Na carreira das ameaças. Todo um mundo de ambição e maldade galardoadas e
interapoiadas.
A "paranoia" de Putin, a aliança entre China e Rússia para
invadir Taiwan e as intimidações do Irão: secretas dos EUA avisam para ameaças
Num "ambiente de ameaças conectadas",
serviços secretos dos EUA revelaram principais ameaças à segurança. Guerra na
Ucrânia não terminará "em breve" e Rússia e China podem aliar-se para
invadir Taiwan.
JOSÉ CARLOS DUARTE: Texto
OBSERVADOR, 03 mai. 2024, 19:5231
Índice
As ameaças da Rússia e a “paranoia” de Putin
As ameaças da China e a possibilidade de invadir
Taiwan com a ajuda da Rússia
A ameaça do Irão e a guerra em Gaza
Rússia, China, Irão são o foco a ter a conta num “ambiente altamente
complexo de ameaças interconectadas”. Dois
responsáveis pelas secretas norte-americanas divulgaram informações aos
senadores norte-americanos sobre os riscos que os Estados Unidos da América
(EUA) enfrentam na comunidade internacional e de que forma aquele a que chamam
“eixo do mal” está a agir.
Durante aproximadamente duas horas, os
membros da Comissão dos Serviços de Informações do Senado puderam fazer
perguntas a Avril Haines, directora dos serviços secretos dos EUA, e ao
tenente-general Jeffrey Kruse, responsável dos serviços de informações no
Departamento de Defesa. Numa sessão difundida online, Avril
Haines começou por elencar três tipos de ameaças. O primeiro risco, segundo ela,
prende-se com a “competição” entre potências, algumas
delas que desejam “minar” a actual
ordem mundial e o “sistema internacional”. O segundo perigo
relaciona-se com um tipo de ameaças “imprevisíveis”, que
incluem ataques cibernéticos,
as consequências das alterações climáticas e ainda terrorismo. Já o
último tipo de ameaças têm a ver com as “tensões regionais e localizadas”, algumas
delas que têm “implicações” na
comunidade internacional que vão além da região e dos “países vizinhos”.
A directora dos serviços secretos dos
EUA enumerou três protagonistas que apresentam um maior nível da
ameaça para os Estados Unidos e aliados: a China, a Rússia e o Irão, juntamente
com os seus proxies. Já Para Jeffrey
Kruse, vive-se o “nível de ameaça mais elevado em décadas”. Sendo
certo que “individualmente” os riscos “estão ao aumentar”, há uma nuance
importante a ter em conta, segundo o responsável: “Há um
número crescente de adversários que estão a interagir e a fazer pactos de
formas que nunca tínhamos visto”.
▲Para Jeffrey
Kruse, vive-se o "nível de ameaça mais elevado em décadas" BLOOMBERG
VIA GETTY IMAGES
As ameaças da Rússia e a
“paranoia” de Putin
Para a directora dos serviços secretos
dos EUA, neste momento, o Presidente russo, Vladimir Putin, sente que
o tempo corre “a seu favor”. Ou seja: a conjuntura internacional é favorável para
continuar a guerra na Ucrânia. O momento actual assim o prova: “A Rússia
está a fazer ganhos crescentes no campo de batalha e avanços na linha da frente
de Donetsk e Kharkiv”.
Além disso, de acordo com Avril Haines, o chefe de Estado russo vê como
“positivo” que a indústria de armamento norte-americana e europeia não esteja a
ser capaz de sustentar o esforço de guerra ucraniano, havendo igualmente
“desafios” na Europa e nos Estados Unidos, no âmbito político, “para ajudar os
ucranianos”. Ainda que a análise norte-americana indique que
Vladimir Putin esteja aberto a negociar, o Presidente não está disposto a
“fazer quaisquer concessões” que beneficiem a Ucrânia.
Neste contexto, Avril Haines argumenta
que “as tácticas crescentemente agressivas de Putin contra a Ucrânia” — como os
ataques contra as infraestruturas eléctricas ucranianas — vão
continuar. E têm como
objetivo “dar a impressão à Ucrânia que continuar a guerra apenas vai aumentar
os estragos e não vai oferecer qualquer caminho plausível para a vitória”.
▲Putin
acredita que a conjuntura internacional é favorável para continuar a guerra na
Ucrânia, dizem serviços secretos dos EUA SERGEI
SAVOSTYANOV/SPUTNIK/KREMLIN POOL/EPA
Com o pacote de ajuda norte-americano
recentemente aprovado, o Ocidente parece igualmente empenhado em não desistir
da Ucrânia. Com este impasse, Avril Haines antecipa que as “tácticas
agressivas” da Rússia “vão continuar” e que “é improvável” que a guerra “acabe
em breve”.
Ainda assim, a responsável das secretas
quis deixar bem claro que a Rússia “pagou um preço enorme pela guerra
na Ucrânia”. “Perdeu mil milhões de dólares e registou cerca de 300 mil
baixas”, sinalizou Avril Haines. Apesar disso, Moscovo
quer aumentar os custos com a Defesa nos próximos anos, esperando-se que atinja
os 7% do PIB e 25% dos custos do governo federal.
Na óptica de Avril Haines, ao longo destes mais de dois anos de
conflito, a “estratégia” e os receios de Vladimir Putin não se alteraram, pese
algumas derrotas no campo de batalha. O Presidente russo reforçou a “ideia de
que os Estados Unidos e a Europa querem restringir o poder da Rússia” e
desenvolveu uma espécie de “paranoia” em redor desta possibilidade.
