De subserviências e máfias, fraquezas e
poderes, por vezes vinganças … afinal como nas histórias fictícias da infância, com ogres e bruxas e
os da ingenuidade infantil… ou mesmo as histórias odisseicas para adultos, dos
Polifemos e dos astutos aventureiros, que inspiraram os astutos Putins reais de
hoje, de sofisticada perversidade para os servilismos da nossa abjecção, de “roseaux
pensants”, todavia, “ quod erat
demonstrandum”…
Porque foi Fico atacado? "O pior
dia da democracia" da Eslováquia, um país polarizado que pode estar
"à beira da guerra civil"
Um país polarizado, "muito
dividido" e que pode estar à beira de uma "guerra civil".
Eslováquia vive "momento mais triste" após atentado contra o
primeiro-ministro eslovaco, o controverso Robert Fico.
OBSERVADOR, 16 mai. 2024, 00:502
“É o momento mais triste” da nação eslovaca, que sofreu “um ataque”. O governo da Eslováquia está em estado de
choque após o atentado contra o primeiro-ministro, Robert Fico. O
experiente político de 59 anos, reconduzido no cargo de chefe do executivo após
as eleições de setembro de 2023, foi baleado esta quarta-feira após uma reunião do
governo, na cidade de Handlová. “O que aconteceu
hoje é algo que nos vai atormentar durante muitos anos”, lamentou o
ministro da Defesa, Robert Kaliňák, em conferência de imprensa.
Falhas de segurança e um lobo
solitário. Até ao momento, tudo parece indicar que foi apenas
isto que esteve na origem do maior atentado contra um chefe do governo europeu
nos últimos anos, pelo menos
desde a morte do ex-primeiro-ministro sueco, Olof Palme, assassinado nas ruas
de Estocolmo em 1986. O caso está a ser investigado pelas autoridades
eslovacas. Os detalhes são escassos, ainda que o governo já tenha admitido que o atentado teve “motivações políticas”.
A identidade do autor do ataque já foi
conhecida: Juraj Cintula. O homem, reformado de 71 anos, é poeta e estará
ligado a movimentos políticos de esquerda. Num vídeo publicado nas redes
sociais, o escritor, que também trabalhou como segurança num centro comercial,
indignava-se com as últimas decisões tomadas por Robert Fico: “Não concordo com
a política do governo. Por que razão estão os media a ser liquidados, porque
está a RTVS [Rádio e Televisão da Eslováquia] sob ataque?”.
“O que
aconteceu hoje é algo que nos vai atormentar durante muitos anos” Ministro da Defesa eslovaco,
Robert Kaliňák
O que torna Robert Fico num alvo, o
político amado por uns e detestado por outros
O primeiro-ministro da Eslováquia é
um político amado por uns, odiado por outros. Governou o país desde 2006 a 2010 e de
2012 a 2018 (com uma maioria absoluta pelo meio) e que entretanto voltou ao
poder. Ao longo destes anos, foi acumulando polémicas. Aliás, há seis
anos, chegou a demitir-se por um escândalo relacionado com a morte do
jornalista de 27 anos que estava a investigar os contornos de alegadas fraudes
fiscais praticadas por altos dirigentes políticos, que estariam ligadas à máfia
italiana, e que em que estariam envolvidos membros do governo de Robert Fico.
Este
episódio não levou o governante eslovaco a abandonar a política. E, no ano
passado, Robert Fico voltou a ganhar eleições e ocupou novamente o cargo de
primeiro-ministro, mas num contexto
bastante distinto no continente europeu, principalmente pela guerra na Ucrânia.
Numa União Europeia e numa NATO unidas
em solidariedade com as autoridades ucranianas, o chefe do executivo decidiu
terminar com o apoio militar entregue a Kiev, contrariando os anteriores
governos. Mas cumprindo uma
promessa eleitoral — Robert Fico nunca escondera a sua proximidade a Vladimir
Putin, o Presidente russo.
Esta orientação da política externa do primeiro-ministro eslovaco é
muito idêntica à do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán. Aliás, os
dois governantes são amigos e sempre tiveram uma relação de cooperação. E não
são só as prioridades geopolíticas as únicas semelhanças entre os dois líderes.
Ambos são acusados de colocarem em causa vários princípios do Estado de
direito.
▲Viktor
Orbán, primeiro-ministro da Hungria, e Robert Fico, primeiro-ministro da
Eslováquia AFP VIA GETTY IMAGES
Casos de corrupção, assédio a jornalistas, pressão ao poder
judicial. São vários os casos que ensombram a política eslovaca e que geram uma
enorme polarização. “Não é um
episódio isolado. É um dos países mais polarizados da Europa com ameaças
frequentes contra a vida de políticos”, explica ao Financial Times Milan Nič, analista do think tank Council on Foreign Relations.
“Podemos definitivamente dizer que a Eslováquia é actualmente um país
muito dividido”, corrobora o jornalista eslovaco, Tomáš Verníček, em
declarações à Sky News. Durante uma conferência de imprensa para fazer um ponto
de situação sobre o estado de saúde de Robert Fico, o ministro da Administração
Interna, Šutaj Eštok, apelou ao “público, aos jornalistas e todos políticos”
que parem de “espalhar ódio”. “Estamos perto da guerra civil”, avisou.
A
Presidente eslovaca, Zuzana Čaputová, denunciou o “discurso e a retórica
cheia de ódio” que está a contaminar o discurso público do país. “A
violência é absolutamente inaceitável. O discurso de ódio e a retórica, que
testemunhamos na sociedade, origina atos odiosos. Vamos parar isto, por favor”,
escreveu na sua conta pessoal do X.
