa simpatia humana, “rei verdadeiramente nu” no absurdo da vivência para que vamos resvalando...

Um Presidente amigo do populismo

Marcelo Rebelo de Sousa corre o risco de ser um Presidente que contribuiu para o populismo, criando problemas que não existem e esquecendo os que são importantes para os portugueses.

HELENA GARRIDO Colunista

OBSERVADOR, 30 abr. 2024, 00:1948

Onde não temos problemas, não os devemos criar”. Esta foi uma das mensagens que o Presidente da República deixou ao primeiro-ministro Luís Montenegro acabado de empossar no dia 2 de Abril. Aparentemente esqueceu-se de aplicar esse conselho a si próprio, como percebemos pela conversa em tom de monólogo que teve com os jornalistas estrangeiros a viver em Portugal. O que disse foi de tal forma estranho, que justificou a perplexidade dos jornalistas na tentativa de perceberem o que pretende Marcelo Rebelo de Sousa. Defender o seu legado? Sair da presidência como mais popular dos presidentes? Mesmo que isso tenham custos para o país?

No universo da política e especialmente da elite tradicional lisboeta, não há quem não identifique uma inteligência superior no Presidente. É difícil perceber porquê, mas temos de aceitar que quem conhece melhor o Presidente tenha razões para afirmar aquilo que não conseguimos identificar, ao longo deste tempo de exercício da sua função e principalmente nestes últimos anos. Aquilo que nos é dado é uma personalidade centrada em si própria e viciada em cenários e jogos políticos, que não se coíbe de dizer uma coisa e o seu contrário e a quem tudo é perdoado pelo encanto que gera à sua volta, mas também por fazer parte integrante da elite lisboeta que andou pelas mesmas escolas e universidades.

Os problemas que temos, que são muitos e constituem as principais explicações para a atracção do eleitorado pelas mensagens populistas, não parecem preocupar o Presidente.

A Justiça não funciona e temos parte relevante da classe política contaminada por investigações. Mas para o presidente o relevante é falar sobre o que considera serem as tácticas da Procuradora-Geral da República, que classificou como maquiavélicas por ter aberto, no dia da demissão do primeiro-ministro António Costa, um inquérito ao seu eventual envolvimento numa cunha para gémeas de origem brasileira terem acesso rápido aos serviços portugueses de saúde.

A Educação está repleta de problemas que vão desde a falta de professores a um facilitismo que vai agravar desigualdades e afectar toda uma geração. O acesso à Saúde agrava igualmente as desigualdades, com um país em que uns têm melhores cuidados do que outros, porque têm dinheiro ou seguros. A imigração está em descontrolo e há sintomas crescentes de tensão entre as comunidades locais e quem procura o país para trabalhar. Os polícias e os militares estão descontentes. A economia cresce de forma medíocre, baseada no turismo que está longe de garantir salários mais elevados, enquanto vamos falhando projectos que procuram localizações europeias, seguindo o movimento da desglobalização, de aposta na segurança de abastecimento europeu ou de novos sectores ligados à economia verde ou digital.

Manifestou o Presidente alguma ideia sobre as suas preocupações com estes temas que afectam a vida dos portugueses? Claro que não. Preferiu classificar o ex-primeiro-ministro como “lento” por ser “oriental” insultando de caminho os orientais. E olhar para o novo primeiro-ministro como um saloio, um “rural” como disse, difícil de entender.

Como se tudo isto não bastasse e contrariando o que recomendou a Luís Montenegro, lançou um tema que divide a sociedade e alimenta o populismo: “reparar” os danos causados às ex-colónias. Aquilo que não era um tema na sociedade portuguesa passou a ser o centro de uma polémica, quando basta pensar um bocado para perceber a impossibilidade de tal “reparação”, quer em termos práticos como pelo facto de estarmos a abrir uma autêntica caixa de pandora. A quem e como vamos pagar? E qual é o corte temporal na história que vamos fazer? E porque não deve também o Estado reparar o mal que fez aos seus próprios cidadãos que foram enviados para a guerra ou àqueles que o regime ditatorial prendeu e torturou?

E assim estamos a debater um tema sem solução, quando os portugueses enfrentam problemas concretos no seu quotidiano que ninguém parece preocupado em resolver. Enquanto se fazem debates sobre a reparação do passado, deixamos de olhar para o presente de um país que tanta acção precisa.

