Apesar de tantos condicionalismos
resultantes de um jeito genérico pouco judicioso de ser e de estar, tivemos valentes
na nossa história sem chuchadeira.
Um texto brilhante e sério, este de ALEXANDRE
BORGES, que mereceu um belo comentário sereno e realista de JOHN MARTINS, que
reponho, como definitivamente justo:
JOHN MARTINS: Realista
crónica a enaltecer o Presidente Zelensky, um verdadeiro Herói e verdadeiro
guarda avançado da defesa da Europa perante um tirano russo que não olha a
meios para subjugar uma nação e o povo Ucraniano. Por agora. Visitou Portugal,
onde foi recebido laudatoriamente e lhe foi proporcionado a colaboração
possível pelo Pº Ministro Luis Montenegro. É certo que comparativamente; à
Alemanha, França, Espanha e até Bélgica ficamos a léguas na ajuda...mas fica a
boa vontade...Slava Ucrania !
Zelensky em Portugal - A história da nossa ida à guerra
À alegria e ao orgulho por ver entre nós
aquele que é o líder de facto da resistência do mundo livre na guerra
sobrepunha-se o desconforto da pergunta: que teríamos nós para oferecer a este
homem?
ALEXANDRE BORGES Escritor e argumentista
OBSERVADOR; 30 mai. 2024, 00:181
“A história da minha ida à guerra de 1908”. Duvido que seja mais conhecida em Espanha, país onde foi
originalmente criada pelo comediante Miguel Gila, do que em Portugal, na versão
de Raul Solnado. É difícil
imaginar aquela rábula sobre um jovem que vai todo aprumado para a guerra para
não encher a guerra de moscas e que chega lá ainda a guerra estava fechada, ter
qualquer espécie de impacto nuns Estados Unidos, numa Alemanha, em qualquer
país que se meta em guerra a sério. Mas, entre nós, o tiro
dificilmente poderia ser mais certeiro: fazia-nos ver ao espelho. O tipo que
levava a bala presa com uma guita para não a perder éramos nós chapados, o
soldado sem jeito nem meios, pachola, que lá vai escapando de males maiores por
graça dos deuses para com os pobres de espírito.
Duvido que tenha sido o único
a lembrar-se disto quando, esta semana, Volodymyr Zelensky, Presidente da
Ucrânia, visitou Portugal por seis breves horas. À alegria e ao orgulho por ver
entre nós aquele que é o líder de facto da resistência do mundo livre na guerra
que marca o nosso tempo, sobrepunha-se o desconforto da pergunta: que teríamos
nós para oferecer a este homem? A este povo? A esta luta? Uma bala com uma
guita? Ou as palavrinhas de circunstância do costume?
Aos primeiros instantes, já se temia o
pior: Marcelo agarrado ao braço de
Zelensky como quem puxa o netinho para lhe dizer que tem ali 20 euros para lhe
dar, mas para não dizer nada à avó. Receámos pelos seus conselhos de
guerra, ou por uma eventual apreciação acerca das características do povo ucraniano.
De repente, ali estava um antigo comediante, como Gila, como Solnado. Um
artista de variedades que se tornou Presidente ao lado de um Presidente que,
tantas vezes, se confunde com um artista de variedades. Felizmente, a agenda
obrigava a ir rapidamente para São Bento e, quando os dois chefes de Estado se
voltassem a encontrar, ao jantar, tudo se passaria à porta fechada.
Somadas as coisas, o balanço foi
positivo, que é como quem diz, o
ministro da Defesa não cometeu nenhuma gaffe (até porque, que tivéssemos
dado por isso, nem abriu a boca). Portugal
e Ucrânia assinaram um “Acordo sobre Cooperação de Segurança”, cheio de
intenções genéricas, mas exactamente como Espanha, Bélgica ou Alemanha já
tinham feito. Com uma diferença: Espanha ia contribuir com a ajuda
de uns nada genéricos mil milhões de euros, França com uns ainda mais concretos
3 mil milhões de euros e a Alemanha com uns fabulosamente palpáveis 7 mil
milhões de euros. Portugal juntou 126 milhões. É pouco, mas
de boa vontade, dirá o povo. Quem dá o que tem, a mais não é obrigado, continua
a sabedoria popular. E como contrariá-la? Zelensky agradeceu ao “amigo sincero”
Portugal e disse que, um dia, retribuiria a ajuda. E nós,
confortados pelas palavras daquele a quem deveríamos confortar, só pensávamos
que há já mais de dois anos que ele anda a “retribuir”.
O embaraço não será, portanto, o tamanho
do donativo financeiro. É saber que este mesmo país que gosta de bater com a
mão no peito e lembrar que é membro fundador da NATO, foge com o rabo à seringa quando ouve o
Chefe de Estado-Maior da Armada dizer o óbvio: que temos de estar preparados
para morrer para defender a Europa caso esta seja invadida. É ver o
que disseram a propósito os cabeças-de-lista às Europeias de AD, PS, Chega e
CDU quando questionados sobre o assunto. Como se ignorassem os tratados,
achassem que não são para levar a sério, ou que, na guerra, as balas estão
mesmo presas por uma guita salva-vidas.
Talvez seja parte do nosso encanto, há
muitos séculos, não ser especialmente dados à guerra; acreditar que tudo se resolve com dois dedos de
conversa. Lamentavelmente, isso não é verdade. A passagem
de Zelensky por Portugal foi um salpico de realidade num país onde, tantas
vezes, tudo o que se faz é fazer de conta. Que triste seria se não aproveitássemos
a sua resistência para mudar qualquer coisa quanto a isso.
COMENTÁRIO:
JOHN MARTINS: Realista
crónica a enaltecer o Presidente Zelensky, um verdadeiro Herói e verdadeiro
guarda avançado da defesa da Europa perante um tirano russo que não olha a
meios para subjugar uma nação e o povo Ucraniano. Por agora. Visitou Portugal,
onde foi recebido laudatoriamente e lhe foi proporcionado a colaboração
possível pelo Pº Ministro Luis Montenegro. É certo que comparativamente; à
Alemanha, França, Espanha e até Belgica ficamos a léguas na ajuda...mas fica a
boa vontade...Slava Ucrania !
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