▲ Avril
Haines acredita que Putin desenvolveu uma "paranoia" de que os EUA e
a Europa querem enfraquecer a Rússia BLOOMBERG VIA GETTY IMAGES
“Putin
acredita que a segurança do seu país está em risco e sob ameaça”, prosseguiu a
chefe das secretas norte-americanas, acrescentando que o chefe de Estado
defende que apenas com umas “forças armadas poderosas” travará esse cenário,
daí a aposta na guerra da Ucrânia.
Contudo, Avril Haines
ressalvou que esta tese do Presidente russo acabou por gerar um alargamento da
NATO, obtendo, por conseguinte, efeitos indesejados. “Precipitou a entrada da
Finlândia e da Suécia na
aliança. Certamente
nunca teria acontecido antes da invasão”, afirmou, salientando que, perante
esta movimentação, Moscovo deverá responder ao reforçar o seu contingente
militar na fronteira.
As ameaças da China e a possibilidade
de invadir Taiwan com a ajuda da Rússia
Na leitura dos serviços secretos dos
Estados Unidos, o Presidente chinês, Xi Jinping, pensa que as relações
bilaterais com os Estados Unidos serão marcadas por “instabilidade” nos
próximos tempos e Pequim olha para Washington como ainda
querendo “conter a ascensão da China e o poder do Partido Comunista”. As autoridades chinesas estão
“preocupadas” actualmente com o “aumento das capacidades dos EUA” e receiam que
consigam “igualar as capacidades tecnológicas” da China. Por
conseguinte, diz Avril Haines, o país tem tentado retaliar economicamente
contra os Estados Unidos, infligindo “custos tangíveis” às empresas
norte-americanas.
▲ Serviços
secretos norte-americanos acreditam que China vê EUA como rivais GETTY IMAGES
Simultaneamente,
as autoridades chinesas têm “ambições regionais” e usam a tecnologia e o
domínio económico como forma de “controlar cadeias de abastecimento que podem
prejudicar ou beneficiar outros” estados. “Pequim vai ainda continuar a usar
força militares para intimidar os vizinhos e moldar a região consoante as
prioridades do partido.”
Na mira chinesa está obviamente a reunificação com Taiwan e a
possível invasão daquele território. Em termos militares, segundo Avril Haines,
Pequim reforçará as suas “forças nucleares
e capacidades cibernéticas”, enquanto diplomaticamente tentará “dividir os
aliados na Europa e no Indo-Pacífico”.
Ao mesmo tempo, a China vai tentar “aprofundar a relação com o Irão
e a Rússia”. Avril
Haines não tem, por isso, dúvidas que o esforço de guerra de Moscovo foi
sustentado, nos últimos tempos, por Pequim: “Os componentes materiais enviados para a
defesa industrial russa foi um dos factores que deu vantagem a Moscovo na Ucrânia
e acelerou a reconstituição da força militar da Rússia, após a sua invasão
custosa”.
"Os
componentes materiais enviados para a defesa industrial russa foi um dos
fatores que deu vantagem a Moscovo na Ucrânia e acelerou a reconstituição da força
militar da Rússia, após a sua invasão custosa" Avril Haines, directora
dos serviços secretos dos EUA
Por conta das boas relações entre a
China e a Rússia, Avril Haines salientou que os dois países estão a
fazer “exercícios militares conjuntos” para a possibilidade de Pequim atacar
Taiwan. Uma aliança sino-russa para
invadir o território que as autoridades chinesas reclamam como seu é “certamente
uma possibilidade”, vincou a chefe das secretas, que não precisou o
“quão provável é” esse cenário concretizar-se.
O responsável dos serviços de
informações no Departamento de Defesa expressou as mesmas preocupações e
admitiu que os Estados Unidos estão “apreensivos” com as capacidades
de Washington em responder a essa ameaça. Abrindo
duas frentes — uma na Ucrânia, outra em Taiwan —, isso dividiria as atenções
norte-americanas. “A cooperação [entre a China e a Rússia] é
agora sem limites”, assinalou Avril Haines, que notou que em todos os “sectores
da sociedade” essa aliança está patente.
A ameaça do Irão e a guerra em Gaza
Outros dos países que preocupam os serviços secretos
norte-americanos é o Irão e os seus
aliados espalhados na região do Médio Oriente. Avril Haines frisou que, neste
momento, o grupo xiita libanês Hezbollah não tem interesse numa
“guerra total contra Israel e os EUA”, mas a situação tem “potencial para
escalar”. Já o grupo iemenita dos houthis vai “continuar a aumentar os
ataques” no Mar Vermelho, prejudicando as rotas comércio internacional.
▲ Hezbollah
não quer "guerra total" contra Israel, apontam secretas
norte-americanas WAEL HAMZEH/EPA
Actualmente, depois dos ataques contra Israel, o Irão travou os
planos em marcha para atacar as forças norte-americanas no Médio Oriente. “Não é claro quanto essa pausa vai durar”,
afirmou Avril Haines, acrescentando que a tensão no Médio Oriente decorrente da guerra e Gaza e do
antagonismo entre Teerão e Telavive pode “galvanizar a Al-Qaeda e o
autoproclamado Estado Islâmico”, tendo um “efeito cascata” indesejado.
Para os serviços secretos norte-americanos, não há dúvidas de que o
Irão providenciou “treino” e meios financeiros” a grupos como o Hamas para
“minar o Estado de Israel”. E não só: Teerão faz isto igualmente para “reforçar
a sua influência” no Médio Oriente, face aos países do Golfo, como a Arábia Saudita
ou os Emirados Árabes Unidos.
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COMENTÁRIOS (DE 31)
Pertinaz > Luis
Silva: Tome os
comprimidos…
João Silvestre > Luis
Silva: Que bom é ser
esquerdalha merdoso num país “capitalista” e defender totalitarismos e regimes
opressores. Difícil seria ter a mesma opinião nesses países.
Pertinaz > Pedro
de Freitas Leal: Outro…
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