O que pretende o Presidente? Porque está a criar problemas que não existem, contrariando o que sensatamente recomendou a Luís Montenegro que não fizesse? Revela o que disse uma maior preocupação com a sua popularidade, consigo próprio, do que com o País? E é assim que pensa que vai conseguir ser mais popular? Marcelo Rebelo de Sousa corre o sério risco de terminar o seu mandato como o menos popular dos presidentes e como um promotor do populismo, mesmo sem o querer.

MARCELO REBELO DE SOUSA    PRESIDENTE DA REPÚBLICA    POLÍTICA

COMENTÁRIOS (de 48)

Rui Machado: Arrisca-se não. Seguramente o pior PR da democracia. Pior ainda que um fanático comunista de nome Vasco dos tempos do PREC. Penso que existirá uma explicação neurológica. Averigue-se.                Carlos Vito: Marcelo não se arrisca a concorrer para o fortalecimento do populismo, como diz a autora. Marcelo é (por ventura) o maior populista, especialista em selfies e opiniões dissimuladas. Mais uma vez se repete aqui à exaustão a pretensa inteligência sobrehumana do visado. Já não há paciência! Mas ele descobriu uma nova teoria da relatividade? É autor de uma obra reconhecida internacionalmente na sua área do saber? Escreveu os livros do Harry Potter? Descobriu a cura de alguma doença? Mas afinal em que consiste tanta inteligência? Na criação de factos políticos, na rapidez com que diz disparates e os procura corrigir a seguir, não assumindo o que havia dito com a maior desfaçatez?                      Vitor Dias: Eu já assinei a petição. Este senhor não pode sair incólume desta situação.               Tim do A: Devia ser preso por traição a Portugal e considerado inimputável.               António Martins: Oiço muita gente dizer que MRS é muito inteligente. Mas muito inteligente para quê? Deve ser inteligência confidencial. É muito inteligente mas não se sabe para quê               Maria Nunes: Vou assinar a petição Demissão do Presidente da República. O Observador devia informar os seus leitores sobre esta petição.              Américo Silva: Imaginem um humilde cidadão que nunca votou Marcelo, nem sequer colocou essa possibilidade, e agora tem que levar com ele. Aprendam pelo menos que aparecer na televisão, ser comentador, não é caminho sério nem seguro para altos cargos na política, vale mais começar por gerir bem uma junta de freguesia.                  António Soares: MRS é uma autêntica nódoa.              João Ramos: Marcelo é erradamente considerado muito inteligente, mas uma pessoa que no lugar de presidente da república praticamente só tem feito e dito asneiras, para além de figuras ridículas, veja-se a sua postura a mudar de fato de banho em plena praia para só dar um exemplo, e até agora levantar problemas ao país inexistentes até à data, passando por um apoio incondicional a Costa, o pior governo deste pais, parece me que o tal princípio de Peter se lhe aplica que nem uma luva, ora se ele próprio não consegue perceber isto, onde é que está a tal inteligência???                  Carlos Chaves:  “No universo da política e especialmente da elite tradicional lisboeta, não há quem não identifique uma inteligência superior no Presidente.” “(…) a quem tudo é perdoado pelo encanto que gera à sua volta (…)” Pois, só se for em Lisboa e se julguem igual a ele! Arrogantes! A Helena Garrido passou aqui anos a elogiar o governo do Costa e os malditos socialistas… quem ler esta crónica deve pensar que sofre de bipolaridade!              John Doe: Estas declarações de Marcelo estão ao nível das de PPC que quando confrontado com a degradação das condições de Vida da população pela política do governo sugeriu "deixem de ser piegas, abandonem a zona de conforto e emigrem". Em futuras Revisões Constitucionais, o rol de critérios para a destituição dum Presidente da República, deve ser alargado e se não existe, deve ser criado e com urgência.             Rui Pedro Matos: Infelizmente um texto déjà vu...e sem crítica explícita ao desgoverno PS e das Esquerdas radicais, com o conluio do sr. Sousa, um verdadeiro papagaio e que merece ter um impeachment!                  Alexandre Arriaga e Cunha: Um tipo inteligente não sofre de incontinência verbal, não é inoportuno, não desagrega aqueles que é suposto unir, não faz intriga, não critica em público, não é desadequado, não é desleal, não é um insatisfeito crónico, não é hipersensível e não sofre de egocentrismo doentio. Marcelo pode ter uma memória de elefante 🐘 mas, para além disso, não me parece que seja um tipo inteligente.


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