"Não é um episódio isolado. É um
dos países mais polarizados da Europa com ameaças frequentes contra a vida de políticos"
Milan Nič, analista do think tank Council on Foreign Relations
Um clima
político tão polarizado pode funcionar como um terreno fértil para atentados
deste género. Mais: a
Eslováquia atravessava uma verdadeira maratona eleitoral, que causava ainda
mais polarização. Em setembro do ano passado, houve eleições parlamentares que
levaram à formação de um governo liderado por Robert Fico; há mês e meio,
eleições presidenciais deram a vitória a Peter Pellegrini, aliado do
primeiro-ministro; e, no início de junho, há eleições europeias.
Além disso,
como conta o Político, as divisões sociais na Eslováquia são muitas — novos contra velhos, população
urbana contra rural e saudosistas do regime comunista contra pró-ocidentais. E
já vêm desde a independência do país e da separação da Checoslováquia, em 1991.
Por exemplo, Robert Fico
juntou-se ao Partido Comunista da Checoslováquia. Quando a União Soviética
colapsou e o país adoptou um caminho pró-ocidente, o jovem de 25 anos continuou
a acreditar nos ideais daqueles tempos, confessando-se
como um saudosista do comunismo. Como refere o Político, o atual primeiro-ministro
sabia que isso era uma ideia que não era popular entre a generalidade da
população e que poderia liquidar o seu futuro político; de forma pragmática,
decidiu assim formar um partido próximo do centro-esquerda, o Smer-SD, no qual
se mantém até hoje.
O poeta de 71 anos que causou o
atentado
“Robo, anda cá.” Terão sido
estas palavras que o poeta
Juraj Cintula pronunciou
antes de disparar pelo menos cinco vezes contra Robert Fico. O homem de
71 anos, natural da cidade de Levice, será fundador de um clube literário na
cidade de Handlova e escreveu três colectâneas de poesia. É, desde 2015, membro
da Associação Eslovaca de Escritores.
‼️
Video of the first interrogation of the man who shot Fico 5 times
The writer Juraj Cintula, who shot #Slovak Prime Minister #Fico, said he did it
because he disagreed with the government's policies. pic.twitter.com/DDPBLnyxFj
— NEXTA (@nexta_tv) May 15, 2024
Havendo investigações ainda em curso,
sabe-se já que Juraj Cintula estava incomodado, como confessou num vídeo
partilhado nas redes sociais, com o encerramento do canal estatal, um tema que
começou esta quarta-feira a ser discutido no Parlamento da Eslováquia. Robert Fico deseja fundar uma nova
televisão do Estado, sendo que os opositores temem que este seja um meio para
que o Estado controle o fluxo de informação — colocando em risco a liberdade de
expressão.
Para além disso, Juraj Cintula
indignava-se com o estado da Justiça na Eslováquia. “Por que razão Mazák foi retirado do seu cargo?”, questionou o
atirador. Segundo o jornal
eslovaco Spectator, Ján Mazák foi destituído do cargo de presidente do Conselho
Judicial da Eslováquia em abril por indicação do governo. O
responsável jurídico ligou a sua destituição ao facto de ter liderado uma
investigação sobre corrupção que envolvia o próprio Robert Fico e membros do
governo, como o ministro da Defesa.
Ainda sobre Juraj Cintula, de
acordo com a Euronews, há publicações no Facebook de 2016 que
mostram que era um simpatizante de um grupo paramilitar eslovaco pró-russo,
chamado Slovenskí Branci. Esta milícia foi acusada de tentar recrutar jovens
eslovacos, mas não é claro o envolvimento actual do atirador contra o
primeiro-ministro eslovaco.
▲ O atirador
Juraj Cintula REUTERS
As
tentativas de assassinato de líderes do executivo
Um primeiro-ministro baleado é uma
situação inédita na Eslováquia e na história recente da Europa. Há que regressar a 2003 para recordar a
morte de um primeiro-ministro europeu em funções. O chefe do executivo da
Sérvia e Montenegro, Zoran Đinđić, foi assassinado em 2003, quando estava a
sair do carro para entrar no edifício que acolhia a sede do governo, em Belgrado.
Foi a máfia sérvia que organizou o assassínio.
Nos
anos 80, Olof Palme, ex-primeiro-ministro da Suécia, foi assassinado nas ruas
de Estocolmo. Este caso
esteve envolto em mistério durante décadas. Em 2020, a procuradoria-geral sueca
revelou que o atirador tinha sido o
designer gráfico Stig Engstrom — com problemas financeiros e que não apreciava
as políticas de Olof Palme — acabaria por se suicidar em 2000. Nunca ficou
claro, porém, os motivos que levaram aquele homem a matar o chefe do executivo.
Fora da Europa, em 2022, um homem
tentou alvejar a antiga Presidente
argentina, Cristina Kirchner, mas falhou. Também
naquele ano, o antigo primeiro-ministro
do Paquistão, Imran Khan, foi alvejado nas pernas, sobrevivendo ao atentado.
Final distinto, também em 2022, teve o
ex-chefe do executivo japonês, Shinzo Abe, que foi alvejado no pescoço. Acabou
por morrer na sequência dos ferimentos.
COMENTÁRIOS:
Luis Silva: "Falhas de segurança e um lobo solitário." Que
eu saiba não há qualquer indicação de que seja lobo solitário. Tudo aponta para
o contrário, e a polícia investiga. Portanto, manipulação da opinião pública.
João Eduardo > GataLuis Silva: Tens informação privilegiada...como sempre. Ahahah... Foste
informado pelos teus amigos do FSB/KGB? Talvez o Fico perceba agora que o seu
servilismo perante a Rússia medieval pode custar-lhe a vida.
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